domingo, 31 de julho de 2011

Mostra de Cinema Indiano no Rio de Janeiro

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Caríssimos, no próximo dia 5 de agosto começa na Cinemateca do MAM, no Rio de Janeiro, a mostra Anos 2000 - A Década que Mudou a Cara do Cinema Indiano. Com uma seleção de dez filmes de Bollywood, essa mostra percorre os principais caminhos por onde andou o cinema indiano, mudando de uma vez por todas os rumos da maior indústria cinematográfica do mundo.


Por mais que a Índia sempre tenha feito filmes de qualidade excepcional ao longo do século XX, tais produções nunca eram feitas pra agradar o grande público, que em grande parte das vezes nem sequer sabiam que estes filmes eram lançados. Nos anos 2000, no entanto, foi do coração das indústrias de cinema indianas que as mudanças começaram a acontecer.

O primeiro e incontestável marco desta mudança é o filme Lagaan - O Imposto (Lagaan, 2001), dirigido por Ashutosh Gowariker e produzido pela então estreante Aamir Khan Productions. Ao longo de quase quatro horas de filme (um dos mais longos de toda a história do cinema indiano), Lagaan revolucionou Bollywood e todas as outras indústrias de cinema da Índia ao investir em um cidade cenográfica e em centenas de figurantes pra contar uma história que não era de amor. A aposta de Aamir Khan, até então “somente” uma das grandes estrelas do cinema indiano, deu tão certo que o filme foi o segundo da história do cinema indiano a concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro. E a Aamir Khan Productions nasceu revolucionando, indicando o que viria nos anos seguintes.

Mas, na verdade, foi em 2006 em que as mudanças ganharam ainda mais força. E não foi somente um filme que indicou esse caminho. Somente em Bollywood, ao menos quatro diferentes filmes surgiram nesse mesmo ano e, cada qual com sua forma, influenciou produções seguintes, guinando de uma vez por todas o caminho trilhado pelo cinema indiano ao longo das últimas décadas do século XX.

O primeiro a aparecer naquele ano foi Omkara (Omkara, 2006), de Vishal Bhardwaj, que já tinha mostrado ao que viria com um outro filme seu, de 2002, chamado Maqbool. Se este do começo dos anos 2000 era uma releitura de Macbeth, de Shakespeare, o segundo foi uma releitura de Othello, do mesmo legendario escritor britânico. E foi que Omkara consagrou de uma vez por todas a capacidade de Vishal Bhardwaj de construir releituras com um roteiro extremamente complexo e com uma direção impecável, coisa que, definitivamente, a audiência indiana não conhecia.

Mas foram outros dois filmes do mesmo ano de 2006 que fizeram história na Índia. O primeiro, A Cor do Sacrifício (Rang De Basanti, 2006), dirigido por Rakeysh Omprakash Mehra, trouxe Aamir Khan interpretando um estudante universitário, ao lado de seus colegas. Por incrível que pareça, esse filme foi o primeiro a trazer como personagens centrais jovens universitários. De novo, a história central não era de amor e o roteiro não girava em torno do mundo dos adultos. Isso, de imediato, conquistou a imensidão de estudantes universitários Índia adentro, que naquele momento já era grande parte do público dos cinemas indianos. Um novo nicho havia sido descoberto.

Acontece que não foi somente esse fator que colocou A Cor do Sacrifício na história do país. Ele levou os personagens de seu filme a lutarem por direitos, numa escalada dramática tão impressionante e inesperada que acabou por instar os jovens indianos a fazerem o mesmo, coisa que eles não tinham nunca aprendido a fazer. Na época, a série de protestos de jovens pedindo por inúmeros direitos foi chamado pela mídia indiana de “efeito RDB”, em alusão à sigla do filme, no nome original.

