domingo, 31 de agosto de 2008

Resultado das Enquetes


As duas primeiras enquetes do Cinema Indiano já terminaram, com resultados bem interessantes.

A primeira dela perguntava se você já havia assistido algum filme indiano. Fiquei contente em saber que 82% (101 votos) dos leitores já assistiram e gostaram. Cerca de 15% dos leitores nunca viram mas gostariam e 1% nunca viram e nem querem ver. Eu só digo, a esses 1%, que é uma pena para vocês. O cinema indiano faz ótimas produções! Que digam os nossos 101 leitores que aprovaram!

A segunda enquete perguntava como vocês conheceram este blog. Também fiquei muito feliz de saber que a maioria de vocês (cerca de 50% dos que votaram), ficaram sabendo através do Indi(a)gestão. Isso não só significa que a publicidade que a Sandra fez pra mim deu certo, mas que vocês também ouvem e confiam nos conselhos dela! Mas uma das opções desta enquete não teve resultados ainda muito favoráveis, que era quantos de vocês vieram por indicações de amigos (apenas 2 votos). Eu gostaria, num próximo momento, que este número possa ser bem maior!

Bom, por hora são esses os nossos resultados. Continuem participando e divulgando o Cinema Indiano entre seus amigos!

Om Shanti Om

sábado, 30 de agosto de 2008

Bollywood - बॉलीवुड - Primeira Parte


Finalmente, encerrando nossa série sobre os cinemas regionais da Índia, falaremos sobre a quase onipotente, onipresente e onisciente Bollywood (mistura de Bombay com Hollywood). Tive que utilizar o “quase”, pois embora haja um megalomanismo único nesta indústria, ela ainda não conquistou os quatro cantos do planeta. Mesmo assim, ainda que restem alguns passos para a divindade de Bollywood, seus atores são mesmo deuses para os indianos.


Bom, então vamos ao que interessa. Embora Bollywood seja conhecida por quase que a totalidade de nossos leitores, estou certo que muitos não sabem o que é realmente essa indústria. Diferentemente de outras regiões da Índia, Bollywood não tem um espaço físico próprio, uma sede, ou um complexo de estúdios. A verdade é que Bollywood é sustentada por uma rede de estúdios, diretores e produtoras espalhados por Mumbai, capital do estado do Maharashtra, cuja língua oficial é o marathi. Mas não é do marathi que Bollywood faz sua fama, mas sim do hindi, a língua predominante no norte do país.


Consta que Bollywood produz, sozinha, mais filmes que Hollywood. Os números não são precisos, mas nem sequer os próprios indianos têm noção de quantos filmes estão sendo lançados a cada semana. Embora Bollywood faça filmes em hindi e acabe servindo principalmente à porção norte do país, toda a Índia curva-se à sua magia. As indústrias do sul, na maioria dos casos, conseguem ter maior audiência com as populações locais, mas os grandes sucessos do cinema hindi são, de fato, grandes sucessos de toda a Índia.


E vamos agora falar de história. Quem vem acompanhando esta série talvez se lembre da postagem sobre o cinema marathi, em que se dizia que seu primeiro filme foi lançado em 1913, com o título de Raja Harichandra, feito por Dadasaheb Phalke, um diretor marathi por nascimento. Acontece que Bollywood também pega pra si como sendo este o seu primeiro filme, uma vez que o filme era mudo e que ele tenha sido feito nos embriões desta futura grande indústria. O fato é que o primeiro filme definitivamente hindi foi Alam Ara (1931), de Ardeshir Irani, o primeiro filme falado nesta língua. Foi um grande sucesso.


Embora nos anos 30 e 40 a Índia tenha sofrido os efeitos da Grande Depressão e da Segunda Guerra Mundial, as indústrias de cinema puderam resistir, aproveitando inclusive o cenário externo e os temas relevantes ao país no momento, como a luta pela independência. Nas décadas seguintes a indústria hindi foi caminhando a passos nem tão largos assim. Alguns atores ficaram muito famosos e ganharam projeção nacional, como Dev Anand, Dilip Kumar e Meena Kumari. Os temas eram desde romances até filmes de ação, passando até para filmes sobre gângsters – foi em um desses que surgiu o hoje divindade Amitabh Bachchan, ainda nos princípios dos anos 70.


Foi somente nos anos 90 que a Bollywood deu a volta por cima e transformou-se na grande indústria de cinema da Índia, com o tema que até hoje ainda se repete como fórmula de sucesso: família - amor “impossível” - song-and-dance. O primeiro a surgir assim foi Hum Aapke Hain Kaun (1994), seguido pela unanimidade Dilwale Dulhania Le Jayenge – DDLJ (1995). Foi aí que surgiu nada mais nada menos que a outra divindade Shahrukh Khan. Durante esta década nenhum filme fez mais sucesso que DDLJ, que segue até hoje como o “grande filme” hindi. Mas nos anos 2000 uma nova série de produtoras, diretores e atores surgiram com novas idéias e tecnologias – na verdade aproveitando-se da onda de crescimento econômico indiano que ainda não terminou.


