sábado, 21 de novembro de 2009

Dev.D (2009) - देव-डी

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Vamos hoje falar de Dev.D, a décima versão cinematográfica já feita na Índia sobre o romance bengalês de Sarat Chandra Chattopadhyay, chamado "Devdas" (1917). Quem conhece o cinema indiano sabe bem que o filme bollywoodiano Devdas (2002), dirigido por Sanjay Leela Bhansali e estrelado por Shahrukh Khan, Aishwarya Rai e Madhuri Dixit, é um dos filmes mais emblemáticos da Índia dos últimos tempos, tendo sido, na época, a mais cara produção até então e a que mais arrecadou, sendo superada somente por Ghajini (2008).

Pois Dev.D não tenta superar o Devdas anterior. Escrito e dirigido por Anurag Kashyap, sua ideia era fazer uma releitura contemporânea da obra bengalesa do início do século XX. Dessa forma, o Devdas anterior, de Bhansali, aparece como homenageado declarado, em dois distintos momentos em que uma das personagens assiste à cena de Dola Re Dola na TV; nessas horas, Dev.D beira um meta-filme.

Pois bem, e então aqui Abhay Deol é Devendra Singh Dhillon, o Dev, filho de um rico empresário do Punjab. Mahi Gill é Paro. Ambos são amigos de infância e desde cedo gostaram muito um do outro. Acontece que Dev é um garoto dissimulado ao extremo, para desgosto do pai, que o envia a Londres para que ele fique lá por muitos e muitos anos, estudando.

No meio tempo ele segue se comunicando com Paro, pela internet e celular. Até que chega o momento de sua volta à Índia. Ambos se amam, mas é difícil consumar o que sentem por questões sociais que em princípio os impedem de ficarem juntos. Paro é então prometida por seu pai a outro rapaz. Nem Dev, em seu orgulho, e nem Paro, na sua fragilidade, conseguem reverter esse processo.

Dev vai então embora para, supostamente, sofrer menos. Mas ele jamais deixou de ser um ser dissimulado. Se afunda em drogas e bebidas e, nesse afundamento, vai parar em um prostíbulo de Delhi, onde acaba por conhecer Chanda. Pouco antes desse momento, somos apresentados a essa garota. Antes chamada Leni (Kalki Koechlin, nascida em Pondicherry, filha de pais hippies franceses que se mudaram pra lá), aos 17 anos envolveu-se desgraçadamente num escândalo, após um rapaz com quem teve relações sexuais filmar a cena e colocar na internet. Pelo que soube, essa parte do filme é baseada num caso real que ocorreu recentemente em Delhi. A história de Leni chega ao ápice quando seu pai comete suicídio por causa disso. O único caminho que ela encontra é aceitar um convite que fazem a ela, para trabalhar em um prostíbulo. Um dia, assistindo ao Dola Re Dola na TV, decide que seu nome artístico será Chandramukhi, mas vira então Chanda.

Chanda apaixona-se por Dev, que tem nela o seu refúgio, mas que ainda diz amar Paro. Paro, por sua vez, chega a demonstrar um certo carinho por Dev, mas visivelmente mostra-se feliz em seu casamento. Daí o final da história não vou dizer qual é, nem se é o mesmo do Devdas anterior, para quem conhece.

Eu gostei muito desse filme, foi uma bela surpresa. Todo o enredo é muito bem bolado, a direção é ótima, a atuação dos atores é excelente e as músicas são inusitadamente bem inseridas em todo o contexto e ritmo da história. Também achei bem divertida a presença um tanto onipresente do "The Twilight Players", um trio de dançarinos irreverentes e que fazem a vez do song-and-dance inexistente nesse filme.

Na Índia, Dev.D teve uma excelente recepção pelo público e a extensa trilha sonora (com 18 faixas e autoria de Amit Trivedi) fez bastante sucesso. Tendo estreado em fevereiro deste ano, eu posso dizer que essa obra vem numa linha muito semelhante à que veio Kaminey (2009), que estreou agora em agosto e que vem construindo novas facetas em Bollywood, sem, porém, querer substituir o que já existe e faz mais sucesso. É apenas um processo de grande enriquecimento que o cinema indiano vem vivendo.

E agora confiram o trailer de Dev.D:



20 comentários:

Carol Juvenil disse...

Estou com tanta vontade de assistir a este filme que minha situação já está beirando o desespero.Desde que assisti ao trailer e li sobre ele,só penso em ver a droga do filme,mas ainda não coloquei para download por pena de baixar outro filme(a quantidade de filmes no meu computador já está assustadora).Sua crítica só confirmou o que eu imaginava e foi a gota d'água.Vou baixar isso agora.

"Surpreendentemente",a bendita da Wikipedia já me contou o fim.

Ibirá Machado disse...

Ah! Que ridículo! Eu fui ver e de fato a wiki conta o final sem nem sequer dizer que há spoilers!

Então atenção leitores, quem não quer saber o final, não leia o plot desse filme na página dele na wikipedia!

E Carol, uma das minhas funções aqui é causar sentimentos estranhos nos outros, tipo o desespero ;)

Lívia Bernardes disse...

