Queridos, como já é tradição, final de outubro é quando acontece a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, este ano em sua 35ª edição. E como já é tradição do CinemaIndiano.com, é hora de sabermos quais são os filmes indianos programados! Mas desta vez, no entanto, faremos uma coisa especial: pra unir o útil ao agradável, o CineÍndia, que estava programado pro dia 30 de outubro, passará pro dia 29 e não será no CECISP, onde sempre ocorre, mas sim na própria Mostra!
Apenas dois filmes indianos estão programados para este ano na 35ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e será na exibição de um deles que faremos o encontro do CineÍndia. Gostaria de lembrar que a Mostra é sempre muito disputada, então peço a todos que estejam dispostos a ir que comprem o ingresso com antecedência - é possível comprar pelo próprio site da Mostra (os links pra cada filme estão abaixo). A programação completa pode ser vista aqui.
Então vamos às informações. Em destque está a exibição casada com o CineÍndia:
Bollywood: A Maior História de Amor de Todos os Tempos (Bollywood: The Greatest Love Story Ever Told, 2011), de Rakeysh Omprakash Mehra e Jeff Zimbalist
25/10, às 23h40 - Cine SABESP
26/10, às 18h40 - Unibanco Arteplex Frei Caneca
29/10, às 19h50 - Cine Livraria Cultura*Sessão CineÍndia*
2/11, às 15h40 - Reserva Cultural
3/11, às 14h00 - Unibanco Arteplex Frei Caneca
Mais informações e ingresso aqui. Abaixo segue o trailer:
Black Friday, ou Sexta-Feira Negra, é oficialmente o filme de estreia de Anurag Kashyap. No entanto, a verdade é que Anurag já vinha se construindo um certo tempo antes. E essa construção significou não somente a direção de um curta metragem e a produção de vários roteiros, mas também a realização de um longa anterior a Black Friday, chamado Paanch, mas que por imposição do previsível destino, foi integralmente censurado. E por quê? Segundo ele próprio, porque falava de sexo, drogas e rock-n'-roll - e não da maneira romanceada de Bollywood, mas da maneira, digamos, mais real, conforme nós aqui já estamos acostumados.
Então ele resolveu que queria fazer um filme pra ser visto, e não censurado, mas que não saísse de sua própria proposta autoral e não mercadológica. Baseado num livro de Hussain Zaidi, fez Black Friday. Recriou a história que levou aos atentatos terroristas em Mumbai em 1993, até hoje os piores da história da Índia, dissecando personalidades, reconstruindo medos e objetivos e escancarando verdades.
E o filme entrou em cartaz em 2004? Não. Anurag ficou feliz por isso? Não. O governo da maior democracia do mundo não entendeu que Black Friday fosse uma obra de ficção e, pior, considerou que permitir que o filme entrasse em cartaz pudesse induzir os julgamentos dos acusados - que ainda esperavam por isso, onze anos depois. Anurag contestou, disse que era ficção, já que a imensa parte do filme é construída com diálogos inventados e são atores interpretando. "Mas os nomes são reais!", contestaram as espertas mentes reguladoras do cinema indiano.
Mas Anurag teve um trunfo: sua obra foi indicada ao prêmio de melhor filme no Festival de Locarno, e levou o prêmio no 3º Festival do Cinema Indiano em Los Angeles, ambos em 2004. O resultado é que o filme ganhou projeção internacional e, em dois tempos, já havia na Índia cópias piratas. Não levou muito tempo pra que alguém do governo indiano assiste ao filme e se surpreendesse com o fato de que Black Friday não havia entrado em cartaz no país. E foi quando a reviravolta ocorreu; em 2007, Anurag teria seu primeiro filme estreando na Índia, um ano após o julgamento dos acusados do atentado de 1993.
E a crítica indiana amou o filme, com uma média de quatro estrelas, ou mesmo a rara cinco estrelas dada pelo The Times of India. Na bilheteria, obviamente, não foi grande coisa, mas Anurag lançava-se como um grande e persistente cineasta indiano e o reconhecimento era unânime.
