domingo, 29 de novembro de 2009

River to River - Florence Indian Film Festival

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Attenzione italianos, brasileiros, portugueses e afins que estiverem pelas bandas de Florença na primeira semana de dezembro! Dos dias 4 ao 10 do último mês do ano, a estonteante cidade italiana, berço do Renascimento, abrigará a nona edição do mais antigo festival de cinema exclusivamente indiano fora da Índia.

Batizado como River to River (Rio a Rio), a ideia é expressar uma conexão entre os rios Arno (que banha a cidade italiana) e o Ganges (o mais famoso e sagrado da Índia). E assim, estabelecer um diálogo além-Bollywood, mais como uma proposta de homenagear o que se faz na Índia no seio da sétima arte e que pode ser assimilado pelo mundo. O festival, de fato, pouco exibe do Bollywood comercial e tradicionalmente resgata obras antigas, lá dos anos 50, por exemplo. Além disso, também dá espaço a produções independentes, além de alguns curtametragens, todos recentíssimos.

Na programação, aparecem obras de diretores de peso, como o lendário Guru Dutt e Deepa Mehta. O mais bollywoodiano dos filmes a aparecer será Kaminey (2009), e a programação contará com uma exibição de Sita Sings the Blues (2008), que em verdade não é indiano - mas tá valendo!

E preciso também dizer que esse festival faz parte de uma mostra bem maior que acontece desde 2007 em Florença, chamada 50 Giorni di Cinema Internazionale a Firenze (50 Dias de Cinema Internacional em Florença), e que este ano está em andamento desde o dia 27 de outubro, indo até 17 de dezembro.

A programação do festival pode ser conferida aqui, em inglês ou italiano.

Andiamo via!

sábado, 28 de novembro de 2009

Abhi-Aish em comercial do sabonete Lux

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Pela primeira vez na história, o casal mais famoso da Índia, Aishwarya Rai e Abhishek Bachchan, estrelam juntos um comercial que está neste momento passando nas televisões indianas. Trata-se da nova linha de sabonetes Lux, com duas versões com óleos essenciais, de morango e de pêssego.

Não se fala em valores, mas nos bastidores dizem que o casal cobrou um cachê bem alto. Na verdade, eles já teriam sido abordados muitas vezes por várias empresas, mas dado o valor exigido, jamais conseguiram enfrentar o desafio. Dessa vez, a Unilever (dona da marca Lux) topou bancar o casal no lançamento desse novo produto. E obviamente que quem fizesse isso pela primeira vez se daria muito bem; o comercial já virou tema de reportagens em diferentes programas de televisão e em mídia impressa. Se as vendas do produto deslancharam ou não eu não sei, mas que a marca conseguiu grande exposição, isso certamente conseguiu.

De qualquer maneira, Aishwarya é garota propaganda do Lux há mais de dez anos, o que em princípio quebraria um pouco o ineditismo do comercial. Mas o fato de serem Aish e Abhi o casal mais desejado do país, daí as coisas mudam demais de perspectiva.

Bom, essa peça foi feita pela Short Films, de Londres, com direção de Stephen Mead. O dedo efetivamente indiano (além do casal, é óbvio) foi dado na música que acompanha o comercial, feita por nada mais que Shankar-Ehsaan-Loy.

Confiram:



Colaborou: Vinicius

terça-feira, 24 de novembro de 2009

40th International Film Festival of India - IFFI

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Nesta segunda-feira, dia 23/11, deu-se início o 40th International Film Festival of India - IFFI (quadragésimo festival internacional de cinema da Índia), que este ano está sendo sediado em Goa, estendendo-se até o próximo dia 3 de dezembro.

Este ano, além de celebrar quatro décadas redondas do mais importante festival de cinema do país, o IFFI 2009 guarda algo que vem criando muita expectativa entre os indianos: a divulgação da lista dos TOP20 do cinema indiano, que pode contar com a participação de todos. Entrando neste site, qualquer um pode fazer a lista dos vinte melhores filmes de todos os tempos, de acordo com uma lista já previamente selecionada por personalidades do mundo do cinema.

No final do festival, a média resultante das listas feitas pelo povo indiano será cruzada com as listas dos próprios jurados do festival (compostos por diretores, atores e afins do mundo cinematográfico), resultando no TOP20 final e definitivo.

Já agora, como não entendo e custo a entender o que se passa na mentalidade indiana, senti falta de vários filmes dentre os que podemos escolher para nosso próprio T20. Se, por exemplo, há ali Lage Raho Munna Bhai (2006), porque não há Rang De Basanti (2006), ou Black (2002)? Ok, LRMB trouxe de volta à juventude a sabedoria de Gandhi. Então será que a escolha é política? Afinal, Bandit Queen (1994) e Lagaan (2001) também estão lá. Mas veja, Sholay (1975) e Dilwale Dulhaniya Le Jayenge (1995), que de nada de políticos ou de mensagens de efeito têm, ali também estão. "Ah, mas o primeiro fez aparecer Amitabh Bachchan e o segundo lançou Shahrukh Khan e Kajol!". Ué, pois então, se é assim, que tenha também na lista o meu querido Taare Zameen Par (2007), que foi o primeiro filme indiano da história a ter os direitos de distribuição nos EUA comprado por uma produtora estadunidense, no caso a Disney.

Bom, reclamações feitas, em nada excluí minha alegria de saber que essa lista será anunciada. Nós aqui aguardaremos com muita ansiedade a sua divulgação!

sábado, 21 de novembro de 2009

Dev.D (2009) - देव-डी

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Vamos hoje falar de Dev.D, a décima versão cinematográfica já feita na Índia sobre o romance bengalês de Sarat Chandra Chattopadhyay, chamado "Devdas" (1917). Quem conhece o cinema indiano sabe bem que o filme bollywoodiano Devdas (2002), dirigido por Sanjay Leela Bhansali e estrelado por Shahrukh Khan, Aishwarya Rai e Madhuri Dixit, é um dos filmes mais emblemáticos da Índia dos últimos tempos, tendo sido, na época, a mais cara produção até então e a que mais arrecadou, sendo superada somente por Ghajini (2008).

