terça-feira, 30 de setembro de 2008

Trailer Before the Rains

Before the Rains




Acabo de ler um texto sobre um filme indiano lançado ano passado, que poderíamos classificá-lo por cinema paralelo, de arte, da Índia. É dirigido por Santosh Sivan e conta com dois atores indianos bons e famosos (Rahul Bose e Nandita Das), mas ambos costumam trabalhar fora do circuito comercial. Nandita é até mais conhecida principalmente por ter protagonizado dois dos filmes mais famosos de Deepa Mehta, Fire e Earth. Ainda não vi Before the Rains (Antes das Chuvas), mas verei em breve e colocarei minha opinião. Por hora, acho que vale vocês lerem o artigo que li:

Uma Índia sem ser a de Bollywood
por Letícia Simões (www.sidneyrezende.com)

A prerrogativa: a relação entre o estrangeiro e a colônia, que quase sempre acaba em tragédia. Parece batido, não? Mas no caso de "Before the Rains", filme do diretor indiano Santosh Sivan, a história, que parece simples a um primeiro momento, aparece na tela com tintas tão sofisticadas e belas que o filme se torna incrível.

Moores, um inglês esnobe e arrogante quer construir uma estrada para exportar especiarias da Índia para a Europa. As obras devem ser finalizadas antes das monções, as chuvas torrenciais que inundam o país no verão. Como braço direito, Moores possui um indiano civilizado - T.K., o nome europeu para Neelan. Para completar a difícil equação, Sajani, uma bela indiana, casada por contrato com um homem violento, apaixona-se pelo patrão.

Quando, concomitantemente, o marido de Sajani descobre a infidelidade de sua mulher - mas sem descobrir que o homem é o inglês -, e a família de Moores aporta na Índia, a trama torna-se cada vez mais instigante até desaguar em um incrível e não esperado final.

Before the Rains é uma adaptação de "Red Roofs", uma das três histórias dentro do filme israelense "Yellow Asphalt", sobre um fazendeiro judeu que mantém um caso com sua assistente, uma beduína, e as conseqüências que esse romance trará não apenas para suas vidas, como para a vila inteira.

Todavia, o personagem mais complexo e interessante da adaptação indiana é T.K., com sua fidelidade cega ao patrão inglês, mas um sangue indiano que pulsa mais forte, especialmente por seu pai ser o líder do conselho tribal. A transformação pela qual ele vai passar, inclusive com sua fidelidade à rainha sendo posta à prova, oferece os momentos mais tensos do filme. T.K. quer viver com um pé em cada mundo - a tradição e a modernidade. Obviamente, isso não daria certo.

A belíssima fotografia do filme, filmado em Kerala, ao sul da Índia, cria seqüências deslumbrantes, e a beleza dos rituais indianos é fotografada de modo perfeito - revela toda a exuberância e riqueza dessa cultura, mas não estereotipa nem a torna ridícula, como em alguns filmes de Bolywood.

Before the Rains muito facilmente poderia cair em um sentimentalismo barato, mas Sivan conduz o espectador de forma bastante realista. A personagem de Sajani poderia cair no estereótipo da mocinha abandonada, mas Nandita Das consegue construir uma mulher ingênua e apaixonada que não se conforma com as regras ditadas muito antes dela existir - mas que não tem forças para confrontá-las.
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terça-feira, 23 de setembro de 2008

Devdas - Música Dola Re Dola

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Aqui vai a mais famosa cena song-and-dance do filme Devdas, que é também uma das mais famosas da história de Bollywood. De fato, vi poucas cenas de dança tão bem elaboradas quanto esta, desde a coreografia, passando pelos figurinos e figurantes. E Dola Re Dola, contracenam Paro e Chandramukhi (Aishwarya Rai e Madhuri Dixit, respectivamente).



