sábado, 18 de abril de 2009

Os judeus na origem do cinema indiano

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É sempre muito interessante descobrir a verdadeira origem das coisas. Ao menos pra mim, desvendar os mistérios por trás do presente é extremamente fascinante, sobretudo quando o fato presente está na Índia, que tem a capacidade de deixar tudo ainda mais interessante, seja no bom ou no mal sentido. Quando criei este blog, pouco a pouco eu fiz postagens sobre cada uma das indústrias regionais de cinema da Índia, contando resumidamente suas histórias. Em nenhum momento das pesquisas que fiz, porém, encontrei informações que revelassem quem executou papel determinante na construção da hoje mais prolífica indústria de cinema do mundo.

O fato é que na origem do cinema indiano - de Bollywood, principalmente - estavam alguns judeus indianos que foram absolutamente fundamentais. Tudo bem, posso ter sido um pouco negligente e preguiçoso por não ter encontrado esses dados antes, mas a verdade é que essas informações parecem ter ido a Israel junto dos tantos indianos judeus que para lá foram quando da criação daquele Estado. E não fosse a Prof. Sandra Bose sugerir-me fazer esta postagem no mesmo dia em que ela fala sobre a história dos judeus na Índia no seu INDI(A)GESTÃO, nós permaneceríamos sem saber de nada do que falarei aqui.

Bom, a história é a seguinte: até a independência da Índia, havia ali cerca de 30.000 judeus, de 4 comunidades diferentes. Hoje há algo em torno de 5.500 que por lá permaneceram ou retornaram. Uma das comunidades mais antigas, a Bene Israel, fixou-se há pouco mais de 2000 anos na região do Konkan, a costa do estado do Maharashtra, incluindo a atual capital, Mumbai.

No início do século XX, quando o cinema chegou à Índia, um certo problema surgiu. Ainda que os filmes fossem mudos naquele princípio, as muito tradicionais famílias hindus e muçulmanas tinham um certo preconceito em ver suas mulheres atuando, mas filmes só de homens seriam um tanto chatos. As famílias judias do Maharashtra, porém, não tinham problemas com isso e logo as primeiras mulheres a aparecerem no cinema mudo indiano eram judias. No entanto, esse laço que inicialmente surgiu pela necessidade de também ter mulheres no cinema, logo se transformou numa relação muito mais íntima.

Imediatamente, nomes como Firoza Begum (originalmente Susan Begum, à direita), Sulochana (Ruby Meyers, abaixo, à esquerda), Nadira (Farhat Ezekiel) e Pramila (Esther Abraham, na foto do início da postagem) eram os nomes mais venerados da recém-nascida Bollywood. Ainda durante o cinema mudo, Sulochana foi a atriz mais bem paga de seu tempo, recebendo um salário de 5 mil rúpias. Já no final da década de 40, com o cinema já falado, Pramila foi a primeira Miss India do país já independente. Pramila também teve uma outra importância para a comunidade judaica indiana, ao representar e dar visibilidade ao grupo de judeus chamados Baghdadis, que chegaram na Índia no século XVIII, quebrando um pouco a hegemonia do grupo dos Bene Israelis.

Além disso, um fato fazia do grupo dos Baghdadis destacarem-se perante os outros judeus da Índia e logicamente em relação aos outros indianos em geral: a pele clara. A teoria diz que, naquele tempo, o modelo de glamour e mulher bonita no cinema era Greta Garbo, de pele logicamente clara, e ser semelhante a ela era algo bacana em todo o mundo. Não que Pramila parecesse exatamente com ela, mas a tentaiva realmente existia. É claro que a polêmica da pele clara na Índia é mais complexa que isso, mas certamente esse fator contribuiu - e muito - para o estabelecimento de uma estética que até hoje Bollywood não superou.

Também no princípio do cinema indiano, algumas das primeiras produtoras acabaram sendo fundadas por judeus, alguns maridos dessas atrizes que se faziam tão necessárias. Um dos exemplos é a Bombay Film Lab Pvt Ltd, fundada por Salomon Moses na década de 40 e que até hoje existe em Bollywood.

Mas talvez uma dos fatos mais interessantes da presença judia em Bollywood diz respeito ao filme Alam Ara (Luz do Mundo), o primeiro filme falado da Índia, lançado no dia 14 de março de 1931. O que talvez tenha sido um dos maiores eventos de Mumbai na primeira metade do século XX, o filme Alam Ara teve roteiro e algumas das músicas escritos por Joseph David Penkar, um judeu indiano da comunidade Bene Israel. E foi esse filme - isso é a história que conta - que oficialmente fundou Bollywood, sem tirar nem por.

Ainda existem algumas más línguas que dizem que a comunidade Bunt, no estado do Karnataka, fronteira com o Kerala, da qual vieram Aishwarya Rai e Shilpa Shetty, é originalmente da linhagem dos judeus de Kochi. Isso também justificaria a pele mais clara das pessoas dessa comunidade. Mas são apenas más línguas que dizem isso. Oficialmente, a comunidade Bunt nada tem a ver com os judeus.

Pra quem ficou mais curioso sobre a presença dos judeus no cinema indiano, há algumas outras informações mais detalhadas na internet, em inglês. Sobre a história dos judeus na Índia, não deixe de ler a postagem de hoje no INDI(A)GESTÃO.

9 comentários:

Indi(a)screet disse...

Excelente! Muito bem escrito e ilustrado este post sobre a importancia dos judeus (ou melhor, das mulheres judias) no cinema de Bollywood.
Fico surpresa e feliz em saber como os judeus, silenciosamente, estao sempre por tras de muitas das descobertas e bem feitorias do mundo. Gosto muito deles!!

bárbara disse...

Ibirá, parabéns pelo post EXCELENTE!!
Aqui está algo que a maioria das pessoas desconhece certamente, eu não fazia ideia.
É muito bom saber estas coisas. Acho que vou pôr (mais) um link no meu blog.

Robertson Frizero disse...

Genial! Ibirá, cada dai mais me torno teu fã e do CINEMA INDIANO - teu blog, sempre rico e diversificado.

Essa recuperação histórica das atrizes judias que deram início ao cinema indiano é simplesmente fantástica!

Ibirá Machado disse...

Muitíssimo obrigado a vocês três! :-)

Krsna Mohan | Luiz F. disse...

Nossa eu não tinha nem idéia que existiam judeu na Índia, ainda mais com tal importância!! Mto bom!!! Vlw msm!!

Rachelet disse...

Também pensava que as grandes «invasões» de judeus na Índia se limitavam aos israelitas que passam uma temporada em Goa no final do serviço militar obrigatório (para mal das comunidades locais, porque são na maioria muito encrenqueiros :D).

É curioso ver que também em Bollywood os produtores são judeus, mais uma prova do providencial olho para o negócio!

Ibirá Machado disse...

É mesmo incrível como all around the world lá estão eles como atuantes determinantes nos negócios e nas artes. E olha que nesse caso são judeus que lá estavam há 2 mil anos!

Unknown disse...

SIM,INDIANOS E JUDEUS SEMPRE FORAM POVOS MUITO PRÓXIMOS..OBRIGADA IBIRÁ !

Ibirá Machado disse...

De nada, Vera ;)

O que achei mais legal, ao fazer essa pesquisa, foi descobrir que, muito mais de judeus e indianos serem próximos, é que havia judeus indianos há mais de 2000 anos na índia! :D