Pois Dev.D não tenta superar o Devdas anterior. Escrito e dirigido por Anurag Kashyap, sua ideia era fazer uma releitura contemporânea da obra bengalesa do início do século XX. Dessa forma, o Devdas anterior, de Bhansali, aparece como homenageado declarado, em dois distintos momentos em que uma das personagens assiste à cena de Dola Re Dola na TV; nessas horas, Dev.D beira um meta-filme.

Pois bem, e então aqui Abhay Deol é Devendra Singh Dhillon, o Dev, filho de um rico empresário do Punjab. Mahi Gill é Paro. Ambos são amigos de infância e desde cedo gostaram muito um do outro. Acontece que Dev é um garoto dissimulado ao extremo, para desgosto do pai, que o envia a Londres para que ele fique lá por muitos e muitos anos, estudando.

No meio tempo ele segue se comunicando com Paro, pela internet e celular. Até que chega o momento de sua volta à Índia. Ambos se amam, mas é difícil consumar o que sentem por questões sociais que em princípio os impedem de ficarem juntos. Paro é então prometida por seu pai a outro rapaz. Nem Dev, em seu orgulho, e nem Paro, na sua fragilidade, conseguem reverter esse processo.

Dev vai então embora para, supostamente, sofrer menos. Mas ele jamais deixou de ser um ser dissimulado. Se afunda em drogas e bebidas e, nesse afundamento, vai parar em um prostíbulo de Delhi, onde acaba por conhecer Chanda. Pouco antes desse momento, somos apresentados a essa garota. Antes chamada Leni (Kalki Koechlin, nascida em Pondicherry, filha de pais hippies franceses que se mudaram pra lá), aos 17 anos envolveu-se desgraçadamente num escândalo, após um rapaz com quem teve relações sexuais filmar a cena e colocar na internet. Pelo que soube, essa parte do filme é baseada num caso real que ocorreu recentemente em Delhi. A história de Leni chega ao ápice quando seu pai comete suicídio por causa disso. O único caminho que ela encontra é aceitar um convite que fazem a ela, para trabalhar em um prostíbulo. Um dia, assistindo ao Dola Re Dola na TV, decide que seu nome artístico será Chandramukhi, mas vira então Chanda.

Chanda apaixona-se por Dev, que tem nela o seu refúgio, mas que ainda diz amar Paro. Paro, por sua vez, chega a demonstrar um certo carinho por Dev, mas visivelmente mostra-se feliz em seu casamento. Daí o final da história não vou dizer qual é, nem se é o mesmo do Devdas anterior, para quem conhece.

Eu gostei muito desse filme, foi uma bela surpresa. Todo o enredo é muito bem bolado, a direção é ótima, a atuação dos atores é excelente e as músicas são inusitadamente bem inseridas em todo o contexto e ritmo da história. Também achei bem divertida a presença um tanto onipresente do "The Twilight Players", um trio de dançarinos irreverentes e que fazem a vez do song-and-dance inexistente nesse filme.

Na Índia, Dev.D teve uma excelente recepção pelo público e a extensa trilha sonora (com 18 faixas e autoria de Amit Trivedi) fez bastante sucesso. Tendo estreado em fevereiro deste ano, eu posso dizer que essa obra vem numa linha muito semelhante à que veio Kaminey (2009), que estreou agora em agosto e que vem construindo novas facetas em Bollywood, sem, porém, querer substituir o que já existe e faz mais sucesso. É apenas um processo de grande enriquecimento que o cinema indiano vem vivendo.

E agora confiram o trailer de Dev.D:



sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Dia da Consciência Negra e o racismo na Índia

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Hoje é o Dia da Consciência Negra no Brasil, feriado em São Paulo e alguns outros municípios do país. Nesta data lembramos a morte de Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência negra contra a escravidão, que perdurou longamente até 1888 no Brasil. Ainda assim, estamos longe de ver nossa pátria longe do racismo e cada um de nós sabemos bem que esse mal ainda permeia cada canto de nossa sociedade.

Mas talvez como consolo, por mais cruel que isso possa ser, o preconceito racial não é exclusivo a nós e existe em cada país desse planeta, em maior ou menor grau. A Índia não escapa e, ao contrário, expõe assumidamente certas características culturais que, a nós, parece-nos absurdas.

Em janeiro deste ano eu havia postado a série de comerciais do Pond's White Beauty, um produto da Unilever India utilizado para o clareamento da pele. O comercial é estrelado por Saif Ali Khan e Priyanka Chopra, mega astros do cinema indiano, o que deixa muito claro o quanto o preconceito com a pele mais escura está intrincado por lá. Outros astros, como Shahrukh Khan, também já apareceram em comerciais recentes de clareamento de pele. Propagandas assim jamais seriam feitas em tempos atuais no Brasil.

Então, aproveitando a data, coloco aqui pra vocês uma reportagem que saiu na CNN e fala de como os produtos para clareamento de pele na Índia está sendo disseminado inclusive por entre os homens. A reportagem está em inglês; eu poderia colocar legendas, mas confesso que estou um pouco sem tempo. Se alguém se dispuser a legendá-la para que todos possam compreender, nós super agradecemos!

No começo ela mostra um pedaço de um comercial em que um rapaz diz ao amigo que ele não tem sorte por causa de seu rosto. O amigo (de pele mais clara) retruca dizendo que não é por causa do rosto, mas sim por causa da cor da pele dele. No final do comercial o amigo de pele clara sobe numa moto com uma mulher, mostrando que ele pode ser feliz e sortudo se clarear a pele. Em seguida, a reportagem diz que a venda de produtos de clareamento entre os homens subiu mais de 100% no país e que os homens por lá não têm mais vergonha de investir na própria beleza. No final, uma parlamentar indiana diz que isso tudo é sim preconceituoso e reprovável.

Confiram:



terça-feira, 17 de novembro de 2009

"Cinema Indiano" no "My Asian Movies!"

