sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Harishchandrachi Factory (2009) - हरिश्‍चंद्राची फॅक्टरी

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E também esteve na 34a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo este super simpático filme indiano que, lá, apareceu com o nome Filmando Harishchandra, mas que na tradução literal ficaria A Fábrica de Harishchandra.

O filme conta a história do surgimento do cinema indiano. Nada mais, nada menos. E ponto. E não é um filme de Bollywood, nem sequer é em hindi - e isso, pra mim, é o mais legal de tudo. Eu nunca me esqueço do dia em que escrevi a postagem sobre o cinema marathi, em agosto de 2008, na qual eu dizia que este cinema era o mais reprimido de toda a Índia, não só por dividir o mesmo estado em que está sediado Bollywood - o Maharashtra -, mas principalmente pelo primeiro filme feito dentro da Índia ter sido feito com uma equipe integralmente falante do marathi, não do hindi, em 1913.

Esse primeiro filme foi Raja Harishchandra, feito por Dadasaheb Phalke, que era maratha, assim como toda sua equipe. Acontece que o feito de Phalke teve efeito cascata, inclusive nele mesmo, e em dois tempos nascia uma super indústria de cinema, ali mesmo, e que, ainda com o cinema mudo, já passava a ser feito por mãos de pessoas comprometidas com a elite indiana falante do hindi. E Bollywoood dava as caras.

Mas vamos aqui assumir que Raja Harishchandra seja um filme maratha, tendo como base sua produção. E então nada mais justo que um filme que conte a história do primeiro filme indiano seja justamente feito pelo agora autoafirmado cinema marathi.

Harishchandrachi Factory revela a história de como o senhor Phalke teve uma determinação desmedida pra colocar em prática sua ideia de fazer um filme em terras indianas. Com boas doses de um humor muito leve e delicado, o filme de Paresh Mokashi é quase uma fábula sobre um dos fatos mais importantes da história recente da Índia, estrelado por Nandu Madhav e Vibhavari Deshpande.

De forma mais amadora possível, mas extremamente determinado, Phalke, que já trabalhava com entretenimento de rua, decide mudar seus rumos após ficar efeitiçado ao ver um filme num cinema, em Mumbai. Assistiu ao mesmo filme um incontável número de vezes, levando por vezes seu filho consigo. Aos poucos, passou a vender objetos de sua casa pra poder comprar mais ingressos e ver mais vezes o mesmo filme. Sua esposa, confiante no marido, jamais questionou.

E foi assim que ele então decide ir a Londres e aprender de perto como é que se fazia aquela magia. Por um tempo, assim, trabalhou como assistente de direção e absorveu tudo aquilo que poderia absorver, até que chegasse o momento em que ele se sentisse pronto pra voltar à Índia e fazer o primeiro filme genuinamente indiano.

Mas quem disse que seria fácil? Assim que retornou ao seu país ele enfrentou os mais variados tipos de obstáculos, que facilmente fariam de seu projeto uma empreitada impossível. Mas Dadasaheb Phalke não sabia assumir um projeto sem levá-lo às últimas consequências - e, neste caso, uma das últimas consequências phalkeanas que podemos registrar é esta exata postagem que escrevo, num site dedicado à hoje maior indústria de cinema do mundo.
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Antes mesmo de Harishchandrachi Factory entrar em cartaz, o governo indiano indicou-o para ser o representante da Índia na competição de melhor filme estrangeiro do Oscar.  Recomendo o filme não só por sua agradável ilustração histórica, mas também por ser uma gostosa obra além-Bollywood, tão desacostumados que estamos de ver.


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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Mumford & Sons e Laura Marling dizem "Goodbye India"

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Incursões pela Índia não existem se não derem frutos dos mais ricos. A intensidade daquele país, que carrega consigo milênios de história e cultura ainda vivas, agrega a qualquer um aquilo que precisamos, rejeitamos ou apenas simplesmente desconhecemos.

E foi assim que, dando uma passadinha pelo excelente Música Pavê, encontrei hoje mais um desses exemplos, finamente trabalhado e extremamente agradável de se ver e ouvir. Trata-se de uma experiência musical levada adiante pela banda folk inglesa Mumford & Sons e pela também inglesa Laura Marling, com os músicos rajastanis do Dharohar Project.

O resultado, compilado numa série de vídeos chamada Goodbye India, é cheio de delicadeza e intensidade, o que talvez não pudesse ter acontecido não fosse o respeito e vontade de troca que se vê entre todos.

Não consegui descobrir se houve produção indiana que tenha ajudado a impecável direção de Fred & Nick neste material. No entanto, procurando sobre isso, acabei encontrando outra coisa também bastante interessante. Enquanto estavam na Índia filmando este projeto, tanto Mumford & Sons quanto Laura Marling deram um pulo de quatro dias a Goa e, lá, filmaram cada um um clipe próprio, desta vez com produção da Babble Fish Productions, uma irreverente produtora local.

