quarta-feira, 29 de julho de 2009

Shabana Azmi - शबाना आज़मी - شبانه عظمي

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Hoje vamos falar de um nome de grandíssimo peso não só no mundo do cinema indiano, mas principalmente no plano das mudanças sociais do país: Shabana Azmi.

Nascida no dia 18 de setembro de 1950, em Nova Delhi, Shabana Azmi é hoje a atriz indiana mais reconhecida do cinema de arte do país. De família muçulmana, seu pai, Kaifi Azmi, era um renomado poeta e sua mãe, Shaukat Azmi, era uma reconhecida atriz de teatro. Isso permitiu que o cenário para ela fosse completamente preparado para que nada a impedisse de seguir a carreira artísticas sem sofrer preconceitos. Além disso, seu irmão, Baba Azmi, é cineasta.

Sua casa sempre foi frequentada por personalidades do meio intelectual indiano, o que não só cultivou em sua personalidade o respeito pelas diferenças sociais e religiosas, como também criou nela a paixão pelo estudo do ser humano e pelo ativismo social. Foi assim que, mesmo estudando atuação na Film and Television Institute of India (FTII), de Pune, também cursou psicologia na St. Xavier's College, de Mumbai.

Em 1974, um ano depois de se formar no FTII, Shabana estreava no cinema no filme Ankur, de Shyam Benegal. Contando a história real de Lakshmi, uma empregada casada que se envolveu com um estudante universitário que visitava o interior do país, Ankur causou polêmica mas foi muito bem aceito pela crítica. O reconhecimento, porém, veio a Shabana, que em sua estreia já levou o prêmio de melhor atriz pelo National Film Award, pelo papel recusado por várias atrizes procuradas pelo diretor.

Ela voltou a ganhar o mesmo prêmio por três anos seguidos, em 1983, 1984 e 1985, pelos filmes Arth, Khandhar e Paar. Seu quinto National Film Award veio em 1999, por Godmother. O reconhecimento de seus papéis, dizem, deve-se ao fato de que ela interpreta as personagens da maneira mais realista possível, fumando se tiver que fumar, mascando tabaco se tiver que mascar, engordando se tiver que engordar.

Mas além desses prêmios, ela também levou outros três prêmios de melhor atriz pelo Filmfare Awards, nos filmes Swami (1978), Arth (1984) e Bhavna (1985). E além disso, em 2006 ela levou o Filmfare Lifetime Achievement Award, dado pelo conjunto da obra. No total, ela já ganhou 14 prêmios.

Um de seus papéis mais polêmicos apareceu no não menos polêmico - mas excelente - filme Fire (1996), da diretora independente Deepa Mehta. Nele, ela interpreta Radha, uma esposa solitária que se apaixona pela cunhada Sita (interpretada por Nandita Das) e se envolve com ela. As cenas explícitas de lesbianismo provocaram a fúria de diversos setores da sociedade indiana, incluindo do próprio governo. Mas foi também com esse filme que ela ganhou projeção internacional. No Brasil esse é um dos poucos filmes indianos que podem ser encontrados em locadoras, com o nome Fogo e Desejo.

Com a abertura que teve na mídia devido ao sucesso de seus papéis, Shabana logo cedo iniciou seu ativismo, em princípio na luta contra a AIDS e contra injustiças sociais. De início, suas campanhas caíram no descrédito, pois más línguas a acusaram de fazer isso por marketing próprio. No entanto, pouco a pouco e com muita paciência, ela provou que suas lutas eram sérias e que sua fama era a plataforma para seu ativismo social, e não o contrário.

Tão cedo ela se firmou nas lutas pelo pacifismo social, buscando sobretudo a harmonia entre comunidades. Nos atentados de Mumbai em 1993, ela apareceu como voz forte contra o extremismo religioso. Sua posição assim se manteve em 11 de setembro de 2001, quando um importante líder muçulmano indiano chamou todos os islâmicos do país a se unirem à luta do Afeganistão. Sua posição fortemente contrária a esse tipo de atitude acabou por encorajar outros líderes muçulmanos moderados que se mantinham calados e que resolver apelar pela tolerância e pacifismo.

