quarta-feira, 31 de março de 2010

Trilogia de Apu em Taubaté

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Nos últimos tempos vimos a Trilogia de Apu percorrer SESCs de diferentes capitais do Brasil. Foi em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Cuiabá e Florianópolis, mas agora Apu vai sair do circuito capitais e vai adentrar o interior de São Paulo para ser exibido no SESC de Taubaté, a partir do sábado próximo, dia 3 de abril. E pensando bem, nada mais apropriado para a Trilogia ser exibida na terra de Monteiro Lobato, aquele que imortalizou o personagem do caipira e registrou a transformação brasileira da sociedade agrária para a sociedade urbana - eixo da obra prima de Satyajit Ray.

A Trilogia faz parte do ciclo Histórias do Oriente que, na verdade, além da Trilogia irá exibir somente o filme iraniano Às Cinco da Tarde, de Samira Makhmalbaf.

Na programação do SESC Taubaté lemos o seguinte: "Com obras dos cineastas Satyajit Ray e Samira Makhmalbaf, o ciclo de cinema Histórias do Oriente apresenta aspectos das culturas védica e muçulmana, discorrendo sobre situações cotidianas e as relações sociais de um universo distante da cultura ocidental. apresenta um panorama de como a natureza humana manifesta-se em um contexto rico em tradições milenares.

As sessões serão gratuitas. Veja a programação:

Dia 3/4, às 18h
A Canção da Estrada (1955, 122 minutos)

Dia 10/4, às 18h
Aparajito (1957, 127 minutos)

Dia 17/4, às 18h
O Mundo de Apu (1959, 101 minutos)

Dia 24/4, às 18h
Às Cindo da Tarde (2003, 101 minutos)

SESC Taubaté
Avenida Engenheiro Milton de Alvarenga Peixoto, 1264
Esplanada Santa Terezinha - Taubaté/SP
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segunda-feira, 29 de março de 2010

Dibakar Banerjee lança mais um filme para abalar as estruturas

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Depois de Oye Lucky! Lucky Oye! (2008), Dibakar Banerjee lança seu terceiro filme que já está provocando certos reboliços nas altas classes conservadoras indianas. Love Sex aur Dokha (Amor, Sexo e Traição), como o próprio nome já indica, traz consigo temas ainda não bem aceitos por fora das quatro paredes indianas. No entanto, talvez pelas inovações de filmagem (novas na Índia, que fique claro), o filme acabou passando pela censura, embora com consideráveis cortes e mudanças impostas, incluindo a letra de uma das músicas. Este filme também entra para a história de Bollywood como o primeiro longa inteiramente digital.

Ainda não vi, mas acredito que ele não supere em qualidade a obra anterior de Banerjee, ao menos pelo que mostra o trailer e as sinopses. Mas esse filme vem mais com a missão de engrossar o caldo das mudanças no cinema indiano ou, para sermos justos, para ampliar ainda mais as perspectivas cinematográficas da Índia.

A seguir, leiam a reportagem que saiu na Reuters e foi traduzida na globo.com:

Filme de Bollywood ultrapassa barreira do sexo na Índia
da Reuters, por Tony Tharakan, na globo.com, 25/03/10

MUMBAI - Um novo filme de Bollywood despertou a atenção aos costumes sexuais em processo de mudança na Índia, abalando o público conservador ao exibir filmagens com câmera escondida e pressionando os limites da censura no país.

Love Sex aur Dokha é o mais recente de uma série de lançamentos de vanguarda que desfaz décadas de inibição na indústria cinematográfica indiana e muda dramaticamente a fórmula tradicional de romances com cenas musicais e dança, e sagas violentas de vingança.

O filme, que estreou nos cinemas indianos na semana passada em classificação adulta, gerou controvérsias com as imagens embaçadas de uma mulher nua e sequências voyeuristas em seus trailers.

O direotr Dibakar Banerjee diz que "Love Sex aur Dokha" é mais sobre as mudanças de atitudes do que sobre sexo. Ele diz que o filme explora a falta de privacidade no mundo moderno - onde telefones celulares podem capturar, e divulgar, momentos íntimos.

"O que minha câmera está fazendo é registrar uma história que está mudando diantes da câmera", diz Banerjee, "Antes, sexo ficava entre quatro paredes mas agora isso está mudando". Uma década atrás, quando um casal tímido estava para se beijar em cena, a câmera deslizava para duas flores interagindo levemente ou pássaros se bicando. O público indiano simplesmente assumiam que o casal havia realizado o ato".