Dando o apoio necessário aos estreantes em Índia Fred & Nick, a Babble Fish, sob comando de Samira Kanwar, propôs justamente incorporar aos clipes o trabalho que eles tanto tentam trazer: mostrar uma Índia bonita, mas desconstruída das imagens já tanto vendidas para o mundo. Aceitaram os pedidos da equipe inglesa, mas também conseguiram impor uma linguagem própria a partir das locações e fotografias propostas. E, na realidade, como ambas as músicas em nada têm a ver com a Índia, são realmente em sutis elementos que percebemos que os clipes foram rodados ali. O clipe de The Cave, dos Mumford & Sons, vocês podem ver no próprio Música Pavê, já o Devil's Spoke, de Laura Marling, pode ser visto somente no youtube.

Abaixo, fiquem com o simpático trailer da série Goodbye India.


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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Kaminey (2009) na segunda edição do CINEÍNDIA

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Queridos, e chegou a hora de anunciarmos a segunda edição do CINEÍNDIA que, dessa vez, exibirá Kaminey (2009), do incontestável Vishal Bhardwaj.

Seguindo o sucesso absoluto que foi a exibição de Taare Zameen Par, no dia 14 de novembro, a ideia é continuar trazendo a vocês exemplos do que o cinema indiano sabe fazer de bom. Quando Kaminey estreou, ano passado, Vishal Bhardwaj chegou a ser comparado com Quentin Tarantino e seu filme recebeu um sem precedentes número de avaliações positivas.

Também surpreendendo a todos, o ator Shahid Kapoor e a atriz Priyanka Chopra abraçaram a causa e mostraram que ser mega astros indianos não é somente ter rostinhos bonitinhos.

Cineclube CINEÍNDIA
Kaminey (2009), de Vishal Bhardwaj; duração 130’
Legendas em português
12 de Dezembro de 2010, às 18h00.
Local: CECISP – Centro Cineclubista de São Paulo
Rua Augusta, 1239, sala 13 - São Paulo
Próximo ao Metrô Consolação

*Grátis*

Para mais informações: 11-9804-4835 (Ibirá) ou 11-9562-5273 (Heber)

Organização: Ibirá Machado e Heber Souza, em parceria com o Centro Cineclubista (CECISP).

Sobre o filme:

Charlie e Guddu são gêmeos idênticos que cresceram nas ruas de Mumbai. Seu pai morreu quando ainda pequenos e, desde então, nunca mais se viram e acabaram alimentando rancor um do outro.

A vida deles se cruza quando Guddu, recém-casado, é confundido pelos inimigos de Charlie, então mafioso, que querem vingança.  A partir daí, uma sucessão de perseguições e reviravoltas culminam num final impressionante e muito bem orquestrado pelo diretor do filme, Vishal Bhardwaj.

Sobre o Diretor:

Diretor, produtor, roteirista, compositor, musicista e cantor. Não são poucas as funções que este indiano consegue exercer e, diga-se de passagem, todas elas muito bem. É da safra de novos diretores que estão redefinindo a indústria de cinema indiano, trazendo mais acuidade técnica e artística às suas obras.

Começou no ramo do cinema como compositor de trilhas e cantor. Já em seu primeiro trabalhou ganhou o Filmfare Awards de Melhor Trilha Sonora, em 1996 (o Oscar indiano). Em 2002, estreou em tripla-posição: diretor, roteirista e produtor com um filme infantil, Makdee, aclamado pela crítica.

Desde sua estreia no cinema até hoje, Vishal já compôs trilhas para 34 filmes, roteirizou 4 para outros diretores, produziu 5 e dirigiu 6. Ainda coleciona 9 prêmios. Kaminey é sua mais recente película, de 2009.


O Cinema Indiano e o CINEÍNDIA são parceiros do CECISP e do Cinefusão.
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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Mumbai abrirá as portas do Museu do Cinema Indiano em 2013

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Como parte das comemorações dos cem anos do cinema indiano, o governo da Índia anunciou que irá construir, em Mumbai, o Museu do Cinema Indiano, mais do que merecido para o país que mais produz e mais consome filmes no mundo.

Embora ainda não haja um projeto claramente definido, o diretor da Divisão de Filmes do governo indiano, Kuldeep Sinha, afirmou que as obras do museu custarão pouco mais de 50 milhões de reais, o que não é exatamente um valor muito alto, se levarmos em consideração o que já foi gasto em desapropriações pro próprio Bolywood Park - algo perto de 500 milhões de reais -, conforme anunciamos aqui em janeiro deste ano.

E não duvido nada que o museu seja, inclusive, construído dentro do Bollywood Park. Aliás, será um tanto estranho se não for. De qualquer forma, como ambos os projetos ainda estão mais no plano das ideias do que qualquer coisa (nem sequer no papel não estão, ainda, a não ser em forma de memorando de compromisso), é cedo afirmarmos qualquer coisa. Mas que a Índia merece um museu desse, isso merece, e Mumbai é mesmo o local mais apropriado.

