sexta-feira, 28 de novembro de 2008

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Provavelmente todos já estão sabendo e imagino que a grande maioria esteja muito chocada com os atentados que ocorreram em Mumbai nesta quarta feira útima. Igualmente estou eu.

Eu não iria falar sobre isso neste blog, mas de repente senti que seria importante. O motivo real destes atentados não estão muito claros, mas temos certeza que foram realizados por muçulmanos radicais. Provavelmente deve ter a ver com a Caxemira, mas seria precipitado afirmar. Provavelmente são paquistaneses, mas igual não podemos afirmar agora. A origem disso, e daí é mais fácil afirmar, está na divisão da antiga Índia, lá nos idos de 1947. Naquele momento surgia um novo país, Paquistão, saído do umbigo da Índia, nascido inimigo. Na divisão, milhares de mortos. Muçulmanos mataram hindus e hindus mataram muçulmanos. Ninguém foi pior que o outro naquele momento, e seguem iguais. Foi um hindu que matou Mahatma Gandhi. Nem os sikhs escaparam da monstruosidade, após assassinarem Indira Gandhi. A Índia não é um país de paz há muito tempo. Não existe equanimidade, apenas paixão e ódio.

Neste momento este ataque foi mesmo maior que os anteriores recentes, mas não foi o primeiro e nem será o último. Infelizmente, os terroristas decidiram utilizar uma tática cruel antes não utilizada. Desta vez escolheram como alvo os turistas estrangeiros, em especial os mais abonados, aqueles que vêm do centro econômico do mundo. Assim, e só assim, o mundo poderia olhar para eles. Os atentados anteriores mataram muitos, mas apenas a mídia indiana divulgou suas notícias. De que adianta? De que adianta apenas a mídia local divulgar fatos se as coisas hoje só se movem com o consentimento do mundo globalizado e louco? Então mata-se americanos, ingleses, judeus e assim a CNN não tira os olhos de Mumbai. Assim todos ficam sabendo que a Índia está contra os muçulmanos, como dizem. Assim todos ficam sabendo que também na Índia tem pessoas que querem seus "direitos", que não é só o Tibet que está sofrendo, logo ali ao lado da Caxemira, aliás. E é triste também pensar que os hindus agora odeiam os muçulmanos mais um pouco, e o mundo, naturalmente, também os odeia ainda mais um pouquinho. E dá-lhe ódio.

E essa briga ainda não é entre dois países, mas grupos ainda independentes. Ou não. Índia e Paquistão evitam brigar, não por eles, mas porque o mundo sabe que ambos possuem suas bombas atômicas. Não são meras pedrinhas. E briga entre irmãos às vezes é pior do que entre amigos. Roupa suja se lava em casa, dizem, mas no mundo de seres humanos, a casa é nosso planeta. Direta ou indiretamente, sou também responsável e você também é.

Enquanto isso, provavelmente, haverá atrazos em Bollywood e os financiamentos cairão. Mas já deviam estar caindo por causa da crise econômica. Acho que é hora de, como diz o I Ching, aproveitar a crise pra trazer o novo.

O título desta postagem é uma simbologia de um abraço. É um mínimo que posso fazer. Queria dar um abraço.

OM SHANTI OM

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Atualizando... filmes gays são proibidos mas nem tanto...

A Professora Sandra Bose (www.indiagestao.blogspot.com) me lembrou que na verdade existem, sim, filmes com temática homossexual na Índia. Falarei sobre alguns deles aqui nesta postagem. De repente me pus a pensar porque este último teve essa censura mais escancarada e me dei conta do óbvio: a presença de dois atores-semi-deuses de Bollywood incentivaria - e muito - que toda a juventude indiana fosse ver o filme. Quando é que permitiriam a pirralhada indiana ver filmes com essa temática? Os outros filmes que existem são mais sérios e sem atores famosos, que nem os indianos ficam sabendo direito que existe.

Bom, o primeiro filme que parece ter sido feito sob esta temática na Índia (homossexualismo masculino) foi Mango Soufflé, em 2002. Conta um caso típico de crise de identidade, de um indiano que se apaixona por um homem, mas casará com sua irmã, e no fim... o fim eu não conto! Há uma certa crítica por personagens estereotipados, mas eu diria que o cinema indiano costuma mesmo sempre cometer este pecado (que nem sempre é reuim). Ainda assim, parece que este filme é uma boa produção.

