terça-feira, 23 de setembro de 2008

Devdas (2002) - देवदास


Hoje vamos falar de um clássico de Bollywood: Devdas. Embora relativamente recente (foi lançado em 2002), este filme imediatamente tornou-se um dos maiores hits do cinema indiano e uma de suas músicas, Dola Re Dola, é até hoje uma das músicas de Bollywood mais cantadas.

Mas, como aqui neste blog nós não damos apenas sinopses e historinhas, Devdas passará também pelo crivo da crítica devida.

Bom, baseada no romance homônimo do escritor bengalês Sharat Chandra Chattopadhyay, esta versão já é, na realidade, a terceira filmagem deste livro feita em Bollywood, mas a primeira em cores. Dirigido por Sanjay Leela Bhansali (o mesmo de Black), estrelando nada mais que Shahrukh Khan, Aishwarya Rai e Madhuri Dixit, Devdas foi a mais cara produção indiana até então, consumindo cerca de Rs 50 Crores, ou quase 20 milhões de reais. Para se ter uma idéia, as produções brasileiras mais famosas nos anos recentes não chegaram nem à metade dessa quantia.

E olha que Devdas deixou de utilizar muitos recursos em sua produção, como cenas externas (praticamente todo o filme é feito em estúdio), por exemplo. No entanto, a grande fórmula desta obra de Bhansali é outra: utilização dos mais famosos atores-Deuses de Bollywood; história de amor quase ou pior que Romeu e Julieta; e impressionantes cenas de song-and-dance em imensos cenários construídos em estúdio.

A história é a seguinte: Devdas (Shahrukh Khan) retorna de seus estudos na Inglaterra, depois de muito tempo ausente. Sua família é riquíssima e vive em uma mansão em algum lugar do West Bengal (o filme é em Hindi, mas hora ou outra aparecem algumas expressões em bengalês). Eles têm como vizinhos uma outra família riquíssima, cuja filha Paro, apelido de Parvati (Aishwarya Rai), cresceu com Devdas - e lógico que foram apaixonados. Devdas, ao retornar, vai ver primeiro ela ao invés de sua mãe.

Tudo corre bem e parece que ambos vão casar, mas a inveja, o ciúme, a fofoca e tudo de ruim que há em mulheres ciumentas e famílias "bem" organizadas acontece e o plano vai por água abaixo. Paro acaba sendo "oferecida" para um viúvo de 40 anos e Devdas, por sua vez, acaba brigando com seu pai, com quem rompe relações, e vai parar num bordel, onde é acolhido por Chandramukhi (Madhuri Dixit), que se apaixona por ele, que acaba virando alcoólatra e muito doente. A partir daqui o filme começa a ficar mais emocionante e prefiro não prosseguir na história. Apenas ressalto que o final desta história acabou por fazer muitas mulheres e homens indianos se derramarem em lágrimas. É um trágico dos mais clássicos.

Mas agora vamos à minha função de blogueiro crítico. Este filme está bem longe de ser um dos meus favoritos do cinema indiano. Eu declaradamente gosto de produções em que o cinema seja entendido como arte, em que haja um bom uso dos recursos cinematográficos disponíveis, em que o enredo, a direção, a fotografia e as atuações se aliem para compor uma obra de sentido artístico. Em Devdas, Bhansali exagerou na direção, criando tomadas forçadas para tentar aumentar o clima de tensão, emoção e tragédia. Além disso, a própria história em si não traz nada de novo. Salvo as boas atuações de Shahrukh Khan e Aishwarya, o resto das interpretações estão forçadamente caricatas, tanto quanto caricato é o próprio cenário (brega?) da obra.

Mas não estou dizendo que este filme não precisa ser visto. Muito pelo contrário. É um marco bollywoodiano, um ícone para a indústria cinematográfica indiana. Até porque, se no Filmfare Awards o filme recebeu 10 prêmios e 6 no IIFA Awards, é porque aí tem alguma coisa que no mínimo se destaca das outras produções.

23 comentários:

Anônimo disse...

