sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Harishchandrachi Factory (2009) - हरिश्‍चंद्राची फॅक्टरी

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E também esteve na 34a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo este super simpático filme indiano que, lá, apareceu com o nome Filmando Harishchandra, mas que na tradução literal ficaria A Fábrica de Harishchandra.

O filme conta a história do surgimento do cinema indiano. Nada mais, nada menos. E ponto. E não é um filme de Bollywood, nem sequer é em hindi - e isso, pra mim, é o mais legal de tudo. Eu nunca me esqueço do dia em que escrevi a postagem sobre o cinema marathi, em agosto de 2008, na qual eu dizia que este cinema era o mais reprimido de toda a Índia, não só por dividir o mesmo estado em que está sediado Bollywood - o Maharashtra -, mas principalmente pelo primeiro filme feito dentro da Índia ter sido feito com uma equipe integralmente falante do marathi, não do hindi, em 1913.

Esse primeiro filme foi Raja Harishchandra, feito por Dadasaheb Phalke, que era maratha, assim como toda sua equipe. Acontece que o feito de Phalke teve efeito cascata, inclusive nele mesmo, e em dois tempos nascia uma super indústria de cinema, ali mesmo, e que, ainda com o cinema mudo, já passava a ser feito por mãos de pessoas comprometidas com a elite indiana falante do hindi. E Bollywoood dava as caras.

Mas vamos aqui assumir que Raja Harishchandra seja um filme maratha, tendo como base sua produção. E então nada mais justo que um filme que conte a história do primeiro filme indiano seja justamente feito pelo agora autoafirmado cinema marathi.

Harishchandrachi Factory revela a história de como o senhor Phalke teve uma determinação desmedida pra colocar em prática sua ideia de fazer um filme em terras indianas. Com boas doses de um humor muito leve e delicado, o filme de Paresh Mokashi é quase uma fábula sobre um dos fatos mais importantes da história recente da Índia, estrelado por Nandu Madhav e Vibhavari Deshpande.

De forma mais amadora possível, mas extremamente determinado, Phalke, que já trabalhava com entretenimento de rua, decide mudar seus rumos após ficar efeitiçado ao ver um filme num cinema, em Mumbai. Assistiu ao mesmo filme um incontável número de vezes, levando por vezes seu filho consigo. Aos poucos, passou a vender objetos de sua casa pra poder comprar mais ingressos e ver mais vezes o mesmo filme. Sua esposa, confiante no marido, jamais questionou.

E foi assim que ele então decide ir a Londres e aprender de perto como é que se fazia aquela magia. Por um tempo, assim, trabalhou como assistente de direção e absorveu tudo aquilo que poderia absorver, até que chegasse o momento em que ele se sentisse pronto pra voltar à Índia e fazer o primeiro filme genuinamente indiano.

Mas quem disse que seria fácil? Assim que retornou ao seu país ele enfrentou os mais variados tipos de obstáculos, que facilmente fariam de seu projeto uma empreitada impossível. Mas Dadasaheb Phalke não sabia assumir um projeto sem levá-lo às últimas consequências - e, neste caso, uma das últimas consequências phalkeanas que podemos registrar é esta exata postagem que escrevo, num site dedicado à hoje maior indústria de cinema do mundo.
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Antes mesmo de Harishchandrachi Factory entrar em cartaz, o governo indiano indicou-o para ser o representante da Índia na competição de melhor filme estrangeiro do Oscar.  Recomendo o filme não só por sua agradável ilustração histórica, mas também por ser uma gostosa obra além-Bollywood, tão desacostumados que estamos de ver.


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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Mumford & Sons e Laura Marling dizem "Goodbye India"

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Incursões pela Índia não existem se não derem frutos dos mais ricos. A intensidade daquele país, que carrega consigo milênios de história e cultura ainda vivas, agrega a qualquer um aquilo que precisamos, rejeitamos ou apenas simplesmente desconhecemos.

E foi assim que, dando uma passadinha pelo excelente Música Pavê, encontrei hoje mais um desses exemplos, finamente trabalhado e extremamente agradável de se ver e ouvir. Trata-se de uma experiência musical levada adiante pela banda folk inglesa Mumford & Sons e pela também inglesa Laura Marling, com os músicos rajastanis do Dharohar Project.

O resultado, compilado numa série de vídeos chamada Goodbye India, é cheio de delicadeza e intensidade, o que talvez não pudesse ter acontecido não fosse o respeito e vontade de troca que se vê entre todos.

Não consegui descobrir se houve produção indiana que tenha ajudado a impecável direção de Fred & Nick neste material. No entanto, procurando sobre isso, acabei encontrando outra coisa também bastante interessante. Enquanto estavam na Índia filmando este projeto, tanto Mumford & Sons quanto Laura Marling deram um pulo de quatro dias a Goa e, lá, filmaram cada um um clipe próprio, desta vez com produção da Babble Fish Productions, uma irreverente produtora local.

Dando o apoio necessário aos estreantes em Índia Fred & Nick, a Babble Fish, sob comando de Samira Kanwar, propôs justamente incorporar aos clipes o trabalho que eles tanto tentam trazer: mostrar uma Índia bonita, mas desconstruída das imagens já tanto vendidas para o mundo. Aceitaram os pedidos da equipe inglesa, mas também conseguiram impor uma linguagem própria a partir das locações e fotografias propostas. E, na realidade, como ambas as músicas em nada têm a ver com a Índia, são realmente em sutis elementos que percebemos que os clipes foram rodados ali. O clipe de The Cave, dos Mumford & Sons, vocês podem ver no próprio Música Pavê, já o Devil's Spoke, de Laura Marling, pode ser visto somente no youtube.

Abaixo, fiquem com o simpático trailer da série Goodbye India.


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