Em 1988, ela foi agraciada pelo Padma Shri, uma espécie de condecoração oferecida pelo governo indiano àqueles que se destacam na cena social, cultural e política do país. No mesmo ano, o governo de Uttar Pradesh deu a ela o prêmio Yash Bhartiya, oferecido por sua luta pela causa das mulheres. Também levou, em 2006, o prêmio Gandhi International Peace Award, dado pela Fundação Gandhi, de Londres, para aqueles que lutam pela paz no mundo.

Desde 1989 ela faz parte do Conselho de Integração Nacional, encabeçado pelo primeiro ministro da Índia. Ela é também membro da Comissão Nacional da AIDS.

E sim, não esquecendo a vida pessoal dela, não posso deixar de dizer que ela é casada há 25 anos com Javed Akhtar, famoso poeta e escritor de músicas e filmes para Bollywood. Foi ele quem escreveu as letras das músicas de Jodhaa Akbar, por exemplo.

E só voltando ao tema cinema, Shabana não para nunca de atuar, embora a maior parte de seus filmes não apareçam em grande circuito e não chegam a fazer sucesso. Por vezes ela também aparece em Bollywood, como foi em Umrao Jaan (2006), no qual interpretou Khanum Jaan. E uma notícia mais importante: está agora em produção um filme sobre a história da paquistanesa assassinada Benazir Bhutto, no qual Shabana fará a própria Benazir. Estou ansioso por esse filme!

terça-feira, 28 de julho de 2009

Lead India

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Há tempos que muita gente chega no Cinema Indiano procurando no google pelo vídeo do menino indiano empurrando uma árvore, graças à postagem que fiz sobre o trio SEL (Shankar-Ehsaan-Loy), onde citei esse vídeo feito por eles.

Como a procura vem crescendo e como oficialmente nós agora também publicamos as peças publicitárias da Índia, resolvi fazer esta postagem exclusivamente para falar sobre a campanha Lead India criada pelo jornal The Times of India (TOI) nas comemorações dos 60 anos da independência da Índia.

Essa campanha surgiu com o intuito de encontrar escondido na imensa população indiana um novo líder capaz de dar voz às necessidades do povo e transformar o país. Para tanto, um programa de TV foi criado na STAR One (aos sábados, às 20h), onde pessoas de 25 a 45 anos participam de competições de perguntas e respostas e desempenho pessoal. Esse tipo de atividade não é novidade na Índia; nas universidades por todo o país os estudantes costumam realizar esses tipos de competições para definir um líder dentre eles.

O programa de TV já selecionou até agora oito pessoas - homens e mulheres -, de todos os cantos do país, e que serão por fim colocados à prova para ver quem será o grande líder. E quem apresenta o programa é o veterano de Bollywood, Anupam Kher, por alguns reconhecido por seu excelente papel em Maine Gandhi Ko Nahin Mara.

Quando o TOI iniciou a campanha, ela chamava-se Poison India e o trio SEL foi contratado para criar o tema da campanha, que se chamou Tum Chalo To Hindustani Chale e acabou resultando nesse vídeo:



Depois desse primeiro vídeo, que o próprio trio SEL aparece cantando no alto de um prédio, a segunda fase da campanha veio com mais força e mais motivação. Foi daí que foi criado o novo vídeo com uma nova música do trio, dessa vez com um apelo motivacional muito maior. É justamente o vídeo que acabou ficando famoso, do menino empurrando uma árvore que está caída no meio da rua, impedindo por completo o trânsito. Até que o menino decida por si mesmo empurrar a árvore, todas as pessoas estavam paradas e irritadas, como se a solução para o problema não pudesse estar em suas mãos - e isso é uma característica fortemente indiana, que pode chegar ao cúmulo de uma pessoa recém-atropelada não receber ajuda de ninguém. A ideia da campanha é justamente tentar reverter esse aspecto cultural em verdade muito vergonhoso. E aqui vai o vídeo, chamado Tree (Árvore):



Ambos os vídeos foram feitos pelo escritório indiano da gigante multinacional de publicidade JWT, em Mumbai. Em 2008, a campanha Lead India ganhou um prêmio no Festival de Cannes dado a peças integradas, ou seja, que têm ampla difusão por diferentes mídias ao mesmo tempo, como TV, cinema e internet. No mesmo ano, a campanha também levou o prêmio do The CUP Awards, dado a produções que tenham como eixo central aspectos da cultura local.

