Para cariocas, turistas de passagem e simpatizantes, a mostra Nouvelle Vague Indiana do CCBB começa hoje no Rio de Janeiro e irá até o dia 23.
Como de praxe, não encontrei ainda a programação por dia da mostra, mas encontrei um texto sobre a nouvelle vague indiana e esta mostra que me pareceu interessante e resolvi postá-lo aqui:
Como de praxe, não encontrei ainda a programação por dia da mostra, mas encontrei um texto sobre a nouvelle vague indiana e esta mostra que me pareceu interessante e resolvi postá-lo aqui:
Pouco conhecidos no Brasil, 20 filmes feitos na Índia nos anos 60 são atração no CCBB
André Miranda (Portal O Globo)
Muito antes das mega-produções de Bollywood, a Índia já foi responsável por um cinema respeitadíssimo no mundo, conhecido por um nome sugestivo para os cinéfilos: nouvelle vague. Começa nesta terça (11.11) para o público, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), a mostra Nouvelle Vague Indiana, com a exibição de 20 títulos do movimento, a grande maioria inédita no Brasil.
Muito antes das mega-produções de Bollywood, a Índia já foi responsável por um cinema respeitadíssimo no mundo, conhecido por um nome sugestivo para os cinéfilos: nouvelle vague. Começa nesta terça (11.11) para o público, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), a mostra Nouvelle Vague Indiana, com a exibição de 20 títulos do movimento, a grande maioria inédita no Brasil.
Assim como as outras ondas cinematográficas surgidas nos anos 1960, a nouvelle vague indiana propunha uma mudança estética e temática no cinema que era feito no país. Para se entender melhor o significado da proposta, é possível fazer um paralelo com o que ocorreu no Brasil no mesmo período. Aqui, os filmes que imperavam até os anos 1950 eram as comédias populares da Atlândida, um panorama que só começou a mudar com o trabalho de diretores como Nelson Pereira dos Santos e Glauber Rocha e com o surgimento do Cinema Novo.
Na Índia, a situação era semelhante. Filmes populares, com grandes estrelas e feitos nos moldes de Hollywood dominavam os cinemas, até que nomes como Satyajit Ray, Ritwik Ghatak e Mrinal Sen passaram a ganhar espaço e chamar a atenção dos espectadores.
- Aos poucos, eles foram propondo um cinema sem grandes atores, sem estrelas e com temática social. Faziam filmes com as características conhecidas do neo-realismo, como a escalação de não-atores para os papéis, locações externas e luz natural - conta Gisella Cardoso, curadora da mostra.
O interesse de Gisella pelo movimento surgiu em 2007, quando ela preparou a exibição de uma série de filmes neo-realistas, também no CCBB. Para aquela mostra, ela incluiu uma obra de Satyajit, diretor nascido em Calcutá, em 1921, e morto em 1992, cuja obra é consagrada até mesmo fora da Índia - ele recebeu um Urso de Ouro em 1973, por "Ashani sanket", e um Leão de Ouro em 1957, por "O invencível". Dali, a curadora procurou mais informações sobre aquele cinema indiano e acabou se deparando com um universo riquíssimo de obras pouco conhecidas pelos brasileiros.
- O Satyajit fez filmes mais engajados, ele foi uma espécie de precursor da nouvelle vague indiana. Seus filmes são mais ousados formalmente e colocam a questão da transformação social de maneira mais forte e acentuada. É uma nova Índia que surge na tela - explica Gisella. - Os primeiros filmes que vi dele foram os da chamada Trilogia de Apu. Era um cinema autoral, bem diferente daquele que se faz hoje na Índia e que todos conhecem, que são os filmes de Bollywood. A partir daí, fui descobrindo outros diretores e outras obras.
A Trilogia de Apu - formada por "Canção da estrada" (1955), "O invencível" (1956) e "O mundo de Apu" (1959), todos incluídos na programação da mostra - narra a vida de Apu, de um menino pobre numa aldeia de Bengala até um ex-estudante desempregado que sonha seguir a carreira de escritor. Além desses, destacam-se na Nouvelle Vague Indiana obras como "Mr. Shome" (1969), de Mrinal Sen, considerado o marco do movimento; e "Nights end" (1975), de Shyam Benegal, exibido em competição no Festival de Cannes.
Num texto escrito exclusivamente para o catálogo da mostra, Mrinal Sen se recorda da produção de "Mr. Shome", dizendo: "O custo total da produção foi inacreditavelmente baixo, menos do que o mais inacreditavelmente baixo. Afinal, o que nós queríamos era fazer um filme de baixo orçamento e estabelecer um recorde! E uma tendência!".
- Em 1968, Mrinal Sen escreveu um texto conhecido como Um Manifesto por um Novo Cinema Indiano. Ali começava oficialmente o movimento - conta a curadora. - Apesar de as propostas dos filmes serem bem diferentes entre si, o que se vê em todos eles é a vontade de se fazer cinema de autor, com cada diretor propondo um estilo e uma linguagem próprios - conclui Gisella Cardoso.
Entre os 20 filmes programados, 16 serão exibidos em película e apenas quatro em DVD. As cópias, todas em bom estado, foram trazidas de dois acervos da Índia e de um acervo da Inglaterra. De acordo com Gisella, há uma preocupação grande na Índia em se preservar a memória do cinema do período, justamente para atender a demanda de festivais ao redor do mundo. Chegando agora ao Rio, a mostra fica em cartaz até o dia 23 de novembro.
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