quarta-feira, 1 de abril de 2009

Matrubhoomi (2003) - मातृभूमी

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Hoje vou escrever sobre um filme que eu sinceramente gostaria que não precisasse ter sido feito. Não por ser mais um desses filmes típicos bollywoodianos que eu já falei por aí, que tanto me decepcionam. Ao contrário, Matrubhoomi - A Nation Without Women (Pátria-Mãe - Uma Nação Sem Mulheres) é um filme muito bom. É uma uma obra independente de Manish Jha e estreou em 2003.

Hoje é primeiro de abril, dia da mentira, mas o que falarei aqui é a mais pura verdade. Matrubhoomi, ainda que seja uma obra de ficção e crie uma situação extremamente hipotética, ele joga com uma das questões mais delicadas que a Índia vem enfrentando há milêmios e até hoje não conseguiu evoluir: o infanticídio e feticídio femininos.

Para quem não sabe, na Índia os casamentos são arranjados e a família da noiva deve pagar o dote à família do noivo. Antes que alguém queira retrucar dizendo que muitos já escolhem com quem casar na Índia, eu digo antes que quase 1 bilhão da população indiana é pobre e, consequentemente, está há milênios-luz de distância de qualquer mudança nesse sentido. Quando me refiro ao geral da Índia, estou referindo-me sempre a essa imensa maioria que, inclusive, representa nada menos que UM TERÇO DOS POBRES DO MUNDO.

Enfim, e o grande fato é que essas famílias pobres, ao terem uma menina, sentem-se profundamente desgraçados só de imaginar que terão que juntar dinheiro que deverá ser oferecido à família do noivo que se casar com ela. Como solução à desgraça, a opção evidente encontrada pelos indianos é simplesmente matar essas meninas, suas filhas, recém-nascidas. Se durante a gravidez descobrem, por algum motivo, que o bebê é uma menina, imediatamente abortam. Essa realidade é tão corriqueira na Índia que há dezenas de milhares de vilas e comunidades em que o déficit de mulheres assusta. O déficit de mulheres indianas só não é maior que o déficit de mulheres chinesas, com a diferença de que no país dos olhos puxados houve uma forte imposição por parte do governo comunista para que os casais tivessem apenas um filho, preferencialmente homem, como forma de conter o crescimento demográfico.

Bom, e Matrubhoomi já começa com uma cena terrível, do desagravo ao nascimento de uma menina, que é "transcedentalmente" assassinada numa bacia cheia de leite, por seu pai. Dali por diante as coisas só pioram. O filme passa-se numa vila em que não há mais mulheres. Nesse cenário, há encontros para ver filmes pornô, shows de porno-chanchada feitos por um homem vestido de mulher, a opção do boi/vaca como possibilidade para a prática do sexo, o sacerdote da vila tendo um caso com um homem e um falso casamento é preparado, onde a suposta noiva é, na verdade, um menino. No meio disso, descobre-se que há uma mulher escondida numa casa, numa vila vizinha. Um homem da vila sem mulheres fica doido com a notícia e faz uma oferta inusitada: ele próprio oferece pagar um belo dote para que a mulher case-se com seu filho, ao contrário de o pai da mulher dar o dote a ele. A oferta é aceita, mas o que acaba acontecendo é que seus cinco filhos casam-se com a mesma mulher.

E na mesma noite do casamento, os filhos pegam um calendário para dividir os dias da semana em que cada um poderia ficar com a mulher - e é óbvio que esse ficar não chega nem perto de amá-la, mas sim satisfazê-los. E eis que, se já não bastasse tudo que estávamos vendo, o pai dos noivos fica revoltado por não ter sido incluído na divisão dos dias, o que finalmente acaba acontecendo. A partir daqui, os dias vão passando, mostrando a rotina do quarto da mulher, transformada em algo pior que o pior dos objetos. O filme fica ainda mais tenso quando a mulher e um dos filhos se apaixonam. Não vou mais contar o que ocorre depois, mas o desfecho é assustador.

Quando o filme acaba, uma frase aparece e diz que o próprio governo indiano estima que nos últimos 100 anos, ao menos 35 milhões de meninas foram mortas na Índia - algo como quase 1000 meninas por dia. Não preciso nem dizer que o filme ficou apenas uma semana em cartaz na Índia e foi logo retirado, não só pela falta de quorum, mas principalmente pela raiva que alguns indianos tiveram ao ver essa realidade exposta (mas o filme é ficção!!!). Também hoje a professora Sandra Bose postou em seu blog mais informações a respeito desse mesmo tema, com mais dados a respeito dessa realidade extremamente cruel; clique aqui e confira.