Oi Ibira!
Bom, primeiramente, preciso discordar um pouquinho do termo que você usou... isso não foi bem uma crítica, mas um ponto de vista.
Como cineasta, só tenho elogios em relação a esta obra cinematográfica.
Eu gosto de dizer que cinema-arte não é necessariamente algo que foge do cinema indústria; as duas coisas podem estar unidas muito bem.
Em termos técnicos esse filme é absolutamente fantástico; e reforço o coro de mil vozes: Dola Re Dola é tão complexo e admirável que me pergunto quantos ensaios (não só de dança mas de sincronia atores-coreografia-câmera) foram feitos, além de um trabalho ótimo de edição.
Penso que é a uniao perfeita de artes como a dança e o cinema.
Breguice é relativa, porém o trablho de arte foi magnífico, muito bem elaborado.
E o filme em si re(a)presenta todas as características bollywoodianas, incluindo as atuações. Mais ainda pelo fato de ser mais uma 'adaptação' da história.
Enquanto filmes como o Om Shanti Om fazem essa leitura burlesca dos aspectos da indústria, Devdas fez isso com classe e muito bem feito. Mais uma vez, só tenho elogios!
=D

Ibirá Machado disse...

Oi Jules!
Muito obrigado pelo seu comentário! Eu concordo com o que você falou, com excessão da questão da relação cinema-arte X cinema indústria. Eu acho que o que o cinema indústria sabe fazer muito bem é justamente toda a elaboração técnica, que vai desde cenários impecáveis até coreografias sem igual. Tudo isso são aspectos técnicos que existem para fazer um produto ser bem vendido. Existe muita criatividade nisso tudo, mas não é arte.

Devdas é impecável no que diz respeito ao cinema-indústria-bollywoodiano. Se tenho que escolher um filme que represente Bollywood, Devdas é candidato certo, e por isso ele tem o seu valor dentro de um segmento tão importante.

:)

bárbara disse...

"Brega"? Que dureza :D

Eu explico porque é que nós, meninas, gostamos de Devdas.

Pondo o elemento SRK de parte, que certamente leva muita gente a amar o filme, Devdas é um exagero de teatralidade e dramatismo, além de que a roupa da Aishwarya Rai e da Madhuri Dixit são de morrer ;)
Ah, e tem também as coreografias super elaboradas.

Ou seja, de um ponto de vsita feminino, é um filme muito marcante.
OK, e talvez seja um bocadiiinho brega... ^_^

Ibirá Machado disse...

Barbarella... ah, eu entendo tudo isso, super concordo com a questão das roupas e das coreografias, que realmente são super elaboradas e bonitas. Também sei admirar isso, mesmo eu não sendo menina. Mas... acho que minha maior crítica vai mesmo ao que eu já escrevi na postagem e que tem a ver com a questão cinema e arte. A discussão é longa, há cineastas defendendo que isso é também arte, enfim... e você mesma disse, é um grande exagero de teatralidade e dramatismo, já disse tudo!

E de qualquer maneira, recomendo a todos verem, pois não deixa de ser um fantástico exemplar de Bollywood, não? Mas outro problema: pra mim nada supera Taare Zameen Par, e são tão diferentes..........

adriana disse...

Olá Ibira. AMEI seu blog, tem tudo o que eu procurava sobre as musicas e os filmes indianos. Acho Aishwarya lidissima e otima dançarina. Agora, como faço para assistir estes filme? Nas locadoras daqui nao tem, posso baixar, ou comprar , enfim o que eu faço? Quero muito assistir todos estes que você comentou aqui. Sou fa de filmes com numeros de dança. Um grande abraço e muito obrigado pelas informaçoes.

madhu disse...

Aiai... eu acho este filme tão lindinho!!! Todo cheio de detahes bonitinhos, coreografia super trabalhada e tal... É um filme romântico e o final até me surpreendeu!(eu não havia visto as filmagens anteriores). Fora que a beleza de Aishwarya Rai e a atuação ótima de Shahrukh Khan, prende a atenção de qualquer um né?! Este é sem dúvida um filme de "encher os olhos" com a beleza dos detalhes que só se vê em Bollywood!

Anônimo disse...

Oi Ibirá! Amo Bolywood, mas o acesso é difícil.Por isso acabo vendo só as produções caricatas como Devdas.
Nada supera a Paro correndo até o portão na cena final e ... (vc sabe... melhor não contar o final).
Enfim foi ouvindo e vendo o clipe de Dola re que eu descobri que Bolywood existia.Já tinha até assistido Casamento Indiano (Monsoons Wedding) mas não sabia que existia uma indústria tão poderosa e ativa na área cinematográfica indiana.
Eu amo Devdas, mesmo sabendo que você está certo... sempre achei tudo muito exagerado... aliás eu julgava Bolywood por esse filme e dizia que filme indiano parecia novela mexicana super produzida e com otímos atores... por causa de Devdas. Mas... enfim, eu gosto hihi

Ibirá Machado disse...