A era dos efeitos especiais e das mega produções estava só começando na Índia, liderada por Bollywood. Produtoras como Yash Raj Films e Dharma Productions encabeçaram os lançamentos. Ao mesmo tempo, novos shoppings eram construídos pelo país, e novas salas multiplex eram inauguradas, dando respaldo para o lançamento de filmes cada vez mais bem elaborados e mais caros. Foi nesses anos recentes que lançaram os mega sucessos Devdas, Koi... Mil Gaya, Kal Ho Na Ho, Veer-Zaara e a série Dhoom. Também surgiram e se consolidaram novas divindades, como o próprio Shahrukh Khan, Amitabh Bachchan, Hrithik Hoshan, Aamir Khan, Aishwarya Rai, Karina Kapoor e Rani Mukerji.


No entanto, nesta segunda metade dos anos 2000, uma nova mudança vem sendo notada em Bollywood. Após a grande onda de euforia e entrada de dinheiro em caixa, a repetição de temas e fórmulas parece estar se esgotando; ou ao menos irão se manter, ao mesmo tempo que um novo estio começa a aparecer. Alguns diretores, na maior parte novatos, estão aproveitando um novo terreno que surge na Índia, ao mesmo tempo que ajudam a construí-lo com a força que o cinema tem nessa país. Um processo de ocidentalização acelerado na Índia – que ocorre graças ao crescimento econômico também acelerado – está trazendo novos padrões sociais, quebrando alguns dogmas, regras e preconceitos. Os filmes estão ficando mais sérios, embora às vezes mantenham cenas de song-and-dance, ou ao menos apenas cenas com música, como se fossem clipes no meio da trama. São exemplos recentes disso o próprio premiado Taare Zameen Par e Shaurya. O primeiro trata sobre a dislexia (veja as postagens que já existem sobre este maravilhoso filme) e o segundo sobre a tensa relação hinduísmo-islamismo e a Caxemira. Também não posso deixar de citar Black, já comentado também neste blog, que nem sequer cena de música tem, embora tenha apoiado-se sobre as ótimas atuações de Amitabh Bachchan e Rani Mukerji.


E nos tempos mais recentes ainda, talvez eu possa afirmar que agora, no ano de 2008, filmes ainda mais ousados para aquela indústria estão surgindo, como adiantou a Sandra no Indi(a)gestão (www.indiagestao.blogspot.com). São filmes que talvez causem polêmica, ou talvez ninguém nem fique sabendo. A produção Hostel tratará sobre um garoto que é estuprado; It's a Man's World contará sobre a prostituição masculina no país; e Pankh revelará o drama de um jovem em relação à sua opção sexual. É importante que vocês saibam que na Índia os indianos afirmam com unhas e dentes não haver homossexualidade por lá, o que é a mais profunda mentira. Até mesmo indianos esclarecidos falam que por lá não há gays como no ocidente, o que é de novo uma mentira. Ainda que estes filmes não façam sucesso, talvez sejam o início de um processo de aceitação sobre uma realidade presente para eles.


Bollywood, mais que outras indústrias indianas, tem um importantíssimo papel de trazer novos valores para a sociedade indiana. Alguns podem afirmar que isso é negativo, que é um processo de aculturação, ocidentalização e descaracterização da verdadeira cultura indiana. Pode até ser que seja mesmo isso que esteja ocorrendo, mas prefiro pensar que se a característica de um povo é ser hipócrita e preconceituoso, então que mudem mesmo para melhor; não por mim, não pelo mundo globalizado, mas por eles mesmos.


Falar sobre Bollywood dá muito pano pra manga. Este post já está muito grande e, por isso, continuarei numa segunda postagem. Clique aqui e leia a continuação!


quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Hari Puttar é Macaulay Culkin?

A Warner Bros pode bem estar brava com Bollywood por terem plagiado o nome do filme que a eles pertencem (Harry Potter, no caso); só que mais brava mesmo deveria estar a 20th Century Fox Film, e por motivos mais justos. Acabo de checar o trailer de Hari Puttar (empolgante que só, vejam vocês mesmos), e descubro que ele é, isto sim, cópia do filme de natal Esqueceram de Mim, do célebre e drogado Macaulay Culkin. De vez em quando, provavelmente pra cumprir alguma meta de produção, Bollywood peca neste quesito cópia (ou, na verdade, falta de originalidade, sejamos mais justos). Não só Bollywood, na verdade, mas outras indústrias regionais do cinema indiano também fazem a mesma coisa.

