segunda-feira, 21 de julho de 2008

A jóia da coroa telugu - The Condom Song

Ok ok, confesso que publico este vídeo mais como tiração de sarro do qualquer outra coisa. Não se trata de produção cinematográfica, mas de um vídeo educativo, feito em Andhra Pradesh, para alertar sobre os riscos de não usar a camisinha. Em longos sete minutos, o vídeo fala sobre AIDS e outras doenças sexualmente transmissíveis, sobre como vestir corretamente a camisinha, em que situações estamos vulneráveis etc. Sei que muita gente já viu, mas mais muita gente também não viu. E como estamos falando sobre o cinema telugu, nada como um "curta" com direitos a song-and-dance e tudo mais!

Divirtam-se e, por favor, não esqueçam de usar a camisinha.

Vanaja

Trabalho de conclusão de curso na Universidade de Columbia do estreante Rajnesh Domalpalli, Vanaja é um bonito exemplo do cinema de arte telugu. Produzido em 2006, o filme trata da força de vontade de uma garota - Vanaja -, de família pobre, para aprender a dança Kuchipudi, após um tipo de guru prever seu sucesso nessa área.

Ganhou 22 prêmios, a grande maioria internacionais, mas ironicamente acabou não sendo lançado na Índia. Embora produzido por produtora indiana, filmado na Índia, com atores e diretor indiano, nenhuma distribuidora do país aceitou exibi-lo? Por quê? Onde estão as cenas de song-and-dance, atores famosos etc? Não tem isso não tem exibição. É a incredible Índia agindo mais uma vez.

Um exemplo de que é assim que as coisas ocorrem por lá é o filme Black, já citado aqui no blog. Este excelente filme, para ser aceito pelas exibidoras do país mesmo sem músicas cantadas e cenas de dança, precisou no elenco do "deus" Amitabh Bacchan e Rani Mukerji. Ainda assim, o filme não fez sucesso algum.

Cinema Telugu - తెలుగు సినిమా

A indústria de cinema telugu é aquela instalada no estado de Andhra Pradesh, cuja capital é a próspera cidade de Hyderabad. Este estado é mais um dos quatro no sul da Índia. Até agora já falamos sobre as indústrias regionais kannada, de Karnataka, e malayalam, do Kerala e, para completar a série das indústrias regionais do sul da Índia, ainda estará faltando falar sobre o cinema tamil, do estado de Tamil Nadu, cuja capital é Chennai, antiga Madras.


Com origem incerta, o nome da indústria de cinema telugu – Tollywood – provavelmente deriva de Hollywood, como sempre, unido com o nome da língua daquele estado, “telugu”. O fato é que, embora em segundo plano, Tollywood compete com Bollywood em número de filmes produzidos por ano e deve ter a segunda maior audiência do país. Tanto isso é um fato concreto, que o cinema de Andhra Pradesh não conta com patrocínios somente das indústrias de seu estado, mas também dos estados vizinhos, como o Karnataka. Não só bastasse isso, no estado sulino do Kerala, abordado em nossa última postagem, a maior parte do público de cinema está indo atrás das produções telugu, em detrimento dos filmes malayalam do próprio estado, indício claro da decadência citada na indústria de cinema malayalam.


Tollywood não apenas produz muitos filmes, mas também consegue atingir um certo grau de qualidade nas suas películas. Prova disso é também o fato de que muito de suas produções são posteriormente refilmadas em Bollywood ou em Kollywood, no estado vizinho de Tamil Nadu, outra grande indústria regional.


Mas o cinema de Andhra Pradesh ainda não se contenta só com isso e resolveu quebrar alguns recordes – não só indianos, mas também mundiais. Existem ali mais salas de cinemas que qualquer outro estado indiano, somando cerca de 2700 salas, sendo ao menos 150 na capital, Hyderabad. E Andhra Pradesh não é o maior estado do país, ficando ainda atrás do Maharashtra, Madhya Pradesh e Rajastão; é ainda o quinto em população e o terceiro mais rico da Índia. No Guinnes Book, o cinema telugu pontua recordes como tendo o diretor e a diretora que mais fizeram filmes no mundo, o maior número de filmes produzidos por só uma pessoa, o maior número de atuações em filmes para um ator e, ainda, um dos mais importantes, Tollywood sedia o maior estúdio de cinema do mundo – a Ramoji Film City, criado em 1996, numa área de quase 8Km². A foto acima é a entrada dos estúdios.


