quinta-feira, 29 de abril de 2010

Anupam Kher - अनुपम खेर

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Eu confesso que falar sobre grandes nomes do cinema indiano não é muito simples. E Anupam Kher é, pra mim, um imenso nome.

Embora tenha nascido lá no dia 7 de março de 1955, sua carreira no cinema começou somente em 1982, quando ele já tinha seus quase trinta anos de idade. Nasceu e cresceu na simpática Shimla, no estado de Himachal Pradesh, proveniente de uma família de raízes brâmanes da Caxemira. Ao concluir o colegial, foi pra Nova Delhi estudar na National School of Acting, o mais importante instituto público de atuação da Índia.

No início dos anos 80, então, ele iniciou as gravações de seu primeiro filme, Aagman, que estreou em 1982. Dois anos depois ele já protagonizava um personagem complexo no filme Saaransh, que lhe garantiu um prêmio de melhor ator pelo Filmfare Awards, o que é muito raro ocorrer pra um ator tão estreante como ele. No mesmo ano ele também apareceu no filme Utsav, um semi-clássico, mas que por ser até então praticamente desconhecido, ficou com um papel bem coadjuvante.

Na segunda metade da década foi que ele consolidou sua capacidade de ator, realizando um vilão no filme Karma, em 1986, e depois mais todos os tipos de personagens nos anos seguintes, coroando-se com seu papel no filme Daddy (1991), pelo qual levou o prêmio de melhor ator pelo National Film Award e pelo Filmfare Awards pela crítica. Até hoje há quem diga que sua atuação nesse filme foi uma das melhores da sua carreira.

E quando chegou a década de 90 Anupam Kher já era quem é e passou a ser efetivamente disputado pras grandes produções, mas nem sempre como protagonista. Um exemplo foram os inúmeros filmes em que ele apareceu ao lado de Shahrukh Khan, por exemplo. Foi em Darr (1993), Dilwale Dulhaniya Le Jayenge (1995), Chaahat (1996), Kuch Kuch Hota Hai (1998), Mohabbatein (2000) e Veer-Zaara (2004). Nesse período ele também acabou sendo muito chamado pra papéis cômicos, pelos quais ele levou vários Filmfare Awards de melhor comediante, como em Ram Lakhan (1989), Lamhe (1991), Khel (1991), Darr (1993) e Dilwale Dulhania Le Jayenge (1995).

No ano de 2003 Anupam aventurou-se na direção com o filme Om Jai Jagadish, que também foi produzido por ele. Dois anos depois, com Maine Gandhi Ko Nahin Mara, ele levou o prêmio do júri de melhor ator pelo National Film Award e, embora não tenha levado nenhum outro prêmio por esta atuação, também há quem defenda que esta seja um de seus melhores papéis até hoje.

Anupam é também um dos atores de Bollywood com maior número de participações em filmes estrangeiros. O primeiro deles foi Bend It Like Beckham (2002), seguido por Banana Brothers (2003), Bride and Prejudice (2004) e The Mistress of Spices (2005), todos em inglês. Depois, em 2007 ele apareceu em Lust, Caution, do chinês Ang Lee. No ano seguinte fez mais um filme em inglês, chamado The Other End of the Line.

Nesse meio tempo, Anupam apareceu em outros filmes de grande sucesso e/ou de boa recepção da crítica, o que não necessariamente significou sucesso de público. Foram eles Kaho Naa... Pyaar Hai (2000), Paheli (2005), Rang De Basanti (2006), Khosla Ka Ghosla (2006), Jaan-E-Mann (2006), Vivah (2006), Laaga Chunari Mein Daag (2007), Dil Bole Hadippa! (2009), Wake Up Sid (2009). E agora pra 2010, Está previsto para Anupam aparecer em nada mais que dez filmes, repetindo o número de 2009. É uma das maiores médias entre os atores de Bollywood.

Anupam também esteve e está muito presente em programas de televisão. Ele apresentou, por exemplo, o predecessor do Kaun Benega Crorepati (o Jogo do Milhão indiano), chamado Sawaal Dus Crore Ka. Antes, apresentou também o programa Say Na Something To Anupam Uncle. Ele também estava apresentando o programa para a campanha do Lead India, levada adiante pelo jornal Times of India.

Ele também foi o presidente do Indian Film Censor Board, que na prática realiza as polêmicas censuras nos filmes produzidos na Índia. Hoje ele foi substituído pela Sharmila Tagore. Também de 2001 a 2004, Anupam foi diretor da National School of Drama, onde se formou em 1978.