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Atenção, atenção! Acaba de sair do forno a primeira entrevista conferida por mim mesmo, Ibirá Machado, na função de dono deste blog que vos apresenta! E a entrevista não saiu em qualquer lugar, mas sim no excelente blog My Asian Movies, do madeirense Jorge Soares.

A entrevista não é longa e nem eu me alonguei nas respostas. Ou seja, não há motivos para não darem um pulinho ali e conferirem o que foi que eu disse. Aceito humildemente críticas, sejam lá ou sejam cá. Vale sempre lembrar que uma entrevista é um momento de nossa vida representado em forma de perguntas e respostas, expressando opiniões do momento - ou não -, e que naturalmente podem modificar-se no decorrer do tempo.

Ainda assim, adoro entrevistas! E achei a ideia do Jorge de publicar testemunhos de irmãos blogueiros, com alguma afinidade com seu tema - o cinema da Ásia -, muito boa! E não sei porque, mas acho que o fato de o Jorge viver na Madeira, no meio do Atlântico, dá um sabor todo especial ao seu blog.

Não deixem de conferir!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Aamir e Amitabh trocam figurinhas

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Hoje encontrei uma reportagem um tantinho interessante pra compartilhar com vocês. Aí vai:

Big B, dicas de Aamir pra 3 Idiots e Paa
Discutindo estratégias de marketing
www.india.com

Aamir Khan e Amitabh Bachchan trocaram algumas farpas alguns anos atrás quando o perfeccionista atacou o filme Black (2005), do Big B, criticando a maneira com que uma criança deficiente havia sido tratada.

Isso pode ter sido um certo golpe de marketing, já que Aamir estava ocupado preparando seu Taare Zameen Par, que mais ou menos é mais forte e mais realista que Black. Agora os dois mestres tornaram-se melhores amigos desde que Paa e 3 Idiots chegaram na reta final para seus lançamentos, daqui mais ou menos um mês.

"Eu chamo o Aamir aqui aos domingos pra discutirmos juntos algumas ideias para promover nossos respectivos filmes. É sempre uma diversão encontrá-lo... a gente sempre gastou algum tempo juntos discutindo vários temas em comum, e sim, filmes é um deles. Vamos ver agora como as coisas serão", disse Amitabh em seu blog, no últmo sábado.

Aamir Khan pode não ser muito amigo da mídia em geral, mas não podemos negar que ele seja um gênio do marketing e que sabe exatamente o que a audiência quer hoje em dia. Nos últimos anos ele não mediu esforços pra vender seus sucessos, como Rang De Basanti, Fanaa, Taare Zameen Par e recentemente Ghajini. Pra manter os fãs interessados e atraídos, Aamir manteve-se em contato com eles através de redes sociais da internet, além de ter lançado a música tema do filme online. As salas multiplexes das grandes cidades também foram instruídas a instalarem as cadeiras em forma de bunda, que aparecem no filme.

3 Idiots é vagamente baseado no livro "5 Point Someone - What not to do at IIT" (menos de 10% do livro aparece no filme). No filme, que estreia no Natal, Aamir dividirá as telonas mais uma vez com grandes atores como Madhavan e Sharman Joshi, e será a primeira vez que contracenará com Kareena Kapoor. 3 Idiots terá o maior número de salas na estreia em toda a história de Bollywood, com mais de 4 mil cópias distribuídas pelo mundo.

Por outro lado, Paa, estrelando Amitabh Bachchan, Abshishek Bachchan e Vidya Balan, é baseado no fillme estadunidense Jack. Abhishek afirmou em público que o Big B fez o melhor papel de sua carreira nesse filme, no qual ele interpreta um garoto que sofre de uma rara doença que faz com que ele envelheça três vezes mais rápido que uma criança normal.

"Já começamos a organizar nossa premiere, que não ocorrerá em um, nem em dois, mas em três lugares", disse o Big B, "e nós estamos trabalhando para uma estreia conjunta Londres-Dubai-Mumbai... as logísticas e tudo o mais estão sendo preparados e em breve teremos novas notícias".

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Rani Mukerji - रानी मुखर्जी - রাণী মুখার্জী

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Atendendo a apelos na comunidade no Orkut deste blog, chegou a merecida vez de sabermos um bocadinho mais sobre essa fabulosa, incrível e conceituada atriz, a Rani Mukerji (ou, em outras grafias possíveis, Rani Mukherjee, ou Mukherji, enfim, no final da postagem vocês entenderão melhor).

Rani é bengalesa, nascida em Calcutá, no dia 21 de março de 1978. Sua família desde há muito está no seio do cinema indiano e, sobretudo, de Bollywood. Seu pai, Ram Mukherjee, é um diretor de filmes, embora esteja agora aposentado, e foi um dos fundadores da Filmalaya Studios (uma das dezenas de subpartes de Bollywood, em Mumbai). A mãe de Rani, Krishna, era uma famosa cantora de playback dos filmes de Bollywood. Seu irmão, Raja Mukherjee, é produtor e mais recentemente tornou-se diretor também. Sua tia por parte de mãe, Debashree Roy, é uma atriz bengalesa mais do que famosa (já tendo, inclusive, sido agraciada com o National Award de melhor atriz). Dentre os primos de Rani, a mais destacada é nada mais que Kajol. Outro primo, Ayan Mukerji, também trabalha com cinema, escrevendo e dirigindo filmes. Ufa!

Bom, a pequena Rani cresceu em Mumbai, tendo estudado na Maneckji Cooper High Schooli e posteriormente entrou an Mithibai College. Ainda jovem começou a aprender Odissi, tornando-se profissional desta dança clássica indiana proveniente do estado de Orissa.

Em 1992, Rani apareceu muito rapidamente no filme bengalês Biyer Phool, de seu pai. No entanto, sua estreia oficial no cinema aconteceu anos depois, em 1996, com o filme Raja Ki Aayegi Baraat, quando ela ainda estava na faculdade. Embora seu papel tenha sido elogiado, o filme fracassou e ela retornou aos estudos. O que ela não esperava, porém, era o que ocorreria dois anos depois.