Agora vejam o trailer de Hari Puttar:


Hari Puttar é clone de Harry Potter?

Por Lurdete Ertel, do Informe Econômico - clicRBS


O filme ainda não chegou aos cinemas, mas já está no tribunal. A produção indiana Hari Puttar: Uma comédia de terrores está deixando a Warner Bros, dona dos direitos dos filmes da série Harry Potter, de cabelo em pé. O estúdio de Hollywood entrou na Justiça acusando Bollywood de plagiar o filme e o fenômeno literário Harry Potter.

"Hari Puttar", que deve estrear no dia 12 de setembro, traz um garoto lutando contra dois criminosos que tentam roubar uma fórmula secreta desenvolvida pelo pai cientista do personagem. Os produtores indianos dizem que o título já foi registrado há dois anos. E que o filme não tem semelhança com Harry Potter.

– Tudo o que posso dizer é que o título não é nada parecido com Harry Potter, e nem nosso roteiro – disse Munish Puri, diretor de operações da produtora do filme, Mirchi Movies.

Se a história é similar a gente não sabe. Mas que o título parece um trocadilho, parece.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Antha Naal (1954)

Antha Naal (1954) - Filme noir tamil


Cinema Tamil / Kollywood - கோலிவுட்

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Hoje, retomando nossa série sobre os cinemas regionais da Índia, vamos falar sobre o cinema do estado de Tamil Nadu, completando, assim, os quatro estados do sul da Índia. O nome popular da indústria tamil é Kollywood, derivado de Hollywood com Kodambakkam, o bairro em Chennai (antiga Madras) onde estão instalados os principais estúdios.

A história do cinema por ali é antiga. Consta que, em 1909, para celebrar a visita do Rei George V, uma grande exibição foi organizada em Madras, com projeções de pequenos filmes. Após esse evento, um fotógrafo indiano conseguiu ficar com os equipamentos (que vieram da Inglaterra) e montou ele mesmo a primeira sala de cinema de Tamil Nadu, em 1912, que existe até hoje, embora com outro dono. Tão logo também começaram os esforços para que os primeiros filmes fossem feitos naquele estado. Na década de 20, porém, embora filmes mudos já fossem produzidos em Tamil Nadu, o processamento das imagens e de edição tinha que ser realizado ou em Pune (Maharashtra), ou em Calcutá (West Bengal). Foi somente a partir da década de 30 que foram montados estúdios propriamente e, nos anos 40, Chennai era já o principal centro de produção cinematográfica de todo o sul da Índia.

Em 1931 era lançado Kalidaas, o primeiro filme falado em tamil, no mesmo ano que era lançado Alam Ara, em hindi, que é considerado o primeiro filme falado de toda a Índia. O sucesso de Kalidaas marcou o início da produção em massa de filmes no Tamil Nadu. Em 1939, Thyagaboomi, de K. Subramaniam, acabou ficando famoso por toda a Índia por um duplo motivo. Seu tema, muito polêmico para a época, glorificava a luta de Mahatma Gandhi e seus companheiros pela independência do país. E, por causa disso, acabou sendo banido pelo governo britânico, tornando-se, assim, o primeiro filme indiano a ser banido. Esses dois motivos – o tema e a censura – acabaram trazendo a ele maior fama.

Nas décadas seguintes a produção intensificou-se e diversificou-se. Antha Naal, do diretor S. Balachander, foi lançado em 1954 em um novo modelo: o cinema noir. Contando os diferentes pontos de vista sobre uma morte, o filme baseia-se na produção Rashômon, de Akira Kurosawa, e não tem nenhuma música sequer. Em anos recentes vários filmes de arte vêm sendo produzidos em tamil; mas além disso, reconhece-se que haja uma preocupação mais refinada com técnicas de direção, mesmo em filmes populares, que não aparecem nas outras indústrias regionais. O filme Iyarkai, de 2003, acabou ganhando o prêmio de melhor filme pelo National Film Awards, como reconhecimento pela não usual maneira com que o filme é rodado.

Hoje Tamil Nadu impõe-se como grande centro de produção cinematográfica não só no sul do país, mas também em toda a Índia. Muitas de suas produções são refilmadas em outras indústrias, ou ao menos são lançadas nos outros estados com legendas ou dublagens. Suas grandes produtoras também fazem o mesmo com filmes de sucesso de outros estados, refilmando-os em tamil. Além disso, algumas dessas produtoras, como a Madras Talkies, já produziu filmes de sucesso de outras indústrias, como Guru (2007), sucesso de Bollywood.


domingo, 24 de agosto de 2008

Documentário sobre a prisão de Tihar

Doing Time, Doing Vipassana

Vipassana



Já vou começar dizendo que esta postagem de hoje não será sobre o cinema indiano, excepcionalmente.