Bom, mas vamos à história. O cinema telugu começou cedo, em 1921, com o filme mudo Bhisma Pratighna, dirigido pela dupla de pai e filho Raghupati Venkaiah e R.S. Prakash. Ambos ainda produziram mais vários filmes mudos nessa década, focando sobretudo temas religiosos e morais. Com a chegada do cinema falado na Índia, Andhra Pradesh lançou seu Bhakta Prahlad em 1931, mas foi Lavakusa, em 1934, o primeiro grande sucesso. Dirigido por C. Pullaiah, este filme trouxe o público jovem para as salas de cinema telugu, mostrando na película um dos temas de maior sucesso até hoje na Índia: o Ramayana.


Em 1936, finalmente, o filme Prema Vijayam, de Krithiventi Nageswara Rao, inaugurou em Andhra Pradesh o que hoje é o tema de maior sucesso nos cinemas de qualquer região da Índia: dois jovens que se apaixonam e querem se casar, em detrimento do que as famílias desejam numa sociedade de casamentos arranjados. O rompimento dos temas mitológicos fez surgir nos anos subsequentes uma série de sucessos que tratavam não só de temas puramente amorosos, mas também de temas sociais Vandemataram e Malli Pelli, ambos de 1939, tocavam nas questões dos intocáveis e do dote que deve ser pago pela família da noive, até hoje não rompidas na Índia.


Na década seguinte, porém, a produção telugu caiu drasticamente, provavelmente por causa da Segunda Guerra Mundial, que acabou contando com a participação da Índia, ainda colônia britânica. Após a independência do país e reestruturação econômica, Andhra Pradesh, vagarosamente, voltou a produzir filmes.


Nos anos recentes, o cinema telugu desenvolveu-se de maneira acelerada no sentido de produzir mais e melhores filmes, somando cada vez mais prêmiações, não só dentro da Índia, mas também em festivais fora do país. Em 1979, Sankarabharanam, de K. Vishwanath, foi o primeiro filme telugu a ganhar o prêmio de melhor filme no National Film Awards. No ano seguinte, o filme Saptapadhi, de novo de K. Vishwanath, também ganhou o prêmio de melhor filme, no National Film Awards, tratando de temas sociais complexos. Em seguida veio Rudraveena, de K. Balachander, que ganhou o prêmio de melhor filme no National Film Awards, como também o de melhor direção de música e melhor playback para o ator Balasubramanyam. Em 2006 foi a vez de Hope, de Satish Saketty.


Mas não é só de Tollywood que vive o cinema telugu. Existem alguns consideráveis diretores independentes, produzindo desde filmes de temas sociais – que na verdade já vinham sendo tratados desde o princípio das produções regionais de Andhra Pradesh -, como também temas simples, como a luta de uma menina para aprender a dançar, em Vanaja (2006). Destacam-se B. Narsing Rao (Rangula Kala e Daasi) e Singitham Sreenivasa Rao (Samskara, Taram Marindi, Mayuri e Pushpak Vimanam).

terça-feira, 15 de julho de 2008

Twenty:20 - O mega-sucesso ainda não lançado no Kerala

No Kerala existe a AMMA, que significa Association of Malayalam Movie Artists (Associação dos Artistas de Cinema Malayalam), criada nos anos 90 para tentar, de alguma maneira, salvar o cinema malayalam que estava visivelmente declinando. Hoje com mais de 300 membros, a AMMA (que também significa mãe) é a principal produtora de filmes no Kerala e também é ela que realiza o principal evento de premiação do cinema malayalam.

