quinta-feira, 2 de julho de 2009

Amitabh Bachchan também fala de Michael Jackson

-
A professora Sandra Bose me encaminhou por email dois textos de duas grandes personalidades do cinema indiano a respeito da morte de Michael Jackson. O primeiro deles foi escrito por Amitabh Bachchan em seu blog, no dia 26 de junho. O segundo é do diretor Ram Gopal Varma, que publicou um artigo com o título "I hate Michael Jackson" (Eu odeio Michael Jackson). No entanto, pelo tamanho de ambos os textos, o de Ram Gopal será postado somente amanhã. Eu traduzi ambos pra vocês e o do Big B segue abaixo:

26 de junho - Londres

Por volta dos anos 60 eu ouvi falar de um grupo pop chamado "The Jackson 5". Muitos anos depois, quando eu já tinha meu aparelho de vídeo, eu pude então vê-los em movimento. O mais novo deles, o garoto gordinho com uma voz extraordinária, movia-se excepcionalmente bem. Fiquei sabendo que ele chamava-se Michael - Michael Jackson.

Por muitos anos não escutamos mais falar deles; os Beatles haviam invadido a cena e todo o universo só queria saber deles. Foi em torno dos anos 70 que o brilho apareceu e dele emergiu a versão já crescida de Michael Jackson, cantando, movendo-se, dançando como se fosse de outro planeta! Deslumbrados com seu brilhantismo em todo e cada tipo de música e performance que ele fazia, ele mudou a forma de pensar não só do tipo de música que ele fazia, mas também de todos os espectadores do mundo. Não havia nada comparado a ele. Ele era apenas essa coisa incrível feita por Deus em sua infinita misericórdia.

Seu corpo se movia como se fosse um brinquedo de dar corda. Cada tipo de movimento e ritmo que poderia ser pensado ele criava, sem medo. O furor que ele causava com cada lançamento ditava o novo rumo da música pop. Ele era o impossível.

Com o grande advento da modernidade e o seu lento entrar no mundo em desenvolvimento, nós só podíamos escutá-lo, ou vê-lo, com o esforço feito por aqueles que tinham o privilégio de viajar. Essas pessoas, que nos traziam do exterior, traziam também as músicas e vídeos de Michael Jackson para nossas vidas. E nós, os possuidores desses raros materiais, éramos como que ídolos de grande atenção, simplesmente porque tínhamos conosco um vídeo de Michael Jackson. O tempo passou e nossas próprias viagens tornaram-se mais frequentes e começamos a ficar orgulhosos de nossos CDs e vídeos. Eram nossas mais valiosas possessões. Aqueles que não tinham as condições de estar em igual situação olhavam pra nós com gratidão quando nós mostrávamos uma música de Michael Jackson. Todos queriam dançar que nem ele, vestir-se que nem ele, SER ele. Mas ninguém nem sequer chegou perto.

Pouco depois de meu acidente em 1982, fui aos Estados Unidos para recuperar-me melhor. Eu estava em Nova Iorque quando soube que Michael Jackson estava fazendo uma turnê de seu último show. A próxima apresentação seria numa cidade curiosamente chamada Jacksonville, na Flórida. E seria no dia seguinte. Era uma oportunidade que não poderíamos perder.

Então na manhã seguinte pegamos um voo e chegamos em Jacksonville, sem conhecer ninguém, sem ter reservas em hotel e nem sequer ter os ingressos pro show. Fomos de um lado pro outro com um prestativo taxista, até que de repente chegamos em frente ao hotel em que estava hospedado o próprio Michael Jackson, mas que só podia ser visto por fora já que o hotel inteiro estava reservado para o astro e sua equipe. Imploramos com a gerência algum canto que fosse onde a gente pudesse apenas recostar por uns instantes, eu e meu irmão - que me acompanhava -, antes de empreendermos nossa missão mais importante: comprar os ingressos! Conseguimos recostarmo-nos em um canto qualquer e pela tarde lá estávamos nós em frente àquele imenso estádio, sem pistas de como compraríamos os ingressos para ver O MICHAEL JACKSON.

