quarta-feira, 25 de março de 2009

Entrevista com Aamir Khan

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Não, não, não pensem que a entrevista foi feita por mim e que sou tão influente que logo farei um encontro com Aamir Khan, SRK e Aishwarya juntos, apenas para os fãs do Cinema Indiano. Oxalá um dia isso ocorra!! Mas enquanto isso não acontece, no entanto, contento-me em repartir com vocês coisas que saem na internet e que, por alguma obra do destino, chega às minhas mãos. Dessa vez a obra do destino veio via um leitor dedicado do Cinema Indiano, que encontrou essa entrevista no site da Bollywood.com. Eu achei a entrevista bem interessante e completa, mas sei que sou suspeito pra dizer isso. Embora Aamir diga que Amitabh Bachchan seja o cara pra ele, pra mim Aamir Khan é o cara! Então confiram a entrevista:

"Quem Quer Ser um Milionário? não me tocou" - Aamir Khan
por Bollywood Hungama News Network (tradução livre)

Ator top de Bollywood e condecorado pelo governo indiano com o prêmio Padmashree, Aamir Khan participou da edição especial do Talk Asia, da CNN, filmado em frente a uma plateia em Mumbai, onde compartilhou com Anjali Rao suas opiniões a respeito de Bollywood, os ataques de Mumbai e muito mais. A primeira exibição foi vista no dia 25 de março, às 18h, e haverá duas reexibições no dia 28 de março, às 10h e às 20h. O programa pode ser visto também em www.cnn.com/talkasia. Quem tiver acesso, não perca!

Confira agora os melhores trechos da entrevista:

É realmente um prazer tê-lo conosco hoje e muito obrigado por ter vindo. Seu filme mais recente, Ghajini, é agora o maior sucesso de Bollywood de todos os tempos. Você tinha ideia que isso poderia chegar a esse tamanho?
Você pode esperar por isso, você pode esperar por isso em todos os filmes que faz. Mas nunca podemos afirmar até que vejamos como a audiência reage a ele. Então acho que com Ghajini o que aconteceu foi que fizemos a coisa certa pra atingir esse objetivo. Percebi que não fazia um filme hardcore havia muito tempo, o que foi bom. Acho que to feliz com isso.

Depois desse filme ter feito esse sucesso, as pessoas estão dizendo que você é o verdadeiro "King Khan". E que você chutou Shahrukh pra fora porque ele tem o carisma dele mas você conseguiu fazer o que todos os atores sempre sonharam. Com Ghajini você teve excelente retorno não só financeiro, mas também de crítica. Como você fez isso? Como você deixou de fazer sempre o mesmo papel e chegar a isso?
Bom, você sabe que eu só faço papéis que acho legais e que eu goste de fazer. Eu apenas trabalho com o que me faz feliz. E eu realmente não tenho nenhuma intenção de chutar Shahrukh de seu pedestal. Mesmo assim eu nunca achei que ele estivesse num (audiência ri). Mas na minha opinião o único ator que eu realmente admiro é o Sr. Bachchan, Sr. Amitabh Bachchan. Ele é alguém cujo trabalho eu realmente gosto, ele é um fantástico ator e tem um estrelato que nenhum de nós nunca sonhou em ver. Então pra mim ele é o cara.

Uau, eu espero, pensando e olhando pra seu trabalho, que você não tenha muitas lembranças ruins... quer dizer, teve dias em que você pensou "ai meu Deus, nenhum filme faz sucesso??"
Foi cansativo, foi realmente cansativo, e na verdade tem uma brincadeira na minha família, que quando você quer Aamir pra fazer alguma coisa, faça um filme sobre essa coisa e ele então acabará fazendo isso. Então nunca pensei que eu tivesse que treinar, eu não costumo fazer isso, mas quando tenho que fazer um filme eu vou nisso e faço meu melhor. Mas foi sim doloroso e muito cansativo... quando olho como comecei, como eu era, eu não acredito, eu simplesmente não acredito. Mas hoje eu penso nisso e penso como se fosse um sonho distante. Eu nunca treinei, porque pro próximo filme que estou fazendo, meu diretor olhou pra mim, pro meu físico e disse pra eu perder tudo isso. Então eu tenho agora que perder tudo isso pro próximo filme que estou fazendo.