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ASSINE A PETIÇÃO PARA A VINDA DE TAARE ZAMEEN PAR AO BRASIL, CLICANDO AQUI!
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sexta-feira, 10 de julho de 2009

A campanha por TZP no Brasil continua!

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A campanha Quero Taare Zameen Par no Brasil! segue com toda força, ganhando cada vez mais adeptos.

A petição não tem prazo exato para terminar, mas isso não significa que devemos relaxar. Ao contrário! Temos que unir mais forças para mostrarmos que Taare Zameen Par pode e deve vir oficialmente ao Brasil.

Na blogosfera nós não estamos sozinhos. Os blogs Em Formol, Grand Masala, Indi(a)gestão, Alma de Educador, Viver em Alegria, Coisas de Natalie, Pelonada, Regina Milone e Café Masala aderiram à campanha e fizeram suas próprias postagens pedindo pelas assinaturas de seus leitores. E sou extremamente grato por isso! No Orkut a campanha vem sendo pouco a pouco disseminada, mas ainda tem MUITO a crescer.

Para quem teme participar da campanha pela necessidade de se colocar o RG no site, não se preocupe. O número do documento é confidencial e é necessário para dar veracidade à petição. Nenhum abaixo-assinado existe sem a identificação de algum registro do assinante, pois caso contrário uma mesma pessoa poderia assinar infinitamente com diferentes nomes! Não tenha medo, assine e divulgue, pois Taare Zameen Par merece muito mais!

Essa belíssima obra já está sendo disseminada pelo Brasil inteiro, entre educadores, pais, psicólogos e fãs do cinema - indiano ou não - pela sua profunda beleza e sensibilidade. Já foi exibido na mostra de cinema do Rio de Janeiro e na sede da Associação Brasileira de Dislexia. Para saber mais sobre esse filme, clique aqui.

ASSINE A PETIÇÃO CLICANDO AQUI

Festival de micrometragens brasileiro com novo tema

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Mais uma vez mais, o Cinema Indiano apoia essa interessante iniciativa de desenvolver e promover a criatividade brasileira a partir do uso de novas mídias na produção de micrometragens. Quem não participou da segunda etapa, não deixe de fazer seu vídeo e concorrer agora! Abaixo segue o release do festival.

O evento, promovido pela Cel.U.Cine, possibilita a produção por meio de gravações de celulares, câmeras digitais e mini-dvds; inscrições para a terceira etapa vão até o dia 27 de julho de 2009

Começou a 3° etapa do 1º Festival de Micrometragens Brasileiro Cel.U.Cine, para produções de até 3 minutos em formatos alternativos usando novas mídias como celulares, câmeras digitais e mini-dvds. O tema da vez é “De Arrepiar”.

De acordo com os organizadores do festival, a proposta tem como objetivo estimular a produção e ampliação da difusão de conteúdos no Brasil e no exterior por meio das novas mídias, principalmente, os celulares.

Para atingir esse objetivo, a Cel.U.Cine firmou parcerias com o Canal Brasil, que exibirá com exclusividade os trabalhos selecionados no 1º Festival de Micrometragens, e com a RIO Filmes, que lançará as produções em DVD.

Os interessados em participar devem enviar os filmes e realizar a sua inscrição até o dia 27 de julho de 2009 no portal www.celucine.com.br. O resultado será divulgado no dia 9 de agosto de 2009, durante o Festival Brasileiro de Cinema Universitário.

Liberte seu lado cultural e criativo. Produza seu micrometragem e participe do Festival Cel.U.Cine.