Em 2003 foi feito o filme Gulabi Aina (O Espelho Rosa), de Sridhar Rangayan, contanto a vida de drag queens indian@s, abordando ainda mais de perto o tema do homossexualismo. Mas o filme mais forte neste sentido foi feito em 2006, chamado Yours Emotionally, do mesmo diretor. Esse sim fala sobre o conflito profundo que é ser gay em uma sociedade que criminaliza esta opção e ao mesmo tempo convive com ela há milênios. A seguir vai o trailer de ambos os filmes:


E mais recentemente, neste ano de 2008, foi lançado o filme Pankh, de Sudipto Chattopadhyay, que me parece abordar este tema de uma maneira diferente e interessante. É a história de um joven indiano que, quando criança, trabalhava como menina em programas de TV e filmes - coisa que, ao que consta, é comum de ocorrer na Índia. É lógico que quem o fez trabalhar com isso foi sua mãe e é lógico que quando ele cresceu construiu-se uma relação conflituosa entre ambos. E é lógico que ele, já crescido, acabou por questionar suas preferências sexuais. Parece ser um filme bom e sério. Mas infelizmente não consegui encontrá-lo para baixar na internet e não consegui nem encontrar trailer deste filme.

Outro filme mais antigo sobre homossexualidade é o famoso Fire, da famosa Deepa Mehta. No Brasil é possível encontrá-lo nas locadoras com o nome de Fogo e Desejo. Trata da homossexualidade feminina. Mas outro dia falarei sobre ele.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Filmes gays são proibidos na Índia


Hoje falarei sobre um tema polêmico para a maior democracia do mundo: a homossexualidade. E focarei esta questão naquilo que este blog se propõe falar, que é o cinema indiano.


Algumas pessoas já me perguntaram sobre filmes gays indianos e sei que a Prof. Sandra Bose (do blog Indi(a)gestao) também já foi alvo destas perguntas. A resposta direta e objetiva é que não há filmes que tratem sobre a homossexualidade na Índia simplesmente porque a homossexualidade é crime. E como as indústrias de cinema indiano - lideradas por Bollywood - são as grandes responsáveis pelas mudanças culturais daquele país, o governo "democrático" da Índia censura fria e duramente qualquer coisa que possa se assemelhar a isso.


E olha que lá há, sim, muita homossexualidade. Basta ser um homem ocidental e com corpo, digamos, sarado, que você sentirá na pele a presença deles. Sim, na pele, com encoxadas e afins em qualquer local que esteja lotado na Índia (que vocês sabem, não são poucos). E já apresentei a Deepa Mehta pra vocês, embora ainda não tenha feito a sinopse de seus filmes. O segundo de seus filmes da trilogia dos elementos trata justamente da homossexualidade entre duas mulheres indianas. E quem disse que esse filme pode ser encontrado na Índia?


Bom, mas eu resolvi escrever esta postagem hoje por causa de um artigo que encontrei falando justamente de um filme que seria lançado na Índia agora e que abordaria, bem sutilmente, essa questão. Mas o filme foi proibido de ser veiculado, a não ser que seja retirado 70% de seu conteúdo! O que mais me chamou a atenção é que nem a presença de dois semi-deuses bollywoodianos no elenco não bastou para o filme ser liberado. São principais personagens nada mais que Abhishek Bachchan e John Abraham. Vejam a seguir o artigo na íntegra:

Lado de Fora

Filmes com temática gay são banidos da indústria de cinema indiana
Por Sérgio Oliveira

Pior dos que os gays caricatos notados no cinema de Hollywood, é não existir nenhum gay na sua cópia indiana, apelidade de Bollywood. Na Índia, vários pedidos são apresentados na Suprema Corte contra filmes que demonstram qualquer tipo de conotação homossexual.

Bollywood é indústria emergente da Índia, que tenta copiar a essência dos filmes americanos. No entanto, na questão de moralismo, os cineastas e a opinião pública vencem de longe a americana.

O último filme vítima desse preconceito desenfreado foi "Dostana". O longa é o primeiro com o tema de comédia-gay e não poderá ser mostrado em nenhuma sala da Índia nem do Paquistão. Com um roteiro similar ao filmes americanos, "I Now Pronounce You Chuck and Larry" só será comercializado se retirar aproximadamente 70% de seu conteúdo. No roteiro, não há nenhuma relação homossexual, mas sim uma tentativa entre amigos que fingem ser um casal para trapacear os agentes da imigração e poder ficar em Miami. O único momento "forte" do filme é um selinho entre amigos.

"Dostana é um tipo engraçado de filme que pode pavimentar para que tenhamos, futuramente, filmes como Brokeback Mountain", afirmou o diretor Karan Johar. "É uma produção toda centrada em Miami, pois não faria sentido em filmarmos na Índia sendo que conduta homossexual não é permitida.

A proibição da livre arte cinematográfica nestes países é um reflexo das resoluções que determinam que gays sejam punidos pela sua orientação sexual. As leis que governam Índia e Pasquistão foram feitas sob o domínio britânico.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Nouvelle Vague Indiana agora no Rio

Para cariocas, turistas de passagem e simpatizantes, a mostra Nouvelle Vague Indiana do CCBB começa hoje no Rio de Janeiro e irá até o dia 23.

