terça-feira, 8 de dezembro de 2009

I Am - Eu Sou

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Hoje descobri sem querer algo que me deixou feliz. Está em fase final de produção e filmagens a obra I Am (Eu Sou), concebida e dirigida por Onir. Este filme trata-se de uma sequência de quatro curtas diferentes que, juntos, compõem um quadro que fala sobre a questão da identidade na Índia, mas cujos valores e conflitos são, antes de tudo, universais. Onir é um diretor do cinema paralelo indiano e que vem recentemente ganhando renome. Além disso, ele reuniu em sua equipe pessoas já de peso no cinema independente da Índia, como o próprio produtor do filme, Sanjay Suri, que já esteve como ator na obra Firaaq, de Nandita Das. E os atores, como vocês verão a seguir, também não deixam nada a desejar.

No site do filme, lemos o seguinte:

"I AM é uma iniciativa do diretor e produtor Onir e do ator e também produtor Sanjay Suri para levantar certas questões de nossa sociedade. A ideia de usar os principais meios do cinema para ampliar a conscientização, ao mesmo tempo popularizando a cultura de ver filmes mais intelectualizados.

Quatro curtas serão dirigidos por Onir. Cada um com aproximadamente 20 a 25 minutos, com histórias únicas e quatro diferentes diretores de música. Todos os filmes têm o tema comum do medo e da identidade. Os personagens vêm pra dentro e pra fora das histórias e entre elas, ligando-as através do conteúdo, da estrutura, formando, então, um único filme. Todos os curtas, juntos, serão chamados I AM.

Com esse projeto, esperamos trazer outra dimensão ao cinema independente indiano. Esse projeto oferece a oportunidade de diferentes coprodutores fazerem parte dos curtas, juntos dos produtores principais. Nós acreditamos que o cinema independente existe para dar voz a esses trabalhos que vão contra a maré e por fora do sistema."

Lendo isso, fui investigar melhor o que isso tudo queria dizer. Assim, descobri que cada um que quisesse poderia - e pelo que vi ainda pode - contribuir financeiramente para a produção desse filme. Existe uma escala que, de acordo com a contribuição, a retribuição será proporcional - ou com o nome aparecendo nos agradecimentos, ou recebendo a divisão dos lucros.

E por fim, fui descobrir de que se tratavam cada um dos curtas e acabei chegando nos trailers provisórios que lhes passo a seguir. Não sei bem se a ordem será essa mesma, mas é assim que está no site, então acompanhem:


Abhimanyu, sobre o abuso infantil;

Esse filme fala sobre um tema extremamente sensível em todo o mundo e que, a mim particularmente, é dos mais cruéis que conheço. Um ser humano que ousa violar a inocência de um pequeno ser humano tem dentro de si a ausência do próprio ser. O trailer a seguir apresenta estes dados: "Na Índia, uma em cada cinco meninas e um em cada dez meninos sofrem algum tipo de abuso sexual ou psicológico. Tristemente, a maior parte desses incidentes não são nunca revelados e as vítimas sofrem em silêncio. O filme Abhimanyu traz o som desses silêncios". Vem então um rapaz que diz ter sido vítima de abuso sexual infantil e que Abhimanyu é uma história sobre ele e muitos outros como ele.





Omar, sobre o homossexualismo;

Este curta vem sendo o mais alardeado e promete causar na Índia. Ele já está pronto, mas por enquanto é mantido em segredo, enquanto as filmagens dos outros não terminam e a obra não fica completa. Tudo porque o personagem principal, Omar, é interpretado por nada mais que Rahul Bose e o vídeo terá uma cena de homossexualismo explícito, o que, neste caso, se entende por uma cena de beijo entre dois homens. Onir exibiu esse filme a Mira Nair, que ficou encantada com a qualidade do curta e com o profissionalismo de Rahul, prometendo fazer o que puder pela divulgação de I Am. E ao que consta, também pelo curta Omar, I Am já foi selecionado para ser exibido no festival de Rotterdam, logo no começo de 2010. O trailer provisório faz um jogo de luz e sombras com homens nus, e com frases dizendo que eles têm todas as mesmas características de todos os outros, ou seja, os mesmos medos, as mesmas esperanças, encerrando com uma frase que diz que "a sexualidade não transforma um ser humano num alien".