Aamir Khan, você não é apenas um grande ator, mas você também teve sua estreia como diretor em Taare Zameen Par. Como foi pra você estar do outro lado da câmera e, no mesmo momento, também atuando?
Foi cansativo, principalmente porque não era eu quem deveria dirigir o filme. Então de repente, em uma semana, eu estava lá. Eu dei minhas tripas por ele. Honestamente, eu nem tinha tempo pra pensar. E agora, quando olho pra trás, eu percebo que atingi um ponto em minha carreira em que eu queria dirigir um filme há muito tempo, e a pressão sempre afastou-me disso. O jeito com que tudo aconteceu não me deu tempo de pensar e decidir, sabe? Eu entrei nisso porque tinha que entrar, e acabei fazendo o filme com o melhor que eu tinha. Mas eu realmente não iria fazer isso, talvez se eu não tivesse feito TZP eu acabaria não dirigindo um filme pelos próximos 10 anos ou mais, sei lá. E então eu acho que to muito grato por isso ter acontecido, porque fiquei muito feliz com o que o filme se tornou e feliz com a maneira com que isso impactou as pessoas.

Lagaan foi indicado ao Oscar in 2001. Naquele momento, o filme ganhou muito crédito por ter colocado Bollywood no mapa. Quão importante você acha que para os filmes indianos serem reconhecidos pelo ocidente?
Lagaan foi feito para o público indiano. Ele acabou sendo apreciado por muitos e atravessou o planeta, e pessoas de diferentes lugares amaram o filme e nós ficamos realmente felizes com isso. Mas se isso não tivesse acontecido, esse filme não teria sido tão importante se consideássemos o que o público indiano achou dele. Então, até agora, nós estamos fazendo filmes para nossa própria audiência, que é grande e saudável. E nós realmente nunca nos preocupamos com o público internacional. Nós nunca nos preocupamos em entretê-los. E eu acho que o dia em que decidirmos fazer isso, então faremos direito.

Quem Quer Ser um Milionário? foi um grande marco, eu acho, mas você sabe que com todas as premiações ele acabou rodando o mundo, mas aqui na Índia muitos o odiaram. O que você pensa disso?
Ele não me tocou pessoalmente. Emocionalmente ele não fez nada em mim. E eu acho que isso é porque eu não estou acostumado a ver indianos falando inglês. Então, sabe, todas aquelas crianças faveladas falando inglês, e o policial... me pareceu muito estranho... não funcionou pra mim por causa disso.

Você foi bem enfático em seu blog quando houve os ataques em Mumbai. Apenas diga pra gente o que se passava em você quando os ataques ocorreram.
Bom, aquilo foi devastador. Quer dizer, foi como um pesadelo, eu não acreditava que aquilo estava acontecendo. Me chocava demais ver o jeito com que os ataques estavam sendo feitos. Todas aquelas vidas sendo levadas e muitos pensamentos estavam em minha cabeça. Foi muito triste aquilo... vivemos num mundo em que há pessoas, em todos os cantos do mundo, que pensam que é dessa maneira que eles serão escutados, matando inocentes. Isso não faz sentido pra mim, mas eu acho que é assim que o mundo é hoje.

Aamir Khan, certamente você estava falando para o governo, em seu blog, quando você disse para não negociarem com os terroristas. Mas você também pareceu um tanto crítico com a maneira com que as coisas estavam sendo lideradas. Explique melhor o que você pensava.
Não, eu não estava sendo crítico em relação ao que o governo estava fazendo. Porque eu acho que naquele momento eles estavam fazendo o melhor que podiam fazer. Mas eu sou crítico em relação ao número de líderes políticos que vêm usando religião e castas na política por décadas. E é apenas isso, você sabe, que polariza as pessoas. Isso espalha muito veneno e negatividade na sociedade.