Não disse antes, mas nos últimos dez dias em que estive ausente eu estava fazendo um curso de Meditação Vipassana. Algumas pessoas talvez conheçam esta técnica, ou já tenham ouvido falar dela, ou talvez lembrem-se de um caso interessante que ocorreu na Índia com o uso desta meditação. O curso oferecido é sempre de dez dias, em uma espécie de retiro, onde existe uma disciplina rígida de horário de meditação das 4:30 às 21:30, somando cerca de dez horas meditando durante dez dias. Em todos os horários de descanso não se pode falar em hipótese alguma, mantendo o nobre silêncio, fundamental e imprescindível para que a técnica seja realmente bem compreendida pelos praticantes e que seu objetivo seja alcançado em dez dias.

Não farei desta postagem uma aula de Vipassana e, então, não falarei sobre a técnica em si. Contarei apenas um pouquinho de sua história e de sua importância.

Quando Buda iluminou-se, há pouco mais de 2500 anos, foi justamente através da meditação Vipassana e, após os 45 anos que se passaram de sua iluminação à sua morte, dedicou-se integralmente à disseminação desta prática, deste conhecimento, que ele chamava de dhamma. Ao deixar seu corpo material para sempre, seus discípulos fundaram a religião budista, ainda que Buda dissesse que não queria o surgimento de uma nova religião ou seita. E nestes princípios do budismo, duas linhas formaram-se: a theravada e a mahayana. De forma extremamente genérica, a diferença entre as duas linhas está em como elas interpretaram a mensagem de Buda. A primeira preferiu reservar-se às palavras mais puras do iluminado e guardou este conhecimento em monastérios, disseminando-se muito pouco. A segunda, porém, foi a que se estabeleceu como religião propriamente dita, com rituais e preceitos não estabelecidos por Buda, além de ter em seu princípio a doutrinação, o que implica também em seu espalhamento pelo mundo. Portanto, hoje, praticamente todo o budismo que existe mundo afora é originado da linha mahayana. A linha theravada acabou restringindo-se a pouquíssimos lugares, dentre eles a Birmânia, onde o conhecimento do dhamma e da vipassana foram guardados.

Passados 2500 anos da morte de Buda, chegou o momento em que se acredita que ele esteja para retornar e, por isso, é o momento correto para redissiminação de seu conhecimento original. Como não se sabe onde Buda irá retornar, o objetivo imediato é abrir centros de meditação vipassana pelo mundo, pois, somente assim, o tal Buda descubriria ser o Buda depois de fazer um desses cursos. Quem iniciou a redisseminação pelo mundo foi, e ainda é, S. N. Goenka. Um indiano que nasceu na Birmânia, aprendeu a técnica enquanto ainda morava lá, até que recebeu a missão de espalhá-la pelo globo, iniciando pela Índia.

A técnica é muito reveladora e surpreendente. Não se trata de uma meditação cujo único objetivo é relaxar a mente e/ou fazer com que você compreenda ser um ser de luz. É muito além disso. Ela vai profundamente na raiz da razão de nossa existência; e por isso é reveladora.

No meio da década de 90 ocorreu uma das experiências mais transformadoras e surpreendentes do uso da meditação vipassana. Em uma das maiores prisões do mundo, a de Tihar, perto de Nova Délhi, na Índia, com 10.000 presos, empreendeu-se uma dura missão. A diretora do presídio, Kiran Bedi, decidiu que faria dali uma comunidade, uma família, e que não perpetuaria o inferno na terra que aquilo estava. Era uma situação muito semelhante ao nosso Carandiru, no Brasil. Uma de suas idéias foi chamar Goenka para que ele ensinasse vipassana aos presos, o que, é óbvio, foi duramente criticado pela maioria. Ninguém acreditava que o presídio tivesse estruturas para cursos de meditação e que isso pudesse resultar em alguma coisa que justificasse os eventuais gastos. O fato é que ela tinha determinação. Goenka apenas impôs a condição de que, antes dos presos, os guardas de Tihar fizessem o curso - e fizeram e voltaram tranformados. Finalmente, montou-se um grupo de 50 presos, e o curso foi um sucesso. Depois mais 50, e mais sucesso. Mas eram 10.000. Kiran queria um curso para 1000 presos ao mesmo tempo. "Você é louca", disseram. Mas nem ligava, e o curso para mil presos aconteceu. Passados 15 anos desde que Tihar recebeu o dhamma de Buda, não é mais possível reconhecer o inferno que reinava por ali. A força de vipassana transformou a prisão que hoje é objeto de cobiça por criminosos que, ao serem presos, pedem para serem mandados para o Tihar Ashram, o novo nome do cárcere, onde não serão maltratados, muito pelo contrário.