Em 1998, ela foi convidada ao filme Ghulam, ao lado de Aamir Khan. Não só o filme foi bem nas bilheterias, como Rani ficou famosa com o povão graças à música Aati Kya Khandala. Daí, em seguida, ela apareceu no super sucesso Kuch Kuch Hota Hai, ao lado de Shahrukh Khan e Kajol, no qual ganhou o prêmio de melhor atriz coadjuvante no Filmfare Awards.

De qualquer forma, em 1999 e 2000 ela não fez muito sucesso nos filmes seguintes, nem mesmo em Badal (2000), que teve boa arrecadação na bilheteria. Mas então, em 2001, ela aparece no filme Chori Chori Chupke Chupke, junto de Salman Khan e Preity Zinta, interpretando uma mulher impossibilitada de ter um filho por causa de um aborto e que procura uma mulher que aceite ser uma barriga-de-aluguel. A crítica só faltou lamber os pés de Rani com sua interpretação.

No ano seguinte, Rani protagonizou o filme Mujhse Dosti Karoge!, ao lado de Hrithik Roshan e Kareena Kapoor, marcando sua estreia na Yash Raj Films, tão cobiçada pelos atores. No mesmo ano, interpretou um excelente papel de uma jovem estudante recém-casada (e infeliz com isso) no filme Saathiya. Seu papel deu-lhe o prêmio de melhor atriz pela crítica no Filmfare Awards, além de ter sido indicada na lista oficial de melhor atriz desta mesma premiação.

Já em 2003 apareceu em 4 filmes, dentre eles Chalte Chalte e Chori Chori. No primeiro, ao lado de Shahrukh Khan, ela foi indicada pela segunda vez ao prêmio de melhor atriz. No segundo, marcou sua estreia em um papel cômico. Em 2004 foi a vez de receber seu segundo prêmio de melhor atriz coadjuvante com Yuva, de Mani Ratnam, além de também ter sido indicada ao mesmo prêmio pelo filme Veer-Zaara, que acabou por ser o maior sucesso do ano. Mas outro prêmio a aguardava neste mesmo: o de melhor atriz, também no Filmfare Awards, pela atuação Hum Tum.

Mas no ano seguinte Rani Mukerji superaria todos os seus limites. Logo no princípio do ano ela apareceu no incrível Black, de Sanjay Leela Bhansali e com Amitabh Bachchan, interpretando o impossível papel de uma mulher cega e surda, baseado na história real de Helen Keller. Rani chegou a recusar o papel, alegando não ser atriz suficiente para encará-lo. Sanjay acreditou nela, e o resultado foi a rara dupla premiação no Filmfare Awards, a de melhor atriz na lista oficial e também pela crítica, além de dezenas de outros prêmios.

Mas ainda em 2005, Rani apareceu em Bunty Aur Babli, Paheli, e Mangal Pandey. O primeiro foi um dos maiores sucessos do ano, embora os outros dois também tenham sido muito bem sucedidos.

Em 2006, Rani aparece em Kabhi Alvida Naa Kehna, ao lado de Amitabh Bachchan, Abhishek Bachchan, Shahrukh Khan e Preity Zinta, filme esse que se tornou o de maior arrecadação fora da Índia em todos os tempos. Outro filme de Rani do mesmo ano, Baabul, acabou por também fazer mais sucesso fora da Índia do que dentro do país.

Em 2007 ela apareceu em Ta Ra Rum Pum, que foi bem recebido, o que não aconteceu com Laaga Chunari Mein Daag e Saawariya. Este último, de Sanjay Leela Bhansali, foi a primeira coprodução da Sony na Índia e, graças a isso, pode ser encontrado à venda e para locação em alguns lugares aqui no Brasil.

O filme Thoda Pyaar Thoda Magic foi o único a ter Rani em 2008, mas que não fez sucesso. Agora em 2009, ela também aparece em somente um filme, Dil Bole Hadippa, no qual interpreta uma mulher que se disfarça de homem para entrar no mundo do críquete. Ao que consta, embora ainda esteja em cartaz por lá, ele também não vem fazendo sucesso.

Certo, e agora vamos à vida pessoal de Rani Mukerji.

A começar por uma característica não muito comum às personalidades em geral, que é a discrição. Os fofoqueiros em geral insistem em descobrir fatos da vida de Rani, mas o que acabam por fazer é inventar histórias, imediatamente desmentidas por ela.

Mas um fato interessante de sua vida diz respeito ao seu nome na transliteração ao inglês. Originalmente Mukherjee, ela mudou-o para Mukerji há anos, tendo alegado motivos de numerologia. No entanto, recentemente, Rani teria dito que a história da numerologia era balela e que o verdadeiro motivo para a mudança foi o fato de seu passaporte ter sido registrado como Mukerji, levando-a a adotar essa transliteração em todos os lados.

Outra estranha história de conta e desmente envolvendo Rani diz respeito a uma entrevista que ela deu à britânica Desi Xpress, na qual ela teria dito que seu ídolo é Adolf Hitler, sendo então super criticada. Um ano depois, em outra entrevista, dessa vez na Times Now, ela afirmou veementemente que jamais disse aquilo.

Em 2006, durante as filmagens de Laaga Chunari Mein Daag em Varanasi, seus seguranças particulares acabaram agredindo fisicamente a multidão que se formou em volta. Rani foi duramente criticada pela mídia por não ter interferido no que ocorreu, o que a forçou a emitir um pedido formal de desculpas à população.

Mas há também fatos memoráveis. Em 2004, Rani foi às dunas do Rajastão prestar seu apoio e solideriedade aos soldados indianos que defendem as tensas fronteiras do país com o Paquistão. No ano seguinte, apareceu com vários outros atores na HELP! Telethon Concert para arrecadar fundos às vítimas do tsunami. No mesmo ano, também participou dos shows para arrecadar dinheiro ao National Centre For Promotional of Employment for Disabled People (Centro Nacional de Promoção de Emprego aos Deficientes).