A sua resposta aos ataques de Mumbai nos leva a lembrar o filme Rang de Basanti, de 2006, que fez uma grande parte da juventude indiana a se envolver com a política. É importante pra você também fazer filmes que não sejam apenas flores?
Sim, claro. Eu acho que pelo tipo de pessoa que sou, eu me atraio por certos tipos de casos. Então, um filme como Rang de Basanti vem a mim e isso me inspira. Eu penso 'uau, isso é algo que quero fazer parte'. Então as coisas primeiro me tocam.

Existe uma certa fórmula que funciona muito bem em Bollywood. Mas de volta a 2001, Lagaan foi completamente contra essa fórmula, você sabe. Era um filme que ninguém quis fazer, era um roteiro que quase morreu. Era mais de três horas e meia de filme, com um elenco praticamente desconhecido, comparados a você. Mas ainda assim o filme foi um super sucesso... você obviamente levou o projeto adiante pois acreditava nele. As outras pessoas pensavam que você estava louco?
Sim. Bom, eles pensavam isso todas as vezes. Cada vez que eu começava um filme eles diziam 'hmmm, dessa vez ele vai se dar mal'. Todo mundo que me conhecia dizia que eu estava louco, que eu me daria mal. E quando fiz Dil Chahta Hai, ou também Rang de Basanti ou mesmo Taare Zameen Par, eles diziam 'hmmm, crianças e educação, ok...'. Mas isso também é excitante, sabe, quando você pega coisas difíceis e inusuais e quebra as regras do cinema.

Ninguém poderia produzir Lagaan. Mas no final, após um bom convencimento, você teve que fazê-lo. Mas parece que havia mais dificuldades com ele. Quer dizer, teve uma cena em que você precisava de 10.000 camponeses de algum lugar e a vila nem estava construída ainda. Como um produtor, você certamente não teria levado isso adiante. Então me diga como você conseguiu vencer alguns desses obstáculos pra fazer esse filme.
Bom, Lagaan foi especialmente difícil de ser feito. Quer dizer, o tempo e a imensa quantidade de atores que tínhamos... e apenas ter que deixar todos prontos pra filmar às 8h, nós tínhamos que chegar às 4h e começar a nos preparar, era insano.

8h da manhã?
Da manhã, sim. E o críquete era muito cansativo. Porque a bola e o taco não fazem o que você quer que eles façam. E o dia dos 10.000 camponeses foi um grande dia, porque nós tivemos que mandar várias equipes pra várias vilas e dizer que estávamos fazendo um filme, mas a maior parte deles nem sequer havia visto um filme em suas vidas.

Depois do flime acabar, os atores de Bollywood se vão e Aamir deixa o privado em sua vida privada, mas isso não significa que ainda assim não deixaremos de fazer perguntas pessoais. A casa que vemos naquele vídeo, parece que você passou grande parte da sua infância ali.
Bom, não naquela casa propriamente, mas em Panchgali, naquelas montanhas.

Que tipo de infância você teve?
Bom, bem normal, na verdade. Nossos pais cuidaram bem de nós. Tivemos uma vida bem tranquila. Na verdade meus pais eram realmente contra minha ideia de fazer filmes. Eu venho de uma família de atores e cineastas. Tanto meu pai quanto meu tio eram cineastas. E eu vi em casa como isso era desgastante. Era como se não houvesse possibilidade pra mim de fazer filmes. Mas eu geralmente não escuto as pessoas. Eu apenas faço o que quero fazer. Mas quando eles se deram conta... na verdade era mais porque eles se preocupavam comigo. Todos os pais se preocupam com seus filhos. E seguir essa profissão é um tanto incerto. Então um dia você está nisso, noutro dia você é ninguém... é de fato uma profissão difícil.