No post a seguir coloco as cinco partes de um vídeo, em inglês, contando a história da prisão de Tihar. É lógico que queria colocá-los em português, mas não foi possível. Ao menos vejam as imagens, para quem não conseguir compreender o inglês.

Mas meu principal objetivo com este post é apenas sugerir que todos façam este curso. Que guardem apenas dez dias de suas vidas, juntem um pouco de força de vontade e determinação, e dediquem-se a aprender vipassana. O curso é 100% gratuito, e a instituição mantém-se através das doações dos alunos antigos. No Brasil o único centro que existe é em Miguel Pereira, no estado do Rio de Janeiro, mas são realizados cursos periódicos em São Paulo (como o que acabo de fazer, que foi em Nazaré Paulista, na Serra da Mantiqueira), no nordeste e no planalto central. Aqui está o site para maiores informações e inscrições para o curso: http://www.dhamma.org/pt/

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Enquanto isso...

A partir de hoje (13/08), ausentarei-me novamente, dessa vez até o dia 24/08. Mas enquanto retiro-me momentaneamente, nada impede que vocês continuem informando-se sobre o cinema indiano e participando com suas opiniões, comentários e dúvidas! Por isso também aproveito para deixar aqui para vocês trailers de Kollywood, a próxima indústria regional a ser tratada aqui, e penúltima da série que se iniciou com o cinema bengalês.


Estes filmes são bons exemplos do que Kollywood - o cinema de Tamil Nadu - sabe fazer de bom.

Dasvathaaram (2008)


Veyyil (2005)


terça-feira, 12 de agosto de 2008

Rakhi - राखी


No dia 16 de agosto, sexta-feira próxima, será comemorado o Festival do Rakhi, ou Raksha Bandhan (laço da proteção, em hindi), na Índia. Este dia é muito querido por lá principalmente por ser o dia dos irmãos; neste dia, que é feriado, as famílias se reúnem e as irmãs oferecem aos irmãos mais velhos um rakhi (uma fita decorada), amarrando-as em seus braços. Os irmãos, em troca, oferecem às irmãs mais novas proteção a qualquer momento. A importância deste festival extende-se da relação de irmãos e pode ser realizada entre amigos e parentes próximos também, ou pessoas de respeito, quando mulheres oferecem a homens o rakhi. É comum o contrário ocorrer também, meninos novos oferecendo o rakhi para mulheres mais novas, pois, na verdade, todos querem participar do festival e todos querem proteção, é claro. Existem alguns filmes indianos que chegam a exibir cenas deste festival, mas não consegui encontrar nenhum no YouTube. No entanto, encontrei um trecho de um seriado que passa no canal indiano Star Plus, chamado Prithviraj Chauhan, que conta a história de um dos mais famosos reis da história da Índia. Neste trecho é possível ver uma pequena menininha oferecendo o rakhi a Prithviraj.



Aproveitem para expressar vocês também a admiração e o respeito entre seus irmãos, bem como estar sempre presente para ajudá-los. Feliz Rakhi!

domingo, 10 de agosto de 2008

Sing is Kinng - सिंह इज़ किंग

Na postagem sobre o cinema punjabi, a Sandra escreveu um comentário a respeito do filme Sing is Kinng, que acaba de ser lançado na Índia e já está causando bagunça. O filme não é de Punjwood, mas de Bollywood mesmo, que, vira e mexe, roda filmes com o tema dos sikhs, religião predominante no estado do Punjab.

A produção foi quase toda rodada na Austrália, embora tenha passagens em outros países, como Emirados Árabes e Egito, passagens típicas de Bollywood. A história conta o dilema de um sikh muito bem sucessido no cenário underground australiano, que descobre haver um outro sikh aparentemente mais bem sucedido que ele, o Happy Singh, que vive num pequeno povoado do Punjab. Desenrolando-se em torno da disputa entre os dois, Sing is Kinng (S.I.K, alusão à religião Sikh) não passa de mais um programa de entretenimento com uma mulher bonita (Katrina Kaif, bonita e famosa) e um ator famoso (Akshay Kumar, famoso e, segundo algumas, bonito também...) no meio. Boa parte da inspiração deste filme saiu do bem sucedido Lucky Singh de Lage Raho Munnabhai, que falaremos algum dia.