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ASSINE A PETIÇÃO PARA A VINDA DE TAARE ZAMEEN PAR AO BRASIL, CLICANDO AQUI!


segunda-feira, 6 de julho de 2009

Quero Taare Zameen Par no Brasil!

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Caríssimos leitores e amigos do Cinema Indiano, não é de hoje que declaro constantemente meu amor pelo filme Taare Zameen Par - Every Child is Special (Como Estrelas na Terra - Toda Criança é Especial), obra prima de Aamir Khan. E também não é de hoje que insisto que esse filme teria grande potencial se viesse oficialmente para o Brasil.

Pois ontem dei início a uma campanha de imensa importância no sentido de viabilizar a vinda desse filme, criando um abaixo-assinado que terá como principal função provar a potenciais distribuidores que Taare Zameen Par pode - e deve - vir para o Brasil. Para isso preciso do apoio e da ajuda de todos vocês, sem exceção, para assinarem e divulgarem essa petição, para conseguirmos o maior número de adesões possível. E peço, também, para os que já viram o filme, que deixem um comentário junto da assinatura, contribuindo para aumentar o valor dessa iniciativa.


E não desistiremos até vermos o filme nos cinemas!

Muito obrigado!
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domingo, 5 de julho de 2009

Ram Gopal Varma odeia Michael Jackson

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O outro texto que eu havia citado ontem segue então hoje, a respeito de Michael Jackson, segundo o diretor Ram Gopal Varma. Existe uma semelhança grande com o que diz Ram Gopal nesse texto e com o que disse Amitabh Bachchan, embora o de Big B seja um tanto exagerado, autobiográfico até. Eu não sou da época de Michael Jackson e já cresci num mundo em que o que ele havia criado já fazia parte das coisas comuns; e nunca fui seu fã e nem gostava de suas músicas. Hoje, porém, tenho que confessar que reconheço a sua importância, maior do que supunha. Não chego, no entanto, no nível bem bizarro de dizer que ele era de outro planeta - acho que sou mais dizer que ele foi abduzido e por isso mudou tanto.

Mas isso não vem ao caso. O que importa aqui é que - a despeito da lambeção de ovos - mais esse artigo confirma a presença praticamente fundamental de Michael Jackson no caminho que Bollywood, e todo o cinema indiano, trilhou nos finais do século XX. No dia 30 de junho também falamos sobre isso, se ainda não leu, leia clicando aqui. E agora fiquem com o texto de Ram Gopal Varma:

Eu odeio o Michael Jackson

Eu fui dormir tarde e esqueci de desligar a TV. Assim que acordei meus olhos foram direto pra linha que passava com a manchete "Michael Jackson está morto". Eu pensei que eu pudesse estar sonhando e comecei a pensar por que diabos eu estava sonhando que Michael Jackson estava morto. Levou um tempo até que eu percebesse que aquilo era realmente real e não um sonho.

De volta aos tempos em que eu estava na faculdade em Vijayawada, um amigo meu me chamou pra assistir o vídeo de Thriller, de Michael Jackson. Acostumado com uma dieta de músicas telugu e hindi, eu estava perplexo ao ver aqueles inimagináveis tipos de coreografias, imagens e, acima de tudo, a incrível personalidade de Michael Jackson. Eu saí do salão pensando que ele não poderia ser real e que deveria ser algum tipo de fantasia com forma humana. Ao longo dos anos eu via cada um de seus vídeos, cada qual criando um novo estilo. Na indústria de filmes, sempre que eu e meus colegas discutimos a elaboração de uma nova música, nós invariavelmente usávamos e usamos até hoje a inspiração que temos em Michael Jackson, copiando seus vídeos.

Não eram apenas suas danças ou seus estilos de cantar ou mesmo sua música, mas sim sua incrível presença e sua aura em torno de si que me arrebatou. Eu vi seu show em Mumbai. No palco, Michael Jackson parecia algum ser que havia vindo de outro planeta com a missão de nos entreter um pouco. Eu nunca me importei com os escândalos a respeito dele, já que o que ele fez por mim e por meus sentidos supera tudo e qualquer coisa que ele tenha feito e, como eu disse, pra mim ele era como uma criação de Deus ou alguma coisa dada como um presente muito muito especial à humanidade.