Em 2007, Rani levou 5.000.000 de rúpias (mais de 100 mil dólares) na versão indiana do Quem Quer Ser Milionário?. O dinheiro foi inteiro doado ao Holy Family Hospital, especializado em crianças com problemas cardíacos.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Entrevista com Beatriz Seigner, diretora de Bollywood Dream

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Conforme prometido na postagem sobre o filme Bollywood Dream - O Sonho Bollywoodiano, aqui vai a exclusiva entrevista com a diretora dessa excelente obra, Beatriz Seigner. O filme teve excelente recepção na 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e esteve entre os finalistas para o maior prêmio da Mostra.

Ela gentilmente topou responder a algumas perguntas que fiz, e o resultado vocês podem conferir aqui. Ela conta como foi o processo de elaboração do roteiro, como o apoio com a equipe indiana foi fundamental - sobretudo com a mão de Santosh Sivan - e declara gostar de Taare Zameen Par, dentre outros filmes.

E preciso dizer, mesmo sem ter pedido permissão, mas Beatriz tem apenas 25 anos de idade. Digo principalmente como incentivo a todos, e uso o "apenas" como prova de que com determinação somos capazes de realizar aquilo que queremos, sabendo onde meter a cara, ou tirar o corpo no momento correto. Com poesia e filosofia, essa entrevista com Beatriz Seigner fala muito mais do que as poucas perguntas que fiz.


Cinema Indiano: Fiquei sabendo que a ideia de fazer um filme na Índia surgiu mais ou menos por acaso, durante um almoço, quando você contou sobre sua viagem para esse país. Mas como foi que o roteiro em si configurou-se? Como surgiu a ideia de Bollywood?

Beatriz Seigner: Então, eu já havia morado na Índia em 2003 já com a ideia de fazer um filme que unisse Brasil e Índia, e estava fazendo um documentário sobre os valores e tradições que estão desaparecendo com o rápido processo de Ocidentalização da Índia, e vários atores, amigos meus, vinham me perguntar como poderiam ir para Bollywood participar de algum filme. Até que uma hora deu o click, e eu falei com a Lorena, na fila de uma peça, sobre fazer um filme chamado Bollywood Dream ( o nome veio junto com o click - nome em inglês pois era um sonho estrangeiro), sobre três atrizes que queriam ir para a Índia para tentar a sorte na indústria cinematográfica de lá e experimentariam os contrastes destas mudanças com as quais eu estava tentando lidar. E a Lorena na hora disse que havia outra amiga dela, a Paula Braun, com quem havia feito O Cheiro do Ralo, e que toparia uma aventura destas.

Acho que naquela mesma semana nos sentamos para almoçar e então perguntei o que cada uma estava com vontade de viver, quais perguntas queriam trazer para os personagens/roteiro. A terceira personagem seria eu mesma aos 18 anos quando fui para lá pela primeira vez. E depois passei esta personagem para a Nataly, pedindo para que ela a tornasse sua com seus próprios questionamentos. E assim começou o processo de desenvolvimento deste roteiro tal como ficou no filme. Isso foi no final de 2006. Encontramos o Ram Devineni, em março de 2007 na Cinemateca Brasileira, que se tornou nosso produtor, e desenvolvi então este roteiro, colocando estas personagens nas situações que eu achava pertinentes para expressar as contradições que passamos neste momento de globalização e hegemonia cultural - por exmeplo o questionamento entre eterno e efêmero no festival do Ganesha, o contraste entre a dança clássica indiana, cheia de significados por trás de cada gesto, e a dança bollywoodiana, o encontro entre culturas no albergue/jazz piano bar onde convivem instrumentos/músicas ancestrais com ritmos e misturas contemporâneas, os pequenos ritos que estão desaparecendo - por exemplo os mandalas "kolans" que são feitos na frente das casas com pó branco para "organizar o universo" - coisa que cada vez fica mais raro nas grandes metrópoles pela falta de tempo em que vivem seus habitantes - e por aí vai.

Foram quatro anos de pesquisa prévia, depois dois anos desenvolvendo este roteiro, e no começo de 2008, fui para lá para ver os estúdios da família do Ram, e as mudanças que tinham acontecido na Índia em 5 anos, e o roteiro ganhou outro salto qualitativo. No final de agosto de 2008 fui para lá fazer a preprodução, e as meninas chegaram no começo de setembro para filmarmos.

CI: Houve alguma mudança no roteiro depois que as dificuldades reais foram enfrentadas?

BS: Muitas. E isso é uma delícia. O roteiro é bom para que se haja um condensamento daquilo que se quer falar/experimentar, uma costura, que as coisas não se percam, pois na hora da ação são muitas forças puxando para direções distintas e é muito fácil perder a coerência de tudo. Eu não queria que o filme fosse um relato de viagem de pessoas vislumbradas consigo próprias, nem uma conversa de bar que não chega a lugar nenhum. Queria propor mudanças e colocar em cheque certos valores modernos. Queria dividir perguntas, principalmente aquela que tanto nos fazem na Índia: "Ao que você pertence, irmão?", pois sinto que cada vez menos pertencemos a alguma coisa neste mundo líquido moderno, inclusive nem a nós mesmos, uma vez que ser íntegro, só fazer aquilo que se acredita ético - no sentido Espinozano do termo, ações que nos trazem felicidade eternas e não efêmeras -, parece ser ingênuo nos dias de hoje.

Quis olhar para o passado, numa sociedade onde ainda se encontra estes valores sendo discutidos nas ruas, para questionar de alguma maneira os caminhos que estamos escolhendo para nosso futuro em termos de humanidade. Mergulhadas nos personagens destas três atrizes, que também estão em buscas - errantes, confusas. Com a palavra pertencer surge o questionamento de identidade, de pertencimento coletivo, das várias camadas de condicionamentos sociais, culturais, familiares, geográficos e temporais a que estamos submetidos. Surge nossa identidade em construção como brasileiros no espelho de outra cultura estrangeira. E este vira o centro do furacão/jornada destes personagens.