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Trailer Devdas

Eu estava aqui re-vendo o trailer do filme Devdas, e penso que talvez eu tenha sido um pouco injusto em minhas críticas. Critiquei a direção de Sanjay Leela Bhansali, mas sei bem que ele não é um mal diretor, já que tanto elogiei o filme Black. A questão da minha crítica está principalmente no fato de o filme ter sido feito com o claro objetivo de ser um mega-sucesso e arrecadar muito dinheiro. Bom, assistam ao trailer, que resume bem todo o clima do filme!


Devdas (2002) - देवदास


Hoje vamos falar de um clássico de Bollywood: Devdas. Embora relativamente recente (foi lançado em 2002), este filme imediatamente tornou-se um dos maiores hits do cinema indiano e uma de suas músicas, Dola Re Dola, é até hoje uma das músicas de Bollywood mais cantadas.

Mas, como aqui neste blog nós não damos apenas sinopses e historinhas, Devdas passará também pelo crivo da crítica devida.

Bom, baseada no romance homônimo do escritor bengalês Sharat Chandra Chattopadhyay, esta versão já é, na realidade, a terceira filmagem deste livro feita em Bollywood, mas a primeira em cores. Dirigido por Sanjay Leela Bhansali (o mesmo de Black), estrelando nada mais que Shahrukh Khan, Aishwarya Rai e Madhuri Dixit, Devdas foi a mais cara produção indiana até então, consumindo cerca de Rs 50 Crores, ou quase 20 milhões de reais. Para se ter uma idéia, as produções brasileiras mais famosas nos anos recentes não chegaram nem à metade dessa quantia.

E olha que Devdas deixou de utilizar muitos recursos em sua produção, como cenas externas (praticamente todo o filme é feito em estúdio), por exemplo. No entanto, a grande fórmula desta obra de Bhansali é outra: utilização dos mais famosos atores-Deuses de Bollywood; história de amor quase ou pior que Romeu e Julieta; e impressionantes cenas de song-and-dance em imensos cenários construídos em estúdio.

A história é a seguinte: Devdas (Shahrukh Khan) retorna de seus estudos na Inglaterra, depois de muito tempo ausente. Sua família é riquíssima e vive em uma mansão em algum lugar do West Bengal (o filme é em Hindi, mas hora ou outra aparecem algumas expressões em bengalês). Eles têm como vizinhos uma outra família riquíssima, cuja filha Paro, apelido de Parvati (Aishwarya Rai), cresceu com Devdas - e lógico que foram apaixonados. Devdas, ao retornar, vai ver primeiro ela ao invés de sua mãe.

Tudo corre bem e parece que ambos vão casar, mas a inveja, o ciúme, a fofoca e tudo de ruim que há em mulheres ciumentas e famílias "bem" organizadas acontece e o plano vai por água abaixo. Paro acaba sendo "oferecida" para um viúvo de 40 anos e Devdas, por sua vez, acaba brigando com seu pai, com quem rompe relações, e vai parar num bordel, onde é acolhido por Chandramukhi (Madhuri Dixit), que se apaixona por ele, que acaba virando alcoólatra e muito doente. A partir daqui o filme começa a ficar mais emocionante e prefiro não prosseguir na história. Apenas ressalto que o final desta história acabou por fazer muitas mulheres e homens indianos se derramarem em lágrimas. É um trágico dos mais clássicos.

Mas agora vamos à minha função de blogueiro crítico. Este filme está bem longe de ser um dos meus favoritos do cinema indiano. Eu declaradamente gosto de produções em que o cinema seja entendido como arte, em que haja um bom uso dos recursos cinematográficos disponíveis, em que o enredo, a direção, a fotografia e as atuações se aliem para compor uma obra de sentido artístico. Em Devdas, Bhansali exagerou na direção, criando tomadas forçadas para tentar aumentar o clima de tensão, emoção e tragédia. Além disso, a própria história em si não traz nada de novo. Salvo as boas atuações de Shahrukh Khan e Aishwarya, o resto das interpretações estão forçadamente caricatas, tanto quanto caricato é o próprio cenário (brega?) da obra.