E por fim, no ano de 2007, Anupam fundou uma produtora, chamada Karol Bagh Productions, dirigida hoje por ele e por sua esposa, a atriz Kirron Kher, com quem se casou em 1985, após divorciar-se de sua primeira esposa, Madhumalati.
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terça-feira, 27 de abril de 2010

Rainwater Harvesting

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Há pouco mais de um mês comemoramos o Dia Mundial da Água e, exatamente um mês depois, no dia 22 de abril, foi comemorado o Dia da Terra. Em tempos de conscientização global, de nosso lugar no planeta, imagino que ainda assim ambas as datas tenham passado batidas para a maioria de vocês, não?

Pois hoje chegou em minhas mãos um vídeo que, a meu ver, abarca ambos os temas que, na prática, não estão separados. Trata-se de um pequeno vídeo de 90 segundos sobre o projeto de captação de água de chuva na Índia. Tentei procurar quem realizou o vídeo, mas não encontrei. No final, ao menos, é possível saber que se trata da campanha Rainwater Harvesting, levada adiante pelo Centre for Science and Environment (Centro pra Ciência e Meio Ambiente), uma instituição não-governamental indiana, fundada em 1980, com o objetivo de criar uma consciência política no país para o desenvolvimento de boas soluções para combater inúmeros problemas crônicos da Índia.

Um dos problemas mais sérios da Índia é o acesso à água potável, sobretudo no norte/noroeste do país, região mais seca e mais povoada. Mas vejam só, embora do outro lado do mundo, a Índia encontrou no Brasil uma solução muito simples para resolver boa parte desse problema: captar água das monções com calhas nos telhados e cisternas do lado externo das casas. Pra quem não sabe, está em andamento no semi-árido brasileiro o maior programa do mundo de captação de água de chuva, chamado Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), que, de tão eficiente e revolucionário, já levou prêmios nacionais, internacionais e da ONU (na foto, exemplo do P1MC no semi-árido do Pernambuco). E países do mundo afora que sofrem com a escassez de água vem adotando o modelo do Brasil, sendo um deles a Índia.

E é nesse contexto que se insere este pequeno vídeo que vocês verão a seguir, que serve apenas de incentivo pra que olhem que a chuva é também um bem precioso e que merece ser guardado e compartilhado. É claro que o vídeo merece ser transmitido pra vocês pela sua mensagem em si, mas, antes disso, merece aparecer no Cinema Indiano por ser evidentemente mais uma produção criativa da terra de quem tem mais experiência com cinema no mundo; e que no Brasil dificilmente seria realizado nesse nível. Então confiram!


Colaborou: Mariana Lisboa.
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domingo, 25 de abril de 2010

"Lakshami a Deusa", no Teatro Gazeta

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Um dia após a apresentação do espetáculo The Blue Mug, São Paulo receberá mais um espetáculo com bases indianas, dessa vez, porém, com artistas brasileiros.

Aproveitando a proximidade com o Dia das Mães, o Dharma Cia. de Artes apresentará a peça Lakshami a Deusa, no próximo dia 6 de maio, quinta-feira, às 21h, no Teatro Gazeta. Lakshmi é a deusa hindu da prosperidade, consorte de Vishnu. O flyer do espetáculo diz o seguinte:

"Espetáculo que une dança, música ao vivo, teatro e projeção de um vídeo documentário com a intenção de retratar Lakshami, Deusa indiana da prosperidade e da beleza. Fazendo uma ponte entre o Oriente e o Ocidente através dessas manifestações artísticas e contando com cenários e figurinos típicos da cultura indiana, Lakshami ganha vida no palco e presenteia a todos com sua dança, visando despertar a potencialidade da prosperidade que está latente dentro de cada um."

O ingresso inteiro sai por R$44,00 (há meia entrada), mais 1kg de alimento não perecível que será doado à Associação Cruz Verde. O Teatro Gazeta fica no próprio prédio da Gazeta, na Avenida Paulista, 900. Tanto a estação Trianon-MASP quanto a estação Brigadeiro do metrô são próximas.

Mais informações aqui.