Em 1913, após uma persistência que beirou a insanidade, Dadasaheb Phalke lançou Raja Harishchandra, o primeiro filme - e absoluto sucesso, como pode ser visto em Filmando Harishchandra (Harishchandrachi Factory, 2010) - daquela que em pouco tempo se configuraria como a maior indústria de cinema do mundo. É pra celebrar esta data que a ideia é abrir o museu em 2013, cem anos depois da memorável conquista de Phalke.

O museu pretende expor os mais variados aspectos que fizeram e fazem parte do cinema indiano - de figurinos a roteiros, passando por sets inteiros de filmagem. Quando pronto, portanto, será parada obrigatória.

E convenhamos, se não reproduzirem o bordel de Chandramukhi o museu não terá metade de seu valor potencial. Fica a dica.
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terça-feira, 9 de novembro de 2010

Estreia do CineÍndia em São Paulo

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Queridíssimos, é com muita alegria que vos anuncio o nascimento do mais novo cineclube de São Paulo, o CineÍndia, que abrirá suas portas já no próximo domingo, dia 14 de novembro, às 18h30, com o dispensa apresentações Taare Zameen Par.

Fiquem, abaixo, com o texto desta primeira edição do CineÍndia:

CINEÍNDIA – Um novo olhar sobre a maior indústria de cinema do mundo

Neste domingo (14), às 18:30, entra em atividade o CineÍndia, que tem como proposta definir um novo olhar sobre a maior indústria de cinema do mundo. Só em 2009, a Índia contou com 1288 produções, contra apenas 600 da poderosa Hollywood. Rendeu 1 bilhão de dólares anuais e recebeu uma média de 1,1 bilhão de espectadores por trimestre - o equivalente à população inteira do país.

E engana-se quem pensa que tamanha produtividade significa baixa qualidade. Após pesquisa intensa feita há quatro anos, queremos mostrar a força e as peculiaridades deste cinema, que difere bastante dos padrões com os quais estamos acostumados, seja americano, latino-americano ou europeu.

Nesta primeira sessão, apresentaremos o sensacional Taare Zameen Par – Como Estrelas na Terra. Ganhador de vários prêmios, o filme causou uma revolução social na Índia ao questionar o sistema educacional infantil dentro e fora das escolas.

Cineclube CINEÍNDIA 
14 de Novembro de 2010, às 18h30.
Local: CECISP – Centro Cineclubista de São Paulo
Rua Augusta, 1239, sala 13
Próximo ao Metrô Consolação 
Grátis

Para mais informações: 11-9804-4835 (Ibirá) ou 11-9562-5273 (Heber)

Organização: Ibirá Machado e Heber Souza, em parceria com o Centro Cineclubista (CECISP).

Sobre o filme:
“Taare Zameen Par” explora a vida e a imaginação de Ishaan, de 8 anos. Embora seja talentoso em artes, sua desastrosa vida escolar força seus pais a enviá-lo a um internato. Mas o novo professor de artes suspeita que exista algo de peculiar em em Ishaan que o faz ir mal na escola.

No Filmfare Awards, o Oscar do cinema indiano, a academia local agraciou o filme com os prêmios de Melhor Diretor para o estreante mas experiente Aamir Khan, Melhor Filme e Melhor Ator Estreante para Darsheel Safary.

Sobre o Diretor:
Antes de estrear na nova posição, Aamir Khan tornou-se o mais bem-sucedido ator da Índia. Seus filmes costumam batem recordes de bilheteira em questão de alguns dias. Seu último trabalho, 3 Idiots, conseguiu o marco de maior bilheteria de todos os tempos na Índia, arrecadando 90 milhões de dólares, quebrando o recorde alcançado anteriormente pelo filme Ghajini, também protagonizando por Khan um ano antes.

Khan é considerado um deus, um herói e um gênio do Marketing. É chamado pela crítica de Sr. Perfeição. Ganhou este apelido graças a seu trabalho meticuloso, que garante o máximo de apuiro em todas as atividades em que está envolvido: direção, atuação, roteiro, publicidade e muitos outros. 
 
Khan também é o recordistas de indicações ao prêmio de Melhor Ator do Filmfare Awards com 18 indicações, das quais levou cinco. 
 
Em 2001 ele fundou a Aamir Khan Productions para ajudar seu amigo, e também diretor famoso, Ashutosh Gowariker na produção do filme Lagaan. De lá para cá, a empresa de Khan tem produzido uma série de blockbusters.




*O CineÍndia e o Cinema Indiano são parceiros do Cineclube CineFusão e do CECISP.
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sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Trilogia de Apu em Diadema

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Começou no dia 3 de novembro, já passado, a exibição da Trilogia de Apu aqui em Diadema, no grande ABC, região metropolitana de São Paulo. Embora o primeiro filme - A Canção da Estrada (Pather Panchali, 1955) - já tenha sido exibido, ainda dá tempo de ver os outros dois, nos dias 10 e 17 de novembro, respectivamente, sempre às 20h.

