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E vamos quebrar nosso silêncio aqui no blog com o clássico dos clássicos do cinema indiano. Pather Panchali, ou A Canção da Estrada, na tradução em português, não é somente uma obra prima que a Índia produziu, mas sim um tesouro do cinema mundial.
Escrito e dirigido pelo mestre bengalês Satyajit Ray, Pather Panchali foi nada mais que seu primeiro filme, e que daria origem à Trilogia de Apu, hoje referência para qualquer um que goste de cinema. Com fortíssima tradição literária, a região de Bengala jamais abandonou seu dom natural, mas, ao contrário, trouxe esse brilho às telas do cinema. Pather Panchali é, na verdade, o nome do livro do bengalês Bibhutibhushan Bandopadhyay, de cuja história Satyajit Ray se inspirou. A continuação da Trilogia foi inspirada em outro livro do mesmo autor, chamado Aparajito.
O filme conta a história de uma família comum e pobre da zona rural do West Bengal, composta por um casal, Harihar e Sarbajaya e dois filhos, o pequeno Apu e Durga. A casa também é frequentada pela velha Indir, irmã de Harihar, que por vezes muda-se para casa de outro familiar.
A vida não é fácil por ali e Harihar mal consegue trabalho pra sustentar a família. Por isso mesmo, chega uma hora que ele decide procurar por algo melhor nas cidades próximas e viaja sozinho, com a promessa de voltar com boas notícias. Mas enquanto ele não volta e não manda notícias, o aperto da família só faz piorar. Tudo cai por água abaixo - quase que literalmente - quando chegam as monções e praticamente destroem a frágil casa em que moram.
E conforme o filme transcorre, o que vemos é o cotidiano da casa e do vilarejo, de uma maneira delicada e muito viva. A tensa relação entre a velha Indir e sua cunhada Sarbajaya é simplesmente uma emoção à parte. Pra completar, Durga, a filha adolescente, alimenta um simpático afeto pela velha, pra desgosto, na verdade, de sua mãe. Durga, por exemplo, tem o péssimo hábito de roubar frutas de pomares alheios, hábito esse festejado pela velha Indir, que abre sempre seu sorriso sem dentes quando Durga chega com uma fruta escondida.
Apu, por sua vez, embora criança, demonstra uma independência típica, ao mesmo tempo que é muito ligado à sua irmã Durga, com quem compartilha o prazer de andar por aí e descobrir o mundo. Num desses momentos - e uma das cenas ápices do filme -, os dois acabam se afastando bastante de casa e vão parar num amplo campo de capim alto. Neste momento, o confronto de ambos com os desconhecidos postes de eletricidade já ganharia a cena, mas na sequência eles escutam o trem ao longe e correm pra vê-lo de perto, o que, aparentemente, nunca tinham feito.
Fatos importantes se seguem no decorrer da história, mas deixo pra que vocês confiram por si mesmos. A Canção da Estrada merece ser escutada, vista e sentida.
Se Pather Panchali teve uma influência inicial do cinema que se fazia na Europa nos anos 50, sua realização acabou fazendo um caminho contrário e acabou por servir de exemplo pra grandes nomes do cinema francês, italiano, japonês... e a verdade é que sua influência não parou e, espero, não irá jamais parar. Foram muitos os prêmios que o filme recebeu, dentre eles um do Festival de Cannes, em 1956.
E devo lembrar, também, que toda a música feita para a Trilogia de Apu foi composta por nada mais que Ravi Shankar, também no super começo de sua carreira.
Agora clique aqui e confira a cena do trem. E não percam esta joia.
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6 comentários:
Nossa, finalmente! Achei que você tinha desistido do blog no auge! rs. Queremos mais comentários de filmes do Festival! Pode ir se dedicando total, afinal, você faz parte disso!
Pois é! Mas com certeza agora voltarei com a dedicação de costume e falarei dos filmes todos!
Eu Adorei Pather Panchali, é o meu preferido da trilogia. O que mais gostei do filme é o modo como as coisas são apresentadas, parece que não estamos a ver um filme mas sim o quotidiano da vida de uma familia.
A realização e a interpretação dos actores foi divinal para este magnifico filme.
Maryssol, é também o que mais gosto. E sim, a interpretação de todos é incrível, e são todos atores praticamente estreantes :)
Pather Panchali me pareceu a coisa mais simples do mundo, talvez por isso mesmo tão verdadeiro. Eu esperava um filme chato e acabei me prendendo ao cotidiano daquela família, aos olhares de cada integrante dela, ao vento batendo nas árvores...o filme me tocou muito. Não esperava gostar tanto.
Essa é a força de Pather Panchali, e por isso ecoou tanto pelo mundo, até hoje. :)
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