Estou falando dela não só porque ela não foi citada no post anterior, mas também para falar do filme Twenty:20 que ainda está sendo filmado por lá. Este filme irá contar com praticamente todos os atores malayalis (mais um menos uns 65 estão na lista), que participarão de graça. O tema do filme, ao que tudo indica, remete à paixão nacional que é o críquete - twenty:20 é uma modalidade desse esporte -, além de a fórmula adotada ser tal e qual se usa em Bollywood.

Todo esse apelo para que Twenty:20 seja o maior blockbuster de todos os tempos do Kerala tem um porquê: arrecadar fundos para a AMMA, e assim permitir que o Kerala produza mais e melhores filmes.

Aí vai uma reportagem sobre as filmagens do filme pra vocês poderem ter uma mínima idéia de como isso será. Tá tudo em malayalam, que acho que vocês compreendem tanto quanto eu, mas, na verdade, só as imagens importam.

Aqui está a página oficial da AMMA: http://malayalamcinema.com/index.php

sábado, 12 de julho de 2008

Cinema Malayalam - മലയാളം സിനിമ

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Não, a foto acima não é no nordeste brasileiro, mas no estado indiano do Kerala, na costa sudoeste do país. As palmeiras de coco são originais dali, trazidas ao Brasil pelos portugueses na época das grandes navegações. Em troca, os portugueses levaram à Índia o nosso caju e a nossa mandioca, que são por lá chamados kaju e tapyok.

O cinema malayalam está sediado neste estado das palmeiras de coco. Embora menor e mais pobre que seu estado vizinho do Karnataka, o cinema malayalam é muito mais próspero e também um pouco mais antigo.

Para quem não sabe, o Kerala se destaca na Índia por três características bem distintas: praias, medicina ayurvédica e socialismo. Praias e ayurveda estão mais ou menos relacionadas no sentido que são esses os dois principais fatores que atraem turistas estrangeiros para aquele estado (para quem não sabe o que é ayurveda, sugiro pesquisar no blog da Prof. Sandra Bose; procurando o tag com esse nome você encontrará bons artigos sobre isso). O socialismo, no entanto, não tem a ver com os últimos dois fatores, embora os turistas costumem perceber o apelo comunista nas bandeiras por vezes espalhadas pelas ruas das maiores cidades malayalis. Mas, é este o principal tema por trás dos filmes produzidos no Kerala, reproduzindo temas sociais e problemas familiares, sendo, assim, considerados mais realistas do que os filmes de Bollywood.

O primeiro filme malayali, Vigathakumaran, foi lançado em 1928, dirigido e produzido por um empresário que nunca tinha tido experiências na área. O segundo, chamado, Marthanda Varma, foi produzido em 1933, mas jamais foi lançado devido a problemas legais na época. Em 1938, finalmente, o primeiro filme falado do Kerala foi lançado e chamava-se Balan. O diretor S. Nottani, porém, não tinha escolha e teve que filmar sua produção no estado vizinho, de Tamil Nadu. Assim ficou por mais uma década quando, em 1947, foi fundado o primeiro estúdio no Kerala, chamado Udaya.

Desde os tempos do Império Britânico os filmes malayalis eram feitos com temas de abordagem social. Jeevithanauka (1951), abordava a questão da briga de egos dentro de uma casa indiana típica, ou seja, uma joint family (duas famílias ou mais vivendo juntas, geralmente de irmãos que casaram e permanecem na casa). O filme foi o primeiro grande sucesso no Kerala. Ironicamente, porém, os filmes feitos após Jeevithanauka copiaram a mesma fórmula de sucesso, o que acabou minando a criatividade que vinha se desenvolvendo no cinema malayalam.

Em 1954 foi lançado Neelakkuyil, filme que se tornou nacionalmente reconhecido após receber a medalha de prata do Presidente e foi considerado o primeiro filme autenticamente malayali. Ele foi escrito por Uroob e dirigido pela dupla P. Bhaskaran e Ramu Kariat. À parte a falta de criatividade que ainda vingava, em 1955 foi lançado o Newspaper Boy, contando a história de um garoto que trabalhava numa gráfica e sua família extremamente pobre, utilizando-se de recursos do neorealismo italiano. Dez anos depois, o filme Chemmeen, dirigido por Ramu Kariat, ganhou as ruas da Índia após ganhar um prêmio nacional. O filme conta a história de um pescador, numa vila de pescadores, que acredita que a boa pescaria depende da fidelidade de sua esposa o aguardando na praia no final de todo dia – remontando, assim, ao mito da mãe-mar que preserva e destrói a vila.