Eu odeio Michael Jackson.

Eu o odeio por ter morrido e por ter feito eu perceber que ele é mesmo um ser humano.

Eu odeio que ele também tenha que respirar pra viver.

Eu odeio que ele também tenha um coração que pode parar como o de todos nós.

Eu odeio ter que viver pra ler na CNN dizendo que "O corpo de Michael Jackson foi mandado para o Instituto Médico Legal" .

Eu realmente odeio Michael Jackson por tornar-se uma desagradável realidade de uma fantástica fantasia.

Eu te amo Michael Jackson, esteja onde estiver... e sempre te amarei.

Ram Gopal Varma

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Amitabh Bachchan também fala de Michael Jackson

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A professora Sandra Bose me encaminhou por email dois textos de duas grandes personalidades do cinema indiano a respeito da morte de Michael Jackson. O primeiro deles foi escrito por Amitabh Bachchan em seu blog, no dia 26 de junho. O segundo é do diretor Ram Gopal Varma, que publicou um artigo com o título "I hate Michael Jackson" (Eu odeio Michael Jackson). No entanto, pelo tamanho de ambos os textos, o de Ram Gopal será postado somente amanhã. Eu traduzi ambos pra vocês e o do Big B segue abaixo:

26 de junho - Londres

Por volta dos anos 60 eu ouvi falar de um grupo pop chamado "The Jackson 5". Muitos anos depois, quando eu já tinha meu aparelho de vídeo, eu pude então vê-los em movimento. O mais novo deles, o garoto gordinho com uma voz extraordinária, movia-se excepcionalmente bem. Fiquei sabendo que ele chamava-se Michael - Michael Jackson.

Por muitos anos não escutamos mais falar deles; os Beatles haviam invadido a cena e todo o universo só queria saber deles. Foi em torno dos anos 70 que o brilho apareceu e dele emergiu a versão já crescida de Michael Jackson, cantando, movendo-se, dançando como se fosse de outro planeta! Deslumbrados com seu brilhantismo em todo e cada tipo de música e performance que ele fazia, ele mudou a forma de pensar não só do tipo de música que ele fazia, mas também de todos os espectadores do mundo. Não havia nada comparado a ele. Ele era apenas essa coisa incrível feita por Deus em sua infinita misericórdia.

Seu corpo se movia como se fosse um brinquedo de dar corda. Cada tipo de movimento e ritmo que poderia ser pensado ele criava, sem medo. O furor que ele causava com cada lançamento ditava o novo rumo da música pop. Ele era o impossível.

Com o grande advento da modernidade e o seu lento entrar no mundo em desenvolvimento, nós só podíamos escutá-lo, ou vê-lo, com o esforço feito por aqueles que tinham o privilégio de viajar. Essas pessoas, que nos traziam do exterior, traziam também as músicas e vídeos de Michael Jackson para nossas vidas. E nós, os possuidores desses raros materiais, éramos como que ídolos de grande atenção, simplesmente porque tínhamos conosco um vídeo de Michael Jackson. O tempo passou e nossas próprias viagens tornaram-se mais frequentes e começamos a ficar orgulhosos de nossos CDs e vídeos. Eram nossas mais valiosas possessões. Aqueles que não tinham as condições de estar em igual situação olhavam pra nós com gratidão quando nós mostrávamos uma música de Michael Jackson. Todos queriam dançar que nem ele, vestir-se que nem ele, SER ele. Mas ninguém nem sequer chegou perto.

Pouco depois de meu acidente em 1982, fui aos Estados Unidos para recuperar-me melhor. Eu estava em Nova Iorque quando soube que Michael Jackson estava fazendo uma turnê de seu último show. A próxima apresentação seria numa cidade curiosamente chamada Jacksonville, na Flórida. E seria no dia seguinte. Era uma oportunidade que não poderíamos perder.