Mas não estou dizendo que este filme não precisa ser visto. Muito pelo contrário. É um marco bollywoodiano, um ícone para a indústria cinematográfica indiana. Até porque, se no Filmfare Awards o filme recebeu 10 prêmios e 6 no IIFA Awards, é porque aí tem alguma coisa que no mínimo se destaca das outras produções.

sábado, 20 de setembro de 2008

Mapa do Cinema Indiano

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Como um bom geógrafo, não pude deixar de preparar para vocês um mapa do cinema indiano, mostrando onde estão cada uma das principais indústrias regionais de cinema da Índia. Neste mapa aparecem somente o nome dos estados que abrigam as indústrias citadas neste blog, além do nome das respectivas indústrias e línguas faladas.

Cliquem na imagem para ampliá-la e poderem ver com mais detalhes. Espero que seja de bom uso e esclarecimento para todos!

Para saber a história de cada uma das indústrias de cinema da Índia, aqui vão os links:

Bollywood - Parte 1 e Parte 2
Kollywood
Tollywood
Sandalwood
Cinema Malayalam
Cinema Bengali
Cinema Marathi
Punjwood
Cinema Independente

E aproveite e clique aqui para ver a postagem sobre as diferentes línguas e alfabetos da Índia.

Colaborou: Emiliano Caratta
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Gigante de Bollywood sela acordo com produtora de Spielberg



da EFE, Nova Délhi

A companhia indiana Reliance Big Entertainment, propriedade do multimilionário Anil Ambani, chegou a um acordo com Steven Spielberg para formar um novo estúdio em Hollywood, informaram neste sábado (20) fontes ligadas ao negócio.

O grupo Ambani injetará US$ 550 milhões na produtora de Spielberg, DreamWorks, para desligá-la de sua atual proprietária, Viacom, e formar um projeto diferente.

Além do investimento direto de capital, outros US$ 750 milhões entrarão no negócio como crédito da entidade investidora americana JP Morgan Chase, segundo as agências de notícias indianas Ians e PTI.

A DreamWorks foi criada em 1994, mas foi vendida para a Viacom dois anos depois por US$ 1,6 bilhão.

Em maio deste ano, a companhia Reliance Big Entertainment já tinha tornado pública, em Cannes, sua intenção de entrar em Hollywood e em produtoras de que participam importantes atores, como Brad Pitt, Tom Hanks, Nicholas Cage, Jim Carrey e George Clooney.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Um pouco mais de Deepa Mehta

Aqui vão dois vídeos que mostram um pouco da obra de Deepa Mehta. O primeiro é uma junção dos três filmes da Trilogia dos Elementos, que dá pra dar uma boa visão da sequência. Mas repare que, neste vídeo, a ordem dos filmes não está correta, que deveria ser Fire, Earth e Water. Mas não tem problema.


O segundo vídeo é o trailer oficial do filme Heaven on Earth, lançado este ano. É de apertar o coração.


Trilogia dos Elementos


Heaven on Earth

Deepa Mehta - दीपा मेहता


Já que falávamos sobre o cinema independente - ou paralelo - da Índia, porque não falar de sua maior expoente? Antes que façam críticas desconstrutivas, eu já adianto que concordo que Deepa Mehta, na verdade, não deveria ser considerada uma diretora indiana, já que seus filmes são produzidos por outros países, embora a temática seja sempre Índia. Mas, justamente por conta da temática, e principalmente por Deepa ser ela própria indiana (radicada canadense), é que seu cinema é, sim, parte da produção paralela indiana. Mira Nair é um outro exemplo, mas dela falaremos depois.



Bom, Deepa Mehta nasceu no primeiro dia da segunda metade do século XX, 1/1/1950, em Amritsar, no Punjab, noroeste indiano. Estudou na Welham Girls High School, em Dehradun, Uttarakhand, aos pés do Himalaia, e formou-se em Filosofia pela University of Delhi. Em 1973, aos 23 anos de idade, emigrou para o Canadá, de onde nunca mais saiu (senão a trabalho, passeio etc etc). Mas duas coisas foram de extrema importância em sua infância, e acabaram por marcar seu futuro: Deepa cresceu no baixar de poeiras da separação entre Índia e Paquistão (1947), na cidade onde ocorreu um dos piores massacres do país; além disso, seu pai era dono de algumas salas de cinema em Amritsar, e Deepa acabou por acompanhar de perto a ecolução de boa parte das produções indianas de sua época, além de assistir, aos domingos, filmes de Hitchcock.