A indústria cinematográfica Indiana realiza centenas de produções por ano, mas poucas chegam às telas do exterior e Devdas na versão de Sanjay Leela Banshali foi muito festejado em Cannes 3 meses depois que Lagaan concorreu ao Oscar.Outros filmes indianos exibidos anteriormente no festival eram pouco comerciais, com histórias de pobreza, opressão feudal e desemprego e acho na minha opinião que o mérido de Devdas e Lagaan foi mostrar a outros consumidores de cinema que existe filmes comerciais bons diferente do esteriótipo que escrevem sobre Bollywood.Eu acho a história de Devdas é mais que um romance trágico é um clássico da literatura cult no qual os indianos se indentificam muito pela imobilidade das castas e com isso a maioria dos amores sendo impossíveis, o eterno dilema do amor e do "dever". Não vi a nova versão mas tenho a sensação que a modernidade inserida na obra trouxe boas surpresas no desfecho dele e espero que assim seja já que na versão clássica o filme termina com a sensação de o final poderia tanto ser outro.

Ibirá Machado disse...

Obrigado pelo comentário, Lívia. Eu concordo, mas acho que a maneira com que o enredo de ambos os filmes são levados nos fazem desejar finais distintos para cada um deles. E posso dizer - correndo o risco de estragar prazeres - que se no final de Devdas o desfecho não é em absoluto como desejamos, em Dev.D, sim, o final é o mais sensato.

Com certeza Devdas justifica-se pela questão trágica da imobilidade das castas e como enchergar um respiro nisso pode ser esperançoso. Mas não é somente isso. E em Dev.D a grande diferença está em outra parte, que não das castas e casamentos impossíveis - pois seria possível entre Dev e Paro -, mas sim de mostrar um enfrentamento mais real das dificuldades naturais da vida, porém sem dramaticidade.

bárbara disse...

Tenho sentimentos confusos quanto a este filme. Por um lado quero ver, por outro receio que estrague a minha imagem cristalizada da história.

Mas é claro que vou ver :)

Ibirá Machado disse...

Eu acho que ele não tem pretensões de ser uma versão moderna de Devdas, uma adaptação, mas sim uma releitura, uma inspiração. E sendo assim, ficou muito original e gostoso de ver, de verdade! :)

O Devdas original vai se manter guardadinho dentro de ti, podes crer!

Indi(a)screet disse...

Nossa, preciso assistir correndo...

Ibirá Machado disse...

Assiste sentada, Sandra... (huhuhuhuhu) ;)

bárbara disse...

:D :D

Iseedeadpeople disse...

Ibi, morra de invejaaaaa, eu comprei o dvd dele na Índia! Foi 200 rupias!

Mas ainda não assisti... tava sem ânimo p assistir coisas trágicas e amores imposíveis. Deixa o marido chegar q assisto com ele, caso contrario vou ficar cheia de caraminholas na cabeça hehehehe

Ibirá Machado disse...

Invejinha!

Sem caraminholas, faz favor!

Krsna Mohan | Luiz F. disse...

Putz só consigo versão zuada desse filme, praticamente desisti dele.

Ibirá Machado disse...

O que eu vi tava ótimo! Só que nem me pergunte de onde baixei pq não me lembro nem de perto.... :S

Carol Juvenil disse...

Minha versão também estava boa.

Eu amei esse filme.Amei, amei, amei, amei e amei.E amei mais um pouquinho.Foi forte e ao mesmo tempo sensível, e emocionava,e fazia refletir.Acabei de assisti-lo, e fiquei tão animada que já vim correndo aqui contar.Foi lindo, já falei que foi forte?Mas que raio de filme bem feito é esse, gente?

A parte mostrando a vida da Chanda foi a minha favorita.Ela sofreu TANTO!Fiquei trêmula lá "naquela" cena do pai dela.E a Paro visitando o Dev? Linda, amei a roupa dela(ô comentário desnecessário).E foi TÃO lindo quando o Dev abraçou a Chanda!Foi sensível demais, lindo demais.Quantas vezes já falei "lindo(a)" aqui, hein?Pelo menos desta vez, não estou dizendo que é mágico.

Tive minha chance de amar Devdas e não posso dizer que consegui, porque não fiz ligação entre ele e Dev.D.Nossa, totalmente diferente.A-m-e-i!

Essa foto do Luiz me dá paz.

Carol Juvenil disse...

Não me apaixonei por ele, mas tive algo com o Abhay.Aí saquei que era porque ele me lembrava muito o Mark Ruffalo, por quem tenho uma queda desde que vi "De Repente 30", acho quem em 2004.Ai, meus 13 anos *-*

E a Chanda me lembrava a Jennifer Garner.Acho que ainda amo "De Repente 30".

Ibirá Machado disse...

Carol, obrigadíssimo pelo seu comentário. Eu também gostei super desse filme. E lembrar que você estava beirando o desespero para vê-lo... será que as espectativas foram ainda mais superadas? :)

Psicologia e muito mais disse...

Bom gosto é mesmo algo fundamental.
Parabéns!

Ibirá Machado disse...

Obrigado!

Iseedeadpeople disse...

Ibi,

após mais de 1 ano q comprei esse DVD em Mumbai, tive coragem e o assisti ontem. Muito bom,expõe toda a hipocrisia e o machismo indiano - tdos preferem fingir que a mulher indiana não tem desejos e não fode ;)E qdo isso vem a tona...sai de baixo. Achei muito tocante a cena em q Chanda diz p Dev: "eu só queria q meu pai me abraçasse e dissesse que tudo ia passar e eu ia ficar bem. Mas em vez disso, ele se suicidou com um tiro."

Só achei q botaram músicas demais... (hahaha realmente eu não gosto dessa coisa de 90% dos filmes indianos serem só música - sou atípica) e esse trio aí é muito brega.


Baixei Devdas, vou fazer o caminho inverso agora ;)

Ibirá Machado disse...

Aaah, eu adoro esse filme :)
De fato é muita música, mas eu achei que ficaram adequadas nesse filme...
Mas adorei que você veio até esse post comentar :D