Colaborou: Simone Mattos.
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sábado, 24 de abril de 2010

Mughal-E-Azam (1960) - मुग़ल-ए आज़म

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Mughal-E-Azam é um filme e tanto. Dirigido por K. Asif, foi uma das maiores superproduções que Bollywood já viu em sua história, tendo levado nove anos pra ficar pronta até que tivesse sua estreia no ano de 1960. Naquele ano, esse filme bateu todos os recordes de bilheteria na Índia, sendo batido somente por Sholay, em 1975. Mas há quem diga que, ajustando a inflação, Mughal-E-Azam ainda detenha o recorde de arrecadação da história de Bollywood até hoje.

Pra ajudar, o filme contou com alguns dos maiores astros de Bollywood até então, como Prithviraj Kapoor, Dilip Kumar e Madhubala, que encarnaram a lendária história de Anarkali, que teria sido enterrada viva pelo imperador Akbar, evitando que seu filho, Jahangir, se casasse com ela.

Pra quem assistiu Jodhaa Akbar (2008) antes, ver Mughal-E-Azam pode dar uma impressão um tanto diferente de Akbar, o Grande, embora o final do filme guarde uma surpresa necessária. Mas se tanto Jodhaa Akbar quanto Mughal-E-Azam são baseados mais em fatos lendários do que propriamente reais, ambos se complementam e dão um ao outro uma continuidade histórica da vida de um dos mais emblemáticos imperadores mogóis que a Índia já teve: Akbar.

E então a história do filme é a seguinte: o pequeno príncipe Salim (futuro imperador Jahangir) é filho de Akbar (Prithviraj Kapoor) com Jodhaa (Durga Khote) e é extremamente levado. É realmente difícil discipliná-lo, mas Akbar descide enviá-lo para a frente de batalha na idade apropriada, de maneira que ele passasse anos fora dos mimos do palácio e se endireitasse com a disciplina militar.

Os anos se passam e é chegada a hora do retorno de Salim, já nesse momento interpretado pelo galã Dilip Kumar. Em seu retorno, a corte é brindada com danças de cortesãs, sendo Bahaar uma das mais expressivas e reconhecidas dançarinas cortesãs. Mas então eles conhecem uma recém-chegada garota que surpreende a todos com sua beleza e com sua dança. É nomeada Anarkali (Madhubala) e Salim fica realmente encantado por ela. Acontece que um romance entre Salim e Anarkali jamais poderia ocorrer, por diferenças de castas, e seria um desastre no império.

Ainda assim, Salim e Anarkali passam a se encontrar secretamente, mas a ciumenta Bahaar descobre e deda tudo. Anarkali é então presa. Salim fica furioso e rebela-se contra seu pai. Anarkali é liberada e realiza uma incrível dança kathak dentro de um incrível salão do palácio. E ao dançar, canta seu amor incondicional pelo príncipe, o que foi um motivo mais do que suficiente pra ira de Akbar, que, desta vez, ordena que Anarkali seja emparedada viva.

E então não conto o que se segue. Assistam o filme, que vale muito à pena. Mughal-E-Azam foi originalmente filmado em preto e branco, mas no ano de 2004 uma imensa equipe coloriu o filme artificialmente e ele foi relançado nos cinemas e em DVD. Foi novamente um sucesso estrondoso, o que pode ter colocado Mughal-E-Azam no posto de filme mais visto na Índia em todos os tempos.

As músicas do filme são também no melhor estilo dos anos dourados do cinema indiano, cantadas obviamente pela imortal Lata Mangeshkar. E Mughal-E-Azam é considerado até hoje a obra-prima e referência para qualquer filme com inspiração muslim socials, que tanto deu à Índia a magnanimidade hoje reconhecida no mundo.

A cena do kathak de Anarkali pode ser conferida na postagem sobre esse filme no Grand Masala. E pra não competir, coloco então uma outra linda dança da mesma Anarkali, com a música Mohe Panghat Pe, cantada por Lata Mangeshkar e com legenda em português:


Colaboraram: Bárbara Fernandes e Pedro Custódio  
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sábado, 17 de abril de 2010

The Blue Mug em São Paulo

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Numa raríssima oportunidade - além de única -, uma peça de teatro indiana virá a São Paulo no próximo dia 5 de maio de 2010. E pra completar, ela contará com alguns dos mais finos atores de Bollywood em seu elenco.