Logo iniciou sua carreia com filmes, preparando roteiros para filmes infantis. Mas foi em 1991 que ela entrou de fato na vida do cinema, lançando Sam and Me, sobre um joven indiano e sua relação com um homem judeu mais velho, na periferia de Toronto. O filme acabou por ganhar menção honrosa na categoria Camera D'Or do Festival de Cannes. Em 1994, lançou Camilla, com Bridget Fonda e Jessica Tandy.



Em 1993, 1996 e agora em 2007, Deepa Mehta dirigiu capítulos da série de TV, de George Lucas, chamada The Young Indiana Jones Chronicles (As Aventuras do Joven Indiana Jones).



Porém, o que realmente projetou Deepa Mehta no cenário internacional foi sua trilogia dos elementos, como é chamada, com Fire (1996), 1947:Earth (1998) e Water (2005). Cada um à sua maneira, a trilogia compõe um excelente retrato da ignorância humana, privilégio que, na verdade, não é só da Índia. Em breve faremos postagens sobre cada um dos filmes dessa trilogia, com as devidas críticas.



Neste ano, Deepa está lançando sua mais nova - e polêmica - produção, Heaven on Earth (Paraíso na Terra). Neste filme, a diretora toca na sensível e velada (?) característica do macho indiano: bater na esposa. Contará a história de uma indiana que é mandada para o Canadá, para casar-se com um indiano SikhParece que o filme é bom; ainda não vi. E agora, neste momento, a diretora prepara mais um longa, chamado Exclusion, que, dizem as más línguas, trará ninguém mais que Amitabh Bachchan e John Abraham para os papéis principais. O filme será baseado em fatos reais, contando a história de um navio japonês, carregado de indianos, que foi obrigado pelo governo canadense a dar meia volta e volver para a Índia, em 1914.

sábado, 13 de setembro de 2008

Cinema Independente



Muito além dos infinitos “woods” das indústrias regionais de cinema da Índia, existe também o cinema paralelo indiano, como chamam. São criações de diretores independentes, em sua maioria com produtoras próprias, mas nem sempre classificados como cinema de arte (muito embora, ao menos no Brasil, as videolocadoras coloquem até mesmo filmes de Bollywood na sessão de Arte). Apesar de grande parte do cinema independente indiano ter sido produzido em estados como West Bengal (bengalês) e Kerala (malayalam), são os diretores de filmes em hindi que acabam fazendo, hoje, mais sucesso no exterior, destacando-se Mira Nair e Deepa Mehta.


Dos anos 50 aos 80, havia apoio financeiro, por parte do governo, para as produções paralelas do cinema indiano. Foi desse período que saiu a obra que até hoje é reconhecida como o melhor exemplo do cinema de arte indiano, a Trilogia de Apu, de Satyajeet Ray (veja postagem exclusiva sobre este diretor bengalês). Mas antes de Ray, foram pioneiros no cinema paralelo indiano os diretores Khwaja Ahmad Abbas, Chetan Anand, V. Shantaram e Bimal Roy. Também já citado anteriormente, destacaram-se no cinema de arte os malayalam Adoor Gopalakrishnan e M.T. Vasudevan, dentre outros já mencionados.


Principalmente nos anos 50 e 60, primeiras décadas pós-independência, o governo tinha interesse no financiamento de filmes sérios, que pudessem retratar, de modo realista, a vida indiana, e, eventualmente, construir uma identidade nacional, ou regional. Em verdade, esse era um movimento mundial, num planeta pós-guerra. No Brasil, nossa suposta identidade nacional foi, também, forjada nesse mesmo momento.