Sandra ainda chegou a mencionar o status de "macho" do homem sikh, o que não é mentira. Por força das condições geográficas e históricas da civilização indiana, a região do Punjab, como já foi dito, é uma das mais férteis daquele subcontinente e, consequentemente, acaba reunindo grandes fazendeiros e comerciantes. Por causa disso, mas também por outras questões culturais, os sikhs, embora percentualmente poucos no total da população indiana, são tradicionalmente donos de negócios e por vezes envolvidos em esquemas ilícitos (isso confesso pelo que aprendi no que mostram todos os filmes envolvendo esse povo). Não por menos, um sikh costuma ser referido por sardar, ou chefe/patrão, em hindi. Quem já teve a oportunidade de passar pelo Terminal 4 do aeroporto de Heathrow, em Londres, deve ter notado a quantidade de donos ou gerentes de lojas com turbantes; se passou por lá e não notou, não deixe de prestar atenção nos sardars.
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sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Dil Apna Punjabi



Aqui está uma espécie de trailer-coletânea do filme de maior sucesso no Punjab, Dil Apna Punjabi, ou Nosso Coração é Punjabi. Como disse, esse filme introduz os investimentos de Bollywood nas outras indústrias indianas, neste caso via Yash Raj Films. Eu diria que, vendo este vídeo, Dil Apna Punjabi é praticamente um filme de Bollywood. A fórmula completa está aí, sem tirar nem por. Talvez um pouco de turbantes a mais marquem a presença da religião Sikh predominante, mas enquanto cinema regional, a indústria punjabi está sabendo fazer direito - a fórmula que vende.

Cinema Punjabi - ਪੰਜਾਬੀ ਸਿਨੇਮਾ

Vamos agora falar sobre o cinema punjabi, ou Punjwood, feito e falado na língua do estado do Punjab, noroeste da Índia. Preciso dizer que, por motivos que direi a seguir, não foi fácil recolher informações muito concisas e confiáveis sobre este cinema regional.


Para explicar este problema, sou obrigado a remeter à história da independência da Índia. Após os esforços conjuntos de diversas pessoas, dentre elas Gandhi, a Inglaterra cedeu e aceitou a autonomia indiana, nos idos do ano de 1947, pondo fim ao poderoso British Raj, ou reinado britânico. No entanto, na independência, muçulmanos quiseram para si um país próprio, separado da Índia, que se chamaria Paquistão. Assim sendo, ainda de posse daquelas terras, a coroa britânica teve a brilhante idéia de dar a incumbência de desenhar o traçado de fronteira entre os dois novos países a uma pessoa que nada sabia de Índia. O resultado disso foi que a mais fértil de todas as províncias do Império Indiano, o Punjab, foi brutalmente cortado ao meio, entre Índia e Paquistão. De um lado ficou Lahore, no Punjab paquistanês, e de outro ficou Amritsar, na Índia. Na separação, as mais sangrentas cenas da independência indiana solidificaram os mais profundos ódios existentes até hoje entre hindus e muçulmanos.


E eis que, do ódio que ainda sangra na ferida indiana, cada qual escreve uma história diferente de um cinema que tem língua dividida entre estados de mesmo nome em países diferentes.


Pela pesquisa que pude fazer, consta que o primeiro filme na língua punjabi chamava-se Heer Hanjha e foi lançado em 1932, ainda na época do domínio britânico. No entanto, o diretor, Abdul Rashid Kardar, era muçulmano e a história toda trata de um amor entre um homem e uma mulher também muçulmanos. Justamente por isso que em muitos locais sobre a história do cinema punjabi é atribuído o primeiro lançamento a Sheila (1935), do diretor hindu Krishna Dev Mehra, que teve, inclusive, mais sucesso. Uma curiosidade da produção deste filme, aliás, é que ele foi inteirinho produzido em Calcutá, onde havia mais recursos, e foi lançado em Lahore, que era a então capital do estado do Punjab.


Lahore acabou tornando-se um centro importante do cinema indiano, na época, atraindo diretores e produtores de outras províncias da colônia, além de tornar-se base de muitos jornalistas que escreviam sobre a produção cinematográfica nacional. Porém, 1947 trouxe consigo o destino e levou do Punjab a prosperidade que Deus havia lhe dado. A produção de cinema da região caiu drasticamente e, ao que consta, muitos desses produtores, diretores e jornalistas mudaram-se para Mumbai e ali fizeram a diferença na criação de Bollywood.


A história que agora se segue tratará apenas do cinema punjabi indiano. O produzido do lado paquistanês será tratado especialmente numa postagem só sobre o cinema do Paquistão. Nas décadas de 50 e 60 pouco se fez na região. Na realidade, em 1969 foi lançado o primeiro grande sucesso do cinema punjabi pós-independência: Nanak Naam Jahaz Hai, de Ram Maheshwari. Além de ser o primeiro grande sucesso, resgatou o tema religioso, comum na época, contando uma ficção entremeada na religião Sikh, predominante no Punjab. A partir de então, novos filmes passaram a ser lançados muito mais recorrentemente do que antes.