Estamos falando do The Blue Mug Play, um espetáculo de Atul Kumar, como nada mais que Konkona Sen Sharma, Ranvir Shorey, Vinay Pathak, Rajat Kapoor, Sheeba Chaddha e Munish Bhardwaj. Os quatros primeiros têm uma lista extensa de filmes de Bollywood no currículo, sendo que Konkona, Ranvir e Vinay atuaram lado a lado em Aaja Nachle (2007) e Ranvir, Vinay e Rajat estiveram juntos em Bheja Fry (2007). Konkona Sen Sharma é a mais famosa de todos, tendo já recebido um National Film Awards de melhor atriz por Mr. and Mrs. Iyer (2002) e dois Filmfare Awards pra melhor atriz coadjuvante, por Omkara (2006) e LIfe in a... Metro (2007).

The Blue Mug é uma comédia que fala sobre a memória e o que fazemos com ela, usando como base experiências pessoais dos atores, que inclusive improvisam em alguns trechos do espetáculo.

Em turnê pelos Estados Unidos de 23 de abril a 16 de maio, o espetáculo dará uma espichada ao Brasil para uma apresentação única no Teatro Juca Chaves, em São Paulo, no dia 5 de maio, quarta-feira, às 20h30.

O Teatro Juca Chaves fica na rua João Cachoeira, 899, no Itaim Bibi, dentro do supermercado Extra. O ingresso inteiro sai por R$100,00 (há opção de meia-entrada) e após o espetáculo haverá um coquetel com salgadinhos indianos. Como a apresentação será única, recomenda-se a compra antecipada do ingresso. Compre seu ingresso aqui, ou pessoalmente na bilheteria do teatro.

*ATUALIZAÇÃO*: Leia aqui o comentário sobre o espetáculo.
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quinta-feira, 15 de abril de 2010

Vidya Balan - வித்யா பாலன்

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Vidya Balan é uma das atrizes mais simpáticas e carismáticas do cinema indiano, tendo conquistado o público desde seu começo no cinema, no ano de 2003.

Vidya, diferentemente da maior parte dos atores e atrizes de Bollywood, não é nativa da língua hindi. Ela nasceu no sul da Índia, no estado do Kerala, cuja língua é o malayalan, embora sua família falasse a língua tamil, do vizinho estado do Tamil Nadu. Nasceu na cidade de Palakkad, vindo de presente no dia primeiro de janeiro de 1978.

Seu pai, P.R. Balan, é vice-presidente do canal de televisão ETC e isso foi a porta de entrada garantida para Vidya. Logo cedo foram morar em Mumbai, onde Vidya estudou na escola St. Anthony e depois cursou sociologia na St. Xavier College. Posteriormente, enquanto fazia seu mestrado na Universidade de Mumbai, recebeu seu primeiro de uma série de convite confusos pra fazer um filme.

O primeiro convite foi para o filme malayalam Chakram, que acabou sendo cancelado antes que começasse. No entanto, em seguida, ela foi chamado pro filme tamil Run, mas acabou sendo trocada pela atriz Meera Jasmine, sem mais, nem menos. Pouco depois, Chakram foi resgatado e, de novo, ela acabou sendo trocada por Meera Jasmine de novo. Daí, na sequência, ela foi chamada pra outro filme tamil, Manasellam, mas foi de novo trocada, dessa vez pela atriz Trisha Krishnan.

O processo pra entrar no cinema estava tão bichado que ela então migrou pra comerciais de televisão. De 1998 em diante, ela conseguiu aparecer em dezenas de comerciais, grande parte deles dirigidos por Pradeep Sarkar. Ao mesmo tempo, apareceu também como coadjuvante em clipes de música.

Finalmente, em 2003 ela foi convidada para o filme benaglês Bhalo Theko, de Goutam Halder, que não só deu certo, como ela levou um prêmio local de melhor atriz pela atuação. E daí já foi direto pra Bollywood com o sucesso Parineeta, em 2005, ao lado de Sanjay Dutt e Saif Ali Khan, pelo qual levou o Filmfare e o IIFA de melhor atriz estreante.

Após o duplo sucesso, o mesmo produtor que havia lhe rejeitado em Manasellam correu atrás dela pra que ela protagonizasse a superprodução tamil Dasvathaaram. Mas Vidya devolveu com a mesma moeda e recusou o convite. Ela tinha agora olhos pra outra produção de Bollywood, Lage Raho Munna Bhai, com Sanjay Dutt, que, embora não tenha lhe garantido prêmio algum, foi o segundo maior sucesso de 2006 e um marco social na história da Índia.