E então um outro filme veio para coroar todo esse movimento do ano de 2006. Siga em Frente, Munnabhai (Lage Raho Munnabhai, 2006), de Rajkumar Hirani, tinha tudo pra ser uma comédia normal, talvez com um pouco mais de qualidade em relação ao “normal” das comédias indianas - e ainda por cima tendo como eixo um amor aparentemente impossível. No entanto, ao inserir de maneira genial o Mahatma Gandhi e seus ideais na história, o inesperado aconteceu de novo. A juventude indiana, que acabara de descobrir o poder do protesto, entrou em contato com os mais importantes princípios de Gandhi, que já estavam totalmente esquecidos pela imensa maioria dos jovens. E não tardou pra que eles levassem esses princípios aos protestos desencadeados pelo “efeito RDB”, agora somado com o “efeito Munnabhai”. E mais uma vez, mais um filme veio aos cinemas da Índia pra mostrar que roteiros pensados e com conteúdo poderiam, sim, ter efeitos muito maiores do que pensavam.

Em 2007, Aamir Khan voltou não só com sua produtora e sua atuação, mas resolveu também arriscar-se na direção. O resultado dessa soma foi Como Estrelas na Terra (Taare Zameen Par, 2007), um absoluto sucesso não só na Índia, como também no mundo. O que Aamir fez, dessa vez, foi construir uma história que questionasse o modelo educacional da Índia, mas de forma tão eficaz que a mensagem pudesse ser pro mundo. Com um apelo emocional muito forte, Como Estrelas na Terra não parou até hoje de mandar sua mensagem.

No ano seguinte, Ashutosh Gowariker voltou com outra obra mais do que grandiosa. Jodhaa Akbar (Jodhaa Akbar, 2008) trouxe de volta ao cinema indiano não só a potência dos épicos, como também resgatou as lendárias histórias vividas no país durante o domínio do império Mogol. Também com incríveis 3 horas e meia de duração, Jodhaa Akbar foi uma superprodução histórica como não se via há tempos.

E então 2009 trouxe a obra seguinte, e bombástica, de Rajkumar Hirani, desta vez com a atuação e já indiscutível capacidade de influência - e manipulação, diríamos? - de Aamir Khan. 3 Idiotas (3 Idiots, 2009) bateu todos os recordes de bilheteria da história do cinema indiano, trazendo de volta jovens universitários como personagens centrais, mas desta vez questionando o próprio modelo de ensino superior do país. Mas a história do filme talvez não levasse a obra ao recorde, não fosse a inusitada estratégia de marketing imposta por Aamir Khan nos meses antecedentes ao lançamento de 3 Idiotas. Na autointitulada “maior caça humana” da história da Índia, Aamir Khan desapareceu dos olhos do público e da mídia, reaparecendo disfarçado nos mais inesperados lugares do país.

No mesmo ano, Anurag Kashyap apresentou uma obra difícil de ser aceita pela maior parte do público indiano, mas que mostrou ser capaz de fazer escola e consolidar um caminho sem volta no seio de Bollywood. Ao fazer Dev.D (Dev.D, 2009), Anurag realizou a décima primeira versão cinematográfica indiana do romance bengalês “Devdas”, de Sharat Chandra Chattopadhyay. No entanto, ao contrário das dez versões anteriores, Dev.D foi, na verdade, uma releitura contemporânea da obra, inovando em vários aspectos na direção, no roteiro e nas atuações.

Em 2010, finalmente, dois foram os filmes que também chegaram ampliando os rumos do cinema indiano e fechando a década das mudanças. O primeiro, Amor, Sexo e Traição (Love, Sex aur Dhokha, 2010), de Dibakar Banerjee, inovou impressionantemente na linguagem e na condução do roteiro. A partir do descontrole que temos hoje das câmeras que estão por todos os lados, LSD, como é chamado, explora essa questão pra contar três diferentes histórias reveladas por esses “olhos”.

O último filme desta seleção é Peepli ao Vivo (Peepli Live, 2010), da Aamir Khan Productions. Desta vez, a inovação não está mais nem na qualidade do roteiro, nem da direção, nem da produção, que são todos ótimos e seguem a escola construída. O que se inova, desta vez, é em quem dirige e em quem atua. Anusha Rizvi, a diretora, era uma completa desconhecida até cair nas graças de Aamir Khan, que topou investir suas fichas nelas, ao contrário do que fazem as outras produtoras. E os atores, seguindo o mesmo rumo, são também completos desconhecidos, alguns deles com carreira somente no teatro, até então. Peeli ao Vivo, desta forma, apresenta um cinema com tanta qualidade de conteúdo e forma, que simplesmente não depende de nomes pra fazer sua fama. E isso o cinema indiano também não conhecia.

