Não, a foto acima não é no nordeste brasileiro, mas no estado indiano do Kerala, na costa sudoeste do país. As palmeiras de coco são originais dali, trazidas ao Brasil pelos portugueses na época das grandes navegações. Em troca, os portugueses levaram à Índia o nosso caju e a nossa mandioca, que são por lá chamados kaju e tapyok.
O cinema malayalam está sediado neste estado das palmeiras de coco. Embora menor e mais pobre que seu estado vizinho do Karnataka, o cinema malayalam é muito mais próspero e também um pouco mais antigo.
Para quem não sabe, o Kerala se destaca na Índia por três características bem distintas: praias, medicina ayurvédica e socialismo. Praias e ayurveda estão mais ou menos relacionadas no sentido que são esses os dois principais fatores que atraem turistas estrangeiros para aquele estado (para quem não sabe o que é ayurveda, sugiro pesquisar no blog da Prof. Sandra Bose; procurando o tag com esse nome você encontrará bons artigos sobre isso). O socialismo, no entanto, não tem a ver com os últimos dois fatores, embora os turistas costumem perceber o apelo comunista nas bandeiras por vezes espalhadas pelas ruas das maiores cidades malayalis. Mas, é este o principal tema por trás dos filmes produzidos no Kerala, reproduzindo temas sociais e problemas familiares, sendo, assim, considerados mais realistas do que os filmes de Bollywood.
O primeiro filme malayali, Vigathakumaran, foi lançado em 1928, dirigido e produzido por um empresário que nunca tinha tido experiências na área. O segundo, chamado, Marthanda Varma, foi produzido em 1933, mas jamais foi lançado devido a problemas legais na época. Em 1938, finalmente, o primeiro filme falado do Kerala foi lançado e chamava-se Balan. O diretor S. Nottani, porém, não tinha escolha e teve que filmar sua produção no estado vizinho, de Tamil Nadu. Assim ficou por mais uma década quando, em 1947, foi fundado o primeiro estúdio no Kerala, chamado Udaya.
Desde os tempos do Império Britânico os filmes malayalis eram feitos com temas de abordagem social. Jeevithanauka (1951), abordava a questão da briga de egos dentro de uma casa indiana típica, ou seja, uma joint family (duas famílias ou mais vivendo juntas, geralmente de irmãos que casaram e permanecem na casa). O filme foi o primeiro grande sucesso no Kerala. Ironicamente, porém, os filmes feitos após Jeevithanauka copiaram a mesma fórmula de sucesso, o que acabou minando a criatividade que vinha se desenvolvendo no cinema malayalam.
Em 1954 foi lançado Neelakkuyil, filme que se tornou nacionalmente reconhecido após receber a medalha de prata do Presidente e foi considerado o primeiro filme autenticamente malayali. Ele foi escrito por Uroob e dirigido pela dupla P. Bhaskaran e Ramu Kariat. À parte a falta de criatividade que ainda vingava, em 1955 foi lançado o Newspaper Boy, contando a história de um garoto que trabalhava numa gráfica e sua família extremamente pobre, utilizando-se de recursos do neorealismo italiano. Dez anos depois, o filme Chemmeen, dirigido por Ramu Kariat, ganhou as ruas da Índia após ganhar um prêmio nacional. O filme conta a história de um pescador, numa vila de pescadores, que acredita que a boa pescaria depende da fidelidade de sua esposa o aguardando na praia no final de todo dia – remontando, assim, ao mito da mãe-mar que preserva e destrói a vila.
Como nos outros estados indianos, nos anos 70 surge a nova era do cinema malayalam, com diretores apontando para o cinema de arte. Swayamvaram (1972), de Adoor Gopalakrishnan, ficou internacionalmente conhecido, mas foi Nirmalyam (1973), de M.T. Vasudevan, que ganhou a medalha de ouro do Presidente para o melhor filme do ano. Em 1981, Gopalakrishnan lançou Elipathayam, que ganhou o prêmio de melhor filme do British Film Institute.
No entanto, os filmes produzidos na segunda metade da década de 80 é que criaram a era de ouro no cinema malayalam. As produções dessa época primaram em detalhes e sensibilidade nos temas abordados, aliados às boas técnicas de filmagem e direção. Destacam-se os filmes Namukku Parkkan Munthiri Thoppukal (1986), de Padmarajan, e Perumthachan (1990), de Ajayan. Os filmes da era de ouro renovaram a criatividade malayali, percorrendo desde temas melancólicos até boas comédias.
Na década de 90, porém, o cinema malayalam adotou o apelo popular de Bollywood, mas sem perder em qualidade. O filme Swaham (1994), por exemplo, foi o primeiro do Kerala a ser indicado no Festival de Cannes. Nos anos recentes, a produção da região voltou a perder a criatividade e começou a produzir apenas comédias sem qualidade, com pouquíssimas exceções. O resultado disso é que as produções de Bollywood e do estado vizinho de Tamil Nadu estão, no momento, na preferência do povo malayali.
6 comentários:
Caramba..quanta história deste cinema hein! Os cinemas são bem independentes de Estado pra Estado??
Os posts despertam a curiosidade... mto bacana mesmo...
Abraço!
eu sinto q vc tem estudado bastnte
hahaha
eu fiquei fora e totalmente desatialziada dos post, mas agora ja li todos.
Estão todos lindos, e bem escritos com otimas informações
vc está de parabens
agora vou tentar n ficar tanto tempo ser ler :P
Amo filmes em malayalam, estou traduzindo um filme e em breve vou colocar no meu blog!!
Ibirá,
Dear, me dá uma dica de um romance bonito em malayalam, até hoje só vi um filme "The Journey (Sancharram)", mas não gostei muito. Eu reli hoje sobre os filmes em malayalam, mas queria um que voce indicasse, contando com sua experiencia.
Thanks, thanks
Ih Cris, dessa vez você me pegou, porque devo confessar que praticamente não conheço o cinema malayalam... de qualquer forma, não sei se você viu, mas no início de janeiro fiz uma postagem sobre os melhores filmes do Kerala em 2008: http://cinemaindiano.blogspot.com/2009/01/cinco-melhores-filmes-malayalam-de-2008.html
De repente te dá uma ajuda!
Bjs!
Esta postagem foi plageada pelo website Bollywoodhindimovies.
Eu ja escrevi para o host reclamando.
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