quinta-feira, 30 de abril de 2009

Turbulências no Cinema Malayalam

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Encontrei na net dois artigos que falam sobre os maus bocados por que passa a indústria de cinema malayalam, do Kerala, um dos quatro estados sulinos da Índia. A situação é tão grave que um dos artigos tem como tema a séria decisão que os maiores produtores malayalam estão pensando em tomar, de mudar seus escritórios pra Chennai, no estado vizinho de Tamil Nadu, onde o cinema, ao contrário, fortemente prospera com Kollywood. O outro artigo (o primeiro que aparece na ordem abaixo), fala justamente do desagravo dos trabalhadores do cinema do Kerala em relação aos produtores. Vale dizer que o Kerala é um estado com forte base socialista na política e na população, o que os fazem por um lado terem uma taxa de 100% de alfabetização (a maior da Índia), mas por outro lado um dos maiores índices de greves da Índia.

Bom, agora confiram os artigos já traduzidos:

A indústria de filmes malayalam passa por maus momentos
por Akhel Mathew, da Gulfnews.com (30 de abril)

Thiruvananthapuram: A indústria de filmes malayalam, que anda em crises financeiras nos últimos anos, vem enfrentando crescentes brigas entre diversos setores dos trabalhadores dessa indústria.

O último grupo que levantou os braços foi o Malayalam Cinema Technicians' Association Federation (MACTA), que é afiliada à All India Trade Union Congress (AITUC). A Macta ameaça entrar em greve no meio de maio pra protestar contra um suposto não cumprimento das leis trabalhistas no setor de cinema do Kerala.

O presidente da Macta, Vinayan, e o secretário geral da AITUC, Kanam Rajendran, disseram que as demandas ainda incluem pedidos de aumentos salariais para os técnicos. Eles afirmam que a Associação dos Produtores de Filmes e a Câmara de Filmes do Kerala estão indo contra as necessidades laboriais de seus funcionários.

Uma rodada de conversas que havia sido marcada pra quarta-feira com a presença do Comissariado do Trabalho acabou não ocorrendo efetivamente já que os representantes da associação dos produtores não compareceram. Os representantes da Macta estão agora planejando dar um indicativo de greve à associação dos produtores e fazer uma convenção em Kochi, no dia 9 de maio, antes de decidirem realmente pela greve geral no meio do mês. A ideia da convenção em Kochi é ressaltar as necessidades de proteger os direitos dos trabalhadores do cinema, disseram os representantes da Macta.

A indústria de cinema malayalam vem enfrentando sérios problemas desde o ano passado, quando a Macta rompeu e um novo grupo surgiu, chamado Film Employees Federation of Kerala. Mas isso, por sua vez, já ocorreu por causa dos problemas financeiros que já estavam na pauta do dia.
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Maiores produtores malayalam planejam mudar suas bases para o Chennai
por N.J. Nair, do The Hindu (24 de abril)

Thiruvananthapuram: Os maiores produtores da indústria de filmes malayalam estão seriamente pensando na possibilidade de mudarem suas operações para Chennai, por causa dos descontentamentos dos trabalhadores e das brigas entre as associações do Kerala.

Os distúrbios frequentes, brigas entre diferentes setores e o banimento imposto unilateralmente a alguns artistas está ameaçando gravemente o balanço financeiro do cinema malayalam, que tem um retorno anual de cerca de 3 bilhões de rúpias (cerca de 150 milhões de reais) e emprega cerca de 100 mil pessoas.

A produção de um filme custa algo em torno de 1,5 a 2 milhões de reais. Enquanto a indústria emprega 50 mil pessoas diretamente, outras 50 mil são indiretamente empregadas, se não for mais. De 60 a 70 filmes feitos no Kerala incentivaram a hospitalidade do povo malayalam, além de dar incremento a outros setores. Fontes do cinema malayalam disseram ao The Hindu que os benefícios oferecidos pelo governo local, aliados à vontade de produtores, atores e técnicos de produzirem em sua terra natal havia feito o cinema malayalam ser produzido no Kerala [nota do Ibirá: essa história de indústrias regionais produzirem em outros estados já não é de hoje, principalmente em relação à indústria malayalam, que outrora já produziu em Chennai].

Forte Ruptura

Mas as grandes diferenças de opinião entre as tantas organizações e os percalços por eles impostos às filmagens vêm fazendo os produtores pensarem bem a respeito da possibilidade de retornarem a Chennai mais uma vez. O encolhimento do mercado e a crise econômica já estava fazendo eles cogitarem esta possibilidade. A produção de filmes no Kerala caiu de 150 pra 60 por ano e os retornos das bilheterias têm caído na mesma proporção.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Selo Blog Amigo

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A professora Sandra Bose, dos blogues Indi(a)gestão e Respeito à Natureza, agraciou o nosso Cinema Indiano com o simpático Selo Blog Amigo, mais um pra nossa singela coleção.

Não que eu tenha o dever de passá-lo adiante, mas acho que na blogosfera essas coisas fazem parte. Então decidi escolher apenas um blog pra presentear, que considero também super eficiente na divulgação do cinema indiano pra comunidade lusófona de nosso mundo: o Grand Masala. Colegas portugueses grand-masalentos, sintam-se agraciados!
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terça-feira, 28 de abril de 2009

"City Lights" - Happydent White

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No ano de 2007, um comercial indiano do Happydent White, chamado City Lights, levou o Leão de Prata no Festival de Cannes que premia as melhores peças publicitárias do mundo. Levada ao ar na Índia em julho de 2006, o comercial que vocês verão a seguir foi realizado pela agência de publicidade McCann Erickson Índia, criada por Prasoon Joshi e dirigida por Ram Madhwani, ambos da Equinox Films.

Prasoon Joshi já é muito conhecido pelos indianos e é chamado de "Guru das Propagandas". trabalhando na área da publicidade, Joshi originalmente começou fazendo suas propagandas (como faz até hoje), mas pouco a pouco entrou no mundo de Bollywood, como roteirista e escritor de músicas. E foi como escritor de músicas que ficou famoso em Bollywood; em 2005, levou o prêmio da Star Screen Award pra melhor letra de música, por "Sason ko Sason", do filme Hum Tum. Em 2007, foi a vez do Filmfare Awards dar o prêmio de melhor letra pra "Chand Sifarish", do filme Fanaa. E finalmente, em 2008, Joshi levou o mesmo prêmio do Filmfare Awards, dessa vez para a música "Maa", do filme Taare Zameen Par.

Finalmente, confiram o comercial:



O comercial conta com 20 atores-acrobatas, que realmente estavam pendurados nos postes e lustres. Do total, 12 deles vieram do Kerala e o restante de Mumbai, perto de onde o comercial foi gravado. A letra da música, "Tera Dil Roshan, Tera Mann Roshan", foi escrita por Prasoon Joshi e cantada por Kailash Kher, Pranav Biswas, Shantanu Moitra e o próprio Prasoon Joshi.