Nesse sentido, o filme de Banerjee, com diversos atores desconhecidos, abriu novos caminhos com uma cena extensa de sexo que não conseguiu escapar completamente da censura. Mas é o uso de câmeras não convencionais - câmeras escondidas, câmeras de mão, câmeras de segurança em supermercados e mesmo as subaquáticas - que parece ter conquistado os críticos e gerou comparações com os sucessos de Hollywood como "Atividade Paranormal" e "A Bruxa de Blair".

A história é contada do ponto de vista da câmera, fazendo dela quase um personagem no roteiro que intercala três histórias - um estudante que se apaixona com a atriz protagonista do filme, um lojista que pega um funcionário em um escândalo de SMS e uma operação para flagar um astro de rock.

"O filme efetivamente expõe a flacidez da barriga que aparece em meio a esse perturbador preconceito na Índia central", disse o crítico Mayank Shekhar no jornal Hindustan Times. Apesar de os críticos concordarem que "Love Sex aur Dokha" marca um grande salto na Índia conservadora, será necessário mais do que alguns filmes para mudar a mentalidade

Quando o diretor Banerjee falou com sua mãe sobre o projeto, ela não repetiu o nome do filme porque não queria usar a palavra "sexo".

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domingo, 28 de março de 2010

Water (2005) - वाटर

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Na última segunda-feira (22/03) foi comemorado o Dia Mundial da Água e, mesmo não tendo nada a ver além do próprio nome em si, lembrei-me do filme Water (que significa "água"), de Deepa Mehta, o terceiro de sua trilogia dos elementos. Ainda não falei de nenhum dos filmes da trilogia, mas começar pelo terceiro não é problema algum, já que a trilogia não é sequencial e cada filme é um filme em si.

Na prática, Water não é um filme indiano, mas canadense, assim como são os outros dois filmes da trilogia dos elementos de Deepa Mehta, Earth (1998) e Fire (1996). Mas Deepa é uma diretora emblemática e com forte presença nos debates indianos a respeito da liberdade de se fazer filmes na Índia, não só no sentido da censura governamental, mas também da censura pública imposta pela própria sociedade com as próprias mãos.

E Water encarna tudo isso. O primeiro filme da trilogia de Deepa, Fire, provocou muita polêmica no país por tratar da questão do lesbianismo. Veio Earth e aparentemente não houve muitos problemas. Mas quando ela resolveu filmar o terceiro filme da trilogia, no ano 2000, ela chegou a escalar para seu elenco Shabana Azmi, Nandita Das (ambas que haviam protagonizado o filme Fire) e Akshay Kumar. Estava já tudo acertado e os sets de filmagens estavam quase prontos em Varanasi, quando um grupo de cerca de dois mil hindus radicais destruíram tudo e prometeram incendiar salas de cinema que exibissem o filme quando fosse lançado.

Assim, todo o cronograma das filmagens foram totalmente alterados até que os problemas se resolvessem. O governo indiano impôs sutilmente à Deepa que se ela quisesse mesmo fazer o filme, então que não o fizesse na Índia. Somente no ano de 2003 os nós foram desfeitos e Deepa resolveu filmar Water no Sri Lanka, vizinho à Índia. No entanto, o atraso de três anos nas filmagens obrigou o elenco a seguir em outros projetos e abandonar o filme de Deepa. Um novo elenco foi composto, ficando como protagonistas Seema Biswas, Lisa Ray, Sarala Kariyawasam e John Abraham.

Quando o filme começa, uma frase já nos indica em parte a carga do que iremos ver. De acordo com as Leis de Manu (que há mais de dois mil anos regula boa parte das leis sociais hindus), uma mulher, ao perder seu marido, tem somente três opções: queimar-se viva na pira de cremação com o marido; casar-se com o irmão mais novo do marido; ou confinar-se num retiro (ashram) para viúvas, isolada de todos os contatos com o mundo externo. E então o que se segue a esta frase é o casamento de uma garota de oito anos, chamada Chuiya (Sarala Kariyawasam), com um velho bem velho mesmo. E, evidentemente, ele em seguida morre. Estamos no ano de 1938.