Hoje a produção independente da Índia não é mais tão produtiva quanto já foi um dia. Em parte, isso é reflexo da falta de investimentos públicos para isso, em parte por falta de interesse do próprio público indiano e, talvez, em parte também pela recente mudança nos filmes comerciais, que estão, gradualmente, ficando mais sérios e bem elaborados. Os antigos filmes de arte acabam, hoje, servindo como ótimos instrumentos de análise para os estudantes universitários e pesquisadores, que os utilizam como referências para estudos de mudanças demográficas, comportamentais e socioeconômicas da população indiana, tal eram seus realismos.


Como já ressaltado, o cinema paralelo da Índia é hoje reconhecido pelas obras de duas indianas, Deepa Mehta e Mira Nair. A primeira ficou famosa por sua trilogia Fire, Earth e Water, este último indicado ao Oscar de melhor filmes estrangeiro em 2007. Já os filmes de Nair são bem mais ao estilo ocidental de Hollywood (ela mesma mora hoje em Nova Iorque) e, de forma geral, seguem um tema comum que é mostrar o conflito sociedade indiana-sociedade ocidental. No entanto, o que mais fez sucesso é Monsoon Wedding (Um Casamento à Indiana), de tema completamente indiano.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Tribunal indiano permite que ator condenado à prisão filme no exterior


Do Portal G1 - EFE

Nova Délhi, 5 set (EFE) - A Corte Suprema da Índia concedeu hoje ao astro de Bollywood Sanjay Dutt, condenado a seis anos de prisão por posse ilegal de armas, um mês e meio mais de tempo para que siga rodando filmes no exterior.

Depois que, no ano passado, o ator deixou a prisão em liberdade mediante pagamento de fiança e com a condição de que não podia sair do país, o ator compareceu em março ao Alto Tribunal para que pudesse rodar vários filmes em Estados Unidos, Malásia e Tailândia.

O Supremo aprovou o pedido e fixou em 30 de setembro sua data de retorno à Índia, mas hoje ampliou este prazo até 15 de novembro, segundo a agência "Ians".

Dutt foi condenado no ano passado por posse ilegal de armas nos julgamentos sobre os atentados de Mumbai de 1993, que deixaram 250 mortos, embora a corte tenha ressaltado que o ator não participou dos ataques.

O artista indiano recorreu da condenação perante a Corte Suprema e espera um veredicto final.

Dutt é famoso por sua atuação em filmes como "Lage Raho Munna Bhai", que o ajudaram a cultivar uma imagem de "enfant terrível" convertido. Neste filme e em outros interpretou criminosos ou gângsteres arrependidos que querem voltar ao caminho da legalidade.

Curiosidades - As diferentes línguas e alfabetos da Índia

Namaste!

Para os leitores atentos e curiosos, talvez essa postagem não traga nada de novo. Mesmo assim, é sempre interessante falarmos sobre as características da Índia, que tanto desconhecemos.

Nas postagens sobre os cinemas regionais indianos, eu sempre procurei ressaltar que cada indústria de cinema assim se define de acordo com sua língua. Falamos do cinema bengalês, do cinema telugu, kannada, malayalam, tamil, marathi, punjabi, hindi... não existe um "cinema indiano" de fato, mas diferentes indústrias regionais em cada estado, de acordo com sua língua. Porém, muitos de vocês talvez não saibam, mas essas diferentes línguas não são dialetos, como costumam pensar - elas são mesmo diferentes tanto quanto são diferentes as línguas dentro da Europa.

Mas na Índia as diferenças são ainda maiores já que existe, ainda por cima, diferenças nos alfabetos de cada língua. Poucas são as regiões que utilizam o mesmo alfabeto, a despeito de suas diferenças linguísticas. Sempre que consegui, nos títulos das postagens sobre os cinemas regionais eu sempre escrevia também no alfabeto local.

Para vocês verem as diferenças, abaixo escrevo a palavra cinema nos diferentes alfabetos indianos.