Afia, sobre o desvio de dinheiro destinado a ONGs;

Esse filme também promete causar um tanto de polêmica, por revelar um esquema de transferência de dinheiro que deveria ser destinado a ONGs na Índia, mas que acabam no bolso de certos europeus. O vídeo, em clima de filme apocalíptico, diz o seguinte: "1,1 bilhões de pessoas, 1,2 milhões de ONGs. Você dá dinheiro para ajudar. No entanto, nem todo o dinheiro chega a eles. Organizações da sombra; uma conspiração global. Baseado na história real de Rima Kohli, dirigido por Onir, produzido por Sanjay Suri e Onir. Uma mulher irá arriscar-se para desvendar a verdade". Rima será interpretada por Kalki Koechlin, que fez Chanda, em Dev.D.




Megha, sobre o conflito na Caxemira.

Por fim, este último filme fala sobre o eterno conflito da Caxemira, envolvendo Índia e Paquistão, islamismo e hinduísmo, o deserto e a água doce... e o vídeo provisório, mostrando imagens da linda e contraditória Caxemira, mostra este texto: "Caxemira. Uma história de duas amigas: Rubina e Megha. Contudo, em 1990, 400 mil caxemires pundits foram obrigados a fugir do vale da Caxemira devido a razões políticas... foram forçados a viver a vida de exilados dentro do próprio país. E foram esquecidos pelo governo e pelas organizações de direitos humanos. Milhares de caxemires pundits decidiram fugir de suas terras natais para salvarem suas vidas. E Megha partiu... Agora, depois de 20 anos, Megha irá confrontar-se com o passado, numa terra que ainda permanece reprimida pelas guerrilhas, pela religião, pelo governo e pelo exército. Curta dirigido por Onir e produzido por Sanjay Suri e Onir. Um filme sobre um lar perdido; um filme sobre um futuro perdido; um filme sobre uma identidade perdida". E pelo que entendi, Rubina será interpretada por Manisha Koirala e Megha será o papel de Juni Chawla.



20 comentários:

Pedro disse...

Meu Deus...
quanto tema espinhoso num só filme nossa fique arrepiado com os cartazes posso ser sincero?
Não sei se terei estomago para engolir esse filme...

Monique Rosa Brasil disse...

A minha pergunta é:
A Índia está pronta para receber esses filmes?
Estão prontos para serem tirados da bolha assim?
Sei lá... mas o que importa é que alguém decidiu dizê-los que o mundo existe(oooi) e que a índia faz dele, né? Porque pelo que tenho lido e conversado (com indianos) eles querem ignorar sempre as coisas que são humanas, mas não fazem parte da tradição cultural indiana.
Só sei que ver esses filmes é uma obrigação social pra mim agora.

Om chanpignon!
Mamaasteta!
= )

Monique Rosa Brasil disse...

Os filmes parecem todos muito preciosos.Sério mesmo. Nem que existia gente de coragem lá assim.
O problema é a censura, né Cây?
Eles não correm esse risco.

Om champignon!
Mamaasteta!= )

bárbara disse...

Espero ansiosamente. A sério.

Outra coisa: o Rahul Bose não é o máximo? Não me canso de o dizer.

Ibirá Machado disse...

Pedro, você pode ser sincero, eu deixo, mas com a condição de receber um conselho meu: não deixe de assistir obras como essa, como Firaaq, ou como Matrubhoomi. Entretenimento é legal e faz bem, mas retratos da realidade também podem fazer muito bem ;)

Monique, a Índia tem muita gente corajosa assim. Há dez anos Deepa Mehta fez o filme Fire, com cena de lesbianismo explícito, e foi sumariamente expulsa do país, embora isso não tenha ocorrido de maneira formal. Eu acredito que de lá pra cá houve um avanço bem grande na Índia nesse sentido, o que pode inclusive ser representado pelo fim da criminalização do homossexualismo, em julho desse ano.

De qualquer forma, não creio que a grande massa vá assistir esse filme, e nem sequer ficarão sabendo. O fato de Rahul Bose beijar um outro ator está dando mais visibilidade ao I AM, mas ainda assim não será de tanto impacto porque não é filme de indústria. Mas é um passo e tanto!

Barbs, eu estou hiper ansioso! E confesso que, se já gostava muito do Rahul Bose também, agora ele ganhou muitos mais créditos, sem dúvida!

Monique Rosa Brasil disse...

Eu quiz que não sabia que tinha gente de coragem aí (esqueci de digitar a palavra sabia, rs).Que bom que entendeu!
Ah, nem aqui os filmes realmente bons atingem a massa, né?
Mas pra mim é obrigatório.Não é obrigatório às outras pessoas, mas a mim mesma.
Beijo

Oh campignon!

