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E então lá fui eu hoje assistir a mais um filme indiano na 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. E meu Deus, quando Delhi-6 acabou eu só tinha uma palavra na cabeça: "Wah!". Essa é a expressão em hindi para o nosso "uau", e era realmente só isso que eu tinha a dizer, ou pensar, ou reagir, ou o que fosse que tinha que acontecer.
Confesso que com esse filme eu tinha uma certa expectativa, principalmente pelos fatores a seguir: 1. por ser escrito e dirigido por Rakeysh Omprakash Mehra, diretor de Rang De Basanti (2006) - um dos melhores filmes indianos que conheço; 2. por ter Abhishek Bachchan como protagonista, o que na verdade não necessariamente significa alguma coisa; 3. e por ter trilha sonora de A.R. Rahman, que significa muito. E ao finalmente assisti-lo - e no cinema! - que bela surpresa!
O senhor Rakeysh Omprakash Mehra já havia conquistado o topo de meu respeito com Rang De Basanti, que foi seu segundo filme e é fantástico. Esse, o terceiro dele, só deixou claro pra mim que ele sabe o que faz e sabe fazer direito.
Ao que consta, Delhi-6 é uma ficção com muito de autobiográfico do próprio diretor, que cresceu no centro da Delhi velha, numa região conhecida como Chandni Chowk. Mas autorreferências à parte, o filme conta a história de Roshan (Abhsishek Bachchan), um estadunidense filho de indianos, que decide levar sua avó (Waheeda Rahman) a Delhi para que ela possa morrer em sua pátria. E o próprio Roshan narra a história toda.
E assim, nesse princípio, o filme é muito gostoso de se ver, pois Roshan vai descrevendo suas impressões da Índia, que para ele lá é tudo tão louco quanto para qualquer um ocidental - que é o que ele é, na verdade. Aos poucos, porém, as coisas vão acontecendo na tumultuada vizinhança da velha Delhi.
Pra começar, Bittu (Sonam Kapoor), filha do covarde vizinho Madangopal (Om Puri), está se preparando secretamente para participar do Indian Idols (a versão indiana do Ídolos). Ao mesmo tempo, está sendo acertada a sua venda, ou melhor, o seu casamento, totalmente contrário à sua vontade. E desde o primeiro instante os olhares de Bittu e Roshan entrecruzam-se anormalmente, por bem dizer.
Paralelamente - e na verdade como eixo central da história - Roshan já chega na velha Delhi num momento em que dizem estar havendo o ataque de um suposto macaco preto. A história cresce de tal maneira num disse-que-disse, a ponto de dizerem que o macaco preto tem quase o tamanho de um homem, luzes no peito, unhas grandes e afiadas e pula como se tivesse molas nos pés.
A idiotice toda vai tomando tal tamanho que os hindus e muçulmanos que conviviam pacificamente na Chandni Chowk começam a voltar-se um contra o outro. Embora, num primeiro momento, esse tema já pareça um tanto batido em águas bollywoodianas (ou mesmo britânicas, com o Quem Quer Ser um Milionário?), tudo foi levado de uma maneira original.
Daí pra diante contenho-me para não contar o final. Digo-lhes que o filme vai desenvolvendo-se numa angústia crescente e quase desesperadora. E eu coloco esse "desesperadora", porque sei muitíssimo bem que todas as cenas que aparecem lá não são mera ficção - antes fossem! Desespera saber que de fato certas coisas acontecem na Índia, sobretudo causadas por pura ignorância e intolerância. Ao mesmo tempo, entretanto, vinha-me um sentimento ambíguo de felicidade por ver mais um filme tão bom vindo de Bollywood, podendo ter a capacidade transformadora, como teve o próprio Rang De Basanti.
E Mehra não faz à toa. A história do macaco preto é 100% baseada no fato real que aconteceu em Delhi, em 2001, quando um suposto homem-macaco aterrorizou algumas pessoas. Eu acho que deve ser uma versão indiana do chupa-cabra, embora alguns por lá tenham dito que o Pé Grande havia vindo dos Estados Unidos, ou o Yeti havia descido os Himalaias. Mas isso não importa; importa sim como esse caso é tratado no filme como eixo central de uma profunda crítica à sociedade indiana que Rakeysh Omprakash Mehra já vinha fazendo desde seu último filme.
Enfim, e Rahman faz valer totalmente sua fama com as músicas dessa obra, sendo a trilha considerada uma das melhores que ele já fez. Também gostei bastante da atuação do Abhishek. O filme não foi muito bem recebido pela crítica indiana, nem pelo público, mas também não chegou a ser considerado um fracasso. É muito difícil entender o que faz a crítica gostar ou não de um filme, embora saber do que o público gosta seja mais fácil. Esse filme não tem song-and-dances e isso já quase basta para não fazer sucesso. Mas tem, ao menos, uma cena de música em Nova Iorque, por exemplo, que eu particularmente gostei.