Hindi: सिनेमा
Marathi:
सिनेमा
Punjabi:
ਸਿਨੇਮਾ
Bengali: চলচ্চিত্র
Urdu: ﺳﻴﻨﻤﺎ
Malayalam:
സിനിമ
Kannada:
ಸಿನೆಮ
Telugu:
సినిమా
Tamil:
சினிமா


As palavras são exatamente as mesmas, ou seja, transliterando, está escrito "sinema", para que o som saia como "cinema". Das 9 línguas que coloquei aqui, apenas o hindi e o marathi têm o mesmo alfabeto, que é chamado devanagari. As outras todas têm seus próprios alfabetos. Reparem, porém, que as quatro primeiras línguas têm um padrão de escrita semelhante, mais quadradas e com um traço em cima, enquanto que as quatro últimas têm outro padrão, mais arredondadas. Isso se deve porque as quatro primeiro línguas são do norte, da Índia do tronco linguístico originário do sânscrito, enquanto que as quatro últimas são do sul, de outro tronco linguístico, chamado dravidiano.

A quinta língua que aparece na lista, chamada urdu, é, na verdade, um dialeto do hindi, com pouquíssimas diferenças. A maior e fundamental diferença, no entanto, está no alfabeto. Enquanto o hindi utiliza o devanagari, o alfabeto urdu é uma variação do alfabeto árabe. Embora falado em várias partes da Índia, o urdu só é mesmo predominante no país vizinho Paquistão, de maioria muçulmana. Alguns teóricos afirmam que , considerando o hindi e o urdu juntos numa mesma língua, que chamaria hindustani, então essa língua seria a segunda mais falada do mundo.

Aproveite e veja também o mapa que mostra a localização das diferentes indústrias de cinema da índia, em seus respectivos estados e línguas de origem, clicando aqui.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Bollywood - बॉलीवुड - Segunda Parte



Conforme o combinado, aqui vai a segunda parte da postagem sobre Bollywood!


Bom, já dissemos, mas vamos ressaltar que a grande fórmula de sucesso de Bollywood são as famosas cenas de song-and-dance (música e dança). O fato é que, embora muitos filmes já estejam deixando de fazê-las – ou ao menos deixando de fazer a parte dance e deixando apenas o song – a maioria dos grandes sucessos recentes valeram-se disso. Quanto melhores as coreografias, quanto melhores as músicas e quanto mais famosos os atores, maior será o sucesso. Também já disse na postagem sobre Taare Zameen Par que as músicas dos filmes, geralmente, são lançadas nas rádios antes mesmo do lançamento dos filmes nos cinemas, de tão importantes que são.


E talvez muitos não saibam, mas as músicas dos filmes não são cantadas pelos atores, mas por cantores profissionais. Os atores apenas fazem o playback nas cenas de song-and-dance, como se eles mesmos cantassem. E muitos desses cantores profissionais acabam também ficando famosos, lançando, por vezes, seus discos independentes (o que não é assim tão comum de ocorrer, na verdade, já que indianos só escutam as músicas dos filmes). A cantora que ficou mais famosa, e ainda vive, é indiscutivelmente Lata Mangeshkar.


Outro fato é que a grande função de Bollywood é o entretenimento antes de tudo. Por isso mesmo, o público que paga quer mesmo é ser entretido. Indiano tem um pouco de preguiça de pensar, essa é a verdade, então os filmes não podem, assim, ser muito profundos e ter muita lógica, mas apenas entreter. Isso, por lá, é chamado de paisa vasool, ou seja, algo como fazer valer o dinheiro dispendido.


Mas, conforme já dito na primeira postagem sobre Bollywood, novos ventos sopram do oeste, e o modelo ocidental de cinema parece estar chegando para ficar, ou ao menos ganhar o seu terreno. Outro fato que consta nos registros é que, ao que parece, muitos dos primeiros filmes indianos, pré-independência, tinham cenas de beijo e até sexo, mas foi pós-independência, com um governo 100% indiano, que isso tudo foi censurado. Agora a sociedade pede por mudanças.