Dois anos antes, porém, um outro comercial indiano, Smile, do chiclete Happydent White chegou às finalistas no mesmo Festival de Cannes. Feito também pela McCann Erickson, mas produzido dessa vez pela Magic Black Motion Pictures, essa propaganda é relativamente mais simples e foi dirigida por Abhijit Chaudhuri. Eles acabaram não sendo premiados, mas o comercial é também bem engraçado. Confiram:

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domingo, 26 de abril de 2009

A.R. Rahman - ஏ.ஆர்.ரகுமான்

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Estou devendo já faz tempo uma postagem sobre o mestre indiano das trilhas sonoras, A.R. Rahman.

Rahman nasceu no dia 6 de janeiro de 1966 e foi batizado como A.S Dileep Kumar, em Chennai (antiga Madras), capital do Tamil Nadu, no sul da Índia. Seu pai, R.K. Shekhar, era um músico e trabalhava há tempos na produção de trilhas sonoras para os filmes malayalam, no estado vizinho do Kerala. Embora seu pai fosse hindu, sua mãe, Kareema, era de família muçulmana. Seu pai morreu cedo e Rahman ficou somente aos cuidados de sua mãe. Em 1989, como forma de agradecer a todo o carinho que dela recebeu, converteu-se ao islamismo, seguinto a linha Sufi, sendo então rebatizado como Allah Rakha Rahman. Hoje é casado com Saira Banu e tem três filhos: Khadijah, Rahima e Aameen.

Ainda jovem, começou a trabalhar tocando teclado em bandas de rock do Chennai e fundou o grupo Nemesis Avenue. Nessa banda, tocava teclado, piano, harmônica e violão, além de ter aprendido a dominar o sintetizador. E foi aprendendo a usar o sintetizador que ele ficou mais curioso com o mundo da música, experimentando o que a tecnologia podia fazer.

Logo cedo também foi ter aulas com o Mestre Dhanraj, um famoso professor de música do Chennai. A partir dele, acabou sendo tecladista do grupo de Ilaiyaraaja aos 11 anos de idade. Em seguida, com seu reconhecimento, foi tocar na orquestra de M.S. Viswanathan e Ramesh Naidu, que rodou o mundo fazendo apresentações. Finalmente, o seu talento rendeu-lhe uma bolsa na Trinity College of Music, no Reino Unido, onde graduou-se em Música Clássica Ocidental.

De volta pra Índia, Rahman criou seu estúdio nos fundos de sua casa, em 1992, chamado Panchathan Record Inn, que posteriormente tornou-se o mais avançado estúdio de música de toda a Índia. Incialmente, seu estúdio compunha jingles para peças publicitárias e para programas de televisão da Índia. No entanto, no mesmo ano, o diretor de cinema tamil Mani Ratman convidou-o a fazer a trilha do filme Roja. A trilha foi tão bem sucedida que Rahman levou o prêmio Rajat Kamal de Melhor Trilha Sonora no National Film Awards, a primeira vez que isso ocorria para um compositor estreante. Depois disso, ele levou o mesmo prêmio mais três vezes (também recorde pra um compositor indiano), para Minsaara Kanavu (1997), Lagaan (2002) e Kannathil Muthamittal (2003).

A trilha de Roja, na verdade, criou um novo marco na história do cinema indiano, com letras e composições mais trabalhadas. Como o filme foi filmado também em outras línguas indianas para ser passado em todo o país, da mesma maneira Rahman fez as mesmas músicas nas diferentes línguas. Ele foi em seguida premiado pelas trilhas de Gentleman, Kandhalan e Bombay, este último que disparou sua fama, com a música tema do filme.

Em 1995, o filme Rangeela, de Ram Gopal Varma, marcou sua estreia em Bollywood e seus primeiros prêmios pelo Filmfare Awards, de melhor trilha sonora e melhor compositor estreante. Depois fez sucesso com Taal e Dil Se (a música Chaiyya Chaiyya, desse último filme, foi classificada como a nona música entre as dez melhores de todos os tempos, de acordo com o BBC World Service), ambos rendendo de novo prêmios de melhor trilha sonora pelo Filmfare Awards. Alguns diretores confessam que não conseguem mais fazer filmes sem ter Rahman como o compositor das músicas. O próprio Ratnam, do estreante Roja, nunca usou outro músico além de Rahman. Ashutosh Gowariker, após tê-lo em Lagaan, permaneceu com ele em Swades e em Jodhaa Akbar. As trilhas dos três filmes da Trilogia dos Elementos de Deepa Mehta foram feitas por Rahman. Rakesh Omprakash Mehra, também após chamá-lo para a trilha de Rang De Basanti, tornou a chamá-lo para Delhi 6. Foi Rahman que fez a trilha de filmes como Mangal Pandey, Guru, Jaane Tu Ya Jaane Na e o sucesso Ghajini.

Neste ano de 2009, porém, A.R. Rahman ficou internacionalmente conhecido por ter feito a trilha sonora de Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire) e levar consigo os Oscars de melhor trilha sonora e de melhor música, por Jai Ho. Mas essa não foi a estreia de Rahman no Oscar e menos ainda em um filme não indiano. Duas de suas músicas em Rang De Basanti concorreram ao Oscar de melhor música original, mas não levaram o prêmio. Em 2003, fez a trilha para o filme chinês Warriors of Heaven and Earth. E o filme americano
Elizabeth: The Golden Age, com Cate Blanchett, teve trilha sonora composta conjuntamente com Rahman e Craig Armstrong, em 2007.

Em 2005 ele resolveu ampliar seus estúdios, criando a AM Studios, em Chennai, agora considerado o melhor estúdio de toda a Ásia. No ano seguinte ele criou também seu próprio selo, o KM Music.

Nas suas músicas, Rahman tenta fazer uma convergência das músicas clássicas indianas, com a música ocidental, seja a clássica, sejam as populares, como o rock, o reggae, o jazz e o rap. No total, já levou até agora 34 prêmios, sendo 2 óscares.

Assim como o trio SEL, Rahman também está envolvido com obras sociais, focando desde as crianças desprotegidas da Índia, até as famílias afetadas pelo tsunami em 2004. Ele também criou uma composição para o hino nacional indiano, o Jana Gana Mana, que hoje passa nos cinemas da Índia antes de os filmes começarem. Em 2006, fez a música do vídeo de campanha do projeto The Banyan, que resgata mulheres de rua com problemas mentais em Chennai. Em 2008, criou a música Jiya se Jiya, para a campanha Free Hugs na Índia, que hoje passa em quase toda a Índia.