Aamir Khan, quando você olha pra você no passado, pro que você fez nos anos 80 e 90, você tem orgulho de si mesmo ou pensa "ai meu Deus, quero morrer!"?
Eu tenho vergonha. Sabe, quando termino um filme em seis meses eu acho que ele não está bom. Foi nisso que erramos, não deveríamos ter feito isso, mas eu cresci muito como um ator e sei que posso fazer muito melhor agora. Eu não gosto do meu trabalho, na verdade.

Deve ser chato, porque você continua vendo eles?
Eu desde cedo não vejo meus trabalhos. Eu vejo muito eles quando eles estreiam, com o público. Isso eu sempre faço. Eu vejo meus filmes com a audiência, mas eles nunca sabem que estou no cinema com eles.

Como eles não sabem?
Eles não sabem porque entro depois deles no cinema. Então eu fico em pé no fundo, ou vou à sala de projeção, e de lá posso ver todos, posso escutá-los. Então vejos eles se mexendo na cadeira se não gostam do filme ou da cena. Dá pra perceber isso. Então se o filme não é legal, você de repente ouve um monte de barulho de cadeira, de pessoas tossindo, e então você sabe que perderá audiência.

Você foi na sala de projeções em filmes que não fizeram sucesso, como Mela e Mann?
Sim, fui... e é triste. É realmente triste. Mas é pra isso que faço meus filmes. Eu quero, eu faço os filmes pro público ver e eu quero estar lá pra ver eles gostarem. Mas se eles não gostam, também quero estar lá pra ver.

Se você tivesse que me dizer uma característica sua que faz você ser esse sucesso todo, que característica seria?
Eu acho que pra mim isso seria, eu sempre fiz o que me faz feliz. Eu percebi logo cedo em minha carreira que sempre que eu tomava uma decisão que eu pensava ser a decisão correta, então eu devesse fazer aquilo; mas eu sempre me ferrava. Sempre que eu pensava que seria esperto, acabava fazendo coisas horríveis. Mas sempre que fiz coisas que eu sentia que tinha que fazer, daí tudo funcionou. Não importa o quão ridículo poderia parecer pros outros, ou quão impraticável fosse... mas sempre que segui meu coração e fiz as coisas que me faziam feliz, então essas coisas deram certo.

Colaborou: Luiz Bagatin

5 comentários:

Krsna Mohan | Luiz F. disse...

\o/ leitor dedicado, que honra!! :D
Fiquei com mais vontade ainda de assistir Rang De Basanti, hoje eu vejo!!! Ainda vai faltar Lagaan hehe. Amir, the real king of Khan!!!

Ibirá Machado disse...

E não é? ;)

Indi(a)screet disse...

Declaracao de amor.... AAMIR TE AMOOOOOOOOO :)
Amo mesmo, pois ele deixou de fazer comedias romanticas e realmente cresceu profissionalmente. Ele me parece o unico dedicado a ser um ATOR em toda a essencia desta palavra.
Tenho aqui em casa um filme dele de inicio de carreira e ..... hahahaha eh tao ridiculo que nem da pra falar sobre este filme. BREGA ao extremo!!!
Gosto muito de gente dedicada e que faz as coisas bem feitas!

Indi(a)screet disse...

Foi nosso amado, adorado e idolatrado Aamir Khan que encabecou aqui na India a HORA DO PLANETA no ultimo dia 28 qdo apagamos as luzes de Delhi inteira!!!!!!!!!!! :)
Este homem eh o unico que nao tem cabeca so pra pentar cabelo!!

Ibirá Machado disse...

E viva Aamir Khan!! :D:D:D

Aqui em casa também apagamos absolutamente tudo!!! Foi muito bom, um retorno aos tempos em que a sala servia pra sentarmos a família para conversar. Acendemos uma vela e ficamos conversando, foi ótimo!