Muitas coisas foram se transformando durante as filmagens, principalmente no modo como filmamos, interagindo com as pessoas realmente nas ruas, porque queríamos que tudo parecesse ocorrido ao acaso, "por coincidência" e sorte, mas essa essência, este fio condutor, continuou o mesmo. E isso só foi possível porque tínhamos um roteiro e uma pesquisa elaborada por cerca de 7 anos, que nos deixou livres para improvisar nas situações que existem de verdade com segurança. Como jazz, busca-se o evento, o acontecimento apenas possível naquele momento com aquelas pessoas naquela situação, sobre uma chave já combinada de antemão com todos os músicos presentes. Daí, consegue-se dar alguns voos livres, entre os galhos de pousos nesta estrutura.

CI: Eu achei bem interessante a sutil presença de Bhavana Rhya, dando o tom do choque cultural vivido por cada uma. Como veio essa ideia?

BS: Ela é minha professora de Odissi desde 2002. Foi com ela que esta paixão pela Índia e sua cultura começou. Essa ideia do contraste entre aquilo que se dançava há milhares de anos, as histórias que se contava através da dança, os questionamentos a que se propunham com aqueles movimentos, "dançar para fazer os deuses dançarem e assim exercerem suas funções" e aquilo que se dança hoje, é de certa forma a raiz de todo o resto.

Quando as pessoas na Índia vêem aquela sequência nas cavernas imediatamente elas falam "ah, elas voltaram no tempo!".

CI
: Você já tinha visto algum filme indiano antes de fazerem O Sonho Bollywoodiano?

BS: Sim, muitos.

CI: Suponho que hoje já tenha visto alguns. Que reação teve com o primeiro que viu? Gostou de algum em particular?

BS: Achei muito engraçado. O primeiro que vi num cinema lá era uma versão indiana daquele filme hollywoodiano A Rocha. O mais divertido era a reação das pessoas avisando o mocinho ou o vilão que a mocinha ainda estava viva, estava atrás deles e etc...

Gosto do Taare Zameen Par, que representa bem o momento de mudança que passa Bollywood atualmente, e de vários outros filmes indianos que não seguem a fórmula nem a estética Bollywoodiana, em particular gosto de mais dos filmes de Satyajit Ray e os do Santosh Sivan.

CI: De volta ao filme, quanto tempo vocês passaram na Índia? Fizeram algum preparo anterior à viagem ou foram para lá da mesma maneira que chegam as personagens?

BS: Eu fiquei lá por 12 semanas e as meninas por 8. Sim, muitos preparos da minha parte. Até agora para finalizar o filme já foram 4 viagens até lá.

CI
: O que mais a impressionou lá?

BS: Puts, tive que fazer um filme inteiro para conseguir expressar isso! :)

CI
: Para um ocidental, fazer um filme na Índia está longe de ser a coisa mais fácil do mundo. As coisas pioram por vocês todas serem mulheres. Quais foram as maiores dificuldades que vocês enfrentaram?

BS: Acho que para qualquer projeto cinematográfico que se queira fazer, a chave principal, e talvez o mais difícil e importante, seja encontrar os pares certos para se realizar aquilo que se quer. Pessoas que estejam afinadas estéticas e ideologicamentes. Quando encontramos a equipe que tinha os mesmos gostos, ousadias e princípios que a gente, tudo começou a se mover de maneira orgânica, e ficou mais fácil suportar o trabalho pesado e os percalços do caminho. Pois parece fácil, parece tudo coincidência, mas é tudo puro suor e trabalho meticuloso, repetitivo, artesanal, para que tudo pareça ao acaso como a vida. Passamos por muitas situações limites, de esgotamento físico e mental, e sem dúvida foi uma tarefa hercúlea para todos nós. 99% das probabilidades era que não fosse dar certo, que saíssemos de lá sem um filme. Nos agarramos naquele 1% que era nossa intuição que nos dizía que tínhamos um propósito no qual acreditávamos, e que custasse o que custasse, íamos com a experiência até o fim.

As dificuldades foram muitas, mas minha maior alegria agora, é quando ouço alguém que viu o filme dizer que dá vontade de pegar uma câmera e meter as caras para fazer algo que acredita também. Fui muito instigada nesta empreitada por aquele poema do Goethe que diz que "coragem contém genialidade, poder e magia em si" e que quando a pessoa se compromete de verdade com algo, uma série de encontros que ninguém poderia prever acontecem, e cada encontro traz consigo uma mão daqui, outra dali, e quando você percebe a coisa está se realizando em frente aos seus olhos.

Muitas vezes quando eu apertava o botão "rec" da câmera me parecia que eu estava recordando uma cena que eu havia escrito mas que na verdade já estava acontecendo em algum lugar, e que eu tinha voltado para um momento no tempo antes da realização do roteiro e estava apertando ali, com as atrizes, o botão "recordar". E a Índia é o lugar ideal para que todos os seus conceitos de tempo, espaço, limite, inconsciente coletivo venham à tona e sejam questionados.

Dificuldades? Ah, tantas. Mas já nem me lembro direito delas. Pois nenhuma delas chegou de fato a nos imobilizar. Como dizia F. Pessoa: "Fazer das quedas passos de dança".

CI: Vocês fariam algum filme de Bollywood, mesmo se fosse apenas para aparecer em alguma cena de dança, como querem as personagens?

BS: Fizemos isso para conseguir filmar dentro de sets de filmagem de outros filmes de verdade. Mas com o puro propósito de realizar nosso filme.

CI: Para fazer esse filme vocês contracenaram com pessoas importantes no meio tamil, além de ter tido o apoio de Santosh Sivan, que tem forte projeção não só na indústria tamil, mas também em Bollywood. Vocês tinham consciência da importância deles? Como foi o trabalho com essa equipe indiana?