Como nos outros estados indianos, nos anos 70 surge a nova era do cinema malayalam, com diretores apontando para o cinema de arte. Swayamvaram (1972), de Adoor Gopalakrishnan, ficou internacionalmente conhecido, mas foi Nirmalyam (1973), de M.T. Vasudevan, que ganhou a medalha de ouro do Presidente para o melhor filme do ano. Em 1981, Gopalakrishnan lançou Elipathayam, que ganhou o prêmio de melhor filme do British Film Institute.

No entanto, os filmes produzidos na segunda metade da década de 80 é que criaram a era de ouro no cinema malayalam. As produções dessa época primaram em detalhes e sensibilidade nos temas abordados, aliados às boas técnicas de filmagem e direção. Destacam-se os filmes Namukku Parkkan Munthiri Thoppukal (1986), de Padmarajan, e Perumthachan (1990), de Ajayan. Os filmes da era de ouro renovaram a criatividade malayali, percorrendo desde temas melancólicos até boas comédias.

Na década de 90, porém, o cinema malayalam adotou o apelo popular de Bollywood, mas sem perder em qualidade. O filme Swaham (1994), por exemplo, foi o primeiro do Kerala a ser indicado no Festival de Cannes. Nos anos recentes, a produção da região voltou a perder a criatividade e começou a produzir apenas comédias sem qualidade, com pouquíssimas exceções. O resultado disso é que as produções de Bollywood e do estado vizinho de Tamil Nadu estão, no momento, na preferência do povo malayali.


quinta-feira, 10 de julho de 2008

Mostra de Bollywood - Rio de Janeiro


Infelizmente não fiquei sabendo a tempo de avisar vocês sobre uma palestra que teve hoje à noite aqui em São Paulo, chamada Música e Cinema de Bollywood, realizada na Cinemateca Brasileira, na Vila Mariana. Nem eu mesmo fiquei sabendo a tempo de poder me programar e ir ver. A conferência foi feita por Pavitra Sundar, que acabou de concluir seu doutorado na Universidade de Michigan sobre o porquê de os filmes de bollywood ter aquelas famosas cenas de música e dança - o song-and-dance. Imagino que deve ter sido uma bela palestra. Se alguém, por acaso, esteve lá presente, por favor escreva aqui contando para nós como foi.

De qualquer maneira, ainda há tempo de os cariocas prestigiarem Pavitra. O evento no Rio de Janeiro ocorrerá na Cinemateca do Museu de Arte Contemporânea, junto do festival Cinema de Bollywood, que ocorrerá de 17 a 27 de julho. Confiram a programação neste link: http://www.bollywoodbrazil.com/mostra_rio2008.html.

Gostaria também que os cariocas que participarem deste evento escrevessem aqui contando como foi, por favor! Inclusive há alguns filmes na mostra do Rio que eu ainda não vi, e gostaria de saber sobre eles.

Om Shanti Om

Makin' Vindaloo - Dollywood - Cinema de Bangladesh


Nossa amiga Patrícia me mostrou esse clipe de uma cena de música de um filme de Bangladesh, chamado Makin' Vindaloo. Embora Bangladesh não seja Índia, eu considero por mim mesmo que tanto Bangladesh quanto Paquistão são Índia parte da "civilização indiana", se é que assim posso chamar.

Assim sendo, quando possível, também postarei sobre a produção desses dois países, embora seja bem menos acessíveis que as produções indianas.

No entanto, não consegui encontrar informação nenhuma sobre esse incrível e surpreendente filme do clipe acima. Eu fiquei pasmo ao ver as cenas que vocês também verão, que certamente remontam às mais ancestrais sabedorias da civilização indiana, sem sombras de dúvidas.