Chuiya é então enviada para o retiro de viúvas, em Varanasi. A viúva-chefa do local é Madhumati, gorda e já nos seus 70 anos de idade. Ela mantém contato com o mundo externo através de uma janela, onde pode conversar com seu amigo e ponte com o mundo, o eunuco Gulabi. E a função de Gulabi é fundamental para a manutenção do ashram, já que, além de atualizar Madhumati das fofocas e trazer-lhe maconha, ele arranja clientes a Kalyani (Lisa Ray). Kalyani, por sua vez, é uma linda viúva do local, com uns vinte anos, e a única com cabelos (todas as outras, de acordo com o que mandam as Leis de Manu, têm os cabelos raspados). Desde que chegou ali, ainda nova, Kalyani foi forçadamente escalada por Madhumati para prostituir-se e, assim, conseguir dinheiro para a manutenção do ashram.

Dentre as catorze viúvas dali, Chakuntala (Seema Biswas) é muito séria, brava, misteriosa e uma das poucas que sabe ler. Ninguém tem coragem de se relacionar com ela, nem mesmo Madhumati. 

Um dia, Kalyani encontra, na rua, Narayan (John Abraham) e eles se apaixonam um pelo outro imediatamente. Mas ela era viúva e casar-se com outro homem comprometeria todas as outras viúvas do ashram. Mesmo assim, os dois, secretamente, combinam o casamento. Kalyani, tendo a pequena Chuiya como sua melhor amiga e espécie de pombo-correio do casal, conta tudo a ela. No entanto, Chuiya, inocentemente, acaba contando o plano a Madhumati, enquanto massageava suas pernas. E então a casa cai. Madhumati tranca Kalyani num quarto do andar superior do lugar, raspando-lhe o cabelo.

A parte mais tensa do filme desenrola-se a partir daí e é melhor, então,que vocês vejam o filme.

Water foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro pelo Canadá, em 2007. A trilha do filme foi composta por Mychael Danna em parceria com A.R. Rahman. A música Aayo Re Sakhi (Chanchan), cantada por Sukhwinder Singh e Sadhana Sargam, foi também indicada ao Oscar de Melhor Canção Original.

No Brasil, este filme foi lançado pela Focus com o título Às Margens do Rio Sagrado e pode ser encontrado à venda e em algumas videolocadoras. 

A seguir, fiquem com o trailer:

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terça-feira, 23 de março de 2010

Hollywood e Bollywood juntam-se contra a pirataria

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E parece que os interesses de Hollywood pelas bandas indianas tem um custo que não é assim tão simples de se resolver. E também parece que, em a Índia tendo real interesse na exposição mundial de suas produções, algo terá mesmo que ser feito - ou as produtoras de Hollywood que já lá estão, como a Sony e a Disney, acabarão pegando o avião de volta às suas terras. 

Estamos falando da pirataria, institucionalizada na Índia, e que agora vem ganhando pressões estadunidenses pra que sejam garantidos os investimentos. Assim vai com mais um pouco de presença o american way of life pra Índia. É o que mostra um pouco este artigo abaixo (o site é de Portugal e, portanto, fiz uma adaptação do texto para que esteja condizente ao Novo Acordo Ortográfico):

Hollywood e Bollywood juntam-se contra a pirataria
tek.sapo.pt, 19/03/2010

Hollywood e Bollywood vão juntar esforços para combater a contrafação e pirataria de filmes na Índia, relata hoje a Associated Press, que dá conta de um acordo celebrado entre a Motion Picture Association of America (MPAA) e sete organizações indianas.

O país tem um dos maiores mercados de cinema do mundo mas manteve, até à data, uma postura com relação à propriedade intelectual bastante diferente da adotada pelos EUA. Ao que parece isso está prestes a mudar.

A parceria, que estaria a ser preparada há cerca de um ano, prevê, por exemplo, um trabalho concertado com os responsáveis pelas salas de cinema indianas para evitar a captação dos filmes durante a sua projeção - técnica utilizada em 90 por cento dos DVDs pirateados.

A estratégia envolve também trabalho com as autoridades policiais, com os fornecedores de serviço de Internet para controlar a pirataria informática e ainda com os órgãos legislativos para que sejam criadas leis mais eficientes nessa matéria.

Sem que tenha sido revelado qual o montante do investimento associado ao projeto, sabe-se apenas que o financiamento será providenciado pelos membros das organizações envolvidas.

O "interesse" da MPAA na colaboração com as congêneres na Índia surge associado a uma estratégia de expansão do cinema norteamericano para outros internacionais e também ao crescimento verificado entre os estúdios de Bollywood.