A falta de interesse que havia por real qualidade das produções também se manifestava na imagem e no som. A despeito da quantidade de dinheiro que circula por Bollywood, até hoje muitos filmes são gravados com câmeras obsoletas, que captam imagens de baixa qualidade. Além disso, por incrível que pareça, até o ano 2001, os sons dos filmes não eram captados na hora da gravação, mas inteiramente recriados em estúdio. Isso mudou somente com o filme Lagaan (2001), em que o ator Aamir Khan insistiu que a produção fosse filmada com captação de sons conjunta. Não é necessário nem dizer que isso passou a dar mais realismo às produções. Depois disso não só Bollywood, mas também outras indústrias passaram também a captar os sons na hora da filmagem.


Agora vamos falar sobre uma questão um tanto polêmica para Bollywood: seu financiamento. Todos sabemos que muito dinheiro rola nas produções do cinema hindi, mas o pior disso é que todo esse financiamento não é controlado por ninguém, principalmente por Bollywood não ter exatamente uma sede. Até pouco tempo, bancos e instituições financeiras não podiam investir em produções de cinema, o que ficava a cargo de pequenas e grandes produtoras de Mumbai. Mas embora hoje os bancos possam investir em Bollywood, más línguas afirmam que a principal fonte de dinheiro da maior indústria de cinema da Índia sai mesmo é da máfia.


O livro McMafia: A Journey Through the Global Criminal Underworld (ou, na edição brasileira, McMafia: Crime sem Fronteiras) cita Bollywood como um importante “nó” da máfia mundial. Não só produtoras, mas também diretores e atores estariam envolvidos com o crime e contrabando mundial, utilizando os filmes para lavar dinheiro. Mais ou menos como o jogo do bicho e o carnaval, aqui no Brasil, salvas as devidas proporções.


O caso mais emblemático – e complexo, eu diria – é do ator Sanjay Dutt. Um dos atores mais famosos de Bollywood até hoje, Dutt, filho de deputado, esteve declaradamente envolvido com ao menos um atentado a bomba que ocorreu em Mumbai, em 1993. Ele chegou a ser preso e ficar um ano e meio na prisão, quando acabou solto. O processo segue até hoje, porém, enquanto Dutt faz sua fama em Bollywood, que parece conspirar a seu favor. Nesse meio tempo, ganhou diversos prêmios, dentre eles dois de melhor ator pelo Filmfare Awards, a maior premiação de Bollywood. Um deles foi entregue em 1994, um ano após os atentados a bomba.


O maior golpe de Bollywood a favor dele, porém, foi o lançamento do filme Lage Raho Munnabhai, o segundo de uma série em que ele interpreta um integrante de uma gangue – curioso, não? Acontece que neste filme, Dutt, no papel de Munnabhai, acaba recebendo a visita do espírito de Mahatma Gandhi, que mais ou menos o converte para a não-violência e firmeza com a verdade (ahimsa e satyagraha). O filme acabou emocionando muita gente, mas o maior de seus efeitos foi fazer uma nova geração indiana aprender a gostar de Gandhi, após duas gerações que o odiavam. Assim, a máfia não só lava seu dinheiro com Bollywood, como também, de alguma maneira, lava a cara de seus membros, fazendo a cabeça do povo indiano.


Bom, e diferentemente das outras indústrias regionais de cinema da Índia, Bollywood consegue fazer bastante sucesso também no exterior. Os países vizinhos (Bangladesh, Nepal, Sri Lanka, Afeganistão e mesmo Paquistão) são os maiores mercados externos, mas há crescente interesse no oriente médio, Israel e Oceania. A antiga União Soviética era um grande mercado, hoje mais restrito à Rússia, que costuma dublar as produções. Nos anos mais recentes, com o crescimento das colônias indianas na América do Norte e na Europa, essas regiões também estão presenciando um crescimento das exibições de produções bollywoodianas por lá. Na América do Sul praticamente não há conhecimento sobre Bollywood, com exceção de Suriname e Guiana, que têm quase metade de suas populações descendentes de indianos; situação semelhante é observada na África, onde Bollywood é mais conhecida na África do Sul, onde há a maior colônia de indianos fora da Índia.