segunda-feira, 9 de março de 2009

A fama é passageira

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Recebi de uma leitora uma reportagem que saiu no jornal Times of India, falando da fama passageira de atores-mirim de filmes que ficam famosos. A reportagem, na verdade, encontrou Shafiq Syed, que foi estrela de Salaam Bombay!, filme de Mira Nair indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 1989. Mas a despeito do sucesso internacional do filme, e do papel de protagonista do então criança Shafiq, ele é hoje um motorista de riquixá em Bangalore. Esse tema tem tudo a ver com o momento, enquanto discutimos sobre os atores-mirim de Quem Quer Ser um Milionário?. Leiam a reportagem:

"Salaam" estrela agora um motorista de riquixá
05/03/09, Seethalakshmi S., do Times of India

BANGALORE: O mundo não pode tanto quando as crianças de rua de Quem quer ser um milionário?. Rubina Ali e Azharuddin vivem agora o brilho de que são feitos os sonhos. Bajulados com os Oscars e prêmios do Filmfare, elogiados pelos Shah Rukhs e Brad Pitts, você tem certeza que, como Jamal, eles também terão um lindo destino.

Terão mesmo? Essa é a pergunta do milhão. E se a vida de Shafiq Syed é um exemplo, então o pó de ouro desaparecerá rápido de suas vidas. A história de Syed é impressionantemente semelhante à das crianças de Milionário. Ele foi a estrela-mirim do filme indicado ao Oscar de Mira Nair, Salaam Bombay!. Ele ganhou a medalha do presidente pela melhor atuação de uma criança, mas caiu no obscurantismo - e na pobreza.

Em Bangalore, se você pegar um riquixá com a placa KA-01-9770, pare e veja o motorista de perto. Ele é "Krishna", o garoto de 12 anos que vendia paav e chá e roubou corações no premiado filme. Hoje, ele ganha a vida com miseráveis 150 rúpias por dia (pouco menos de 4 dólares), dirigindo seu auto pelas ruas de Bangalore.

Syed diz que foi por uma grande sorte que ele acabou ganhando o papel de Krishna. "Em 1986, junto de alguns amigos, eu fugi de casa apenas pra ver como era Mumbai. Nós não tínhamos casa, então ficamos nas calçadas da Churchgate", diz.

Um dia, a vida mudou dramaticamente pra vida dos garotos. Uma mulher aproximou-se deles dizendo que pagaria 20 rúpias por dia se eles participassem da oficina de drama dela. "Meus amigos disseram que isso seria um negócio pra explorar crianças e foram embora. Eu fui com ela. Eu estava muito feliz de ganhar 20 rúpias por dia, pois assim eu poderia ir ver filmes e comer bhelpuri. Havia cerca de 120 garotos como eu na oficina. Eles fizeram uns testes de gravação e eu acabei ganhando o principal papel do filme".

"Nós gravamos por 52 dias e eles pagaram-me 15.000 rúpias. Eu estava muito emocionado. Após as gravações, eu poderia assistir filmes e saborear as comidas de rua de Mumbai. O filme foi o maior sucesso e quando o presidente tirou fotos comigo era como se eu estivesse num sonho."

Mas sonho acabou rapidamente. A equipe de filmagem encerrou-se e desapareceu. "Eu percorri as ruas de Mumbai batendo nas portas de produtores por cerca de oito meses, mas a sorte não sorriu pra mim. Em 1993, eu voltei pra Bangalore e recomecei a vida. Eu tenho três filhos que estão estudando", diz Syed, cogitando se o "reconhecimento é temporário".

Colaborou: Verônica Braga

6 comentários:

Krsna Mohan | Luiz F. disse...

Assunto complicado e bem típico. O mundo está cheio de exemplos de atores mirins explorados que se deram mal (talvez um triste maioria).
Mas no caso das crianças de Slumdog Millionaire me parece bom o que o Danny Boille está fazendo: investigo na educação das ciranças, e não recheando a mão de pais louquinhos pra se darem bem.

Robertson Frizero disse...

No Brasil temos dois casos que mostram os extremos dessa questão: um é Fernando Ramos da Silva, o ator-mirim de "Pixote - A lei do mais fraco", de Hector Babenco, que depois da fama não conseguiu fugir da marginalidade; sua história até rendeu o excelente "Quem matou Pixote?", de José Joffily; o outro é Vinicius de Oliveira, ator de "Central do Brasil", de Walter Salles, que com o apoio do diretor continuou seus estudos e segue fazendo cinema - é um dos protagonistas de "Linha de Passe", do mesmo diretor.

A questão é difícil, pois não vejo obrigação nenhuma dos diretores em "adotar" essas crianças; ao mesmo tempo, parece-me bem mais difícil para elas lidar com as mudanças bruscas que a fama repentina traz para suas vidas. Oxalá Doyle consiga afetar a vida dos atores-mirim de "Slumdog Millionaire" de forma positiva.

Indi(a)screet disse...

Eh a vida.....
Fama eh algo sempre muito passageira.
Fez-me lembrar das lindas e trabalhosas mandalas budistas que depois de terminadas sao pisoteadas ou sopradas ao vento para que aprendamos e impermanecia das coisas...

Ibirá Machado disse...

Adorei o comentário de vocês três!

sendonblanco disse...

Obrigada pela notícia! O garotinho de Salaam Bombay era ótimo, me surpreendeu saber o rumo que tomou. O mundo cinematográfico é duro e cruel. Esse é um filme que tenho de terminar de ver, pois o deixei pela metade, tamanha a angústia que me causou.
Ser ator mirim nao é fácil. Imagino essas crianças que participaram de Slumdog (aliás, quase todas muito expressivas, na minha opiniao), vivendo dias de sonho nos EUA, em hotéis de luxo, tomando milk shakes e comendo guloseimas o dia inteiro, mimadas, bajuladas, fotogradas e bem vestidas. Nao deve ter sido fácil sair desses dias de sonho para voltar às favelas de Mumbai. Espero que pelo menos estudem e aproveitem bem as oportunidades brindadas, para que nao terminem como o menino de Salaam Bombay.

Abraço,
Bru Lyrio.

mvc disse...

Acabo de ler isso:

http://br.noticias.yahoo.com/s/reuters/090420/entretenimento/cultura_gente_india_milionario_atriz