A iniciativa segue um caminho que jé vinha sendo trilhado pela associação da indústria cinematográfica norteamericana que mantém acordos antipirataria semelhantes nos Estados Unidos, Europa e Hong Kong.
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sábado, 20 de março de 2010

Bollywood Dream no SESC Pompeia

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Desde o dia 21 de janeiro o SESC Pompeia, aqui em São Paulo, dá lugar à exposição Urban Manners 2, de arte contemporânea indiana, com 11 artistas de lá. A exposição vai até o dia 4 de abril (é, eu deveria ter dito antes).

Como parte da programação de encerramento, nas próximas duas quartas-feiras (24 e 31/03) serão exibidos os filmes Bollywood Dream - O Sonho Bollywoodiano (este filme entra em cartaz em novembro de 2010) e Um Casamento à Indiana (Monsoon Wedding), respectivamente, ambos às 20h. A entrada é gratuita, tanto para a exposição, quanto para os filmes.

Mas o mais importante é que nesta quarta próxima, dia 24/03, após a exibição do filme Bollywood Dream, haverá um debate com a diretora da obra, Beatriz Seigner, com Franthiesco Ballerini, autor do livro "Diário de Bollywood" e eu, Ibirá Machado, autor deste blog que vos apresenta.

Será uma oportunidade e tanto. Quem puder, não perca.

SESC Pompeia 
Rua Clélia, 93 - São Paulo - SP
Filme com debate: 24/03, às 20h, no teatro do SESC.
Entrada Gratuita.
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domingo, 14 de março de 2010

My Name is Khan (2010) - माय नेम इज़ ख़ान

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Desfiz um jejum de quase dois meses sem ver filmes indianos. E embora, como sempre, eu tivesse uma lista longa de filmes esperando por serem vistos, atropelei tudo em nome da minha ansiedade e vi My Name is Khan. Havíamos já citado este filme aqui e da projeção que ele ganhou no Festival de Berlim.

Sendo dirigido por Karan Johar e tendo música feita pelos SEL, My Name is Khan já tinha parte da fórmula garantida pro sucesso. Mas nada substitui a presença do mais unânime casal 20 de Bollywood: Shahrukh Khan e Kajol. E o filme é mesmo deles dois. Talvez o único ator um pouco famoso que também aparece é o jovem Tanay Chheda, que ficou famoso por fazer o amigo de Ishaan, em Taare Zameen Par, e o pequeno Jamal Malik, em Quem Quer Ser um Milionário?. Mas ele aparece pouco e só no começo, fazendo o personagem de SRK quando criança.

Bom, e a história é razoavelmente simples, mas cheia de emoções do começo ao fim. É tanto rir ou chorar que tem vezes que não sabemos o que fazer com nosso rosto e as duas coisas acabam acontecendo ao mesmo tempo. Logo no começo do filme já vemos que a história está sendo narrada por Risvan Khan (Shahrukh Khan), que está, em verdade, escrevendo tudo isso para Mandira (Kajol). É assim que ficamos sabendo que quando pequeno ele não era compreendido nem por seus amigos e nem por sua mãe. Ele visivelmente tinha algum problema, embora fosse ultra inteligente. Não se dando bem na escola, sua mãe acaba contratando um professor particular pra Risvan, potencializando sua inteligência.

Toda essa atenção dada a Risvan deixa seu irmão mais novo, Zakir, muito enciumado e, depois de grande, ele se muda a São Francisco, nos EUA. Mas o rancor não o impede de levar Risvan para lá depois que sua mãe morre. E Risvan leva na bagagem a coisa mais importante que ele tinha aprendido com sua mãe: que no mundo a única diferença que existe entre seres humanos é entre bons e maus.

Assim, lá em São Francisco, a exposa de Zakir, psicóloga, descobre que Risvan é portador da Síndrome de Asperger, uma espécie de autismo "leve". Pra ajudar o irmão, então, Zakir propõe a Risvan ajudá-lo na venda dos cosméticos da empresa em que trabalha, indo de porta em porta nos salões de beleza em são Francisco.

E lá vai Risvan, com toda sua dificuldade de comunicação e de relacionamento - e toda a sua sinceridade -, vender os cosméticos. E é assim que ele conhece Mandira, uma cabeleireira, apaixonando-se por ela imediatamente. Desde então ele sempre volta lá pra vender os produtos, e ela sempre muito amorosa. Não precisa muito pra ele dizer que quer se casar com ela. Insiste tanto que ela aceita. A verdade é que desde o princípio ela também havia se encantado com a simplicidade e o coração puro de Risvan.