Oi Monique, adorei esse seu comentário! Obrigado!

Só para dizer, Monsoon Wedding não é um filme de Bollywood... é uma obra independente de Mira Nair...

E pois é, eu mesmo tinha uma visão de Bollywood semelhante à sua. Quando descobri que Bollywood não era somente esse tipo de produção foi que decidi imediatamente criar esse blog! :)

Pedro disse...

Vou confessar eu descobri Bollywood atravês de Caminho das Índias:Já adorava o Hínduismo,yoga,etc. antes da novela mas as músicas me puxaram aos filmes...começei com Jodhaa Akbar,e não consegui parar e pior ,eu fiquei viciado em Devdas .Eu embora não seja menina adorei as roupas,danças,tudo.Equando criei a comunidade Devdas-Brasil eu lembrei:
Nessa o Ibirá não vai querer entrar.;)

Uma resalva:Realmente o cenário é um pouco brega.

Om shanti Om

Ibirá Machado disse...

Obrigadíssimo pelo comentário, Pedro! Como eu disse no comentário, esse filme de fato vale pelo que é, por mais que não me convença efetivamente. Dola Re Dola é A música de Bollywood, e não tem jeito.

:)

Anônimo disse...

Aê!!

Caminho das Índias à parte, eu já tinha ouvido falar de Bollywood, mas me interessei MESMO depois da novela.
Isso porque adorei a trilha e fui procurar os clipes (coisa que A-DO-RO).
Mas até agora só consegui ficar nos clipes. Não acho os filmes em locadoras e não tenho $ pra comprar. Baixar tb tá difícil, pois vem sem legenda (aliás, vc tem alguma dica pra dar nesse sentido?).

Bom, na minha ignorância posso dizer adorei Dola Re Dola exatamente pelo citado por Jules. Na primeira vez que vi pensei "KRA! deve ter dado um @#$@# trabalho".

Parabéns pelo blog. Achei muitas informações sobre os filmes.

té.......

Ibirá Machado disse...

Olá Josy, obrigado por escrever! :)

Existem muitos e muitos filmes disponíveis na internet com legendas em português. Aconselho-te, se tiver orkut, a entrar na comunidade Quero Cinema Indiano no Brasil e conferir o que já foi dito lá. Há muita coisa já postada lá a respeito disso :)

bjs

Anônimo disse...

Ontem assisti ao filme Devdas. Achei um filme carregado demais, em vários aspectos. Discordo que, tecnicamente, o filme seja bom. É exatamente aí em que o filme peca. Os cenários são extremamente opulentos, coisa que só se vê em mansões de traficante internacional (hehehe). O roteiro, baseado na história manjadíssima de Romeu e Julieta, ficou tão carregado "nas tintas" que está caricato - os principais personagens não tem um mínimo de razoabilidade. E as interpretações dos atores, não poderia ser diferente - pouco natural, nada convincente. Enfim, pra quem já assistiu Jodhaa Akbar, sabe que Bollywood tem capacidade para produzir um filme de melhor qualidade e, para quem não assistiu, infelizmente, vai pensar que os filmes indianos são uma caricatura só. E pensar que o mesmo Leela Banshali fez o excelente Black... mal acreditei - ele evoluiu deveras!

Ibirá Machado disse...

Soraia, como eu já disse na minha crítica, eu penso semelhante a você. Eu costumo recomendar Devdas a quem já sabe o que é o cinema indiano, em termos de qualidade, somente porque Devdas é um mega marco do cinema indiano da Índia. Quando digo marco, eu digo em relação à própria Índia em si. Foi o filme mais caro da história do país e o segundo que mais arrecadou em bilheteria. As músicas do filme - sobretudo Dola Re Dola - são ainda hoje as mais tocadas no país. E isso não pode ser deixado de lado.

E Sanjay Leela Bhansali não evoluiu não. Embora Black tenha vindo depois de Devdas, ele em seguida fez Saawariya que seguiu sendo melodramático e tudo o mais, embora eu o considere melhor que Devdas...

bárbara disse...

Aye! Porque é que vocês não gostam do Devdas?

Vou fazer aqui uma apologia, tá?