Pedro disse...

Ibirá quanto sei lá Bandit Queen,Firaaq e até I am eu acho que consigo aguentar mas quanto a Matrubhoomi só o que você escreveu me deu medo...Eu daqui a alguns dias vou começar a trilogia dos Elementos!

Monique Rosa Brasil disse...

e agora eu "comi" a palavra dizer. aff!

Ibirá Machado disse...

Monique, na verdade você comeu várias palavaras, mas pra um bom entendedor, meia palavra bas ;)

Pedro, eu esqueci de comentar que também amei os cartazes. E por favor, veja a trilogia. Preciso falar desses filmes logo... :p

Monique Rosa Brasil disse...

Poxa, Cây to desalfabetizada.
Quando eu falo pra minha mãe que eu estou ficando burra, ela nem crê.
Ah amei os cartazes e a logo do projeto.

bárbara disse...

É verdade, Ibirá, seguindo o teu conselho vi o Firaaq à venda e comprei :)

Da trilogia dos elementos ainda só vi o Water (lindo mas muito triste). Tenho Earth sem legendas e não percebo nada de Hingrish...
E ainda me falta o Fire... mas tenho medo de ver porque aposto que o filme acaba mal ;_;

Ibirá Machado disse...

Na minha opinião, Fire é o melhor dos três. Mas sei lá, todos são muito bons. Acho só que Fire é o mais ousado. Todos os três são muito tristes e... é... aconselho não esperar final feliz...

Eu queria ver Firaaq de novo. Se ainda não viu, prepare-se, porque é pesado.

Ibirá Machado disse...

Ai, e acabo de descobrir que Juni Chawla fará a Megha. Já acrescentei no texto.

Vinicius disse...

Nossa fiquei afim de ver esses curtas todos devem ser ótimos!

quanta polemica rrsrs

bom todo mundo falar de water pois tenho que velo rsrs
já baixei a muito tempo rsrs

adorei os cartazes também...

Indi(a)screet disse...

Tenho certeza que NAO vai passar pela Censura a cena do beijo na boca do meu primo Rahul Bose.
Os censores nao toleram nem beijo entre homem e mulher em Bollywood, imagine beijo entre homem e homem!!

Ibirá Machado disse...

É, é o que se teme mesmo e o próprio diretor está, na verdade, esperando por isso. De qualquer forma, o filme não ficará restrito à Índia, e possivelmente para fora ele virá como foi feito. Aguardemos!

Lívia Bernardes disse...

Esses documentários mostram feridas não só indianas com temas tabus e polêmicos, um tapa na falsa moral e os "bons costumes" ou seja nem tão bons assim. Eu adimiro esse tipo de pessoa a frente da sociedade que vai e luta para mudar opiniões e conceitos, com certeza vão ter muita dor de cabeça com defensores da moral hipócrita e desejo todo sucesso e acho que terá mais visibilidade fora da Índia. A única coisa ruim é que sabemos o quanto é dificil conseguir ver um documentário desses mas a esperança é a última que morre quem sabe um dia.

Ibirá Machado disse...

Sim, Lívia! Não percamos as esperanças!! :)

Carol Juvenil disse...

Quando estava lendo o post "por cima" não me interessei pelos filmes,mas a situação logo se inverteu quando li tudo calmamente e vi os trailers(raramente vejo os vídeos que você põe!).Parecem ser MUITO legais!Ainda tenho dificuldades para me desembaraçar da minha mente de pessoa que mora em uma cidade grande,num país mais liberal.Por isto, pensar em tanto escândalo por esses documentários é um pouco complicado pra mim!Por aqui as pessoas querem polemizar tanto que são os filmes inocentes e despretensiosos que estão em falta...

Dos quatro,achei o trailer do Afia o melhor e a história do Abhimanyu a mais interessante.Não que a história do Abhimanyu seja lá muito diferente, mas cada caso de abuso infantil sempre soa como único pra mim.O Omar...espero que não fique exagerado, é um tema que precisa ser mostrado como o é a situação hoje em dia,natural.Confesso que acho discussões sobre homossexualismo muito chatas...culpa dos enjoadinhos da faculdade.O Megha só me chamou a atenção pela Juhi linda!

Ibirá Machado disse...

É difícil saber como será, mas no andamento das coisas, não creio que nada pecará pelo exagero. Parece-me que serão docs sutis, com imagens da realidade, nada mais. A ver!