Mandira já tinha um filho de outro casamento, o Samir, e era hindu. Fosse na Índia, esse casamento aconteceria debaixo de mil e duas dificuldades, a começar pela diferença de religiões, já que Risvan é muçulmano. Mas sua mãe havia lhe ensinado somente duas diferenças, e era só isso que importava.

O casamento decorre muito bem até chegar o dia 11 de setembro de 2001. Nesta data, não temos como esquecer, ocorreram os ataques às torres gêmeas, em Nova Iorque, e ao Pentágono, em Washington. E, também nesta data, tem início uma nova era de recrudescimento da xenofobia nos EUA e no mundo, principalmente contra muçulmanos. Pouco a pouco, a vida de Risvan e sua família começa a virar um inferno, afetando inclusive Samir. 

O que por fim acontece não irei contar, para resguardar a emoção. Mas é a partir daí que Risvan promete à sua esposa ir de encontro com o presidente dos EUA e dizer a ele uma única frase: "My name is Khan and I'm not a terrorist" (Meu nome é Khan e eu não sou um terrorista). E é daí que a jornada começa e é daí que o link com o começo do filme é feito, já que tudo isso são apenas recordações que ocorrem nessa peregrinação de Risvan em direção ao presidente estadunidense.

E no caminho há uma oposição ultra óbvia a George Bush e um reverenciamento ultra óbvio a Barack Obama, embora nenhum nome seja citado. Também há uma lembrança ultra óbvia com a tragédia do furacão Katrina em Nova Orleans e as populações negras desassistidas. No filme, o furacão passa no estado da Geórgia. E, nesta comunidade negra, que seja feito um merecido destaque à Mama Jenny e seu filho, que acolheram Risvan em sua passagem por lá.

E claro, também é ultra óbvia a inspiração no filme estadunidense Forrest Gump, com Tom Hanks. Há várias referências a ele e isso não se esconde. Mas a história é outra.

Bom, é um filme muito caricato, com personagens caricatos, com as tomadas de câmera típicas de Bollywood, com forte apelativo emocional, músicas super cativantes e sem song-and-dances. No fim das contas, podia ser um filme ruim. Mas ele não é. Logo no princípio ficamos já muito presos em saber se ele irá, ou não, conseguir falar com o presidente e é isso que segura toda a história e toda a nossa atenção e angústia. E a mensagem que ele passa, por simples e batida que seja, é muito necessária. E não só pra Índia, onde o conflito de religiões é muito presente e borbulhante, mas pra todo o mundo.

Então fiquem com o trailer:

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quinta-feira, 11 de março de 2010

Comercial do Fevicol com Katrina Kaif

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Na Índia, a cola Fevicol é o que aqui no Brasil é a cola Pritt, ou, talvez, a Super Bonder. São colas tão consolidadas que generalizamos e chamamos toda cola em bastão de Pritt e toda cola super poderosa de Super Bonder. Pois na Índia, toda e qualquer cola é Fevicol, e toda coisa grudenta (o que pode incluir pessoas) é chamada de Fevicol. Até mesmo em diálogos de Bollywood esse termo já apareceu.

Há anos e anos esta cola fechou contrato com a estadunidense Ogilvy&Mather, que há mais anos ainda tem seu escritório na Índia e faz alguns comerciais já conhecidos de nós. No caso da Fevicol, o primeiro comercial saiu em 1988 e conseguiu fazer com que a marca, que já era predominante, fosse então pra boca do povo. E esta cola é, hoje, a que mais vende na Ásia.

Em 2003, um comercial de Fevicol resolveu trazer Katrina Kaif, quando uma das cinco atrizes indianas mais bem pagas da atualidade apenas inciava sua carreira. Não há diálogo algum - as imagens falam por si. Não há nada de muito excepcional aqui, como em outros comerciais que já trouxemos. Vale mais pelo valor "histórico" da coisa, se é que podemos assim definir.

Bom, pois então confiram a obra:


Obs: Fevicol também está no Brasil.
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sábado, 6 de março de 2010

Rahul Bose - রাহুল বসু

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Falar sobre atores como Rahul Bose é sempre um momento à parte, além de um grande prazer. Lembro-me de tê-lo conhecido no único filme que assisti no cinema na Índia, chamado Shaurya. Era um filme muito sério, sobre a questão da Caxemira, não tinha legendas e o filme era cheio de diálogos pesados, mas, mesmo não entendendo (quase) nada, fiquei impressionado com a qualidade de tudo o que via, sobretudo de Rahul. Foi somente tempos depois que vim descobrir que esse rapaz era alguém diferente, bastante presente e atuante no cinema de arte da Índia, muito mais que em Bollywood propriamente.