Em 2007, então, Vidya foi escalada para o filme Guru, de Mani Ratnam, ao lado de Abhishek Bachchan e Aishwarya Rai, no qual ela fazia uma mulher com esclerose múltipla. Em seguida, ainda no mesmo ano, apareceu em mais quatro filmes: Salaam-E-Ishq: A Tribute to Love, Eklavya: The Royal Guard, Heyy Babyy e Bhool Bhulaiyaa. Os dois primeiros fracassaram na bilheteria, mas os dois últimos foram muito bem recebidos,  sobretudo porque ambos contaram também com a presença de Akshay Kumar como protagonista.

Em 2008, então, Vidya apareceu em Halla Bol e em Kismat Konnection, que foram razoáveis. No ano seguinte, ela apareceu com um papel em Paa, ao lado de Amitabh e Abhishek Bachchan, levando, finalmente, seu primeiro Filmfare de melhor atriz. Em seguida ela fez Ishqiya, tendo boas críticas de novo.

Nesse momento, a Vidya está concluindo o filme Chenab Gandhi, filmando Chand Bhai e Mukti e já se prepara para No One Killed Jessica.

E a Vidya é uma pessoa muito recatada e não tem a vida pessoal escancarada. Rumores disseram que ela estava saindo com o Vivek Oberoi, que foi logo desmentido. Depois disseram que ela estava de caso com Shahid Kapoor, também prontamente desmentido. Ao que parece, ela não está com ninguém, portanto. Alguém se habilita? E o sortudo tem que já saber de antemão que a Vidya é uma religiosa declarada, comparecendo a templos toda sexta-feira, ao menos.
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sábado, 10 de abril de 2010

Comercial do Bharat Matrimony

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É sabido que na Índia a grande maioria dos casamentos são arranjados, mas nas grandes cidades muita coisa vem mudando nesse sentido. Ainda assim, mesmo quando o casal "se escolhe", continua sendo de extrema importância a aprovação da família. 

O BharatMatrimony.com é um portal indiano não muito diferente do que existe por aqui, onde pessoas cadastram seu perfil em busca de um par para se casar. E, sendo o maior do tipo na Índia, parte inclusive de um grupo de internet com vários outros tipos de serviços online, o BharatMatrimony também comumente lança comerciais na televisão sobre seus serviços.

Um deles é esse que vocês verão a seguir. O interessante dele, porém, diz respeito a algo um pouco... grave. Já conhecemos um bocado do preconceito indiano com a cor da pele (vimos aqui e aqui), mas dessa vez o preconceito é em outro nível. No comercial, um rapaz vai apresentar sua pretendente à sua família, e, ao que consta, ela chama-se Amy. Quando a avó ouve o nome, ela pergunta "Amy? Gori??", fazendo uma expressiva cara de desgosto. "Gori", na Índia, é uma expressão geralmente carinhosa utilizada para moças de pele clara, mas aqui a avó pensou que Amy era estrangeira e isso seria uma vergonha para a família.

No final das contas, Amy é Amrita, uma indiana de Chandigarh, e então todos ficam felizes com isso. Esse tipo de reação é tão comum e banal na Índia que quase não percebemos o profundo preconceito im(ops, ex)plícito. Eu soube sobre esse comercial neste blog, e nele é dado um exemplo muito bom: imaginemos que um comercial idêntico se passasse nos EUA, numa família branca, e, na expectativa de receberem a namorada do rapaz, a avó perguntasse, com cara feia, "Preta??", e então, ao descobrir que a garota é branca, ela ficasse tranquila. Esse comercial jamais seria feito por lá, nem por aqui, nem em lugar nenhum do ocidente, simplesmente porque seria o mais descabido dos preconceitos de cor de pele. 

Mas na Índia o comercial passou batido. E o BharatMatrimony garante que os pares, ali, são mesmo indianos. Confiram:


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sábado, 3 de abril de 2010

Aaja Nachle (2007) - आजा नचले

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Esses dias assisti ao filme Aaja Nachle, depois de muito postergar, e tive uma agradável surpresa. Confesso que esperava menos, em parte pelas sinopses que eu lia, em parte pelo fracasso na Índia. O que me surpreendeu - e isso já adianto - foi a homenagem feita à tradição oral das lendas do mundo indiano/árabe, além de eu reconhecer ali uma homenagem também ao próprio cinema indiano. E sim, é clara a também homenagem a Madhuri Dixit, protagonista do filme. Aaja Nachle significa "vamos dançar"; e não temo em dizer que, se Madhuri não for sozinha a maior dançarina do cinema indiano, ela certamente divide o topo do pódio.

