quarta-feira, 28 de julho de 2010

Ankur (1974) - अंकुर

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Ankur, definitivamente, não é um filme qualquer, por vários motivos. Ele é a estreia tanto de Shyam Benegal na direção e de Shabana Azmi no cinema, ambos nomes que acabaram por se tornar imensas referências no cinema paralelo indiano. Além disso, ele apareceu num momento de reforço e consolidação deste cinema, à margem das indústrias regionais da Índia.

Pra ajudar no fato, Ankur conta uma história real que se passou na região de Hyderabad, no estado de Andhra Pradesh, por volta dos anos 50. Várias atrizes foram sondadas para fazerem o papel principal de Lakshmi, mas assumir uma personagem polêmica, e ainda real, centro de questões sociais que remontam à raiz da cultura indiana, não seria fácil. Foi quando Shyam Benegal encontrou Shabana, nos seus 20 e pouquinhos anos, cheia de coragem, disposta a enfrentar Lakshmi.

O filme conta a história de Surya (Anant Nag), um jovem recém formado na universidade, que é basicamente obrigado pelo pai - uma espécie de latifundiário local - a morar e cuidar do pedaço de terra que o pertence. Surya havia se casado com Saru (Priya Tendulkar) quando jovens (casamento arranjado infantil, prática ainda comum em muitas regiões da Índia), e em poucos meses Saru estaria na idade adequada para ir morar com seu marido. Enquanto isso, porém, Surya teria de morar sozinho na casa da fazenda.

Ao chegar na fazenda, Surya conhece os caseiros do local, o casal de dalits Lakshmi (Shabana Azmi) e Kishtayya (Sadhu Meher), que moravam num pequeno casebre de palha nos fundos da propriedade. Kishtayya era surdo e mudo, além de alcoólatra. Na prática, era Lakshmi quem os sustentava, fazendo a limpeza da casa dos patrões.

Mas assim que chega, Surya toma atitudes recorrentemente impensáveis. Pra começar, pede que Lakshmi faça a comida pra ele, além de servir o chá, de manhã. Em princípio, a ordem social indiana impede que dalits (intocáveis) façam comida para qualquer pessoa de casta, quanto menos para patrões. Em seguida, decide empregar também Kishtayya, pedindo que ele vá à casa de seu pai buscar fertilizantes, utilizando o carro de boi da fazenda.

E então, com a ausência de Kishtayya, Surya deixa muito claro a Lakshmi que estava encantado por ela, mas ela não cede. No entanto, pelo próprio fato de Lakshmi estar cozinhando pra Surya - pra desgosto do sacerdote local, que era quem antes levava a comida -, tão logo começam as fofocas no vilarejo, dizendo que ambos já tinham dormido juntos.

Um dia, Kishtayya é pego roubando cocos e é humilhado em público. Aliado à sua frequente bebedeira e à também constante reclamação de Lakshmi de que ela não engravidava - seu maior desejo -, Kishtayya, então, um dia desaparece.

É assim que, com a carência de Surya e a descrença completa de Lakshmi em seu casamento, ambos acabam mesmo se envolvendo emocionalmente. Mas não demora muito para que Saru chegue, finalmente, à casa. E ela já chega impondo novas condições, começando por proibir que Lakshmi cozinhe, por exemplo.

E agora prefiro não seguir com a história, que ainda guarda intensas emoções pela frente. 

Eu diria que Ankur é um filme imperdível do cinema indiano. No entanto, faço algumas ressalvinhas básicas. Ao contrário de Satyajit Ray, que fez sua obra-prima na sua estreia no cinema, com Pather Panchali, eu não colocaria Ankur como a obra prima de Shyam Benegal. Seus filmes seguintes, inclusive até os tempos atuais, conquistaram alguns novos patamares de qualidade, na minha opinião, em vários aspectos. Além disso, também não considero essa a melhor atuação de Shabana, embora ela seja sempre excelente. Aliás, de forma geral, achei as atuações um bom tanto forçadas, com pouca naturalidade, com exceção do surdo mudo de Sadhu Meher.

Mas à parte disso, Ankur é um filme que cutuca muitas questões importantes para a sociedade indiana, ainda não superadas - se é que devem ser superadas. E são também questões humanas como um todo. Há ali o alcoolismo, há a relação rígida de uma sociedade de castas, a relação entre ricos e pobres, a questão da liberdade sexual, das questões religiosas... e tudo isso centrado no ponto de como os seres humanos, individualmente, agem pra cada uma dessas questões.

Por fim, Ankur significa "muda" (de planta). Ao longo de todo o filme a "muda" aparece de maneira explícita ou metafórica, mas acredito que a maior metáfora que este título traz diz respeito à constante tentativa de germinação do novo, num substrato já tão ocupado.

Em 1975, o filme levou o prêmio de segundo melhor filme do ano, pelo National Film Awards. Na mesma premiação, Sadhu Meher e Shabana Azmi levaram os prêmios de melhor ator e melhor atriz. Ele também foi indicado ao Urso de Ouro do Festival de Berlim em 1974.
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6 comentários:

Monique Brasil disse...

Será que eu acho a legenda em português?

Ibirá Machado disse...

Não, mas há em inglês...

Monique Brasil disse...

:( Isso é bom,mas é ruim (se é que me entende).rs

Ibirá Machado disse...

Entendo, né... mas é torcer pra que façam em português!

Monique Brasil disse...

Claro! Boa parte disso a gente consegue mostrando os filmes a outras pessoas. Já viciei duas aqui em casa.rs

Monique Brasil disse...

ñ achei o torrent.