sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Cinema Marathi - मराठी चित्रपट


O cinema marathi, embora antigo, talvez seja o mais reprimido e secundário da Índia. Não por falta de recursos, não por falta de público, não por falta de incentivo. Sediado na terra dos Marathas, no estado da Grande Nação, o Maharashtra, o cinema marathi disputa seu público com nada mais nada menos que Bollywood. Sediada em parte em Mumbai, em parte em Pune, a indústria do Maharashtra tenta, quase em vão, produzir o cinema de sua própria língua, ofuscado pelo megalomanismo da indústria do cinema hindi que, por força do destino (leia-se elite anglo-indiana da primeira metade do século vinte), também decidiu fincar bases na capital financeira da Índia, ainda que a língua dali não seja aquela que falam seus filmes. Para piorar a situação, é óbvio que o governo do Maharashtra vai ajudar ($$$) Bollywood em detrimento da indústria marathi, que praticamente não dá retorno.


O que importa é que apesar de Bollywood estar instalado em um estado que não fala sua língua, o Maharashtra tenta a todo custo mostrar que também sabe fazer filmes próprios e que toda a sua população possa compreender. E tenta, também, roubar para si alguns méritos do cinema hindi, como por exemplo o lançamento do primeiro filme na Índia, o Raja Harishchandra (1913), de Dadasaheb Phalke. A polêmica reside no fato de que o diretor deste filme era marathi, mas o filme era mudo. Como a película foi produzida nos embriões do que viria a ser a grande indústria cinematográfica de filmes hindi em Mumbai, Bollywood toma para si o título de indústria mais antiga do cinema indiano. Vamos, então, dizer, que Bollywood e o cinema marathi caminharam lado a lado naqueles princípios.


Algo que aí sim é incontestável é que o primeiro filme realmente marathi foi lançado em 1932, já falado, chamando-se Ayodhyecha Raja, produzido pela próspera Prabhat Film Company que, quatro anos depois, lançava Sant Tukaram, o primeiro filme indiano a ganhar o prêmio de melhor filme no festival de Veneza. Como em toda a Índia nos princípios das experiências de cinema, os temas dos filmes eram sempre relacionados aos mitos e lendas do hinduísmo. Sant Tukaram, por exemplo, conta a história de vida de Tukaram, um guru que viveu próximo a Pune e é um dos santos mais adorados no Maharashtra. Eu mesmo estive em seu templo, coincidentemente nas comemorações dos 400 anos de seu nascimento, e pude ver como até hoje o povo segue suas palavras.


Bom, voltando ao cinema, outro fato importante é que muitas indústrias de cinema criadas no Maharashtra acabaram fazendo mais filmes em hindi do que em marathi, em consequência principalmente de Mumbai ter-se posicionado como capital financeira e cultural de um país cuja língua do governo e da elite é o hindi. Somente lá pelos anos 60 mais nos 70 é que se destacaram alguns diretores de filmes marathi, como Anant Mane e Dada Kondke.


Nos anos 80 em diante, o cinema marathi consolidou-se (embora bem em segundo plano) como um cinema de qualidade, porém apenas tecnicamente falando. Embora o estado tenha produzido bons filmes de arte enquanto ainda engatinhava, hoje as produções marathi estão apenas preocupadas em ganhar público – o que os leva à velha fórmula família-jovens-ação-luta-song-and-dance-tudo-junto. Destacam-se, nessa época, Mahesh Kothare, Sachin Pilgaonkar, Ashok Saraf e Laxmikant Berde.


Mas justiça seja feita. No ano de 2004, o cinema marathi viu um filme seu ser indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Shwaas, do diretor estreante Sandeep Sawant, fugiu às regras de sucesso indiano e fala sobre a história real de um garoto de oito anos que tem câncer no olho e cuja única cura é a remoção dos olhos. Seu avô, ao saber disso, tenta a todo custo descobrir se não há mesmo outra maneira e, ao mesmo tempo, passa a mostrar ao neto tudo o que existe na realidade deste mundo, antes que a criança perca sua visão. O filme ficou em sexto lugar na lista dos indicados ao Oscar, em 2004, mas apenas cinco entram oficialmente na disputa. Mesmo assim, ganhou o prêmio Golden Lotus, dado no National Film Awards para o melhor filme.


Desde então – mas veja, em anos bem recentes – o cinema marathi passou a ser mais bem visto e a receber mais recursos, ainda que tímidos comparados a outras grandes indústrias indianas. Porém, num país em que o cinema faz parte da vida íntima do povo, um estado de língua próxima ao hindi e que sedia a maior e mais prolixa indústria de cinema da nação, é difícil galgar o seu reconhecimento, independentemente de sua qualidade.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sou grande fã tanto de Bollywood como do cinema marathi e, tendo vários amigos que são 'marathis' de nascença,consigo sentir nas conversas e até na divulgação de alguns filmes que,se não fores marathi e não entenderes a língua,você(estando na Índia,é claro) não dá a mínima pros filmes.Acho isso errado porque Bollywood tem muito que aprender com eles pois as comédias produzidas são sem igual e os filmes,apesar de serem meio zuados, são ótimos.

P.S.: AMEI o blog de vocês!!Só acho que deveria ter uma seção dedicada à Mallika Sherawat rsrsrsrs Abs