E aqui vai o site oficial de Rahman.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Caneta Camlin

A partir desse momento, o blog Cinema Indiano passa oficialmente a também transmitir informações sobre a produção publicitária da Índia, já que muitas das produtoras de Bollywood são também produtoras de peças comerciais naquele país, além de ser muito comum a presença dos atores do cinema. E é justamente a presença desses atores nas propagandas da Índia que aqui mesmo, no Cinema Indiano, já falei sobre dois comerciais indianos (Tata Sky e Pond's White Beauty), além de ter citado outras obras feitas pelo trio SEL.

Mas agora passarei a trazer também peças publicitárias com atores anônimos, mas que de alguma maneira destacam-se do padrão normal de fazer propaganda. Afinal de contas, por trás delas há toda uma equipe que quase sempre não se diferenciam em nada das equipes que fazem o cinema. E de cinema indiano em cinema indiano, estamos agora dando apenas mais um passo em direção à amplitude desse tipo de produção na Índia.

Então hoje vamos ver um vídeo que encontrei de uma propaganda da caneta Camlin, que em sua simplicidade, é muito rica em termos culturais. Logo no começo do vídeo, um texto diz o seguinte:

"Na Índia, pulseiras, pingentes e o vermillion na testa são símbolos da mulher casada. Diariamente, os maridos aplicam o vermillion na testa de suas esposas, já que se diz que isso está ligado à vida deles. Quando o marido morre, as Rudalis (profissionais de funeral) chegam e retiram da mulher todos esses símbolos".

A continuação da propaganda deve ser vista por vocês mesmos. Divirtam-se!



segunda-feira, 20 de abril de 2009

AAG (2007) - आग

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Eu já disse algumas vezes que tem filmes que simplesmente nem mereciam ter sido feitos. E claro, sou um pouco chato pra filmes, alguns de vocês já devem ter percebido, mas a questão aqui é que dessa vez quem diz isso são os próprios pouquíssimos exigentes indianos. E esse filme foi mais um dos que estiveram na III Mostra Bollywood e Cinema Indiano de São Paulo, realizada em março.

AAG, ou na verdade Ram Gopal Varma Ki Aag, é uma refilmagem do super sucesso de Bollywood Sholay, de 1975. O diretor, Ram Gopal Varma, colocou seu próprio nome no título do filme, deixando claro que, embora refilmagem, o filme é antes de tudo uma releitura sua. Originalmente, o filme chamaria-se Ram Gopal Varma Ki Sholay, mas problemas com os direitos autorais do nome original fez com que ele mudasse a última palavra pra aag, ou fogo, em hindi, pois sholay significa brasa.

Antes mesmo de eu fazer uma breve sinopse desse filme, preciso dizer outros dados que são importantíssimos. O primeiro dado é em relação ao filme Sholay, que simplesmente foi o filme que mais arrecadou na história de Bollywood, sendo ultrapassado somente agora, por Ghajini. Varma tinha certeza que faria de novo um grande sucesso. No entanto, após grande mistério da espera do lançamento, quando o filme estreou o fracasso foi tão grande que não durou nem duas semanas nos cinemas da Índia. Considerando isso mais o custo de produção e o total arrecadado, dizem que AAG pode ter sido o maior fiasco da história de Bollywood.

O filme conta a história de dois jovens sem escrúpulos na vida, Heero e Raj, que inicialmente trabalhavam de guarda-costas de um político, mas se metem em roubadas e acabam mudando-se pra Mumbai. Lá eles vão trabalhar pra um mafioso chamado Shambhu, até que são presos pelo Inspetor Narsimha. O inspetor, por sua vez, convence os dois a ajudá-lo a prender Shambhu e a missão é bem sucedida. No final, porém, ambos são presos de volta. No entanto, após um ano de prisão, o Inspetor Narsimha volta a falar com eles, mas dessa vez para recrutá-los a uma tarefa muito mais importante: capturar o temível Babban Singh, que havia matado sua esposa e seu filho, além de ter amputado seus braços.

Eles então iniciam a dura empreitada. Mas como Bollywood não pode deixar de ter momentos de grandes descontrações, eis que aparece em cena Ghungroo, uma garota motorista de auto-riquixá, que logo cai nas graças de Heero. Raj, por sua vez, apaixona-se pela viúva do filho do Inspetor Narsimha, Durga, interpretada por Sushmita Sen (e eu diria que se em alguma parte o filme teve algum traço de beleza, ele veio da interpretação de Sushmita).

Mas até agora ninguém viu Babban, o terrível. Na cena em que ele aparece, em seu galpão obscuro e sujo, todo um mistério é feito antes de mostrá-lo, na desnecessária tentativa de sobrevalorizar o ator que o interpretaria: Amitabh Bachchan. O filme então vira uma espécie de "duro de matar", onde todos morrem, menos Babban, que permanece o tempo todo imbatível, chegando a dar um pouco de angústia, até - eu confesso. O final eu não preciso contar, já que tem mesmo cara de ser super previsível. Ah sim, e no meio disso tudo, como se Bollywood já não tivesse feito o seu "melhor", numa das músicas do filme aparece nada mais que Abhishek Bachchan, o filho, em mais uma das muitas vezes totalmente desnecessárias special appearances dos filmes de Bollywood.

Acabo de descobrir que Varma, muito descontente com o fracasso de AAG, disse que fará de novo uma refilmagem do filme. Nas palavras dele, a refilmagem dessa vez será de AAG, não de Sholay, porque ele acredita que se a releitura do primeiro foi um fracasso, então refazer o segundo pode trazer de volta o sucesso do filme de 1975. É ver pra crer, não tenho mais o que dizer.

Vejam o trailer do filme e em seguida a música em que aparece Abhishek, o filho:





sábado, 18 de abril de 2009

Os judeus na origem do cinema indiano

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É sempre muito interessante descobrir a verdadeira origem das coisas. Ao menos pra mim, desvendar os mistérios por trás do presente é extremamente fascinante, sobretudo quando o fato presente está na Índia, que tem a capacidade de deixar tudo ainda mais interessante, seja no bom ou no mal sentido. Quando criei este blog, pouco a pouco eu fiz postagens sobre cada uma das indústrias regionais de cinema da Índia, contando resumidamente suas histórias. Em nenhum momento das pesquisas que fiz, porém, encontrei informações que revelassem quem executou papel determinante na construção da hoje mais prolífica indústria de cinema do mundo.

O fato é que na origem do cinema indiano - de Bollywood, principalmente - estavam alguns judeus indianos que foram absolutamente fundamentais. Tudo bem, posso ter sido um pouco negligente e preguiçoso por não ter encontrado esses dados antes, mas a verdade é que essas informações parecem ter ido a Israel junto dos tantos indianos judeus que para lá foram quando da criação daquele Estado. E não fosse a Prof. Sandra Bose sugerir-me fazer esta postagem no mesmo dia em que ela fala sobre a história dos judeus na Índia no seu INDI(A)GESTÃO, nós permaneceríamos sem saber de nada do que falarei aqui.