Bom, e chega de falar. Ainda há chances de ver esse filme na Mostra; quem puder, não perca. E enquanto isso, o trailer:
E então lá fui eu hoje assistir a mais um filme indiano na 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. E meu Deus, quando Delhi-6 acabou eu só tinha uma palavra na cabeça: "Wah!". Essa é a expressão em hindi para o nosso "uau", e era realmente só isso que eu tinha a dizer, ou pensar, ou reagir, ou o que fosse que tinha que acontecer.
Confesso que com esse filme eu tinha uma certa expectativa, principalmente pelos fatores a seguir: 1. por ser escrito e dirigido por Rakeysh Omprakash Mehra, diretor de Rang De Basanti (2006) - um dos melhores filmes indianos que conheço; 2. por ter Abhishek Bachchan como protagonista, o que na verdade não necessariamente significa alguma coisa; 3. e por ter trilha sonora de A.R. Rahman, que significa muito. E ao finalmente assisti-lo - e no cinema! - que bela surpresa!
O senhor Rakeysh Omprakash Mehra já havia conquistado o topo de meu respeito com Rang De Basanti, que foi seu segundo filme e é fantástico. Esse, o terceiro dele, só deixou claro pra mim que ele sabe o que faz e sabe fazer direito.
Ao que consta, Delhi-6 é uma ficção com muito de autobiográfico do próprio diretor, que cresceu no centro da Delhi velha, numa região conhecida como Chandni Chowk. Mas autorreferências à parte, o filme conta a história de Roshan (Abhsishek Bachchan), um estadunidense filho de indianos, que decide levar sua avó (Waheeda Rahman) a Delhi para que ela possa morrer em sua pátria. E o próprio Roshan narra a história toda.
E assim, nesse princípio, o filme é muito gostoso de se ver, pois Roshan vai descrevendo suas impressões da Índia, que para ele lá é tudo tão louco quanto para qualquer um ocidental - que é o que ele é, na verdade. Aos poucos, porém, as coisas vão acontecendo na tumultuada vizinhança da velha Delhi.
Pra começar, Bittu (Sonam Kapoor), filha do covarde vizinho Madangopal (Om Puri), está se preparando secretamente para participar do Indian Idols (a versão indiana do Ídolos). Ao mesmo tempo, está sendo acertada a sua venda, ou melhor, o seu casamento, totalmente contrário à sua vontade. E desde o primeiro instante os olhares de Bittu e Roshan entrecruzam-se anormalmente, por bem dizer.
Paralelamente - e na verdade como eixo central da história - Roshan já chega na velha Delhi num momento em que dizem estar havendo o ataque de um suposto macaco preto. A história cresce de tal maneira num disse-que-disse, a ponto de dizerem que o macaco preto tem quase o tamanho de um homem, luzes no peito, unhas grandes e afiadas e pula como se tivesse molas nos pés.
A idiotice toda vai tomando tal tamanho que os hindus e muçulmanos que conviviam pacificamente na Chandni Chowk começam a voltar-se um contra o outro. Embora, num primeiro momento, esse tema já pareça um tanto batido em águas bollywoodianas (ou mesmo britânicas, com o Quem Quer Ser um Milionário?), tudo foi levado de uma maneira original.
Daí pra diante contenho-me para não contar o final. Digo-lhes que o filme vai desenvolvendo-se numa angústia crescente e quase desesperadora. E eu coloco esse "desesperadora", porque sei muitíssimo bem que todas as cenas que aparecem lá não são mera ficção - antes fossem! Desespera saber que de fato certas coisas acontecem na Índia, sobretudo causadas por pura ignorância e intolerância. Ao mesmo tempo, entretanto, vinha-me um sentimento ambíguo de felicidade por ver mais um filme tão bom vindo de Bollywood, podendo ter a capacidade transformadora, como teve o próprio Rang De Basanti.
E Mehra não faz à toa. A história do macaco preto é 100% baseada no fato real que aconteceu em Delhi, em 2001, quando um suposto homem-macaco aterrorizou algumas pessoas. Eu acho que deve ser uma versão indiana do chupa-cabra, embora alguns por lá tenham dito que o Pé Grande havia vindo dos Estados Unidos, ou o Yeti havia descido os Himalaias. Mas isso não importa; importa sim como esse caso é tratado no filme como eixo central de uma profunda crítica à sociedade indiana que Rakeysh Omprakash Mehra já vinha fazendo desde seu último filme.
Enfim, e Rahman faz valer totalmente sua fama com as músicas dessa obra, sendo a trilha considerada uma das melhores que ele já fez. Também gostei bastante da atuação do Abhishek. O filme não foi muito bem recebido pela crítica indiana, nem pelo público, mas também não chegou a ser considerado um fracasso. É muito difícil entender o que faz a crítica gostar ou não de um filme, embora saber do que o público gosta seja mais fácil. Esse filme não tem song-and-dances e isso já quase basta para não fazer sucesso. Mas tem, ao menos, uma cena de música em Nova Iorque, por exemplo, que eu particularmente gostei.