A exibição ocorre no Cine Eldorado, em parceria com o Cine Sesc, localizado à Rua Frei Ambrósio de Oliveira Luz, 55, próximo à represa Billings. As exibições são gratuitas e recomenda-se retirar ingressos uma hora antes das sessões.

É, como sempre, uma excelente oportunidade de entrar em contato com uma das mais brilhantes e finas obras que o cinema mundial já pode experimentar. Os organizadores fizeram o seguinte texto sobre a exibição destes filmes:

"Mostra Satyajit Ray - A Trilogia de Apu  - O cinema indiano, marcado por sensibilidades e realismos, deve muito de sua história a Satyajit Ray, cineasta responsável pela Trilogia de Apu: "A Canção da Estrada" (1955), "O Invencível" (1956), e "O Mundo de Apu" (1959). O diretor baseou-se no romance "Aparajito", de Bibhutibhushan Bandopadhyay para contar a história de Apu, personagem que aparece em diferentes fases da vida ao longo dos três filmes, retratado com a beleza e a crueza do estilo inspirado no neo-realismo italiano e na nouvelle vague francesa, acompanhado da trilha sonora original composta por Ravi Shankar.

Abrindo a Mostra, "A Canção da Estrada" (dia 03 - 115 min - classificação indicativa: 14 anos) traz a visão de Apu criança, em uma pequena aldeia onde a miséria e as dificuldades são grandes. Acompanhado da mãe, da bisavó e da irmã, Apu observa, mas não compreende as tristezas da vida a seu redor. O pai, pregador sempre ausente, não consegue dinheiro suficiente para a família, a mãe se entristece, mas o menino não compreende a totalidade das situações. Satyajit Ray mantém-se de certo modo afastado dos personagens, observando-os como quem não sabe por onde olhar, ou como quem procura entender um grande quadro que lhe escapa às referências.

"O Invencível" (dia 10 - 127 min - classificação indicativa: 14 anos)  nos traz um Apu em fase de expansão: adolescente, vivendo em uma cidade maior, começa a planejar voos mais altos do que a realidade dura e triste da aldeia permitiria. Mas ao mesmo tempo em que os desejos de Apu o levam além de seus limites, descortinando possibilidades de vida, ele também descobre as perdas que lhe cortam parte do passado. Apu perde o pai e a mãe, e se vê então a sós com um mundo a descobrir e que está, no entanto, vazio de seguranças.

Por fim, a trilogia se encerra com "O Mundo de Apu" (dia 17 - 100 min - classificação indicativa: 14 anos), em que o espaço aberto do filme anterior se deixa esgotar, enclausurando o personagem em pequenos espaços da vida adulta. Apu, agora grande, descobre-se novamente pequeno frente às surpresas e tragédias impostas pela vida e pela natureza. Da clausura das poucas possibilidades quando criança, à aparente expansão da juventude, aos cortes da vida adulta: Apu alterna entre espaços e, com ele, aprendemos a olhar para o futuro e para o passado do personagem de formas diferentes.

A história e os dramas de Apu são contados por Satyajit Ray de maneira direta - não há enfeites ou exageros, nem há o sentido de uma grande ação com consequências globais como se costuma ver em filmes de disposições mais comerciais. A vida e as histórias de Apu são de Apu, mas em sua insignificância resta justamente seu contato com o espectador: seus sofrimentos, suas dúvidas e seus anseios são também o de pessoas comuns; indianos, italianos ou brasileiros. Satyajit Ray tira a inspiração baseado no filme "Ladrões de Bicicleta", de Vittorio de Sica, com um olhar simples, uma atuação simples e um filme sem rodeios. Direto, natural e frágil como a vida, o modo de contar da trilogia de Apu resulta em uma visão desencantada, mas ao mesmo tempo, esperançosa."
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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Udaan (2010) - उड़ान

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Quando eu soube que Udaan viria pra 34a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, tudo o que pensei foi que muito dificilmente eu iria me decepcionar com esse filme. Eu havia lido muito pouco sobre e sabia somente que ele trazia em si praticamente a mesma equipe que havia feito Dev.D (2009) - e nada mais.

E então fui vê-lo no cinema e... mas que surpresa! De repente eu estava inesperadamente em frente de um dos mais sensíveis filmes indianos que já vi. Nos seus 30 e poucos anos, Vikramaditya Motwane fez uma incrível estreia na direção, após ter passado os últimos dez anos observando de perto o que ocorria de mais emblemático e determinante no cinema indiano.