Bom, a história é a seguinte: até a independência da Índia, havia ali cerca de 30.000 judeus, de 4 comunidades diferentes. Hoje há algo em torno de 5.500 que por lá permaneceram ou retornaram. Uma das comunidades mais antigas, a Bene Israel, fixou-se há pouco mais de 2000 anos na região do Konkan, a costa do estado do Maharashtra, incluindo a atual capital, Mumbai.

No início do século XX, quando o cinema chegou à Índia, um certo problema surgiu. Ainda que os filmes fossem mudos naquele princípio, as muito tradicionais famílias hindus e muçulmanas tinham um certo preconceito em ver suas mulheres atuando, mas filmes só de homens seriam um tanto chatos. As famílias judias do Maharashtra, porém, não tinham problemas com isso e logo as primeiras mulheres a aparecerem no cinema mudo indiano eram judias. No entanto, esse laço que inicialmente surgiu pela necessidade de também ter mulheres no cinema, logo se transformou numa relação muito mais íntima.

Imediatamente, nomes como Firoza Begum (originalmente Susan Begum, à direita), Sulochana (Ruby Meyers, abaixo, à esquerda), Nadira (Farhat Ezekiel) e Pramila (Esther Abraham, na foto do início da postagem) eram os nomes mais venerados da recém-nascida Bollywood. Ainda durante o cinema mudo, Sulochana foi a atriz mais bem paga de seu tempo, recebendo um salário de 5 mil rúpias. Já no final da década de 40, com o cinema já falado, Pramila foi a primeira Miss India do país já independente. Pramila também teve uma outra importância para a comunidade judaica indiana, ao representar e dar visibilidade ao grupo de judeus chamados Baghdadis, que chegaram na Índia no século XVIII, quebrando um pouco a hegemonia do grupo dos Bene Israelis.

Além disso, um fato fazia do grupo dos Baghdadis destacarem-se perante os outros judeus da Índia e logicamente em relação aos outros indianos em geral: a pele clara. A teoria diz que, naquele tempo, o modelo de glamour e mulher bonita no cinema era Greta Garbo, de pele logicamente clara, e ser semelhante a ela era algo bacana em todo o mundo. Não que Pramila parecesse exatamente com ela, mas a tentaiva realmente existia. É claro que a polêmica da pele clara na Índia é mais complexa que isso, mas certamente esse fator contribuiu - e muito - para o estabelecimento de uma estética que até hoje Bollywood não superou.

Também no princípio do cinema indiano, algumas das primeiras produtoras acabaram sendo fundadas por judeus, alguns maridos dessas atrizes que se faziam tão necessárias. Um dos exemplos é a Bombay Film Lab Pvt Ltd, fundada por Salomon Moses na década de 40 e que até hoje existe em Bollywood.

Mas talvez uma dos fatos mais interessantes da presença judia em Bollywood diz respeito ao filme Alam Ara (Luz do Mundo), o primeiro filme falado da Índia, lançado no dia 14 de março de 1931. O que talvez tenha sido um dos maiores eventos de Mumbai na primeira metade do século XX, o filme Alam Ara teve roteiro e algumas das músicas escritos por Joseph David Penkar, um judeu indiano da comunidade Bene Israel. E foi esse filme - isso é a história que conta - que oficialmente fundou Bollywood, sem tirar nem por.

Ainda existem algumas más línguas que dizem que a comunidade Bunt, no estado do Karnataka, fronteira com o Kerala, da qual vieram Aishwarya Rai e Shilpa Shetty, é originalmente da linhagem dos judeus de Kochi. Isso também justificaria a pele mais clara das pessoas dessa comunidade. Mas são apenas más línguas que dizem isso. Oficialmente, a comunidade Bunt nada tem a ver com os judeus.

Pra quem ficou mais curioso sobre a presença dos judeus no cinema indiano, há algumas outras informações mais detalhadas na internet, em inglês. Sobre a história dos judeus na Índia, não deixe de ler a postagem de hoje no INDI(A)GESTÃO.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Aamir Khan surpreende em comercial

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Eu adoro a curiosidade e gosto mais ainda quando os resultados da curiosidade alheia são compartilhados com outros curiosos de plantão. Estava eu aqui tranquilo, quando fui surpreendido com um email da minha colega das bandas de Portugal, que também se esforça em trazer ao português as novidades do cinema indiano, com o seu Grand Masala. Neste curtíssimo email havia um link pra uma postagem em outro blog, que falava de mais uma das tantas façanhas que não cansamos de ver de Aamir Khan. E dessa vez eu simplesmente achei fantástico! Recentemente eu havia dito que não falaríamos tão cedo do Aamir, porque senão ficaria chato ter tanta coisa seguida dele, mas isso foge dos meus controles e preciso compartilhar o que recebi com vocês!

Bom, trata-se de um comercial de televisão estrelado por Aamir Khan em dobro, sobre a Tata Sky, a operadora de TV via satélite do Grupo Tata (aos entendidos, o mesmo grupo que lançou o Tata Nano, o carro mais barato do mundo). No comercial, Aamir interpreta um casal punjabi recém-casado, que estão discutindo sobre qual operadora de TV paga eles usarão. Enquanto a esposa diz que quer a Sky, o marido diz que quer a Tata. No fim, descobrem que eles estão falando da mesma operadora e o final é feliz. Mas o mais legal de tudo é que Aamir não gravou as cenas separadas da mulher e do homem, mas ele faz os dois ao mesmo tempo. Sua roupa, do lado direito, é uma bela salwar kameez rosa, enquanto que do outro lado é um sherwani azul.

Sobre a produção do comercial, Aamir Khan disse: "Eu tive que mudar a linguagem do meu corpo de mulher pra homem em menos de um segundo, minha mente tinha que estar alerta e afiada. (...) Foi bizarro, porque era eu como um homem e como uma mulher, bastava virar de lado". Mais informações podem ser encontradas no blog Raniel.

Agora, por favor, divirtam-se com o comercial (em hindi)!



Colaborou Barbarella.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Shivaji domina as bilheterias do Maharashtra

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Quem conhece um pouco da história do Maharashtra há de ter ouvido também o nome de Chhatrapati Shivaji Maharaj. Se não ouviu, mas passou ao menos por Mumbai,- capital do estado -, eu diria que então não percebeu o nome dele por todos os lados. Pra começar, o aeroporto internacional de Mumbai chama-se Chhatrapati Shivaji International Airport e a mais famosa estação de trem anglo-indiana de Mumbai, mundialmente conhecida por Victoria Terminus, hoje chama-se Chhatrapati Shivaji Terminus.

Shivaji Bhosle, hindu, nasceu perto de Pune numa família de funcionários do império Mogol, um dos maiores impérios islâmicos que já existiram no mundo e que chegou a dominar, no ano 1700, praticamente toda a Índia, incluindo o que hoje é o Bangladesh, Paquistão, Afeganistão, Nepal, Sri Lanka e parte do Irã. Dentre os imperadores mugais mais famosos estão Akbar e Shah Jahan, esse último famoso pela construção do dispensa-apresentações Taj Mahal, o túmulo de uma de suas concubinas preferidas, Mumtaz Mahal. Neste cenário todo, a mãe de Shivaji sempre disse a ele que a Índia não poderia ficar nas mãos do império Mogol e que alguma coisa deveria ser feita.