Nós andávamos e não parávamos de andar. Depois de tomar vários picolés e beber litros de refresco naquele lugar quente e úmido, e depois de ver infinitos grupos de fãs por todos os lados, vimos um sujeito interessante que dizia a todos a NÃO entrarem no estádio, porque MJ era a encarnação do demônio. Poucos minutos antes do show começar e finalmente encontramos nosso salvador: um cambista!! Barganhamos até onde pudemos e lá estávamos nós entrando no estádio no mesmo momento que o som colossal era ligado. Nossos assentos eram... bem... confortáveis. Eram de cimento e não eram individuais, apenas um longo banco que circundava todo o estádio. O ar estava mais fresco ali do que quando barganhávamos com o cambista logo antes e logo percebemos porquê. Nós estávamos na última fileira daquela construção monstruosa, olhando pra baixo, pra 100 mil pessoas, e certamente precisaríamos de um paraquedas em caso de ter que sair correndo!!

Com alguns empurrões nós finalmente pudemos nos sentar. Mas durou poucos segundos, pois imediatamente um estrondoso som vindo do palco quase estourou nossos tímpanos e fez as 100 mil pessoas levantarem-se e gritarem de entusiasmo!! E foi assim que ficamos nas três horas seguintes!! Por quase 45 minutos esperamos ansiosamente quando... como que por mágica... ele estava no palco... NADA SE OUVIA DEPOIS, NADA SE VIA, NADA ALÉM DE... DE... UMA ALUCINADA PLATEIA EM DELÍRIO!!

Essa foi a primeira vez que o vi, mas não foi a última!!

No meio dos anos 90, em outra visita que fiz a Nova Iorque, a campainha da minha porta do hotel Helmsley Palace tocou, e eu fui abrir. E foi que na minha frente estava Michael Jackson! Ele olhou surpreso pra mim e disse com sua voz suave: "Oh! Desculpe-me! Acho que errei de quarto!". Eu não me lembro o que disse depois, se é que disse algo, nem quanto tempo fiquei naquela posição e nem quando foi que fechei a porta. Mas aquele era ele e ele HAVIA errado o quarto!!

Depois, no dia seguinte, meu amigo Mohan Murjani, que estava trabalhando em algo com Michael Jackson, preparou um encontro pra mim com Michael Jackson. Nós então nos encontramos, rimos do que ocorreu no dia anterior e tivemos uma agradável conversa. Sua voz era suave, era humilde e muito educado. Ele me apresentou à sua mãe, que estava ali também com ele, e então eu fui embora!!


Eu nunca o vi de novo, mas quando ele veio à Índia apresentar-se em Mumbai, no Andheri Sports Complex, em Prateeksha, onde moro, balancei a noite toda com as vibrações de seus famosos números que extremeciam a vizinhança.

Um artista excepcional se foi. Alguém que criou uma experiência mundial para todos nós com sua arte.

Quando eu voltar à Índia eu postarei uma festa de aniversário de 7 ou 8 anos de Abhishek, meu filho, vestido de Michael Jackson e dançando "Thriller".

Amitabh Bachchan

6 comentários:

Unknown disse...

Os gênios sempre atingem o mundo inteiro.E Michael Jackson foi um gênio!

Indi(a)screet disse...

Vou ficar aguardado as fotos do Abhi vestido de MJ, deve ser a coisa mais fofa do mundo!!!!!!!
By the way, excellent translation.

Iseedeadpeople disse...

Quero ver o Abhishek de Michael !!!!

disse...

É muito bonito ver personalidades do cinema ,fazendo comentários como esse de reconhecimento do trabalho de uma outra pessoa...Os indianos poderiam aprender com esses exemplos magnifico de alguns astros de Bollywood.....

bárbara disse...

Essa foto mete medo...

Ibirá Machado disse...

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!!!!!!!!!!!

Bárbara, acredite se quiser, mas coloquei essa foto pensando em você, quer dizer, em nós que compartilhamos dessa mesma sensação... é a foto da entrada do blog dele (na verdade ele muda de tempos em tempos, mas era essa quando criei essa postagem) e na hora que vi pensei "vai essa mesmo pro blog!!!"... hahahahahaha