BS: Sim, Santosh virou nosso grande amigo e produtor executivo de nosso filme. A primeira equipe com que trabalhamos não deu nada certo, pois tínhamso estéticas diferentes, eles gostavam de glamour e eu acho humilhante qualquer pessoa que precisa de glamour para se olhar no espelho. Eles queriam heroínas e eu queria seres humanos. Eles queriam planos explícitos e eu queria filmar pelas sombras, entre cabides, deixar muita coisa fora de quadro, câmera na mão, iluminação natural, para que tudo parecesse captado ao acaso, quase como um documentário, ou reality show.

Queríamos andar na fronteira onde todos estes estilos borram uns aos outros, onde todas estas limitações tornam-se ilusórias. Queria improvisar e fazer planos sequências, e para eles isso era horroroso. Então depois do primeiro dia de filmagem desistimos de dar murro em ponta de faca e fomos atrás de pessoas com maior veia experimental e que pudessem nos ajudar a ir na direção que queríamos. Foi quando o Santosh entrou no nosso barco e nos mandou os assistentes dele para nos ajudar em definitivo. E os percalços daí em diante ficaram mais fáceis de serem transpostos, pois estávamos todos na mesma sintonia, indo na mesma direção.

CI: Eu comentei na minha crítica que algumas dificuldades vividas pelas personagens foram semelhantes ao que eu mesmo vivi lá (a reserva no hotel, o trem errado etc.). Houve alguma inspiração real para isso?

BS: Claro, sempre. A paixão pela realidade, e a transcendência dela através da subjetividade humana, é o que nos dá tesão nesta arte.

CI
: Por fim, o que vocês trazem hoje na bagagem depois dessa experiência?

BS: A própria experiência desta realização, e a delícia das amizades e encontros que este filme proporcionou.

Filmes

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A fim de disciplinar as postagens específicas sobre os filmes e facilitar a vida de todos, aqui estão listados todos os filmes que foram publicados aqui no Cinema Indiano. As novas postagens serão imediatamente atualizadas nesta lista.

A lista está em ordem alfabética.

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A
Aaja Nachle (2007)
AAG (2007) 
Awaara (1951)

B
Bandit Queen (1994)
Black (2005)

Bheja Fry (2007)
Bollywood Dream (2009)
Bombay (1995)
 

D
Delhi-6 (2009)
Dev.D (2009)
Devdas (2002)
 

F
Firaaq (2008)
 

G
Gauri: The Unborn (2007)
Ghajini (2008)


H
Harishchandrachi Factory (2009)
 

J
Jodhaa Akbar (2008)
 

K
Kaminey (2009)
Kanchivaram (2008)
 

L
Lagaan (2001)
Lage Raho Munna Bhai (2006)

Love Aaj Kal (2009)
 


Madholal Keep Walking (2009)
Maine Gandhi Ko Nahin Mara (2005)
Mann (1999)
Matrubhoomi (2003)

Morning Raga (2004)
Mr. and Mrs. Iyer (2002)
Mughal-E-Azam (1960)
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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Firaaq (2008) - फ़िराक़ - فراق

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Esta quinta-feira guardou para mim o sexto e último filme indiano que restava eu ver na 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Este ficou por último simplesmente porque eu não tinha como vê-lo em nenhum dos outros dias que esteve em exibição, mas por Vishnu e Alá, ele tinha mesmo que ficar por último! Para mim, Firaaq fechou a Mostra com a mais dourada das chaves de ouro.

O filme é indiano, mas não pertence a nenhuma indústria. Firaaq vem do seio do cinema paralelo da Índia, que produz - desde há muito tempo - obras mais do que fabulosas, com autores e atores dos melhores. E esta obra havia sido já citada na postagem Muslim Socials.

E este filme não é de qualquer um. É a estreia na direção da até então atriz Nandita Das, que ganhou a mais do que merecida projeção após interpretar o polêmico papel de uma lésbica, ao lado de Shabana Azmi, no filme Fire (1996), de Deepa Mehta. Depois ela foi também protagonista do filme Earth (1998), da mesma diretora.

Firaaq é um filme e tanto, mas não é nada fácil de ser digerido. Ele se passa no mês imediatamente subsequente aos gravíssimos atentados que aconteceram no Gujarat, em 2002. Um aviso nos diz que o filme é ficção, mas que o roteiro foi baseado em mil histórias reais. Assim que começa, vemos dois muçulmanos enterrando dezenas de corpos em uma vala comum. Eles estão visivelmente abalados emocionalmente, até que chega um caminhão e despeja mais uma dezena de corpos. Nesse amontoado de novos corpos, há provavelmente por engano o corpo de uma hindu, que por princípios religiosos não pode ser enterrada. Um dos homens que ali estava, ao ver a mulher hindu morta, pega a pá que tinha em mãos e, num ataque de fúria viceral descontrolada, vai pra cima dela querendo matá-la. O outro o segura, acalmando-o e dizendo que não adianta nada querer matar um morto. A cena é demasiadamente densa e assim já somos introduzidos ao que iremos ver e sentir nas quase duas horas seguintes.

Aos poucos, vamos sendo apresentados às personagens que irão revelar para nós as mais variadas faces do ser humano traumatizado. Logo conhecemos a jovem Muneera, muçulmana, que chega à sua casa com seu marido e seu pequeníssimo bebê, encontrando-a toda queimada. No desespero, ela pergunta ao marido quem fez aquilo, ao que ele responde, mais desesperado ainda, para ela perguntar a sua melhor amiga, que é hindu.

Khan Sahab (Naseeruddin Shah) é um velho cantor clássico muçulmano, alienado a tudo que acontece, acostumado a cantar a hindus e muçulmanos em sua casa, e não compreende porque sua casa há tempos não recebe mais ninguém. Seu empregado/acompanhante esconde a verdade, preocupado com a saúde do velho.