Rahul Bose nasceu em Calcutá, no West Bengal, no dia 27 de julho de 1972, onde passou o princípio de sua infância. Vindo de família rica de alta casta, mudaram-se pra Mumbai, onde Rahul foi estudar na Cathedral and John Connon School, a segunda mais bem avaliada instituição de ensino privada do país, além de ser uma das mais caras. Depois, foi tentar fazer faculdade nos EUA, mas foi negado em todas que tentou. Conformou-se em estudar Economia e Comércio na Sydenham College, em Mumbai mesmo. Durante a faculdade, ingressou no time de rugby, paixão que fui incurtida por sua mãe, ainda quando ele estava nos tempos de escola. Sua mãe, aliás, também inseriu o filho no mundo do boxe.

Depois que sua mãe morreu, em 1987, Rahul foi trabalhar com publicidade na Rediffusion, onde ficou por alguns anos. No meio tempo, porém, além de jogar rugby e lutar boxe, ele também gostava de teatro. Foi quando acabou indo parar numa peça de teatro de Rahul D'Cunha, cujo tio estava montando o elenco do filme English, August, de Dev Benegal, e achou que ele podia ser um dos protagonistas. Dito e feito: o filme foi lançado em 1994, com Rahul num dos papéis principais. Mas ele teve mais sorte; English, August não só foi um dos primeiros filmes "hinglish" da Índia, como também foi tão aclamado que acabou sendo comprado pela 20th Century Fox - também um dos primeiros da Índia a serem comprados por estúdios hollywoodianos.

Após o sucesso e a exposição com o filme, Rahul foi chamado pra participar da primeira série de TV indiana falada em inglês, A Mouthful of Sky, e depois foi também apresentador do programa Style!, da BBC World. Seu segundo filme veio somente em 1998, chamado Bombay Boys. No ano seguinte já estava em Split Wide Open, o segundo filme de Dev Benegal. Pra se preparar pra este filme, Rahul viveu por um tempo em uma favela de Mumbai, acompanhando o esquema dos traficantes de drogas de lá. Ele já chegou a afirmar que foi por causa dessa experiência que ele decidiu ser uma pessoa ativista.

Bom, depois disso ele foi chamado pra fazer um vilão no filme Takshak, em 1999, ao lado de Ajay Devgan. Em seguida, Rahul passou o ano seguinte se preparando pra sua estreia na direção de um filme, Everybody Says I'm Fine!, também escrito por ele, sendo razoavelmente bem recebido pela crítica.

Em 2002, lá estava ele no aclamado Mr. and Mrs. Iyer, de Aparna Sen, com Konkona Sen Sharma. Este filme levou três prêmios no National Film Awards e trouxe mais visibilidade ao Rahul. No ano seguinte veio o sucesso outra vez, com três filmes bollywoodianos: Jhankaar Beats, Mumbai Matinee e Chameli, este último com Kareena Kapoor.

Em 2004 ele apareceu somente no filme White Noise. Já em 2005, ele aparece em 15 Park Avenue, de novo ao lado de Konkona Sen Sharma e dirigido por Aparna Sen, e depois em Silsilay. No ano seguinte é a vez da comédia romântica Pyaar Ke Side Effects. No mesmo ano, apareceu no filme bengalês Anuran. Em 2007 veio somente Chain Kulii Ki Main Kulii.

2008 foi um ano de recordes pra sua vida, aparecendo em seis filmes. Logo no começo do ano, Before the Rains e Shaurya foram filmes sérios sobre questões nacionais, nos quais suas atuações foram muito elogiadas. Depois veio Maan Gaye Mughal-E-Azam, uma comédia bollywoodiana que não fez sucesso. Em seguida, apareceu de novo ao lado de Konkona, em Dil Kabaddi. Mais pro final de 2008, Tahaan, de Santosh Sivan, trouxe de novo o debate da Caxemira tendo Rahul Bose como protagonista. E finalmente, ele apareceu em seu segundo filme bengalês, chamado Kaalpurush, que dois anos antes havia levado o prêmio de melhor filme no National Film Awards, mas só estreou em 2008.

Em 2009, Rahul foi de novo fazer um filme bengalês, Antaheen, e que de novo levou o prêmio de melhor filme no National Film Awards.

Agora em 2010, Rahul irá aparecer no filme de terror Fired, em Mumbai Chakachak, Ghost Ghost Na Raha, The Japanese Wife, Kuch Love Jaisa, Bits and Pieces e em I Am.