Como de praxe, não encontrei ainda a programação por dia da mostra, mas encontrei um texto sobre a nouvelle vague indiana e esta mostra que me pareceu interessante e resolvi postá-lo aqui:

Pouco conhecidos no Brasil, 20 filmes feitos na Índia nos anos 60 são atração no CCBB

André Miranda (Portal O Globo)

Muito antes das mega-produções de Bollywood, a Índia já foi responsável por um cinema respeitadíssimo no mundo, conhecido por um nome sugestivo para os cinéfilos: nouvelle vague. Começa nesta terça (11.11) para o público, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), a mostra Nouvelle Vague Indiana, com a exibição de 20 títulos do movimento, a grande maioria inédita no Brasil.
Assim como as outras ondas cinematográficas surgidas nos anos 1960, a nouvelle vague indiana propunha uma mudança estética e temática no cinema que era feito no país. Para se entender melhor o significado da proposta, é possível fazer um paralelo com o que ocorreu no Brasil no mesmo período. Aqui, os filmes que imperavam até os anos 1950 eram as comédias populares da Atlândida, um panorama que só começou a mudar com o trabalho de diretores como Nelson Pereira dos Santos e Glauber Rocha e com o surgimento do Cinema Novo.
Nouvelle Vague Indiana - Foto: divulgação Na Índia, a situação era semelhante. Filmes populares, com grandes estrelas e feitos nos moldes de Hollywood dominavam os cinemas, até que nomes como Satyajit Ray, Ritwik Ghatak e Mrinal Sen passaram a ganhar espaço e chamar a atenção dos espectadores.
- Aos poucos, eles foram propondo um cinema sem grandes atores, sem estrelas e com temática social. Faziam filmes com as características conhecidas do neo-realismo, como a escalação de não-atores para os papéis, locações externas e luz natural - conta Gisella Cardoso, curadora da mostra.
O interesse de Gisella pelo movimento surgiu em 2007, quando ela preparou a exibição de uma série de filmes neo-realistas, também no CCBB. Para aquela mostra, ela incluiu uma obra de Satyajit, diretor nascido em Calcutá, em 1921, e morto em 1992, cuja obra é consagrada até mesmo fora da Índia - ele recebeu um Urso de Ouro em 1973, por "Ashani sanket", e um Leão de Ouro em 1957, por "O invencível". Dali, a curadora procurou mais informações sobre aquele cinema indiano e acabou se deparando com um universo riquíssimo de obras pouco conhecidas pelos brasileiros.
- O Satyajit fez filmes mais engajados, ele foi uma espécie de precursor da nouvelle vague indiana. Seus filmes são mais ousados formalmente e colocam a questão da transformação social de maneira mais forte e acentuada. É uma nova Índia que surge na tela - explica Gisella. - Os primeiros filmes que vi dele foram os da chamada Trilogia de Apu. Era um cinema autoral, bem diferente daquele que se faz hoje na Índia e que todos conhecem, que são os filmes de Bollywood. A partir daí, fui descobrindo outros diretores e outras obras.
A Trilogia de Apu - formada por "Canção da estrada" (1955), "O invencível" (1956) e "O mundo de Apu" (1959), todos incluídos na programação da mostra - narra a vida de Apu, de um menino pobre numa aldeia de Bengala até um ex-estudante desempregado que sonha seguir a carreira de escritor. Além desses, destacam-se na Nouvelle Vague Indiana obras como "Mr. Shome" (1969), de Mrinal Sen, considerado o marco do movimento; e "Nights end" (1975), de Shyam Benegal, exibido em competição no Festival de Cannes.
Num texto escrito exclusivamente para o catálogo da mostra, Mrinal Sen se recorda da produção de "Mr. Shome", dizendo: "O custo total da produção foi inacreditavelmente baixo, menos do que o mais inacreditavelmente baixo. Afinal, o que nós queríamos era fazer um filme de baixo orçamento e estabelecer um recorde! E uma tendência!".
- Em 1968, Mrinal Sen escreveu um texto conhecido como Um Manifesto por um Novo Cinema Indiano. Ali começava oficialmente o movimento - conta a curadora. - Apesar de as propostas dos filmes serem bem diferentes entre si, o que se vê em todos eles é a vontade de se fazer cinema de autor, com cada diretor propondo um estilo e uma linguagem próprios - conclui Gisella Cardoso.
Entre os 20 filmes programados, 16 serão exibidos em película e apenas quatro em DVD. As cópias, todas em bom estado, foram trazidas de dois acervos da Índia e de um acervo da Inglaterra. De acordo com Gisella, há uma preocupação grande na Índia em se preservar a memória do cinema do período, justamente para atender a demanda de festivais ao redor do mundo. Chegando agora ao Rio, a mostra fica em cartaz até o dia 23 de novembro.