Aarti é uma hindu dona de casa, que está à beira da loucura por ter negado abrir a porta de sua casa a um casal muçulmano que estava sendo perseguido por hindus durante os atentados. A imagem da mulher queimada batendo na porta ou na janela da sala não sai da sua cabeça e a atormenta. Uma de suas estratégias para tirar esses sons e imagens de sua mente é pingando óleo fervente em seu braço. Ao mesmo tempo, seu marido é o mais perfeito dos estúpidos. Manda em Aarti como se ela fosse sua escrava. Descobrimos, depois, que ele e um amigo participaram dos ataques contra muçulmanos.

Depois de um tempo, Aarti encontra um pequeno garoto muçulmano perdido, Mohsin, que ela leva à sua casa para cuidar dele, meio que num ato desesperado de curar seu carma. Ele diz a ela que presenciou toda sua família sendo estrangulada, violentada e assassinada e que ele apenas se safou por ter se escondido numa lata de lixo. No entanto, Mohsin presencia Aarti levando uma forte bofetada de seu marido, e ele então foge de volta para a rua, à procura do pai que ele ainda não sabe que está morto.

Conhecemos também o casal Sameer e Anu. O primeiro é muçulmano, a segunda, hindu. São ricos e vivem harmoniosamente, mas devido ao medo irão mudar-se para Delhi. A loja que Ameer possuía em sociedade com o irmão de Anu havia sido saqueada durante os conflitos.

E assim temos todos os personagens que compõem esse mosaico entrelaçado e assim o filme é construído.

Nandita Das teve a extrema audácia de realizar uma obra tão linda, tão real, tão densa, tão triste. Sem abusos, sem recursos desnecessários, Firaaq escancara que hindus e muçulmanos podem ser os mais cruéis dos seres humanos, mas que, ao mesmo tempo, podem também ter os melhores corações. Nos mesmos pesos e mesmas medidas, pessoas de ambas religiões são expostas pelo lado da luz e da sombra, do medo e da coragem, da crueldade e da bondade.

E de maneira muito sutil, Nandita coloca Mohsin, o garoto órfão, como eixo do filme. E também foi impossível não ter feito comparações com Madholal Keep Walking. Se Madholal queria mostrar que o indiano é forte e não se curva aos atentados, o que Firaaq faz é mostrar a realidade inerente ao ser humano, que não muda nem pela raça, nem pelo credo, e menos ainda pelo gênero.

E finalizando, antes de deixar o trailer a vocês, a palavra "Firaaq" vem do urdu e significa ao mesmo tempo "separação" e "busca". Não é lindo?



quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Madholal Keep Walking (2009)

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Domingo passado fui ao MIS (Museu da Imagem e do Som) assistir Madholal Keep Walking (Madholal Siga em Frente), mais um dos filmes indianos da 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. A sorte de ter ido ver no MIS é que lá as exibições são gratuitas (em comparação aos R$14,00/R$7,00 do preço tabelado da Mostra), mas... antes o filme fosse bom.

Antes de o filme começar fomos avisados que estavam presentes ali o diretor, Jai Tank, e o produtor, Apurva Tank, e que após o filme rolaria um debate de 20 minutos. Na hora fiquei animado! Embora na Mostra aqui de São Paulo seja comum toparmos com os diretores dos filmes que formos ver, confesso que não esperava encontrar um diretor indiano.

Esse é o primeiro filme de Jai Tank, que até então só tinha experiência com publicidade e vídeos institucionais. Também todo o elenco é novato no cinema.

Bom, e então o filme começou. E tão logo começou já vi vícios e mais vícios de filmagem, diálogos fracos e clichês por todos os lados. Comecei a pescar vendo o filme, um pouco com vergonha, pois os indianos estavam na fileira atrás da minha. De repente uma super explosão super malfeita no filme despertou-me definitivamente, e dali em diante decidi ficar realmente acordado por respeito aos moços e pra tentar também pegar algum ponto que eu pudesse questionar na hora do debate.

Mas a tentativa da história é boa. Madholal é um homem comum dos subúrbios de Mumbai. É casado e tem duas filhas. Todos os dias ele pega o trem pro trabalho (segurança num escritório), e com isso sofre também todas as consequências das grandes cidades - sobretudo em países em desenvolvimento. Atrasos são quase inevitáveis, e quase inevitáveis são também as intolerâncias dos patrões. Pegando o trem todos os dias no mesmo horário, acaba por fazer amizade com outros indianos comuns, na mesma situação que ele.

Mas um dia, eis que uma bomba explode no trem. Madholal sai gravemente ferido e acaba por perder um braço. Sai do hospital e fica em casa, sem ânimo pra absolutamente nada. Mas a depressão é acompanhada de um grave trauma e Madholal vê ameaças de bomba por todos os lados, reagindo de maneira absolutamente neurótica. Pra ajudar, o vizinho - muçulmano - é preso sob a alegação de que ele estaria envolvido na conspiração que resultou no atentado, embora ele jure de pés juntos que é inocente.

Aos poucos, família e amigos tentam fazer com que Madholal reaja, o que parece ser um tanto difícil. Daí, obviamente, não vou contar o final, mas digo que se o filme fosse de autoajuda, ou se fosse um curta de 10 minutos, então o desfecho estaria apropriado. Mas pra uma produção de cinema, de duas horas... e pra piorar, esse filme defende descaradamente uma suposta superioridade dos indianos em encarar atentados e situações afins, em comparação com o ocidente, como se eles não se entregassem ao medo como nós aparentemente fazemos (segundo diz o filme). Por que raios os indianos precisam tanto afirmar e acreditar nessas mentiras?

Bom, e quando o filme acabou, metade da plateia ficou. O debate foi muito pobre, principalmente pelo fato de a maioria que estava ali não conhecia nem a Índia e menos ainda o cinema indiano. Eu acabei não fazendo perguntas porque uma tosse besta resolveu deixar-me rouco em pleno feriado. Mas tive a impressão que alguns que estavam ali gostaram do filme, e pro diretor é isso que importa. Eu é que sou muito chato!

Ah, e o filme ainda não estreou nem na Índia. A estreia está prevista para o dia 18 de dezembro. E vejam agora o trailer (que aliás, é quase megalômano em relação ao que o filme de fato é):