sábado, 11 de abril de 2009

Bollywood está boicotando cadeias de cinema na Índia

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por Vikas Bajaj, no The New York Times, publicado no Portal Terra

A história poderia servir de trama a um melodrama de Bollywood: um empresário, frustrado e se sentindo diminuído depois de anos como sócio minoritário do irmão, decide reagir, e isso desperta um conflito que coloca em risco as fortunas de todos os envolvidos.

Infelizmente, para os fãs de musicais e filmes de ação indianos, não se trata da descrição de um filme sobre uma família em conflito, mas de uma batalha real entre produtores de filmes e proprietários de salas de cinema que praticamente suspendeu o lançamento de filmes em hindi no país.

Os produtores e os distribuidores de cinema da Índia estão se recusando a liberar filmes para as grandes cadeias de salas de exibição até que lhes seja garantida 50% da receita de todos os filmes em suas quatro primeiras semanas de exibição. Hoje, os arranjos quanto à divisão de receita são negociados filme a filme.

A disputa, que estava por estourar há anos, surge em um momento difícil para o cinema indiano. A indústria nacional de cinema, conhecida como Bollywood, não consegue um grande sucesso há três meses; a receita nas bilheterias caiu em 2,3% no primeiro trimestre, ante o período em 2008, para 2,6 bilhões de rúpias, ou US$ 52 milhões, de acordo com a IBOS, uma agência de notícias especializada em cinema indiano.

Ao mesmo tempo, a crise financeira dificultou a obtenção de capital a ser investido em novos projetos. Apenas alguns filmes foram lançados desde o embargo, iniciado na semana passada. Os produtores dizem estar dispostos a reter seus filmes indefinidamente, até que recebam o que consideram justo.

Os produtores de cinema dizem que contam com o apoio dos astros do país, mas os proprietários das cadeias de salas de exibição afirmam que a posição que assumiram na disputa tem base nas duras realidades econômicas do setor.

Eles asseguram que uma divisão de receita, como a proposta pelos produtores, paralisaria o segmento de salas de exibição, já que a maioria das centenas de filmes lançados a cada ano não propicia retornos elevados.

As cadeias de cinemas controlam 850 das 13 mil telas de cinema do país, mas respondem por até 65% da receita do setor porque os preços dos ingressos nas salas modernas e luxuosas que elas operam são substancialmente mais elevados do que nos cinemas convencionais, mais antigos, com apenas uma sala.

Shravan Shroff, diretor executivo da Fame, uma das cadeias de salas de exibição, diz que as companhias do setor desejam uma fórmula baseada em uma escala variável, que recompensaria melhor os produtores quando os filmes se saem bem em termos de audiência e lhes daria uma participação mais baixa nos proventos de bilheteria em caso de filmes de menor sucesso. Ele aponta para o exemplo de Hollywood, onde os produtores de cinema e as cadeias de salas de exibição dividem os lucros de maneira diferente para cada filme, com base em diversos fatores, entre os quais o número de ingressos vendidos.

"Todos nós desejamos que os filmes se saiam bem no mercado; isso na verdade é do interesse de todos", diz Shroff. "Mas, para resumir a situação, se alguém me fornece um filme de grande sucesso, eu estou disposto a pagar; caso a produção seja um fracasso, por que eu deveria ser o único a sofrer? O produtor é que deveria sofrer mais."

Embora os dois lados professem estima mútua, em público, e afirmem que seu desejo é promover negociações com a maior boa fé, seus representantes vêm trocando farpas e acusações mútuas de conspiração, trapaça e, evidentemente, excesso de cobiça.

Os produtores de filmes se queixam de que os operadores de salas de exibição muitas vezes negociam acordos para filmes coletivamente, mas depois disso esperam até um ou dois dias antes da data de lançamento para fechar o negócio, com o objetivo de extrair melhores termos. Também acusam algumas salas de manipular a contabilidade quanto ao número de ingressos vendidos e o valor dos impostos pagos, a fim de manter uma porção maior da receita.

"As cadeias de exibição não fecham acordo definitivo quanto aos termos de divisão da receita até a quarta ou quinta-feira anteriores à estréia (que acontece na sexta), e agem em conjunto para isso", disse Jyoti Deshpande, vice-presidente de operações da Eros International, uma grande empresa de produção e distribuição de filmes. "É quase humilhante fazer negócios dessa maneira."

Mas os proprietários de salas de exibição garantem que são as produtoras e distribuidoras de filmes que contestam os termos do acordo até o último minuto. Também negam que manipulem os registros de ingressos vendidos e impostos, alegando que sofreriam forte punição caso o fizessem.

A suspensão de lançamentos pode beneficiar os produtores que realizam filmes em outros idiomas que não o hindi, falado primordialmente no norte da Índia. Mas os produtores de Bollywood afirmam que sua esperança é que os grandes estúdios no sul e em outras partes do país também suspendam o lançamento de seus filmes.

As cadeias de cinemas, de sua parte, estão tentando adquirir direitos de transmissão de partidas de críquete - a segunda grande paixão dos indianos -, caso não surja acordo em breve.

3 comentários:

bárbara disse...

Ver criquete no cinema? Que estranho.
Estava agora mesmo a ler estas notícias na internet, inclusivamente os actores Shah Rukh Khan e Aamir Khan fizeram uma conferência de imprensa conjunta defendendo os produtores. Confesso que só depois de ler este post é que percebi exactamente do que se tratava :)
Acho que se os produtores forem forçados pelos multiplexes a dividir as receitas desta maneira isso vai acabar por reduzir o número de filmes pois só se vai apostar em blockbusters seguros :(

Ibirá Machado disse...

Você tem super razão, Barbarella, eu também tava pensando nisso... quer dizer, estava a pensar nisso... rsrs

Krsna Mohan | Luiz F. disse...

Bom, não entendo muito dessas perrengas de produção, mas acho também que uma coisa deve ser frisada: Alguém se lembra de algum "grande" lançamento nos últimos 3 meses??? Como querem bater recordes de bilheteria se não lançam nada decente? Sim pq Billu Barber pra mim não conta :P