Bom, e chega de falar. Ainda há chances de ver esse filme na Mostra; quem puder, não perca. E enquanto isso, o trailer:
18 comentários:
Luzes no peito? Ui.
Obrigada pela recomendação, vou comprar esse filme.
Ai, como eu amava ver cinema indiano no cinema.
Uma pergunta: aí no Brasil os filmes indianos têm "interval"? :D
Interval nahin! Aqui não há intervalos nem se o filme tem 3 horas. Delhi-6 tem duas horas, normal. Eu, pessoalmente, prefiro mesmo que não tenha intervalos...
Eu em casa sempre faço o meu intervalinho. Às vezes de vários dias :O
Se o filme é bom vou direto. Mas caso contrário... meu intervalo pode duar dias também... :S
E agora vou ofender a mulherada, mas o maior intervalo que fiz foi com Devdas... :$
Ibirá!!!!!!!!
Sou muito fã do Abhishek,o efeito Kabhi alvida naa kehna não passa.Fiquei com vontade de assistir ao filme logo,principalmente pela parte do Indian Idols.Acho super interessante essa coisa que os indianos tem de quererem ser atores ou cantores,parece coisa daqui.É claro que o macaco preto também deve ser interessante,mas a coisa é tão bizarra que não sei o que pensar sobre isso.Bem,se o Abhi está lá,tudo é mágico *-*
Não entendi Rang De Basanti até hoje,acho que vou ler o post sobre ele para ser influenciada a gostar do filme.Achei meio violento,não entendi mesmo como foi que o filme se desenvolveu para aquele final o_o' Gostei das falas,bem reais =)
ZOA DEVDAS MEEEESMO,HAHAHAHAHAHAHHA :DDDD
*ouvindo a trilha sonora do filme da discórdia*
Tirando a barriga da miseria com este festival ne Ibira? :)
Gostei muito deste filme, ate porque eh sobre a MINHA cidade :)
Abhishek melhorou muito como ator e esta em vias de superar o velho pai :)
Sandroca, grazie a Dio que o Festival calhou de cair bem na semana de menos atividades minhas. Estou mesmo enchendo a pança de filmes! :D
Oi Ibirá eu pretendo ir lá na mostra amanhã assistir o Filme Delhi-6 e gostaria de saber se eu posso comprar o ingresso lá mesmo na hora?
Ou se é só da para comprar pela internet?
:)
Dá pra comprar na hora. Só que, considerando o horário e o local, aconselho chegar um bom tanto mais cedo. Não acho que esse filme vá lotar, mas é sempre bom prevenir!
E uma dica: lá na bilheteria do Shopping Frei Caneca há duas filas, uma pra Mostra e outra pros filmes normais. A da Mostra é a da direita, ok? ;)
Nossa Ibirá muito Obrigado viu, vou tentar chegar o mais cedo possível.
Abraços...
Ibirá eu acabei de assistir o filme na Mostra e gostei muito você tem razão uau.
:)
Uau, né? :)
É uau rsrs
O Filme passa uma mensagem muito bonita de que somos todos irmãos e de vemos todos no amar e nos respeitar de que Deus ama a todos igualmente.
Teve partes que eu até ri!
E depois que acabou o filme algumas pessoas até aplaudirão!
Não todos mais alguns rsrsrs e eu inclusive :)
Ahh.. pena que na minha cidade não tem Mostra de cinema tb
=(
Ibirá, gostei muito do post e pelo que você escreveu o filme faz meu tipo. O jeito é tentar baixar mesmo...
Beijos
Priscila, se você tiver como, tenta ver se não há esse filme disponível para ver online, nem que seja em partes pelo YouTube. Às vezes é mais fácil e mais garantido do que baixar. :)
Vi esse filme na Mostra, numa sessão do shop. Frei Caneca, mas achei a cópia de péssima qualidade. Achei o filme desbotado, as cores eram tão pálidas que no início me perguntei se o filme era em preto e branco. E para um filme indiano, creio que a falta de cores é como a falta de tiros no cinema americano...
Eu gostei do filme, achei boa a metáfora do macaco-preto e interessante como os indianos levantam a questão da tênue tolerância entre hindus e muçulmanos.
Eu também vi o filme no Shopping Frei Caneca e não percebi nenhum problema nas cores... de qualquer forma, esse filme não é um filme indiano comum, o que significa que as cores em si não são o aspecto mais importante, não.
E o macaco preto, por mais que ele seja mesmo uma metáfora, o caso aconteceu de verdade em Delhi, como eu disse na postagem. Daí a ideia do Rakeysh de fazer mais uma crítica à Índia, como fez em Rang De Basanti, apoiando-se nesse caso de ignorância que rondou o país na história do macaco preto e a briga eterna das religiões.
:)
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