Se alguém tiver mais informações sobre esse filme, por favor, sintam-se livres para contribuir e todos nós agradeceremos!

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Satyajeet Ray

Esse curto filminho fala um pouquinho da obra de Satyajeet Ray. Está em inglês. No final aparece o nome de suas principais obras.

Cinema Bengalês - Satyajit Ray (সত্যজিত রায)


Vocês devem se lembrar que eu havia dito que o cinema bengalês é conhecido por sua produção de arte, o que o faz ser reconhecido por bons filmes, mais do que pelas produções populares. Pois é em grandíssima medida devido a Satyajit Ray que o cinema de West Bengal tomou este rumo e posicionou-se no mundo como região de vanguarda da produção cinematográfica mundial. Vejam o vídeo que postei logo acima com breves relatos sobre a produção de Ray.

Nascido em família de proeminentes artistas, em 2 de maio de 1921, Satyajit estudou em boas escolas e passou um breve tempo em Londres. Mas foi essa breve visita à capital inglesa que mudou sua vida. Em seis meses, consta que ele assistiu nada menos que 200 filmes. Ao retornar, estava com a cabeça repleta de ideias de filmes e logo reuniu alguns amigos na produção de Pather Panchali (1955), seu primeiro filme, baseado na famosa obra homônima bengalesa. Com este filme, Ray ganhou onze prêmios internacionais, incluindo o Best Human Document no Festival de Cannes. Logo após, filmou Aparajito (1956) e Apur Sansar (1959), completando, assim, o que ficou chamado de Trilogia de Apu, sua grande obra-prima.

No total, Satyajit Ray produziu 37 filmes, incluindo seus documentários e curta-metragens. Recebeu inúmeros prêmios, dentro e fora da Índia. Desses, no entanto, o mais importante foi o oferecido pela Academia, o Academy Honorary Award. Em 1992, Satyajit, estremamente debilitado devido a uma doença cardíaca, foi agraciado pelo Oscar especial em honra à toda sua obra. Pouco depois, morreu.

Mas Satyajit Ray não era apenas um diretor. Sua mente extremamente criativa também fez dele um escritor de livros e também designer gráfico. Sua obra literária esteve sempre entremeada a enigmas e seus livros acabaram compondo parte da educação das crianças bengalesas.

O reconhecimento de Satyajit veio antes pelo nome dele, como ele mesmo costumava dizer. Na época em que ele começou a filmar, não havia ainda o costume na Índia de fazer legendas para os filmes, para que eles pudessem ser exibidos em outras regiões. No entanto, já havia no West Bengal alguns periódicos em inglês e, a partir deles, as outras regiões da Índia entraram em contato com o nome de Satyajit Ray. Esses jornais e revistas exaltavam sua obra, fazendo grandes elogios a seus filmes, mas ainda não havia acesso a eles fora do West Bengal. Foi pouco a pouco que seus filmes foram sendo traduzidos e levados a outras regiões e para fora da Índia, colocando Satyajit, definitivamente, entre os melhores diretores do mundo no século XX.

A crítica costumava chamar Satyajit de grande humanista e universalista. Embora seus filmes retratassem realidades da região de Calcutá, ele tocava em temas universais a todo ser humano. Mais ou menos como os filmes do Cinema Novo no Brasil, os filmes de Satyajit tinham a pobreza e realidade do país como grande tema, o que acabou levando, também, a críticas de que ele estaria "exportanto pobreza".

Mas, de qualquer maneira, ele recebeu 32 prêmios do National Film Awards, dado pelo governo indiano, além de receber a mais alta condecoração civil do país, o Bharat Ratna, pouco antes de sua morte. A Universidade de Oxford deu a ele o título de Doutor Honoris Causa, o segundo dado a alguém do cinema (o primeiro havia sido dado a Chaplin). Seu último prêmio, e mais importante, foi o Oscar, recebido no ano de sua morte.