E agora vejam abaixo uma compilação dos primeiros minutos chocantes do filme. Logo após o parto acontecer, a parteira vai dar as "más" novas ao super ansioso pai e diz "larki", ou seja, menina. É bem a pior notícia que um pai indiano gostaria de receber.



12 comentários:

Unknown disse...

Fiquei impactada com a cena do pai mergulhando a filha na bacia, horrorizante e asustador, a Índia me supreende a cada dia tanto por sua riqueza cultural e também essa questão da mulher ser considerada um fardo para sua família e outras inúmeras questões.
Ótimo post, Parabéns.

Anônimo disse...

Caramba meu, estou assustada. Tudo bem que é só ficção, mas se alguém teve a criatividade de pensar nessa possibilidade, então pode muito bem passar da possibilidade para a realidade. Sem falar que compartilhar esposa já é um verbo "conjugado" em alguns cantos da Incredible.
Ibirá, amo seus comentários, amo o Blog, você é 10!!! Beijos.

Ibirá Machado disse...

Glicya e Cris, muito obrigado por seus comentários. De fato essas cenas são absurdas, mas infelizmente, embora o filme seja uma ficção, as cenas DE FATO ocorrem diariamente na Índia. Manish Jha apenas pegou fatos reais pra criar uma situação um pouco mais absurda do limite em que isso pode chegar...

Om Shanti Om

Anônimo disse...

É muito paradoxal para minha cabeça.Por que raios matam as mulheres e depois ficam "sofrendo " com a falta delas??? Esses fdp´s por acaso não nasceram de mulheres? Por acaso não são casados com mulheres?Sei lá, talvez tenham nascido de uma vaca(tadinhas das vacas). Sério,não entendo a Índia.Uma vez comentei no TOI numa matéria sobre matança de fetos femininos que "withouth baby girls,some day there would be no baby boys either" e eles não publicaram...Quantas vezes eles terão ainda que nascer para abolirem esse costume??? Abç. Verônica.

Natália disse...

Faço das palavras da Glicya as minhas. A India nunca vai deixar de me impressionar...
Você sabe onde eu poderia conseguir ver esse filme pela internet?
Parabéns pelo blog, continuarei lendo :)

Ibirá Machado disse...

Natália, obrigado por seu comentário! Então, há um mês eu consegui baixar esse filme em torrent, mas ele estava sem legendas. Em seguida encontrei as legendas também pra baixar, em outro local, e juntei os arquivos. Deu super certo. Acho que esse é o único jeito...

Om shanti!

Anônimo disse...

O k ai postaste e pura realidade...e mto triste saber disse.
Eu pessoalmente vi esse filme e fikei em choque, mas o k ai escreveste e mesmo a realidade!

Indi(a)screet disse...

Ibirindia,
Estou de volta de Kolkata!! 95 emails pra responder.... mas nao poderia deixar de vir aqui prestigiar seu blog e mais uma excelente postagem.
Atualmente nao se usa mais afogar as gurias no leite, simplesmente se joga no rio mais proximo ou enterra-se viva. Eh mais barato!!
Bjs
Om Shanti

Unknown disse...

Gente o começo desse filme é muito impactante...e a cena daquele monte de homens vendo filme pornô, que disperdicio se não fossem tão ignorante poderia estar com mulheres ao invês de verem filme....Ibirá conheci seu blog atraves d Sandra Bose, realmente el é muito bom....vc bem que poderia postar alguns site para baixarmos filme indiano , com legenda em poruguê é claro...he..he..he...seria muito bom...Pensa nisso ...bjus parabéns pelo seu blog é ótimo.

Natália disse...

Muito obrigada pela resposta, vou dar uma procurada aqui pela internet!

Anônimo disse...

Pamela

Que coisa horrivel,Ibirá,pode me manda a historia por email,eu não vou ver o filme.
pamydebastiani@hotmail.com

ÐOM disse...

Realmente, não há como ficar indiferente a este filme, e garanto q muita gente não conseguirá ver até o final.
Quanto ao infanticídio e feticídio femininos uma correção, na china não só o que foi dito é verdade mas tb é uma questão cultural e financeira q impõe este costume até hj. Há tb a eugenia lá.
Em muitos países da região, não se deseja "feliz ano novo", e sim, "tenha um filho homem", filho homem tem o dever de sustentar os pais durante a velhice e como são pobres, tem q ter muitos filhos.
Bom o grande ponto sobre a questão chama-se pobreza.
E a informação da Sandra Bose é correta.
Eu sei onde baixar o filme. www.filmeja.com
Minha primeira vez aqui e estou encantado com ele
abraços e parabéns pelo blog.