sábado, 21 de março de 2009

The Terrorist - Theeviravaathi (1999) - த டெரரிஸ்ட்

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Outro filme que está na mostra aqui em São Paulo é o surpreendente The Terrorist, escrito e dirigido por Santosh Sivan (o mesmo de Asoka e Before the Rains). Esse filme também é feito no Tamil Nadu e falado em tamil, mas não é de Kollywood, já que Santosh Sivan bancou toda a produção sozinho.

Eu fui assistir a esse filme sem muitas expectativas e me surpreendi positivamente. A única coisa que eu sabia é que esse filme tratava da questão do terrorismo, mas acho que não precisava de muita inteligência para supor isso. Mas o fato é que, embora é óbvio que seja esse mesmo o tema do filme, o eixo central da história é outro.

O que mais me surpreendeu nessa obra de Santosh Sivan é a simplicidade com que ele tratou um tema tão denso. E muito além da simplicidade, o filme é extremamente sensível. Fico até com medo de falar muito sobre ele, correndo o risco de criar expectativa e estratagar a surpresa de quem for ver.

Limitar-me-ei a contar um pouco do que se trata, mas não falarei muito. The Terrorist conta a história de um grupo terrorista não identificado que planeja o assassinato de um líder político também não identificado. O plano é assassiná-lo com uma mulher-bomba, mulher essa que é personagem central do filme.

Logo no começo Malli (Ayesha Dharkar) é apresentada em uma cena de violência fria, porém não explícita. Conhecemos ali uma mulher-macho, indiferente em relação à vida, plenamente disposta a dar sua própria existência pelos seus ideiais, pela libertação de sua nação, como diz. Ao ser escalada para cumprir a maior das missões que o grupo planeja, inicia-se uma jornada até que o dia do assassinato chegue. Nesse processo, Malli recebe da vida o que ela não esperava nem de longe receber, mostrando que há muita sensibilidade por trás daquela alma com sede de vingança.

Em nenhum dos momentos do filme, porém, Sivan utiliza recursos de filmagem que possam intensificar a violência do tema, ou mesmo a tensão. Ao contrário, ele faz de suas lentes um recurso poético que coloca inclusive a onipresente floresta tamil como protagonista ao lado de Malli. O foco inverso de várias imagens, deixando o tema central das cenas desfocados, acaba por realmente tirar da prioridade o que deveria ser o tema central do filme: o terrorismo e o que há por trás dele. Mas acontece que não é esse o tema central do filme. Malli é o filme. E Malli é uma mulher sensível. E aliás, consta que todo o filme foi rodado em 15 dias somente e que a produção custou meras 5o mil rúpias, ou cerca de 2.500 reais.

Em muitos momentos, aliás, a cena se alonga centrada no rosto dos personagens principais, carregados de medo e ideais, mas as cenas nunca cansam. Mas o mais interessante é quando "entra" em cena uma senhora que supostamente está em coma há vários anos. Essa senhora é esposa da pessoa que hospeda Malli no local em que ela deverá cumprir sua missão. Por uma fresta na parede de seu quarto, de repente Malli vê a senhora deitada na cama do quarto ao lado, olhando-a, e descobre que ela está daquele jeito, deitada de olhos abertos, há anos. E eis que essa senhora de olhos fundos e (in)expressivos desempenha um papel fundamental no desenrolar da história, amplificando o valor que o subjetivo tem nessa obra.

E por fim, é importante que eu diga duas coisas sobre o filme. A primeira é que Santosh Sivan fez essa obra baseada no assassinato de Rajiv Gandhi (filho da também assassinada Indira Gandhi), em 1991, perto de Chennai, capital do Tamil Nadu, por uma mulher-bomba. O assassinato de Rajiv foi atribuído aos Tigres Tâmeis (LTTE), um dos mais antigos grupos terroristas do mundo, que defende a divisão da porção norte e oeste do Sri Lanka, de maioria tamil. Mas o LTTE tem uma outra importância muito maior para a história da humanidade. Foram eles os idealizadores de duas coisas concomitantes: o homem-bomba e a mulher-bomba. Por causa deles, hoje praticamente todos os grupos terroristas utilizam a técnica da pessoa-bomba, antes não pensada.

A outra coisa a respeito desse filme é que quando o ator John Malkovitch o viu pela primeira vez, no Festival Interncacional de Cinema de Cairo, em 1998, ficou tão impressionado que comprou os direitos para sua distribuição nos EUA.

Vejam o trailer abaixo:



5 comentários:

Lígia disse...

Acho muito bom esse tipo de filme. Principalmente porque muita gente pensa que cinema indiano é só dança e os mesmos temas de sempre. As informações geográficas são muito boas também :P

Ibirá Machado disse...

:)

bárbara disse...

Gostei muito deste post e fiquei com vontade de ver o filme.
:)

Ibirá Machado disse...

Veja, veja! Vale super a pena. Mas não se esqueça que não tem nada a ver com o cinema indiano comum!

Alessandra Efrem disse...

Traduzi esse filme, e pretendo traduzir mais filmes em tamil, como Bombay, por exemplo.
Santosh Sivan é muito bom no que faz.