E Rahul, como já dito anteriormente, é uma pessoa engajada, além de esportista. Em 1998, Rahul fez parte da seleção indiana de rugby, competindo no Asian Rugby Football Union Championship. Recentemente ele se afastou do esporte, alegando estar já velho e envolvido com outras coisas.

Uma dessas outras coisas é sua ONG, chamada "The Foundation - Of Everything is Love", que foi criada em 2006. A ONG foi apenas a consolidação do trabalho que ele já vinha fazendo contra desigualdades sociais, maltratos às mulheres e às crianças, secularismo e abandonos em geral. Em 2004, Rahul liderou um campeonato de boxe pra arrecadar fundos às vítimas do tsunami nas ilhas Andaman e Nicobar, pertencentes à Índia e que foram arrasadas. Mantendo-se associado às ONGs e instituições de caridade pelas quais ele já trabalhava antes mesmo de ter criado a sua própria, decidiu também criar o "The Group of the Groups", que centraliza e conecta o trabalho de 51 ONGs de Mumbai.

No começo dos anos 2000, Rahul namorou Koel Purie, mas, ao que tudo indica, ele está solteiro já há um bom tempo.

Agora em 2010, se os planos de Rahul e de Onir se concretizarem, eles prometem abalar as estruturas indianas com a primeira cena com beijo gay do país, protagonizada pelo próprio, no filme I Am.
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55th Filmfare Awards

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Com um pouco de atraso, trago a vocês os resultados do 55th Filmfare Awards, a maior premiação de Bollywood, que ocorreu no sábado passado, dia 27 de fevereiro. Os grandes vencedores da noite foram 3 Idiots, Dev.D e Firaaq. Este último, na verdade, foi a grande revelação. Embora tenho levado três prêmios normais (Melhor Edição de Som, Melhor Edição Geral e Melhor Figurino), levou também o prêmio de Melhor Filme pela Crítica, além de Nandita Das, diretora de Firaaq, ter também levado o Prêmio Especial do Filmfare, dado aos realizadores de grandes obras, como incentivo a outros. A Melhor Trilha Sonora foi, sem surpresas, pra Rahman, com Delhi 6, além de ambos os prêmios de melhores cantores de playback (masculino e feminino) terem saído pra cantores de músicas de Delhi 6.

3 Idiots levou o prêmio de Melhor Filme e Melhor Diretor (e outros 3), que, na prática, são os mais importantes e significa que foi o grande vencedor da noite. Amitabh Bachchan levou mais um prêmio de Melhor Ator na sua carreira, por sua atuação em Paa. Pelo mesmo filme, Vidya Balan levou seu primeiro prêmio de Melhor Atriz.

Ok, antes que eu fale toda a lista a seguir, confiram vocês mesmos o restante das premiações. Eu confesso que minha ideia original era trazer a lista com as indicações e os premiados, mas fiquei com preguiça e a coisa ficaria tão longa, que abortei o plano original e decidi trazer somente os vencedores.

Melhor Filme: 3 Idiots

Melhor Filme pela Crítica: Firaaq

Melhor Diretor: Rajkumar Hirani (3 Idiots)

Melhor Ator: Amitabh Bachchan (Paa)

Melhor Ator pela Crítica: Ranbir Kapoor (por Wake Up Sid, Ajab Prem ki Ghazab Kahani e Rocket Singh)

Melhor Atriz: Vidya Balan (Paa)

Melhor Atriz pela Crítica: Mahi Gill (Dev.D)

Melhor Ator Coadjuvante: Boman Irani (3 Idiots)

Melhor Atriz Coadjuvante: Kalki Koechlin (Dev.D)

Melhor Atriz Estreante: Zoya Akhtar (Lucky by Chance)

Melhor Ator Estreante: Ayan Mukerji (Wake Up Sid)  

Melhor Trilha Sonora: A.R. Rahman (Delhi 6)

Melhor Cantora de Playback: Rekha Bhardwaj (Genda Phool, de Delhi 6)

Melhor Cantor de Playback: Mohit Chauhan (Masakali, de Delhi 6)

Diretor Estreante Mais Promissor: Ayan Mukherjee (Wake Up Sid)

Melhor Ação: Vijayan Master (Wanted)

Melhor Direção de Arte: Helen Jones e Sukanta Panigrahi (Dev.D)

Melhor Som de Fundo: Amit Trivedi (Dev.D)

Melhor Cinematografia: Rajeev Ravi (Dev.D)