E ele fez. Aos 17 anos armou sua primeira emboscada contra um dos fortes mugais perto de Pune, e assim foi dominando um por um, sucessivamente. Logo tornou-se rajá (rei), e foi ampliando seu domínio, acabando por conformar as fronteiras do que hoje é o estado do Maharashtra, ou Grande Nação. Shivaji é louvado não só dentro das fronteiras que fundou, mas também em grande parte da Índia, por ter dado início à derrocada do Império Mogol, por ter desenvolvido um exército revolucionário e por ter criado a primeira frota naval da Índia bem organizada.

Bom, mas to falando tudo isso não só pra trazer um pouco de história pra vocês (o que é sempre bom!), mas principalmente pra introduzir-lhes a uma reportagem que encontrei sobre um filme marathi que já bateu os recordes de todos os tempos do Maharashtra, não sendo em língua hindi. O filme, Mi Shivajiraje Bhonsale Boltoy (मी शिवाजीराजे भोसले बोल्तोय - Eu Sou Shivaji Bhosale Falando), conta a história de um homem, Dinkarrao Bhonsale (o mesmo sobrenome do marajá), que não era respeitado por ninguém e tinha vergonha de ser marathi. Mas eis que Shivaji em pessoa aparece pra ele e faz a situação reverter-se, mostrando a ele como os desafios devem ser enfrentados e vencidos. É a fórmula que os indianos tanto gostam, ainda mais com um ícone desses. E na indústria de cinema do Maharashtra falada em marathi, afogada por trás de Bollywood e seu hindi, o sucesso desse filme tem ainda um valor simbólico mais forte, como se Shivaji Maharaj contribuísse, uma vez mais, a trazer a supremacia do povo maratha. Leiam agora a reportagem que me instou a escrever tudo isso a vocês:

Marajá Shivaji domina as bilheterias

no ScreenIndia.com

O filme marathi Mi Shivajiraje Bhonsale Boltoy (Eu sou Shivaji Bhosale Falando) acaba de acumular a incrível quantia de 15 milhões de rúpias (cerca de 750 mil reais) no primeiro fim de semana de estreia. Estrelando Mahesh Manjrekar e Sachin Khedekar, o filme foi lançado em todo o Maharashtra no dia 3 de abril [dia da morte de shivaji], em 139 salas de cinema. Manjrekar é também o co-produtor do filme junto da Everest Entertainment. Considerado o primeiro hit do ano, esse filme está prometendo desbancar até mesmo os filmes hindi produzidos na capital do mesmo estado. Mi Shivajiraje Bhonsale Boltoy está sendo recebido com um grande entusiasmo por todo o Maharashtra.

Durante a sessão de estreia, o produtor Sanjay Chhabria, da Everest Entertainment, disse: "Nós sabíamos que tínhamos um filme fantástico em nossas mãos, mas toda essa histeria coletiva em torno dele está sendo incrível. Os filmes marathi geralmente crescem com o boca-a-boca e não fazem sucesso na estreia. Esse tipo de coisa que aconteceu é um enorme impulso pro futuro do cinema marathi."

A Eros International lançou o filme não só no Maharashtra, mas também em outras regiões, como Gujarat, Marathwada (Nizam), CP e Belgaum, estabelecendo novos padrões para as escalas dos lançamentos marathis.

Dirigido por Santosh Manjrekar e estrelando a nata do cinema marathi - Mahesh Manjrekar, Sachin Khedekar, Suchitra Bandekar, Priya Bapat, Abhijit Kelkar, Siddharth Jadhav e Bharat Dabolkar - o filme conta a história de Dinkarrao Bhonsale (Sachin Khedekar) que compartilha o sobrenome do famoso imperador maratha (Mahesh Majrekar), mas as semelhanças acabam por aí.

A crítica descreveu o filme como uma obra leve mas que faz pensar - provocativo e sensível. De acordo com eles, Mi Shivajiraje Bhonsale Boltoy é uma empolgante história da luta de um homem desamparado contra os males da sociedade, buscando sua identidade e manter o seu orgulho.



Abhishek Bachchan - अभिषेक बच्चन

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Faz um tempinho já que não falamos dos atores e atrizes do cinema indiano e hoje resolvi dar uma retomada na nossa série, falando de Abhishek Bachchan, mais um enorme ídolo de Bollywood. Abhishek pode ter suas qualidades inatas, mas por trás dele há dois fatores que o faz estar entre os 5 grandes nomes da maior indústria de cinema do mundo. O primeiro e mais importante dos fatores: ele é simplesmente filho de Amitabh Bachchan, o mais importante ator de Bollywood até o momento (segundo o julgamento dos indianos). E o segundo e não menos importante dos fatores: ele simplesmente é casado com Aishwarya Rai a atriz mais importante de Bollywood. É pra poucos, eu diria.

Bom, neste momento, Abshishek Bachchan tem 33 aninhos, completados no dia 5 de fevereiro (junto de mim!!!). Nos idos de 1976, ele nascia em Mumbai, a capital do Maharashtra, saindo dos ventres de Jaya Bachchan, esposa de Amitabh Bachchan. Como raramente não deixa de ser, ele vem já de uma família com algum destaque. Seu avô Harivash Rai Bachchan, pai de Amitabh, era um conhecido poeta da literatura hindi e o sobrenome Bachchan era apenas artístico. O nome real da família era Srivastav. Harivash escolheu o sobrenome artístico de Bachchan em homenagem às origens sikhs do Punjab de sua esposa, Teji.

Como é destacado no filme Taare Zameen Par, Abhishek Bachchan era mesmo disléxico quando criança, ou melhor, ele é disléxico. Em Mumbai, ele passou pela Jamnabai Narsee School e pela Bombay Scottish School. Depois, em Nova Delhi, estudou na Modern School, pra finalmente concluir os estudos na Aiglon College, na Suíça. Um périplo "perfeito" pra um disléxico. Mas a vida é assim mesmo; agora ele é quem é e casado sabemos com quem. Em seguida foi aos Estados Unidos, na Boston University, estudar atuação, mas voltou antes de concluir para ajudar o pai que estava em problemas com a produtora ABCL.

A carreira de ator de Abhishek é bem recente. Começou no ano 2000, com o filme Refugee, com Kareena Kapoor. Por quatro anos consecutivos, ele atuou em diversos fracassos, entre eles Kuch Naa Kaho (2003), que tinha também Aishwarya Rai no elenco. Mas em 2004, finalmente, sua atuação no filme Yuva, de Mani Ratnam, mostrou que ele era capaz de atuar bem, ganhando seu primeiro prêmio da carreira, de Ator Coadjuvante pelo Filmfare Award. Pra ajudar, no mesmo ano ele estrelou Dhoom, que foi o primeiro grande sucesso de sua carreira.