Inicialmente, trabalhou como assistente de direção de, nada mais que, Sanjay Leela Bhansali em Hum Dil De Chuke Sanam (1999) e Devdas (2002). Em 2005, no entanto, acabou caindo no seio daquilo que aos poucos foi se configurando como o novo cinema indiano; ao lado de Anurag Kashyap, escreveu os roteiros dos filmes Dhan Dhana Dhan Goal (2007) e, posteriormente, de Dev.D (2009). Foi então que, com a bagagem nas costas, escreveu Udaan e assumiu a responsabilidade de também dirigi-lo, sozinho. E Anurag Kashyap também apostou suas fichas, fazendo de Udaan o primeiro filme produzido por sua recém-fundada produtora. O resultado deu - extremamente - certo.

O filme conta a história de Rohan (Rajat Barmecha), quando, nos seus 17 anos, é expulso do colégio interno com mais três amigos. De volta pra casa, em Jamshedpur, revê o pai (Ronit Roy) que não via nos oito anos em que esteve no internato, além de descobrir que teria que dividir quarto com Arjun (Aayan Boradia), um meio irmão, de sete anos, que não sabia existir. Mas muito pior seria descobrir as regras que o mais que intransigente pai impunha. O sonho de ser escritor não existia frente à imposta ordem de trabalhar na fábrica do pai pela manhã e estudar engenharia pela tarde.

E é nessa realidade que Rohan vai levar o filme pra gente, até o fim. Udaan, em hindi, significa "voar", e é nesse tentando voar com asas cortadas que somos entregues a uma angústia desesperadora e brilhante.

Desesperadora porque não encontramos esperança e a solução mais viável pode parecer ser a menos desejada a um ser humano. Porém brilhante, porque a fuga, o alento e o afeto podem surgir por caminhos inesperados. E é quando o voar acontece e Udaan se faz genial.

Fiquei impressionado com a atuação de todos no filme, mas especialmente de Rajat Barmecha, em absoluto, ou ele não seria jamais capaz de conduzir essa obra. O pequeno Aayan Boradia, também, é genial e imprescindível - ninguém deve perder a maestria e sutileza desse garoto. Aliás, são também imprescindíveis a excelente fotografia do filme e a perfeita trilha sonora, composta por Amit Trivedi e escrita por Amitabh Bhattacharya (com exceção da música "Motumaster", escrita por Anurag Kashyap).

Udaan foi muito bem recebido pela crítica indiana, com ótimos retornos até dos mais criteriosos. E após sete anos, este filme marcou o retorno de um filme indiano ao Festival de Cannes, tendo sido exibido em 2010 na categora "Um Certo Olhar", do Festival.

Não percam, e acho que não preciso dizer mais nada.

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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Peepli [Live] (2010) - पीप्ली लाइव

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Peepli Live (Peepli Ao Vivo) é uma sutil e sarcástica crônica da mais dura realidade indiana. Ao mesmo tempo, no entanto, é uma obra que consegue universalizar uma cruel ferida que, em verdade, é muito mais humana do que pensamos. O filme está na 34a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

É necessário que se diga, também, que Peepli Live é o quarto filme produzido pela Aamir Khan Productions. Isso significa algo muito especial dentro de Bollywood. O primeiro filme deles, Lagaan (2001), concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro; não ganhou, mas a indicação pela Academia foi um verdadeiro reconhecimento nas mudanças que o cinema indiano iniciava naquele momento. O segundo, Taare Zameen Par (2007), foi indicado pelo governo indiano pra concorrer ao Oscar, mas não foi selecionado. Ainda assim, embora não tenha sido selecionado pela Academia, muitos de nós já conhecemos os rumos que esse filme tomou no mundo; no Brasil, por exemplo, este já é o filme indiano mais visto de todos os tempos, somente no boca-a-boca. O terceiro, Jaane Tu... Ya Jaane Na (2008) foi somente uma incursão pelo entretenimento jovem, nada de especial. Até chegar agora Peepli Live e ser, novamente, a indicação do governo indiano para o Oscar.

O filme é a estreia na direção da até então jornalista Anusha Rizvi, que também escreveu o roteiro. Ela apresentou o projeto pela primeira vez a Aamir Khan em 2004, que recusou produzir já que ele estava muito mais preocupado com suas gravações em Mangal Pandey. Mas ela foi persistente, ficou no pé, explicou os detalhes e ele topou. O resultado eu aconselho que todos vejam, que vale a pena.

Peepli Live conta a história do camponês Natha (Omkar Das Manikpuri) e sua família, afundada em dívidas completamente impagáveis. A velha dificuldade do camponês em uma sociedade urbana, ainda que a população rural indiana seja algo em torno de 70%. Eles moram na fictícia vila de Peepli, no fictício estado de Mukhya Pradesh (que em hindi significa, literalmente, "Principal Estado").

Natha e seu irmão, Budhia (Raghuvir Yadav), voltam desolados pra casa com a notícia de que perderão tudo por causa de dívidas, depois de uma visita ao banco. A esposa de Natha, Dhaniya (Shalini Vatsa), e a mãe dos irmãos, Amma (Farookh Zafar), protagonizam momentos dos mais hilários - e angustiantes - do filme. Ilustram a mais indesejada relação de nora e sogra que se pode ter, numa casa de um cômodo, e a sogra, ainda por cima, nunca - eu disse nunca - saindo da cama. E no meio disso mais três crianças.