É assim que, quando se olha para os últimos dez anos do cinema indiano, o que se vê foram mudanças intensas que deram início a um novo patamar de se fazer filmes na Índia. Vários nomes podem ser citados, mas a liderança de Aamir Khan, hoje o mais bem pago astro do cinema indiano, é unânime. Afrouxando a camada grossa que sempre separou o cinema industrial do chamado “cinema paralelo”, ou de arte, indiano, Aamir apresentou ao público comum novas possibilidades de se contar histórias na tela grande.

E o êxito desta mudança está sendo agora apresentado com uma retrospectiva de cinco dos mais proeminentes filmes em que Aamir Khan participou, seja como ator, seja como produtor, seja como diretor, ou tudo isso junto, ao longo desta última década.


Clique aqui e confirme sua presença na mostra em nosso evento no facebook e mande convites pros seus amigos!


Confira aqui a programação ou pelo site do MAM:


05/08 - Sexta
18h30 - DEV.D (2009), de Anurag Kashyap. 144'

06/08 - Sábado
16h - PEEPLI AO VIVO (Peepli Live, 2010), de Anusha Rizvi. 95'
18h -
SIGA EM FRENTE, MUNNA BHAI (Lage Raho Munna Bhai, 2006), de Rajkumar Hirani. 144'

07/08 - Domingo
16h - O IMPOSTO (Lagaan, 2001), de Ashutosh Gowariker. 224'

11/08 - Quinta
18h30 - A COR DO SACRIFÍCIO (Rang De Basanti, 2006), de Rakeysh Omprakash Mehra. 157'

12/08 - Sexta
18h30 - OMKARA (2006), de Vishal Bhardwaj. 155'

13/08 - Sábado
16h - JODHAA AKBAR (2008), de Ashutosh Gowariker. 213'

14/08 - Domingo
16h - COMO ESTRELAS NA TERRA (Taare Zameen Par, 2007), de Aamir Khan. 165'

19/08 - Sexta
18h30 - AMOR, SEXO E TRAIÇÃO (Love, Sex aur Dhokha, 2010), de Dibakar Banerjee.

21/08 - Domingo
16h - 3 IDIOTAS (3 Idiots, 2009), de Rajkumar Hirani. 170'

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terça-feira, 12 de julho de 2011

"3 Idiots" (2009) de volta no CineÍndia!

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As coisas conspiram a favor de 3 Idiots. Quando ele foi exibido em fevereiro no CineÍndia, como belo exemplo para o ciclo de então ("A Sociedade Indiana"), a comocão foi geral e os pedidos para que exibíssemos essa obra de novo foram unânimes. Até aquele momento ainda não tínhamos fechado qual seria o ciclo seguinte, mas estávamos convencidos de que provavelmente teríamos que realizar uma sessão especial só para reexibir 3 Idiots.

Acontece que mês vai, mês vem, decidimos que o novo ciclo traria nada mais que As Maiores Bilheterias de Bollywood. E isso não é pouco! Tanto não é pouco que a maior bilheteria dentre todas foi conquistada por este filme que será, finalmente, mostrado mais uma vez no CineÍndia. Assim matamos vários coelhos numa cajadada só (simbólicos, porque sou vegetariano), abrindo com pompa o novo ciclo, e atendendo aos veementes pedidos desse povo querido que quase não se controla quando ouve "aal izz well".

Pois bem, 3 Idiots é mesmo muito especial e se você ainda não conhece é agora a hora de desfazer esse terrível débito. Embora a presença de Aamir Khan seja supostamente "apenas" como ator, é evidente que sua genialidade e capacidade transformadora fez toda diferença tanto no filme, quanto no fato dele ter quebrado os recordes de bilheteria. Em resumo, é imperdível.

Pra quem puder, peço que confirme presença em nossa página no Facebook, aqui.


Cineclube CineÍndia - "3 Idiots"
24 de Julho de 2011, às 18h00
Local: CECISP - Centro Cineclubista de São Paulo
Rua Augusta, 1239 - Sala 13
Próximo ao Metrô Consolação

*GRÁTIS*


E aqui vai o trailer:

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