Existem duas instituições cujo únicos objetivos são o estudo e divulgação da obra de Satyajeet Ray: http://www.satyajitray.org.uk/ e http://www.satyajitray.org/.
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terça-feira, 8 de julho de 2008

Mudanças no Cinema Kannada

Esse vídeo é uma reportagem que passou na CNN-Índia sobre as recentes mudanças no cinema de Karnataka. O vídeo tá em inglês (inglês indiano, ainda por cima...), mas ele diz da produção recente, do filme Mungaru Male e do lançamento dos filmes Kannada em outros países.

Eu esqueci de dizer, na postagem anterior, que as produções atuais do Karnataka estão convergindo para o mesmo estilo das produções bollywoodianas, porque, invariavelmente, é o que o público indiano gosta.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Sandalwood - Cinema do Karnataka


Karnataka é um dos quatro estados que compõem o sul da Índia, cuja capital é a própera cidade de Bangalore, atual Bengaluru. A língua falada naquele estado é o Kannada, do tronco lingüístico Dravidiano (assim como nos outros três estados do sul), totalmente distinto do tronco linguístico do norte, que é o Sânscrito. Portanto, o cinema de Karnataka é majoritariamente falado em Kannada, embora alguns filmes sejam também produzidos em Tulu, falado por uma minoria, e em Konkani, falado principalmente no estado vizinho de Goa.


O apelido dado à indústria de cinema do Karnataka – Sandalwood – é, na verdade, uma brincadeira. O prefixo “sandal” não está relacionado ao bairro em que estão os estúdios, como costuma ser (e daí apenas agrega-se a palavra “wood”, de Hollywood), mas sandalwood nada mais é que o sândalo. Neste estado, o sândalo produzido é considerado o melhor do mundo. O “wood” de sandalwood apenas veio a calhar e virou o nome da indústria cinematográfica local.


Em 1934 foi lançado o primeiro filme falado em Kannada na Índia, chamado Sati Sulochana, seguido depois pelo filme Bhakta Dhruva. Embora ambos os filmes tenham sido sucessos na época, os produtores e diretores tinham um sério problema: não havia estrutura para a produção cinematográfica no Karnataka. Esses dois primeiros filmes foram filmados nos estúdios de Kolhapur, do estado vizinho do Maharashtra, sede de nada mais que Bollywood, e a produção de som foi realizada em Chennai (na época Madras), no outro estado vizinho de Tamil Nadu. Além disso, como a elite indiana da época concentrava-se principalmente em Mumbai, Nova Delhi e Calcutá, os financiamentos para o cinema eram realizados principalmente nessas localidades.


Nos anos 50, já com a Índia independente (mas financiamentos ainda esparsos), o cinema em Kannada viu surgir seu mais importante astro, Dr. RajKumar, no filme mitológico Bedara Kannappa. A década de 60 seguiu fraca, com RajKumar estrelando todos os poucos filmes produzidos na época. É ele que aparece na foto acima, à frente do mapa do Karnataka.


Foi nas décadas de 70 e 80 que o cinema Kannada viveu seus anos dourados, principalmente com o surgimento do cinema alternativo na Índia, também chamado New Age (Nova Era). Em 1977, o filme Ghata Shraddha foi o primeiro do cinema Kannada a receber uma premiação nacional de melhor filme. Na mesma época surgiu o diretor Puttanna Kanagal, considerado o melhor da indústria local, produzindo filmes como Bellimoda, Gejje, Pooje e Sharapanjara Sakshatkara. Na década de 80, o governo do Karnataka deu 50% de isenção de impostos para os filmes 100% produzidos no estado, como forma de popularizar a produção local.


Nos anos recentes, três filmes fizeram a alegria dos produtores do Karnataka, engrossando os cofres da indústria Kannada. Foram eles Jogi (2005), Mungaru Male (2006) e Duniya (2007). Este último foi também lançado nos outros países com colônias indianas, colocando o cinema Kannada literalmente no mundo.


O resultado desse crescimento recente também se manifestou em um duplo fenômeno. Os atores, atrizes e diretores mais populares do Karnataka aceitaram belas propostas ($) para filmes em outras indústrias da Índia, assim como personalidades dessas outras indústrias, como Amitabh Bacchan, estrelaram filmes Kannada.