Em 2005, ele fez quatro filmes que foram, os quatro, grandes sucessos: Bunty Aur Babli, Sarkar, Dus e Bluffmaster. Em Sarkar ele ganhou o segundo prêmio de Ator Coadjuvante pelo Filmfare Award. Em 2006, o filme Kabhi Alvida Naa Kehna foi um dos filmes que mais arrecadaram no ano, ao lado de Dhoom 2, que foi enorme sucesso, embora digam que Hrithik Hoshan tenha roubado a cena.

No ano de 2007 ele fez o filme Guru, que embora tenha sido seu primeiro filme "solo" e tenha surpreendido pela atuação ao lado de Aishwarya Rai, ele acabou por não levar o prêmio de melhor ator. Em 2008 fez sucesso com o polêmico Dostana e agora em 2009 apareceu em Delhi-6, que não fez tanto sucesso.

Mas deixando um pouco de sua carreira pra lá, tem muita gente aqui que gosta de fofocas. O fato é que Abhishek chegou a ficar noivo da atriz Karisma Kapoor, no ano de 2002, cancelando o noivado três meses depois do anúncio público. O casamento com Aishwarya Rai, em abril de 2007, foi um dos eventos do mundo bollywoodiano mais cobertos pela mídia na história da Índia. As cerimônias foram realizadas na casa dos Bachchan em Juhu, Mumbai, de acordo com os rituais hindus da comunidade de Bunt, do sul da Índia, da qual Aishwarya pertence. Alguns rituais bengaleses e norte indianos também foram realizados em homenagem às origens da família Bachchan. Hoje, o casal é por vezes chamado de Abhiaish.

sábado, 11 de abril de 2009

Bollywood está boicotando cadeias de cinema na Índia

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por Vikas Bajaj, no The New York Times, publicado no Portal Terra

A história poderia servir de trama a um melodrama de Bollywood: um empresário, frustrado e se sentindo diminuído depois de anos como sócio minoritário do irmão, decide reagir, e isso desperta um conflito que coloca em risco as fortunas de todos os envolvidos.

Infelizmente, para os fãs de musicais e filmes de ação indianos, não se trata da descrição de um filme sobre uma família em conflito, mas de uma batalha real entre produtores de filmes e proprietários de salas de cinema que praticamente suspendeu o lançamento de filmes em hindi no país.

Os produtores e os distribuidores de cinema da Índia estão se recusando a liberar filmes para as grandes cadeias de salas de exibição até que lhes seja garantida 50% da receita de todos os filmes em suas quatro primeiras semanas de exibição. Hoje, os arranjos quanto à divisão de receita são negociados filme a filme.

A disputa, que estava por estourar há anos, surge em um momento difícil para o cinema indiano. A indústria nacional de cinema, conhecida como Bollywood, não consegue um grande sucesso há três meses; a receita nas bilheterias caiu em 2,3% no primeiro trimestre, ante o período em 2008, para 2,6 bilhões de rúpias, ou US$ 52 milhões, de acordo com a IBOS, uma agência de notícias especializada em cinema indiano.

Ao mesmo tempo, a crise financeira dificultou a obtenção de capital a ser investido em novos projetos. Apenas alguns filmes foram lançados desde o embargo, iniciado na semana passada. Os produtores dizem estar dispostos a reter seus filmes indefinidamente, até que recebam o que consideram justo.

Os produtores de cinema dizem que contam com o apoio dos astros do país, mas os proprietários das cadeias de salas de exibição afirmam que a posição que assumiram na disputa tem base nas duras realidades econômicas do setor.

Eles asseguram que uma divisão de receita, como a proposta pelos produtores, paralisaria o segmento de salas de exibição, já que a maioria das centenas de filmes lançados a cada ano não propicia retornos elevados.

As cadeias de cinemas controlam 850 das 13 mil telas de cinema do país, mas respondem por até 65% da receita do setor porque os preços dos ingressos nas salas modernas e luxuosas que elas operam são substancialmente mais elevados do que nos cinemas convencionais, mais antigos, com apenas uma sala.

Shravan Shroff, diretor executivo da Fame, uma das cadeias de salas de exibição, diz que as companhias do setor desejam uma fórmula baseada em uma escala variável, que recompensaria melhor os produtores quando os filmes se saem bem em termos de audiência e lhes daria uma participação mais baixa nos proventos de bilheteria em caso de filmes de menor sucesso. Ele aponta para o exemplo de Hollywood, onde os produtores de cinema e as cadeias de salas de exibição dividem os lucros de maneira diferente para cada filme, com base em diversos fatores, entre os quais o número de ingressos vendidos.

"Todos nós desejamos que os filmes se saiam bem no mercado; isso na verdade é do interesse de todos", diz Shroff. "Mas, para resumir a situação, se alguém me fornece um filme de grande sucesso, eu estou disposto a pagar; caso a produção seja um fracasso, por que eu deveria ser o único a sofrer? O produtor é que deveria sofrer mais."

Embora os dois lados professem estima mútua, em público, e afirmem que seu desejo é promover negociações com a maior boa fé, seus representantes vêm trocando farpas e acusações mútuas de conspiração, trapaça e, evidentemente, excesso de cobiça.

Os produtores de filmes se queixam de que os operadores de salas de exibição muitas vezes negociam acordos para filmes coletivamente, mas depois disso esperam até um ou dois dias antes da data de lançamento para fechar o negócio, com o objetivo de extrair melhores termos. Também acusam algumas salas de manipular a contabilidade quanto ao número de ingressos vendidos e o valor dos impostos pagos, a fim de manter uma porção maior da receita.

"As cadeias de exibição não fecham acordo definitivo quanto aos termos de divisão da receita até a quarta ou quinta-feira anteriores à estréia (que acontece na sexta), e agem em conjunto para isso", disse Jyoti Deshpande, vice-presidente de operações da Eros International, uma grande empresa de produção e distribuição de filmes. "É quase humilhante fazer negócios dessa maneira."

Mas os proprietários de salas de exibição garantem que são as produtoras e distribuidoras de filmes que contestam os termos do acordo até o último minuto. Também negam que manipulem os registros de ingressos vendidos e impostos, alegando que sofreriam forte punição caso o fizessem.

A suspensão de lançamentos pode beneficiar os produtores que realizam filmes em outros idiomas que não o hindi, falado primordialmente no norte da Índia. Mas os produtores de Bollywood afirmam que sua esperança é que os grandes estúdios no sul e em outras partes do país também suspendam o lançamento de seus filmes.

As cadeias de cinemas, de sua parte, estão tentando adquirir direitos de transmissão de partidas de críquete - a segunda grande paixão dos indianos -, caso não surja acordo em breve.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Download de Filmes

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Toda hora recebo emails e comentários de pessoas curiosas em saber como conseguir os filmes indianos que cito aqui. Então vamos esclarecer aqui algumas coisas.