E é então que, pensando que o líder político local pudesse ajudá-los, Natha e Budhia acabam, isso sim, por receber um conselho nada encorajador: suicidar-se, pois assim a família receberia uma indenização decente. Discutindo sobre isso enquanto tomavam chá num local público, ambos são observados por um jornalista local, Rakesh Kapoor (Nawazuddin Siddiqui), que acaba por levar a notícia adiante.

Acontece que a coisa se espalha de maneira descontrolada e, em menos de dois dias, toda a mídia indiana monta barraca em frente à casa de Natha, à espera de um suicídio ao vivo. Mas o sensacionalismo descarado não se forma somente pela exploração de um coitado; a situação acaba por explicitar um debate político que, inevitavelmente, é nacional. É então que o filme toma seus rumos e Natha torna-se, sem querer e sem controle de nada, catalizador de um triste espetáculo que só uma sociedade dos princípios do século XXI poderia mesmo viver.

Consta que o próprio Aamir Khan faria o papel de Natha, mas sou obrigado a dizer que fico imensamente feliz de o desconhecido ator de teatro Omkar Das Manikpuri ter sido selecionado. A expressão de Natha é impagável.

A vontade aqui era de escrever mais detalhes da história, até seu final. Mas exerço meu autocontrole e faço um apelo pra que, quem tiver vontade, veja o filme.

Peepli Live até que é baseado em fatos reais, mas isso, nesta obra, não é o mais importante. Assusta e angustia ver uma realidade do outro lado do mundo tão próxima de uma realidade que - guardadas todas as proporções - poderia ocorrer aqui. 

O debate político do filme se aproxima desmedidamente do que estamos agora vivendo aqui no Brasil. E ainda, pra quem conhece um pouco mais a fundo da história da Índia recente (últimos cento e poucos anos), é praticamente impossível não lembrar de Gandhi relembrando John Ruskin e Tolstoi e o debate sobre a profunda importância do camponês; ou, também, não lembrar do livro "A Cidade da Alegria", de Dominique Lapierre, depois transformado em filme, com Patrick Swayze. Num país com um bilhão de camponeses miseráveis e cidades famintas por gente, a história ainda vai se repetir por muito e muito tempo.

Anusha Rizvi merece todos os meus parabéns por sua estreia no cinema, muito sensível e muito complexa. A produção da Aamir Khan Productions se faz óbvia em vários aspectos, como muitos figurantes, atores desconhecidos - à exceção de Naseeruddin Shah, que faz o ministro da agricultura -, cidade cenográfica e coisas afins. Impecável. O filme tem algumas imagens que falam muito por si; eu diria que coisas geniais, aliás. E a trilha do filme foi também composta pelos inusitados Indian Ocean, uma banda indiana de indo-rock, fusion e jazz-folk - é mais ou menos assim que eles se definem, mesmo.

Peepli Live foi o primeiro filme indiano a participar da competição oficial do Festival de Sundance, nos EUA, ganhou exibição especial no Festival de Berlim, e levou o prêmio de Melhor Filme de Estreia no Festival de Durban, na África do Sul.

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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Filmes indianos na 34a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

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Queridos, na sexta-feira, dia 22 de outubro, tem início a 34a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, estendendo-se até o dia 4 de novembro. Durante essas duas semanas, como já vem sendo tradição, teremos alguns bons filmes indianos no repertório. E adianto, são imperdíveis.

Os filmes selecionados pra esse ano são: Peepli Ao Vivo (Peepli Live, 2010), Filmando Harishchandra (Harishchandrachi Factory, 2010), Udaan (Udaan, 2010) e Imagens em Processo (Chitra Sutram, 2010). Verei cada um e em seguida postarei meus comentários. Mas para já ir adiantando, gostaria de lembrar que Harishchandrachi FactoryPeepli Live foram as indicações do governo indiano para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 2009 e 2010, respectivamente, sendo o segundo a mais recente produção da Aamir Khan Productions. E Udaan representou o retorno de um filme indiano na seleção oficial de Cannes, após sete anos, agora em 2010.

Confira abaixo os horários e locais de cada filme. Para saber sobre mais detalhes, clique no nome de cada filme para acessar as respectivas páginas no site da mostra.