Black Friday é evidentemente um filme forte, mas que agrada muito quando o que se considera é a inovação cinematográfica, não necessariamente indiana. Existe uma série de experimentações, desde o uso de imagens monocromáticas, em azul ou em vermelho, em momentos que o espectador logo reconhece e assimila a intensidade e propósito da cena, até a intercalação com imagens reais documentadas por canais de televisão à época dos atentados.
Também agrada bastante o realismo das interpretacões, centrada sobretudo em Kay Kay Menon e Pavan Malhotra, ainda que em outros casos haja um exagero evidente, provavelmente pelo que o próprio Anurag afirmou em relação ao cinema indiano: há falta de atores realistas na Índia.
Black Friday começa com um suspeito sendo tortura...-interrogado- e dizendo que Mumbai será alvo de uma série de ataques terroristas. Cita os locais exatos, inclusive. A polícia ri da cara dele, considera impossível o que ele estava relatando, em desespero, mas três dias depois acontecem os atentados, matando mais de 250 pessoas e ferindo outras mil e muitas.
E a partir de então o filme percorre um tenso movimento da polícia contra os suspeitos, e vice-versa, construindo diálogos, torturas e revelações, relembrando momentos anteriores aos ataques - não em flashbacks, mas em sequências completas de reconstituição -, relatados pelos próprios suspeitos. A história termina com o começo, e não há problema em dizer isso aqui; o ciclo se fecha para a própria polícia, ainda que na vida real o desfecho com os acusados tenha se encerrado somente em 2006.
E mais uma trívia do filme: Danny Boyle afirmou que o filme é uma de suas inspirações para Quem Quer ser um Milionário?, sobretudo a cena de perseguição na favela - que, aliás, é um dos poucos momentos engraçados do filme.
Black Friday é recomendadíssimo. Anurag Kashyap lançou seus pilares definitivos sobre a Índia a partir de então e um séquito já percorre seus passos. Não encontrei um trailer do filme, mas passo aqui pra vocês uma das cenas que mais me surpreenderam em termos de atuação e diálogo. Não tem legendas aqui, mas vale assistir.
E como eu havia adiantado, paralelamente à V Mostra de Bollywood e Cinema Indiano, que já está acontecendo na Cinemateca Brasileira, vamos realizar a Retrospectiva do Anurag Kashyap no SESC Pinheiros e ele mesmo estará presente na abertura do evento pra um bate-papo com o público.
Já estamos em cima da hora aqui, mas o evento já vinha sendo anunciado no facebook e outros meios por aí. A abertura será no dia 4 de outubro, terça-feira, às 19h. Exibiremos o filme Dev.D e em seguida o Anurag Kashyap irá conversar com o público, mediado por mim, Ibirá Machado, e pela cineasta Beatriz Seigner, diretora do filme Bollywood Dream.
O debate não será somente pra falar sobre Dev.D, mas principalmente sobre o novíssimo cinema indiano que está nascendo com extrema força, energia e vontade, movimento este que tem em Anurag Kashyap uma das principais lideranças.
Durante todas as terças-feiras de outubro serão exibidos os sete filmes de Anurag (dirigidos ou produzidos por ele). A oportunidade não só é absolutamente única, como também estamos trazendo um filme que ainda está em cartaz na Índia, A Garota dos Sapatos Amarelos (That Girl in Yellow Boots), que é provavelmente o mais ousado e mais refinado de Anurag Kashyap. Segue a programação:
Retrospectiva Anurag Kashyap
SESC Pinheiros
Rua Paes Leme, 195
Metrô Faria Lima
Entrada Franca - Retirar ingressos com uma hora de antecedência
04/10
19h - Dev.D (2009), dir. Anurag Kashyap
+após a exibição do filme será realizado um debate com a presença do diretor
11/10
17h - Não Fume (No Smoking, 2007), dir. Anurag Kashyap
19h30 - Sexta-Feira Negra (Black Friday, 2004), dir. Anurag Kashyap
18/10
17h - Gulaal (2009), dir. Anurag Kashyap
19h30 - A Garota dos Sapatos Amarelos (That Girl in Yellow Boots, 2011), dir. Anurag Kashyap
25/10
17h - Diabo (Shaitan, 2010), dir. Bejoy Nambiar
19h30 - Vôo (Udaan, 2010), dir. Vikramaditya Motwane
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