Melhores Efeitos Visuais: Govardhan Vigharan, Vinay Singh Chuphal (Kaminey)

Melhor Coreografia: Bosco-Caesar (Chor Bazaari, Love Aaj Kal)

Melhor Edição de Som: Manas Choudhary (Firaaq)

Melhor Edição: Sreekar Prasad (Firaaq)

Melhor Figurino: Vaishali Menon (Firaaq)

Melhor Letra de Música: Irshad Kamil (Aaj Din, Love Aaj Kal)

Prêmio RD Burman pra Novo Talento na Música: Amit Trivedi (Dev.D)

Melhor História Original: Abhijat Joshi e Rajkumar Hirani (3 Idiots)

Melhor Roteiro: Abhijat Joshi, Rajkumar Hirani e Vidhu Vinod Chopra (3 Idiots)

Melhor Diálogo: Abhijat Joshi e Rajkumar Hirani (3 Idiots)

Prêmio Especial do Filmfare: Nandita Das (Firaaq)
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segunda-feira, 1 de março de 2010

Happy Holi!

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Na última sexta-feira, já no clima do Holi, que neste ano é celebrado hoje  (1 de março, de acordo com o calendário hindu), foi publicado um artigo na página Bollywood do Facebook falando sobre as músicas com esse tema nos filmes indianos. O Holi, que é o Festival das Cores, provavelmente é o festival indiano mais representado em filmes, sobretudo nas cenas de música. No entanto, em tempos recentes, houve uma baixa nesses clipes e é sobre isso que o artigo a seguir trata. O texto original, em inglês, pode ser conferido aqui.

Por que não temos músicas de Holi hoje em dia?

"Aaj Na Chhodenge", "Rang Barse Bheege Chunar Wali" e "Holi Khele Raghuveera" são algumas músicas de filmes hindi que conseguiram transmitir o espírito do festival das cores às telas do cinema. Mas os anos recentes testemunharam uma escassez no número de músicas trazendo este tema, deixando o público sem escolha senão ver os clipes antigos.

O último clipe de Holi que o público pode dançar foi "Do me a favour... let's play Holi", do filme Waqt - Race Against Time (2005). O clipe contava com Akshay Kumar a Priyanka Chopra e tinha o ânimo, as cores e a energia necessária pra uma música de Holi.

Depois disso, o público não pode mais contar com músicas de Holi que lhes permitisse dançar.

Kumar Taurani, diretor da Tips Industries, disse: "A inclusão das músicas depende da situação. Uma música de Holi só pode ser inserida se ela se encaixa no roteiro. Nos meus filmes eu só coloco músicas que se encaixem organicamente na situação do filme".

Taurani produziu filmes como Race e Ajab Prem Ki Ghazab Kahani. Seu próximo filme é Prince.

Holi, o Festival das Cores, alegre e divertido, é comumente acompanhado de músicas de Bollywood do passado, como "Holi Aaye Re Kanhayee" (Mother India), "Arre Ja Re Hat Natkhat" (Navrang), "Aaj Na Chhodebge Bas Humjoli"(Kati Patang), "Holi ke Din" (Sholay), "Rang Barse" (Silsila), "Mal De Gulal Mohe, Aaye Holi Aaye Re" (Kaamchor), "Ang Se Ang Lagana Sajan" (Darr) e "Holi Khele Raghuveera" (Baghban).

O famoso cantor Sukhwinder Singh acha que, já que a maior parte dos filmes hoje se passam no meio urbano, então as músicas de Holi tornaram-se raras.

"De uns tempos pra cá, raramente vemos cenas de festivais nos filmes, talvez porque as histórias se passem mais nas cidades. Se não há uma circunstância devida, uma música não pode ser inserida. Esses tipos de músicas são realmente agradáveis; espero que os cineastas tentem e criem situações em seus filmes para inserir músicas de Holi", ele disse.

O escritor de músicas Irshad Kamil traz uma outra razão para a falta das músicas de Holi.

"As pessoas estão fazendo menos filmes com músicas de Holi porque você tem que promovê-los perto dos festivais, somente. Se o filme atrasa, a música que é feita especialmente para o Holi fica parecendo defasada", disse o escritor, que fez uma música de Holi para o filme Action Replay (2010), com Akshay Kumar e Aishwarya Rai.

"No filme, eu escrevi uma música de Holi, mas não é uma música de Holi comum, como estamos acostumados. A música tem como tema de fundo o Holi, mas não é sobre ele. A música poderia muito bem ser feita sem o Holi", acrescentou.
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