Devdas é uma adaptação de um livro do início do séc. XX, por isso a história não pode fugir à obra original. Daí que embora muitas vezes as pessoas achem que a personagem Devdas é desinteressante, ao passo que as femininas não, há que ver que Devdas é o estereótipo do rapaz mimado e egoísta. As verdadeiras personagens da obra são as femininas.

Quanto à oopulência, ela é justificada pela época. Quando vemos um filme sobre o séc.XVII na Europa, por exemplo, também temos de esperar opulência.
E daí a artificialidade que eu sei que muitas vezes é atribuída aos actores mas que, na minha opinião, é uma escolha consciente do realizador.

Se virmos filmes indianos antigos, os clássicos, veremos que o Devdas de Bhansali é uma homenagem a essa escola de cinema (e a esse período literário), com os seus maneirismos e cenários extravagantes.

Deus nos livre de vermos um Devdas filmado de forma a parecer-se com a realidade. Deixaria de ser Devdas.

PS: Black é, na minha opinião, o filme mais fraco de Bhansali. Só foi bem recebido pela crítica porque é um filme à americana, e infelizmente para os indianos, os ocidentais fazem filmes destes há muito mais tempo e com muito mais realismo.
Quem nunca tiver visto filmes como Dead Poets' Society ou por exemplo Rain Man (que é o caso do público indiano) poderá ficar impressionado com Black, mas eu achei o filme muito previsível.

Numa nota muito pessoal: não gosto quando os cineastas indianos tentam estas incursões por registos já amplamente explorados pelo cinema americano porque estão condenados a falhar. Por esse motivo estou com algum receio (aliado a uma boa dose de expectativa) de ver TZP. E se for mais do mesmo?

bárbara disse...

Ups... esqueci-me de mais um pormenor. Não quero parecer chata (mas já parecendo), Shakespeare escreveu Romeu e Julieta no séc. XVI, adaptando-o de um conto italiano do séc. XV. Antes disso, havia já Tristão e Isolda, uma história similar de origem celta que só passou para a escrita no séc. XII.

Por isso, Bhansali não é o primeiro a usar a mesma história. :)

Ibirá Machado disse...

Barbie, muitíssimo obrigado pelo seu comentário, de verdade. Eu preciso, por vezes, levar uns tapas na cara e curvar-me, pois reconheço que preciso aprender a olhar pro cinema indiano com outros olhos.

E não fossem discussões desse tipo - e nível - o amadurecimento levaria sempre mais tempo a vir, não?

Gracias once again!

bárbara disse...

Tapas virtuais, adoro!

Anônimo disse...

Respeito totalmente as opiniões divergentes, mas penso um pouco diferente.

Numa adaptação é permitido fazer alterações - é exatamente por isso que se chama adaptação. A opulência é justificada à época, mas, na minha humilde opinião, houve excesso. Ah, sim, vi Rain Man e Sociedade dos Poetas Mortos e mesmo assim, achei Black belíssimo. É exatamente aí o ponto crucial: usar uma história manjadíssima no cinema (nem sabia que Devdas era super hiper mega manjadíssimo!), utilizá-la de forma única e transformá-la numa história única. Foi exatamente que Taare Zameen Par fez.

De qualquer forma, acho ótimo que os indianos estejam produzindo filmes que atendam aos mais diferentes gostos/públicos - isso é sinal de maturidade! Coisa que hollywood pena para atingir...

Estou ficando fã de filmes indianos!

bárbara disse...

Nisso concordo totalmente. Hollywood deixou de inovar há muito tempo, a fórmula é repetida até à exaustão. Para não falarmos da quantidade de filmes americanos que são adaptações de filmes estrangeiros, principalmente orientais.

Esses já não querem fazer arte, só garantir lucro :(

Mas é que Bhansali é o meu realizador do coração e eu morro quando alguém não gosta de Devdas. Como o Ibirá, que disse que o filme era brega ;_; ;_; ;_;

Anônimo disse...

Hehehehe, e para mim, Ashutosh Gowariker é o meu diretor do coração! :)
Viva a diversidade.

Carol Juvenil disse...

Gente, acho esse filme tão ruim. Vivo na base de um Mughal felicíssima, mas Devdas não dá.

EGO disse...

Pelo menos voces conseguiram assistir pra criticar! E eu que nao consigo uma legenda que preste para o filme ¬¬