Então na manhã seguinte pegamos um voo e chegamos em Jacksonville, sem conhecer ninguém, sem ter reservas em hotel e nem sequer ter os ingressos pro show. Fomos de um lado pro outro com um prestativo taxista, até que de repente chegamos em frente ao hotel em que estava hospedado o próprio Michael Jackson, mas que só podia ser visto por fora já que o hotel inteiro estava reservado para o astro e sua equipe. Imploramos com a gerência algum canto que fosse onde a gente pudesse apenas recostar por uns instantes, eu e meu irmão - que me acompanhava -, antes de empreendermos nossa missão mais importante: comprar os ingressos! Conseguimos recostarmo-nos em um canto qualquer e pela tarde lá estávamos nós em frente àquele imenso estádio, sem pistas de como compraríamos os ingressos para ver O MICHAEL JACKSON.

Nós andávamos e não parávamos de andar. Depois de tomar vários picolés e beber litros de refresco naquele lugar quente e úmido, e depois de ver infinitos grupos de fãs por todos os lados, vimos um sujeito interessante que dizia a todos a NÃO entrarem no estádio, porque MJ era a encarnação do demônio. Poucos minutos antes do show começar e finalmente encontramos nosso salvador: um cambista!! Barganhamos até onde pudemos e lá estávamos nós entrando no estádio no mesmo momento que o som colossal era ligado. Nossos assentos eram... bem... confortáveis. Eram de cimento e não eram individuais, apenas um longo banco que circundava todo o estádio. O ar estava mais fresco ali do que quando barganhávamos com o cambista logo antes e logo percebemos porquê. Nós estávamos na última fileira daquela construção monstruosa, olhando pra baixo, pra 100 mil pessoas, e certamente precisaríamos de um paraquedas em caso de ter que sair correndo!!

Com alguns empurrões nós finalmente pudemos nos sentar. Mas durou poucos segundos, pois imediatamente um estrondoso som vindo do palco quase estourou nossos tímpanos e fez as 100 mil pessoas levantarem-se e gritarem de entusiasmo!! E foi assim que ficamos nas três horas seguintes!! Por quase 45 minutos esperamos ansiosamente quando... como que por mágica... ele estava no palco... NADA SE OUVIA DEPOIS, NADA SE VIA, NADA ALÉM DE... DE... UMA ALUCINADA PLATEIA EM DELÍRIO!!

Essa foi a primeira vez que o vi, mas não foi a última!!

No meio dos anos 90, em outra visita que fiz a Nova Iorque, a campainha da minha porta do hotel Helmsley Palace tocou, e eu fui abrir. E foi que na minha frente estava Michael Jackson! Ele olhou surpreso pra mim e disse com sua voz suave: "Oh! Desculpe-me! Acho que errei de quarto!". Eu não me lembro o que disse depois, se é que disse algo, nem quanto tempo fiquei naquela posição e nem quando foi que fechei a porta. Mas aquele era ele e ele HAVIA errado o quarto!!

Depois, no dia seguinte, meu amigo Mohan Murjani, que estava trabalhando em algo com Michael Jackson, preparou um encontro pra mim com Michael Jackson. Nós então nos encontramos, rimos do que ocorreu no dia anterior e tivemos uma agradável conversa. Sua voz era suave, era humilde e muito educado. Ele me apresentou à sua mãe, que estava ali também com ele, e então eu fui embora!!


Eu nunca o vi de novo, mas quando ele veio à Índia apresentar-se em Mumbai, no Andheri Sports Complex, em Prateeksha, onde moro, balancei a noite toda com as vibrações de seus famosos números que extremeciam a vizinhança.

Um artista excepcional se foi. Alguém que criou uma experiência mundial para todos nós com sua arte.

Quando eu voltar à Índia eu postarei uma festa de aniversário de 7 ou 8 anos de Abhishek, meu filho, vestido de Michael Jackson e dançando "Thriller".

Amitabh Bachchan