Em 1980, o filme Chann Pardesee, de Chitraart, é, até hoje, o único filme do cinema punjabi a ganhar um prêmio do National Film Awards. E confesso, digo “um prêmio”, porque não consegui encontrar que prêmio foi esse em nenhum lugar e se alguém souber me dizer eu agradeço muito! No decorrer da década de 80 muitos outros filmes foram lançados, na rabeira de Chann Pardesee. No entanto, os anos 90 viram a completa decadência do cinema regional do Punjab, que voltou a respirar somente agora, no século XXI. Poucos destacaram-se, porém, mas podemos citar Waris Shah e Dil Apna Punjabi (2006), este último com boa recepção da crítica. Este filme, também, marcou a entrada dos investimentos de produtoras bollywoodianas em terras punjabis, com o investimento da famosa Yash Raj Films na produção da película.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Shwaas



Não costumo postar tanto sobre uma só indústria, mas vamos dar créditos ao cinema marathi. Shwaas (Fôlego), é um filme relativamente recente (de 2004) mas que destacou-se nacionalmente pela qualidade do conjunto da obra.

Não encontrei um trailer desse filme, mas aqui estão os primeiros dez minutos, sem legendas. A produção ganhou o prêmio de melhor filme pelo National Film Awards, depois de 50 anos sem um igual no cinema marathi. O reconhecimento da obra, do diretor estreante Sandeep Sawant, acabou resultando em reproduções da mesma história também em hindi, tamil e bengali. E como já citado, por pouco Shwaas compete pelo Oscar de melhor filme estrangeiro, ficando em sexto lugar na disputa.

Valu - The Wild Bull



Este filme é uma novíssima produção marathi, mas que foge à regra e não tem questões amorosas ou familiares como tema, mas sim o caso de um touro louco que está a solta e precisa ser capturado com urgência, antes que a vida de uma vila vire de cabeça para baixo. Ainda não vi o filme, mas parece ser bastante engraçado. O mais curioso desse trailer que encontrei é que não aparece touro algum, mas uma onça (sim, uma onça! Antes fosse um tigre, que faz parte da fauna local... imagino que esta onça estava perdida desde que os portugueses a levaram para lá, na época das grandes navegações. Aliás, acho que verei esse filme só para descobrir que raios faz uma onça na Índia!).

Sant Dnyaneshwar e Sant Tukaram

Como praticamente todos os filmes do período pré-independência da Índia (antes de 1947), e também um pouco depois, Sant Dnyaneshwar aborda temas do hinduísmo, neste caso contando a história de vida de uma grande alma que viveu no Maharashtra por volta dos anos de 1300 d.C.. Dnyaneshwar não chega a ser exatamente chamado de guru, mas de santo (sant, em sânscrito), como alguns outros na história do país, por serem claramente iluminados, verdadeiros mensageiros de Deus. Sant Dnyaneshwar é muito adorado no Maharashtra, sendo considerado, inclusive, o responsável por traduzir os livros sagrados, como a Gita, do sânscrito para o marathi, de forma que o povo tivesse mais acesso às mensagens divinas.



No Maharshtra é também possível encontrar uma estátua de Dnyaneshwar na entrada das universidades, pois ele também é considerado o pai do conhecimento naquele estado.

Este filme, de 1940, foi uma produção da própsera Prabhat Films, que filmou também Sant Tukaram, citado na última postagem. Rodado em marathi, Sant Tukaram foi a primeira produção indiana a ganhar o prêmio de melhor filme no Festival de Veneza, em 1936.



Tukaram foi outra alma iluminada do estado do Maharashtra, que viveu entre os séculos XVI e XVII. Tukaram acabou ganhando também maior relevo nas páginas da história daquele estado após Shivaji tomar conhecimento dele. Shivaji é considerado o mais importante marajá que o Maharashtra já teve, aponto de ser possível encontrar estátuas suas até nas mais insignificantes vilas, sem contar o nome do aeroporto e da antiga e famosíssima Victoria Terminus de Mumbai (Chhatrapati Shivaji International Airport e Chhatrapati Shivaji Terminus). Tukaram acabou tornando-se guru de Shivaji e é até hoje amado pelo povo marathi. Numa feliz coincidência, eu tive a grande sorte de visitar seu templo, próximo a Pune, bem no dia em que comemoravam-se os 400 anos de sua morte, e vi a fé do povo por esse santo.