Peepli Ao Vivo (Peepli Live, 2010)
22/10 - 21h - Centro Cultural Banco do Brasil
23/10 - 14h - Cine Livraria Cultura 2
24/10 - 19h - Cine TAM, Sala 4
27/10 - 14h - Cine SABESP


Filmando Harishchandra (Harishchandrachi Factory, 2010)
22/10 - 14h - Cine SABESP
30/10 - 18h40 - Cinemateca, Sala PETROBRAS
2/11 - 18h30 - Matilha Cultural
3/11 - 17h10 - Unibanco Arteplex 3


Udaan (Udaan, 2010)
22/10 - 18h50 - Centro Cultural Banco do Brasil
30/10 - 14h - MIS (Museu da Imagem e do Som)
31/10 - 17h30 - Unibanco Arteplex 4
1/11 - 19h - Cinemateca, Sala PETROBRAS


Imagens em Processo (Chitra Sutram, 2010)
22/10 - 14h - Unibanco Arteplex 4
24/10 - 20h20 - Unibanco Arteplex 5
26/10 - 14h - MIS (Museu da Imagem e do Som)
4/11 - 17h20 - Reserva Cultural 1

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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Lata Mangeshkar - लता मङ्गेशकर

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Talvez este site fosse mais simpático se ele tivesse sido iniciado, mais de dois anos atrás, com uma postagem sobre Lata Mangeshkar, provavelmente a mais importante personalidade da Índia ainda viva.

Num país em que o cinema rege a sociedade, num país em que a música rege o cinema, ser cantor de playback deste cinema é estar em um posto talvez mais sagrado do que os que estão os atores. Se os atores estão sujeitos às subjetividades e projeções de cada um, que os fazem ser amados ou odiados, os cantores costumam ser praticamente unanimidade entre o público, variando efetivamente muito pouco, mudando somente pelo gosto de tom de voz, harmonia etc.

Pois e ser cantor de playback do cinema indiano é saber que as músicas não são suas, ou, mesmo se forem compostas pelo próprio cantor (como são alguns dos casos das músicas de A.R. Rahman, ou mesmo do trio SEL), ainda assim as músicas são muito mais do filme e - ainda mais - serão dos atores e das respectivas cenas de dança em que estiverem inseridas, se estiverem.

E, pra começar, Lata (lê-se Latá) já tem sua importância por disputar com Asha Bhosle o recorde de maior número de gravações já feitas no mundo por um único cantor, segundo o Guinness. As coisas ficam ainda mais interessantes quando sabemos que Asha Bhosle é simplesmente irmã de Lata Mangeshkar, com apenas quatro anos de diferença entre elas. Mas Lata diferencia-se - daí sim - por ter criado todo um estilo de cantar posteriormente imitado e reproduzido nos últimos sessenta anos do cinema indiano, inclusive por Asha.

Bom, Lata nasceu no dia 28 de setembro de 1929 em Indore, no Madhya Pradesh, embora sua família seja originária do Maharashtra da região de Konkan, próximo a Goa (por isso o sobrenome terminado em "kar", comum nesta região do estado). Seu pai, Pandit Deenanath Mangeshkar, era já um ator de teatro e cantor clássico. Ao nascer, Lata foi batizada como Hridaya, mas seus pais mudaram seu nome após uma muito bem sucedida peça do pai, cuja personagem principal era Latika. Lata é a filha mais velha do casal e todos os outros, Asha, Hridayanath, Usha e Meena são também cantores e/ou compositores.

A lenda diz que (pausa: entendemos já que Lata é uma lenda, viva que seja, quase um mito) Lata aprendeu a cantar tão cedo que, no primeiro dia de aula, tomou o lugar da professora e começou a ensinar seus amiguinhos a cantar. Ao ser reprimida pela professora, foi embora e não quis mais voltar pra escola. Mas como todo bom mito, há outra versão da história que diz que ela não quis mais ir à escola porque não deixaram que ela levasse consigo sua irmã Asha, que era mais nova e deveria ficar em outra turma.

E quando Lata tinha 13 anos, seu pai morreu e ela ficou sem seu mestre. Mas foi nesse momento que um grande amigo da família, Master Vinayak, aproximou Lata do cinema, já na década de 40. Foi assim que, em 1942, ela gravou a música "Naachu Yaa Gade, Khelu Saari Mani Haus Bhaari", pra um filme em língua marathi chamado Kiti Hasaal, mas que no final das contas foi eliminado da edição final. Mas ainda no mesmo ano ela gravou outra música, "Natali Chaittrachi Navalaai", do filme Pahili Mangala-gaur, também marathi. Em 1945 Lata mudou-se pra Mumbai, justamente quando a produtora de Master Vinayak foi também para lá e passar a trabalhar efetivamente em Bollywood, com filmes em hindi.

Lá, Lata passou a ter aulas de canto indiano clássico com Ustad Amanat Ali Khan Bhendibazaarwale. No entanto, com a independência da Índia e consequente partição do país com o Paquistão, ele teve de se mudar para o recém-criado país muçulmano. Foi então que ela passou a ser treinada por Amanat Khan Devaswale que, embora também muçulmano, não mudou-se ao Paquistão.

Com a morte de Master Vinayak, em 1948, Lata passou a ser promovida por Ghulam Haider, que acreditava com todas as suas forças que ela se tornaria uma referência, embora houvesse muita resistência por sua voz tão fininha. Mas a resistência muito logo caiu por terra. Já nos anos 50, a voz de Lata aparecia nas músicas de imensos sucessos não só de Bollywood, mas como também em filmes das outras grandes indústrias de cinema indiano. E todas as outras cantoras que surgiam naquele momento, ou que vieram depois, assumidamente adotaram o estilo de Lata, fazendo de seu estilo, voz e harmonia, a verdadeira voz da música indiana.