Para começar - e para desânimo de muitos - digo que quase não existem filmes indianos nas videolocadoras aqui do Brasil. E quando falo "quase" estou dizendo que realmente existem no máximo 4 ou 5, não mais do que isso. E ainda por cima são pouquíssimas as locadoras que têm esses 4 ou 5. Em São Paulo, indico a Century Video e a 2001. Essas opções certamente oferecem filmes legendados em português.

Mas, para continuar - e de novo para desânimo dos mesmos muitos - a imensa maioria dos filmes indianos não possuem legendas em português, a não ser que seja algum que alguém tenha se dado ao trabalho de legendar e disponibilizar na internet (o número de pessoas fazendo isso vem crescendo e a gente agradece!!). E sim, a ÚNICA opção que recomendo a todos é baixar os filmes da internet, e sei que essa é uma parte chata e que muitos devem estar pensando "mas como raios eu faço isso???".

E então, antes de explicar como fazer isso, peço a todos que estiverem lendo esta postagem a entrarem JÁ na comunidade do orkut "Quero cinema indiano no Brasil", pois lá há atualizações diárias sobre filmes disponíveis para download com legendas em português, além de uma infinidade de outros assuntos discutidos diariamente por participantes super fiéis. Eu não disponibilizo aqui no Cinema Indiano os links pra download dos filmes pois é muito comum que os links deixem de ficar ativos e eu não teria como dar conta da atualização disso tudo a todo instante.

Bom, existem duas opções básicas de se baixar coisas grandes da internet (como filmes, trilhas sonoras etc.): por programas de torrent, como o uTorrent, ou algo como o eMule. Não se preocupe em querer saber o que significa cada uma dessas coisas, mas se você realmente está interessado em tentar essas opções, apenas siga as instruções que nada dará errado. O blog Downloads do Cinema Indiano oferece um bom acervo de torrents para filmes com legendas em português.

Eu diria que cada tipo de programa tem sua vantagem, então sugiro instalar os dois no computador; será a partir deles que os downloads poderão ser feitos. No eMule é possível procurar e achar arquivos disponíveis pra download no próprio programa, mas muitas vezes a demora pra baixar é grande. Para baixar com torrent, porém, é necessário procurar o arquivo disponível na internet, em sites especializados pra isso, e então selecionar o arquivo que iniciará o download. Perceba que quanto mais seeders e leechers mais rápido será o download.

Para procurar arquivos de torrent disponíveis na internet, recomendo utilizarem o Torrentz, um site que procura pra você o arquivo que você quer em praticamente todos os outros sites que oferecem torrent.

Nunca se esqueçam, porém, que tanto o uTorrent quanto o eMule precisam ser conectados para que o dowload comece. Como o download geralmente dura dias pra terminar, então sempre que o computador for ligado não se esqueça de ligar também os programas de download, senão o filme nunca chegará até você!

E agora relembrando, quando fizer download de filmes na internet, poucas, mas muito poucas, serão as opções de filmes indianos com legendas em português. A maior parte estará em inglês, ou mesmo sem legendas. Então tente sempre descobrir se o filme que está baixando está, ao menos, com legendas em inglês!

Em relação a eu mesmo disponibilizar os links pra download de cada filme que falo, isso poderia resultar em links obsoletos em pouco tempo, já que os programas de torrent dependem de quantas pessoas estão fazendo o download/upload do mesmo arquivo ao mesmo tempo.

Eu recebi nos comentários desta postagem a indicação de um site que disponibiliza mais de 100 filmes indianos com legendas em português! É uma joia rara que devemos aproveitar! Clique aqui e comprove.

Mas, além da opção de fazer download pela internet ou tentar por algum milagre divino encontrar um filme indiano em alguma locadora, também existe a opção de comprá-los pela internet, em sites como o eBay e a amazon.com, onde alguns casos podem ser encontrados a preços super acessíveis.

Além disso, também há o blog Filmes Indianos que oferece um bom catálogo de filmes indianos legendados em português que podem ser encomendados. O mesmo pode ser encontrado no blog Filmes Bollywood, com um catálogo diferenciado e preços acessíveis! Não deixem de checar!

É isso, informação dada! Preparem a pipoca e bom filme! :)

sábado, 4 de abril de 2009

Rang de Basanti (2006) - रंग दे बसंती



Existe uma imagem quase inquebrável de que o cinema indiano (Bollywood, principalmente) é um poço de comédias românticas toscas com song-and-dances a cada quinze minutos e que nada além disso surge dali. Os usuários do Youtube ainda fizeram o favor de popularizar sátiras já famosíssimas - ao menos para grande parte dos internautas brasileiros - como o consagrado Rivaldo, Sai Desse Lago (que na verdade é de Kollywood, a indústria em língua tamil), fazendo com que grande parte das pessoas REALMENTE pensem que aquilo é Bollywood. Mas quem já acompanha o Cinema Indiano há mais tempo (e os curiosos que se deram ao trabalho de vasculhar todos os nossos arquivos), deve ter percebido que eu faço um relativo esforço em mostrar que o cinema indiano é capaz de produzir coisas boas, realmente boas, e que mereciam muito mais destaque internacional do que têm.

Um dos casos que não me canso de repetir é Taare Zameen Par, além de tantos outros que já foram aqui colocados. Mas estou falando disso tudo porque hoje vou falar de Rang de Basanti, um marco na história de Bollywood. Rang de Basanti (Pinte de Açafrão, 2006) é escrito e dirigido por Rakeysh Omprakash Mehra e tem Aamir Khan num dos papéis principais, além da trilha sonora ser de A.R. Rahman.

Parecia-me ser um filme simples, sem nada de muito especial, até mais ou menos sua metade. Mas ele tem nada menos que 2h40 de duração, e então a metade significa ainda muito filme por correr. Trata-se de uma garota britânica (Alice Patten) que vai à Índia determinada a fazer um documentário contando a história de um dos primeiros indianos que lutaram pela independência do país, baseada no diário de seu avô, que foi soldado britânico na Índia. Uma vez em solos indianos, a britânica Sue acaba elencando para seu filme um grupo de cinco jovens universitários indianos de Delhi, típicos exemplos da juventude moderna descompromissada. Conforme o filme vai passando, porém, um amigo em comum deles morre num acidente da força aérea indiana - no qual ele era o próprio piloto - e de repente as coisas mudam em todos. A forte corrupção no governo parecia ser a causa real do acidente, inflando neles a vontade de que a justiça fosse feita.