Pela forte devoção do povo pelos mitos do hinduísmo e pelos gurus de sua história, somente esses tipos de filmes poderiam fazer sucesso nessa época. Hoje, porém, a ocidentalização acaba por trazer novas necessidades, novos conceitos, novos gostos. Os filmes de hoje, portanto, feitos como produtos a serem consumidos, acompanham e ditam o rumo das tendências culturais. Não que as religiões e culturas locais fiquem em segundo plano, mas a cultura se movimenta, agrega e desagrega o que lhe convém, trazendo para a pauta o amor que eles não podem sentir, ou sentem mas não podem expressar.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Cinema Marathi - मराठी चित्रपट


O cinema marathi, embora antigo, talvez seja o mais reprimido e secundário da Índia. Não por falta de recursos, não por falta de público, não por falta de incentivo. Sediado na terra dos Marathas, no estado da Grande Nação, o Maharashtra, o cinema marathi disputa seu público com nada mais nada menos que Bollywood. Sediada em parte em Mumbai, em parte em Pune, a indústria do Maharashtra tenta, quase em vão, produzir o cinema de sua própria língua, ofuscado pelo megalomanismo da indústria do cinema hindi que, por força do destino (leia-se elite anglo-indiana da primeira metade do século vinte), também decidiu fincar bases na capital financeira da Índia, ainda que a língua dali não seja aquela que falam seus filmes. Para piorar a situação, é óbvio que o governo do Maharashtra vai ajudar ($$$) Bollywood em detrimento da indústria marathi, que praticamente não dá retorno.


O que importa é que apesar de Bollywood estar instalado em um estado que não fala sua língua, o Maharashtra tenta a todo custo mostrar que também sabe fazer filmes próprios e que toda a sua população possa compreender. E tenta, também, roubar para si alguns méritos do cinema hindi, como por exemplo o lançamento do primeiro filme na Índia, o Raja Harishchandra (1913), de Dadasaheb Phalke. A polêmica reside no fato de que o diretor deste filme era marathi, mas o filme era mudo. Como a película foi produzida nos embriões do que viria a ser a grande indústria cinematográfica de filmes hindi em Mumbai, Bollywood toma para si o título de indústria mais antiga do cinema indiano. Vamos, então, dizer, que Bollywood e o cinema marathi caminharam lado a lado naqueles princípios.


Algo que aí sim é incontestável é que o primeiro filme realmente marathi foi lançado em 1932, já falado, chamando-se Ayodhyecha Raja, produzido pela próspera Prabhat Film Company que, quatro anos depois, lançava Sant Tukaram, o primeiro filme indiano a ganhar o prêmio de melhor filme no festival de Veneza. Como em toda a Índia nos princípios das experiências de cinema, os temas dos filmes eram sempre relacionados aos mitos e lendas do hinduísmo. Sant Tukaram, por exemplo, conta a história de vida de Tukaram, um guru que viveu próximo a Pune e é um dos santos mais adorados no Maharashtra. Eu mesmo estive em seu templo, coincidentemente nas comemorações dos 400 anos de seu nascimento, e pude ver como até hoje o povo segue suas palavras.


Bom, voltando ao cinema, outro fato importante é que muitas indústrias de cinema criadas no Maharashtra acabaram fazendo mais filmes em hindi do que em marathi, em consequência principalmente de Mumbai ter-se posicionado como capital financeira e cultural de um país cuja língua do governo e da elite é o hindi. Somente lá pelos anos 60 mais nos 70 é que se destacaram alguns diretores de filmes marathi, como Anant Mane e Dada Kondke.


Nos anos 80 em diante, o cinema marathi consolidou-se (embora bem em segundo plano) como um cinema de qualidade, porém apenas tecnicamente falando. Embora o estado tenha produzido bons filmes de arte enquanto ainda engatinhava, hoje as produções marathi estão apenas preocupadas em ganhar público – o que os leva à velha fórmula família-jovens-ação-luta-song-and-dance-tudo-junto. Destacam-se, nessa época, Mahesh Kothare, Sachin Pilgaonkar, Ashok Saraf e Laxmikant Berde.


Mas justiça seja feita. No ano de 2004, o cinema marathi viu um filme seu ser indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Shwaas, do diretor estreante Sandeep Sawant, fugiu às regras de sucesso indiano e fala sobre a história real de um garoto de oito anos que tem câncer no olho e cuja única cura é a remoção dos olhos. Seu avô, ao saber disso, tenta a todo custo descobrir se não há mesmo outra maneira e, ao mesmo tempo, passa a mostrar ao neto tudo o que existe na realidade deste mundo, antes que a criança perca sua visão. O filme ficou em sexto lugar na lista dos indicados ao Oscar, em 2004, mas apenas cinco entram oficialmente na disputa. Mesmo assim, ganhou o prêmio Golden Lotus, dado no National Film Awards para o melhor filme.


Desde então – mas veja, em anos bem recentes – o cinema marathi passou a ser mais bem visto e a receber mais recursos, ainda que tímidos comparados a outras grandes indústrias indianas. Porém, num país em que o cinema faz parte da vida íntima do povo, um estado de língua próxima ao hindi e que sedia a maior e mais prolixa indústria de cinema da nação, é difícil galgar o seu reconhecimento, independentemente de sua qualidade.