Hoje, não existem dados muito precisos do número de gravações que Lata já fez, mas consta que, no mínimo, passam de 40 mil as músicas já por ela cantadas, em pelo menos 20 das tantas línguas que existem na Índia.

Recentemente, Lata praticamente não grava mais músicas para os filmes indianos, dando espaço às novas-já-consolidadas vozes. Em 2004, ela ganhou uma relativa projeção internacional por ter uma música gravada por ela, "Wada Na Tod", fazendo parte da trilha do filme estadunidense Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças ("Eternal Sunshine of the Spotless Mind"), originalmente gravada pro filme Dil Tujh Ko Diya, de 1987. Coloco abaixo essa música, com a cena do filme original.

E o trabalho de Lata foi reconhecido, no mínimo, por todas as condecorações que o governo indiano tem a oferecer. Foi o Padma Bhushan, em 1969, o Dada Saheb Phalke, em 1989 (este dado às grandes contribuições ao cinema indiano), o Padma Vibhushan, em 1999, e o Bharat Ratna, em 2001. Além destes de extrema importância, Lata recebeu outras dezenas de prêmios e reconhecimentos por seu trabalho.

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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Dunno Y, o beijo gay e a censura

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Já não é de hoje que essa polêmica existe e que falamos dela por aqui. Para um país que descriminalizou a relação homossexual há pouco mais de um ano, não é difícil imaginar como essa questão é um tabu desmedido na Índia.

Bom, e faz um tempo havíamos falado do filme chamado I Am, composto por curtas que, dentre os quais, um abordaria um casal gay e teria cena de beijo, inclusive, com nada mais que Rahul Bose no papel principal. Dessa vez, porém, a polêmica é maior porque Dunno Y... Na Jaane Kyon (Não Sei Porque) é um filme inteiro sobre essa temática, abordando em alguns momentos cenas de muita intimidade entre dois homens - um casal homossexual.

Embora já pronto, já exibido em um festival na própria Índia (o Mumbai International Queer Film Festival) e também já inscrito em outros festivais pelo mundo, a censura do governo indiano está pedindo que tais cenas de muita intimidade sejam cortadas ou refeitas para que Dunno Y possa então entrar em cartaz no país. 

Isso não necessariamente estragaria o filme, se tivermos como base a sensibilidade que tem, por exemplo, My Brother... Nikhil (2005), cujo personagem principal, Nikhil, é gay e contrai o vírus HIV. Ao contrário de casos anteriores, Nikhil e seu parceiro, Nigel, não são estereotipados, mas também não há cena alguma de beijo ou outro tipo de intimidade maior. 

Mas o que Dunno Y revela, assim como outros casos recentes do cinema indiano, como LSD (2009), é que ainda há um caminho muito longo pra ser percorrido até que um cineasta indiano consiga a liberdade plena de realizar sua arte à vontade, sem interferências, dentro do próprio país.

De qualquer forma, é importante que fique claro que o órgão de certificação do cinema indiano (leia-se de censura), controlado pelo governo, não impõe suas ordens do nada e por manipulação de cima pra baixo. Isso é um reflexo puro da própria sociedade do país.

O maior exemplo que se pode observar, neste caso em específico, diz respeito ao próprio ator que fez um dos personagens do casal gay de Dunno Y. Yuvraj Parasher foi simplesmente deserdado da família, literalmente expulso do núcleo familiar, assim que maiores polêmicas surgiram pelo país inteiro ao ser anunciado o filme.

O outro ator, Kapil Sharma, não sofreu efeitos desse tipo porque, afinal, ele é também o autor do roteiro original, além de ser irmão do diretor, Sanjay Sharma. Yuvraj não teve a mesma sorte familiar, ainda que, ao que indiquem as coisas, ele seja hétero. Cinema, na Índia, pode ser coisa mais séria do que a gente pensa.

Mas as repercussões com esse filme não se resumem somente ao fato de ter um casal gay como personagens principais - e que ainda se beijam -, mas também por ter contado com uma estratégia quase imbatível de convencimento: o elenco do filme, com exceção dos próprios protagonistas, é composto por estrelas das mais brilhantes que o cinema indiano já teve em sua história. Atrizes como Zeenat Aman e Helen, por exemplo, que são unanimidade dentre os indianos por seus trabalhos no cinema em décadas passadas, estão presentes. O ator Kabir Bedi, também unânime, faz parte do elenco. Ou mesmo do presente, como Rituparna Sengupta, que é a mais famosa atriz bengalesa do momento, também aparece no filme. 

Enfim, mas ainda assim, a polêmica existe e é grande. Não sei por quê, I really dunno y.
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