Diya (Madhuri Dixit) vivia em Shamli, no oeste do Uttar Pradesh, onde aprendeu danças indianas com seu mestre, Guru Makarand, no Ajanta, um antigo teatro a céu aberto local. Um dia, Diya apaixona-se por um fotógrafo estadunidense que passava por lá e logo muda-se com ele para Nova Iorque. Acontece que ela estava prometida para outro rapaz e essa decisão dela arruinou a vida de seus pais, que foram obrigados e se mudarem para longe dali.

Em Nova Iorque, Diya tem uma filha com o fotógrafo, mas eles acabam se separando. Alguns anos mais tarde, enquanto dava aula de dança num estúdio novaiorquino, Diya recebe uma ligação dizendo que seu guru estava no leito de morte. Ela volta correndo à Índia, mas não consegue chegar a tempo. No entanto, seu guru deixa a ela uma mensagem de vídeo onde ele diz que o Ajanta havia sido abandonado desde que ela partira e agora corria o risco de ser demolido para a construção de um shopping. E somente ela poderia salvá-lo.

Raja Uday Singh (Akshaye Khanna) é o político local por trás dos planos do shopping; Farooque (Irrfan Khan), por sua vez, é o empresário com o dinheiro. Ele, aliás, casou-se com Najma (Divya Dutta), a melhor amiga de Diya. Bom, e então Diya vai conversar com o político e ele dá a ela dois meses para ela resgatar o Ajanta com uma peça que teria que ser encenada com moradores de Shamli, e não dançarinos profissionais. E se ela fracassasse, o Ajanta seria demolido.

E então começa o trabalho hercúleo de Diya. Ela decide montar um musical baseado na história de Laila e Majnu, uma espécie de "Romeu e Julieta" do mundo árabe, que, ao que consta, existiu de verdade nos idos do século VII.

Pouco a pouco, consegue montar seu elenco e Laila será Anokhi (Konkona Sen Sharma) e Majnu será Pathan (Kunal Kapoor). Os ensaios começam e tudo indica que jamais conseguirão ficar bons a tempo. Pra dar a tensão básica, um outro político que estava do lado de Diya, Chaudhary Om Singh, é comprado por 5 milhões de rúpias, prejudicando - e muito - o andamento dos ensaios.

Mas Diya é determinada. Nem mesmo o senso comum local, que a vê praticamente como uma prostituta, pelo seu passado, a impede de encarar o desafio e transpor os obstáculos. E chega, então, a grande noite. 

Ok, é tudo previsível e óbvio. Mas (quase) nada ali é verossímil. O espetáculo, que ocorre num teatro a céu aberto e sem verbas, é grandiosíssimo, os cenários mudam a todo instante, é uma superprodução que jamais poderia ocorrer naquela estrutura. Mas isso não importa; a inverossimilhança é completamente proposital e é isso que encanta.

Passamos o filme todo ansiosos pelo espetáculo que, no filme, não dura mais de vinte minutos. A espera vale a pena. É nessa hora que a grande homenagem é feita. Ali celebra-se a narração oral de lendas em versos, tradição antiquíssima no subcontinente indiano, celebra-se a tradição da dramatização com música e, nesse ponto, o cinema da Índia acaba sendo homenageado como o grande acolhedor desse momento mágico que é ouvir histórias através de músicas e danças.

Aliás, as músicas são, de forma geral, muito boas. Composta pelos irmãos Salim-Sulaiman, a trilha sonora oficial acabou não incluindo algumas das músicas que aparecem na sequência da peça Laila-Majnu.

Bom, e como quase sempre tem que ocorrer, o filme foi banido por um tempo no Uttar Pradesh, Haryana e Punjab por uma polêmica provocada na letra de uma música, onde fica implícito que uma casta é inferior a outra. Após desculpas oficiais da produção, o banimento caiu. Com banimento ou sem banimento, o filme não fez sucesso no país. No entanto, para os que tem Madhuri como a deusa suprema de Bollywood, daí, sim, esse filme foi um grande sucesso e uma linda homenagem a ela.

Pelo sim, ou pelo não, é um filme muito peculiar e que vale a pena ser visto, não esperando, porém, pela coerência dos fatos, mas sim pelo próprio encanto em si.



Colaboraram: Isabela Lundeen e Pedro Custódio
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