Falas do documentário que estavam fazendo intercalam-se com falas reais que agora vinham à tona em seus corações. O desejo de construir uma nação melhor surge em todos, mas a raiva de terem perdido um amigo que estava agora sendo acusado de ter sido negligente no acidente leva-os a um plano sem volta - matar o Ministro da Defesa. E de repente, o filme que seguia na construção de um documentário simples, mas com todas as suas dificuldades, converte-se numa obra-protesto, quase panfletária. O filme mais parecia um daqueles em que o eixo central é mostrar que todas as religiões da Índia devem estar unidas em nome da nação, mas de repente quem leva o soco é o próprio governo indiano e quem é chamado para a briga é a juventude indiana.

Mas muito além de o filme ser bom enquanto filme, ele significou um profundo marco em Bollywood e na história social da Índia. Em Bollywood, significou a introdução definitiva de temas diretamente relacionados à juventude nos filmes da Índia, forçando a mudanças sensíveis nas produções de todas as indústrias cinematográficas indianas. Mas em termos sociais, Rang de Basanti simplesmente acordou uma enorme parcela da população que estava absolutamente acomodada com o agradável crescimento econômico do país e não viam (ou fingiam não ver) as profundas podridões por trás de tudo - sobretudo a corrupção, uma das piores do mundo. De fato, o próprio caso do acidente aéreo mostrado não é invenção, e quando o filme acaba uma frase diz que o ele é dedicado aos 78 pilotos que morreram num dos 206 acidentes da força aérea indiana nos últimos 15 anos.

Desde então, inúmeros protestos começaram a acontecer na Índia, em muitos dos casos liderados pos jovens. A mídia não demorou pra começar a chamar esses protestos de "efeito RDB", em alusão à sigla do filme.

Em 2007, Rang de Basanti foi indicado ao prêmio BAFTA de melhor filme estrangeiro, mas não ganhou. No Filmfare Awards, levou os prêmios de melhor filme, melhor roteiro, melhor diretor, melhor ator pela crítica (pra Aamir Khan) e melhor música (pra A.R. Rahman). O filme custou cerca de 10 milhões de reais pra ser feito, mas arrecadou seis vezes. Até o presente momento, Rang de Basanti foi o filme indiano que mais vendeu cópias em DVD.

E abaixo vai o trailer:



quarta-feira, 1 de abril de 2009

Matrubhoomi (2003) - मातृभूमी

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Hoje vou escrever sobre um filme que eu sinceramente gostaria que não precisasse ter sido feito. Não por ser mais um desses filmes típicos bollywoodianos que eu já falei por aí, que tanto me decepcionam. Ao contrário, Matrubhoomi - A Nation Without Women (Pátria-Mãe - Uma Nação Sem Mulheres) é um filme muito bom. É uma uma obra independente de Manish Jha e estreou em 2003.

Hoje é primeiro de abril, dia da mentira, mas o que falarei aqui é a mais pura verdade. Matrubhoomi, ainda que seja uma obra de ficção e crie uma situação extremamente hipotética, ele joga com uma das questões mais delicadas que a Índia vem enfrentando há milêmios e até hoje não conseguiu evoluir: o infanticídio e feticídio femininos.

Para quem não sabe, na Índia os casamentos são arranjados e a família da noiva deve pagar o dote à família do noivo. Antes que alguém queira retrucar dizendo que muitos já escolhem com quem casar na Índia, eu digo antes que quase 1 bilhão da população indiana é pobre e, consequentemente, está há milênios-luz de distância de qualquer mudança nesse sentido. Quando me refiro ao geral da Índia, estou referindo-me sempre a essa imensa maioria que, inclusive, representa nada menos que UM TERÇO DOS POBRES DO MUNDO.

Enfim, e o grande fato é que essas famílias pobres, ao terem uma menina, sentem-se profundamente desgraçados só de imaginar que terão que juntar dinheiro que deverá ser oferecido à família do noivo que se casar com ela. Como solução à desgraça, a opção evidente encontrada pelos indianos é simplesmente matar essas meninas, suas filhas, recém-nascidas. Se durante a gravidez descobrem, por algum motivo, que o bebê é uma menina, imediatamente abortam. Essa realidade é tão corriqueira na Índia que há dezenas de milhares de vilas e comunidades em que o déficit de mulheres assusta. O déficit de mulheres indianas só não é maior que o déficit de mulheres chinesas, com a diferença de que no país dos olhos puxados houve uma forte imposição por parte do governo comunista para que os casais tivessem apenas um filho, preferencialmente homem, como forma de conter o crescimento demográfico.

Bom, e Matrubhoomi já começa com uma cena terrível, do desagravo ao nascimento de uma menina, que é "transcedentalmente" assassinada numa bacia cheia de leite, por seu pai. Dali por diante as coisas só pioram. O filme passa-se numa vila em que não há mais mulheres. Nesse cenário, há encontros para ver filmes pornô, shows de porno-chanchada feitos por um homem vestido de mulher, a opção do boi/vaca como possibilidade para a prática do sexo, o sacerdote da vila tendo um caso com um homem e um falso casamento é preparado, onde a suposta noiva é, na verdade, um menino. No meio disso, descobre-se que há uma mulher escondida numa casa, numa vila vizinha. Um homem da vila sem mulheres fica doido com a notícia e faz uma oferta inusitada: ele próprio oferece pagar um belo dote para que a mulher case-se com seu filho, ao contrário de o pai da mulher dar o dote a ele. A oferta é aceita, mas o que acaba acontecendo é que seus cinco filhos casam-se com a mesma mulher.

E na mesma noite do casamento, os filhos pegam um calendário para dividir os dias da semana em que cada um poderia ficar com a mulher - e é óbvio que esse ficar não chega nem perto de amá-la, mas sim satisfazê-los. E eis que, se já não bastasse tudo que estávamos vendo, o pai dos noivos fica revoltado por não ter sido incluído na divisão dos dias, o que finalmente acaba acontecendo. A partir daqui, os dias vão passando, mostrando a rotina do quarto da mulher, transformada em algo pior que o pior dos objetos. O filme fica ainda mais tenso quando a mulher e um dos filhos se apaixonam. Não vou mais contar o que ocorre depois, mas o desfecho é assustador.

Quando o filme acaba, uma frase aparece e diz que o próprio governo indiano estima que nos últimos 100 anos, ao menos 35 milhões de meninas foram mortas na Índia - algo como quase 1000 meninas por dia. Não preciso nem dizer que o filme ficou apenas uma semana em cartaz na Índia e foi logo retirado, não só pela falta de quorum, mas principalmente pela raiva que alguns indianos tiveram ao ver essa realidade exposta (mas o filme é ficção!!!). Também hoje a professora Sandra Bose postou em seu blog mais informações a respeito desse mesmo tema, com mais dados a respeito dessa realidade extremamente cruel; clique aqui e confira.

E agora vejam abaixo uma compilação dos primeiros minutos chocantes do filme. Logo após o parto acontecer, a parteira vai dar as "más" novas ao super ansioso pai e diz "larki", ou seja, menina. É bem a pior notícia que um pai indiano gostaria de receber.